É quase unânime que a discussão pós acidente (que nunca deve ser entendida como natural ou fatalidade) se tenda mais à busca de culpados (crime), do que das causas, que são anteriores às responsabilidades.
Tragédias terríveis como esta de Santa Maria que geram grande comoção podem levar ao bate-boca e à discussão, quase sempre de senso comum, sobre a necessidade e a urgência das punições. É compreensível que seja assim.
Porém, é mais construtivo que a análise do acontecido possa também levar à discussão aprofundada e detalhada das causas, que por sua vez deve se desdobrar em mudanças em leis, regulamentos, instalações, equipamentos, mas, especialmente nas práticas de pessoas, governos e empresas. Pelo menos, é o que sempre se espera para que a vidas ceifadas, não sejam assim, tão gratuitas quanto sentimos.
Acidentes, tragédias e catástrofes têm sempre causas. Sempre. Quase sempre várias causas e não apenas uma. Elas acabam atuando uma sobre as outras, como aquela imagem das peças do jogo de dominó caindo uma sobre outra sequencialmente.
No caso em específico de Santa Maria algumas das peças já foram apuradas. Outras, estão sendo paulatinamente, descobertas. A mais recente é a divulgação de que o uso, no show de pirotecnica, de sinalizador externo (ao custo de R$ 2,50), em detrimento de um interno (ao custo de R$ 70), portanto, a economia da quantia de R$ 67,50 está entre as primeiras peças do dominó, que segue com a superlotação da boite, do não cumprimento de regulamentos, da fiscalização superficial e frouxa, etc.
O foco nas causas como se faz em acidentes aéreos é mais produtiva porque ela gera mudanças e transformações, ao passo que a busca dos responsáveis e culpados - que também é necessária, para não gerar uma outra que é mais abstrata e gestora de inúmeras outras causas que é a impunidade - mas, é posterior.
A responsabilização tem que vir após a apuração das causas e não antes, porque no sentimento de acelerar as investigações para dar resposta à sociedade, é comum deixar todo o ensinamento sobre as causas pelos caminhos que conhecemos.
Nesta linha, fica ainda mais dolorida a comoção, quando vai se descobrindo o custo do risco e o preço que se pagou pelas centenas de vidas de jovens ceifadas. Assim, mais que tudo, é possível perceber que a sociedade precisa mudar suas práticas e repensar seus valores para que novas causas não se enfileirem como peças do dominó de nossa existência.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
É importante que a partir da detecção das causas gerem providencias de todas as ordens no sentido de que sejam evitadas novas tragédias. Hoje, a mobilização com relação a vistoria de casas noturnas é muito intensa em vários municípios, mas é necessário que a partir dessas vistorias sejam encaminhadas providencias que corrijam com rapidez todas as anormalidades. Infelizmente não é isso que vemos. Haja vista, por exemplo, as vidas ceifadas pelas enchentes. As redes sociais podem ser um instrumento de mobilização da sociedade visando a reversão deste quadro.
Roberto, shopping na 28 de março e na BR 101 tem só uma porta? Onde será a porta de emergencia? Será correto? E as Escolas? Outra questao sao os menores de 18 anos neste lugares bebendo e muito, até quando? Sao muitas festas em nossa Campos e com certeza corremos vários riscos, até mesmo em saloes de festas (casamentos, 15 anos, etc), também em restaurantes que só funcionam prá almoço. E os bares transformados em casa de show, boate, etc e o alvára é só "bar"? E os saloes de dança? sao muitos riscos. Santa Maria Rogai por nós.
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