O fato do Brasil ter se transformado num país chamado de emergente, com estabilidade política e econômica, com enorme e crescente mercado interno, que se expande com inclusão social, entre outros motivos, são os fatores que passaram a despertar a cobiça de quem vive em economias em recessão econômica e com menores demandas por produtos e infraestrutura, quando comparados ao Brasil.
Milhares de empresas de fora estão aqui aportando. A exploração do pré-sal é outro destes atrativos. As de origem europeia, como as espanholas e portuguesas vêm aqui chances de diminuir suas crises com os problemas de suas nações.
Empresas americanas ligadas à cadeia do petróleo e gás é outra. Porém, já se vê investimentos expressivos na educação e na saúde. O caso da venda da Amil para a americana UnitedHealth por um valor de cerca de 11 bilhões de reais é um bom e significativo exemplo.
Particularmente, não tenho objeções a que o Brasil receba empresários que desejem aqui investir, especialmente, em áreas e setores que ainda não decolamos.
A questão fundamental é regular este processo. Hoje, cada vez mais a economia é movida menos por empresários e mais por fundos de investidores. Este não têm rostos. Têm dinheiro e interesse em acumular e multiplicá-lo. Em muitos casos sem ética e com o desejo de retornar às suas sedes o valor investido, acompanhado do lucro obtido, em condições que independam das necessidades do nosso povo.
É comum que as propostas de investimentos sejam apresentadas com grandes pompas aos governos locais e regionais. Estes, via de regra, com poucos questionamentos de todo o envolvimento que a decisão pode representar para o país, enquanto nação, e interessados nos dividendos políticos e eleitorais dos discursos da geração de emprego e do crescimento econômico se transformam em advogados mais fortes do que os próprios e interessados nos negócios.
Sendo assim, este processo precisa ser muito bem acompanhado, discutido e acordado em leis e contratos. Não se pode aceitar que pressões que passem por cima dos governos e do Estado.
O caso de aquisição de terras por estrangeiros
É neste cenário e com estas preocupações que leio nos jornais que, segundo dados do Deutsche Bank, investidores adquiriram 83 milhões de hectares em países em desenvolvimento, só na década de 2000 a 2010. Esta área equivale a 1,7% da área agricultável do planeta.
No Brasil a aquisição de terras por estrangeiras, neste mesmo período chegou a 2,6 milhões de hectares. Bom lembrar que no Brasil a aquisição de terras por estrangeiros tem o limite de 50% das propriedades rurais.
Para comprar os 83 milhões de hectares com a realidade brasileira, só para ter uma ideia do seu tamanho, podemos ver que ela é quase o dobro dos 50 milhões de hectares, usados na safra 2012-2013, para o plantio de grãos no Brasil, um dos principais exportadores do mundo.
Outro dado para se fazer a comparação da aquisição de 83 milhões de hectares é que ela é maior que o dobro do equivalente aos territórios da Alemanha, Bélgica e Holanda juntos que somam 32,7 milhões de hectares
A origem dos grupos e fundos interessados vem dos EUA (maioria privada), China, Arábia Saudita, Kuait, Qatar e Bahrein (maioria estatais). Tirando o primeiro, os EUA, todos os demais com problemas de oferta de água e necessidade de fornecimento de alimentos. O banco alemão estima estima que esta grande aquisição de terras gere um aumento de 12% no consumo de água.
As aquisições de terras por estrangeiros, entre 2000 e 2010, na África atingiu 4,8% das terras agricultáveis do continente, equivalente à do Quênia. Na América Latina 1,2% das terras agricultáveis e na Ásia, 1,1%.
Sobre preços de terras agricultáveis, nos EUA e Europa, os preços por hectare arável oscila entre US$ 10 mil e US$ 20 mil, dependendo da região agrícola. No Brasil, segundo Informe Economics-FNP, o hectare chega a R$ 16,3 mil o hectare em Santa Catarina, R$ 3 mil na Bahia e R$ 4 mil em Mato Grosso. (Observação do blog: em nossa região o valor médio do hectare agricultável está na ordem de R 12 mil.
De outro lado, os investidores brasileiros também estão participando da compra de terras no Paraguai e Bolívia, na América Latina e em países africanos.
Fonte: Valor Online.
Obs.: Para não perder a oportunidade leio na mesma fonte que o bilionário venezuelano Gustavo Cisneros que tem fortuna valiada em US$ 4,2 bilhões com 30 empresas, está se juntando a um banco chinês para investir US$ 1 bilhão. Cisneros disse, nesta semana em Cádiz, na Espanha que o Brasil é um objeto de desejo. Ele disse que vai se juntar a sócios brasileiros, mas, que não seria o Eike Batista e que pretende comprar uma televisão no Brasil em 2013. Não quis dizer se seria a REDE TV ou o SBT.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
Nenhum comentário:
Postar um comentário