Abaixo o artigo do arquiteto e presidente do IAB/PE, Roberto Ghione, publicado inicialmente no portal Carta Maior na UOL:
"Periferias: um desafio para as cidades"
As cidades brasileiras só terão um nível de desenvolvimento consistente com a implementação de ações estratégicas orientadas a valorizar e dignificar as periferias, áreas carentes e degradadas. Colocar as periferias no centro de uma gestão urbana é um dos pilares para o desenvolvimento com inclusão social, integração urbana e o início da solução para a violência que as atormenta.
Enquanto o crescimento persistir atrelado aos empreendimentos imobiliários residenciais e comerciais excludentes, fechados ao espaço público e ao convívio cidadão, as cidades continuarão afundando no atual clima de violência e desintegração social, ao mesmo tempo que incentivam o colapso da imobilidade, por se tratarem de intervenções totalmente dependentes do uso do automóvel.
A falta de dignificação das periferias, a ausência do poder público democrático e organizado, o tratamento dos moradores como cidadãos de segunda abrem o caminho para o crime organizado e alteram o normal desenvolvimento urbano.
O urbanismo tem muito para contribuir, quando implementado com inteligência, sensibilidade social, criatividade, participação e decisão política comprometida com a defesa do interesse geral da sociedade.
Obras públicas de qualidade - concebidas democrática e participativamente mediante concursos públicos -, saneamento e infraestrutura, mobiliário urbano digno, calçadas transitáveis, arborização, redes de ciclovias, estímulos para a melhoria das condições de moradia, transporte público eficiente e qualificado, restrições ao uso do automóvel, revitalização das áreas centrais, promoção dos usos mistos e da apropriação dos espaços públicos pelas pessoas, valorização do patrimônio arquitetônico, cultural e ambiental são ações de rigor para qualquer planificação de desenvolvimento social e urbano assumida com o real interesse e compromisso de promover uma efetiva melhoria nas cidades.
Cabe ao poder público, conjuntamente com a sociedade organizada, a inteligência necessária para enxergar no urbanismo grande parte das soluções. Cabe aos urbanistas fazermos ouvir nossa voz com propostas estratégicas de desenvolvimento urbano inclusivo, estimulante do convívio cidadão e da apropriação das cidades por pedestres, como acontece no mundo civilizado.
Cabe à sociedade pensante e formadora de opinião colocarmos no centro do problema urbanístico brasileiro, se queremos deixar de ser periferia do mundo civilizado. No momento em que o Brasil apresenta indicadores significativos de crescimento econômico no mundo globalizado, resulta prioritário considerar o desenvolvimento urbano e social inclusivo, prestigiando os setores mais carentes, em um caminho que vai da periferia ao centro.
(*) Roberto Ghione é arquiteto e diretor do IAB/PE
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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3 comentários:
Por isso, presenciamos essa brutal desigualdade, do nível e da qualidade de vida, entre os que vivem na área urbana das cidades em detrimento dos que residem na periferia, diga-se, distritos.
Por isso, a busca pelas emancipações , dos bairros perifericos, geralmente, abandonados pelo pooder publico municipal(prefeitos e prefeita), o que faz gerar descontetamento e consequentemente, buscas emanciopacionista,somente contidas por leis impopulares e impositivas e arrogantes, que tolem, que limitam, a possibilidade das emancipações, caso contrário as emancipações aconteceriam, em muito maior numeros.
Para confirmar, a diferença gritante,na qualidade de vida entre quem reside na periferia e quem na centro das cidades, façam uma simples pesquisa, perguntando quem desejaria mudar-se do Centro das cidades, para a periferia. Certamente a grande maioria, desejaria residir, no Centro das cidade, inclusive, os moradores da periferia. Esse fato deve-se em grande parte, a falta de sensibilidade e de atenção, do governante e de políticas públicas, para a periferia. Apesar de no nosso caso especifico, de Campos dos Goitacazes, termos uma periferia, diga-se a Baixada Campista, que " BANCA", a area central de Campos dos Goitacazes, com os Royaltes, por causa, da Praia do Farol de São Tomé.
Até quando esse descaso, até quando esse desrespeito ?
Nas periferias vale tudo. Cada um faz o que vem à mente. É uma verdadeira zona, o caos social generalizado e jamais terá solução.
Pelo jeito o Carlos Ribeiro tá querendo os royalts para os bairros litorâneos.
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