O filme do genial Charles Chaplin já mostrava as intenções do controle total sobre os trabalhadores, objetivando o aumento da produtividade. Quem não se lembra do dono da fábrica observando numa televisão, online, a linha de produção e a atuação do trabalhador já superexplorado?
Não tive como deixar de me recordar desta passagem do filme Tempos Modernos ao ler a nota "O paradoxo da transparência - operários vigiados produze menos" na revista Época Negócios.
A breve matéria diz que um estudo publicado pela revista Administrative Science Quarterly, de autoria do professor Ethan S. Bernstein, da Havard Business Scholl, demonstrou que o funcionário na fábrica sendo constantemente observado, gasta muito tempo ocultando suas atividades, em detrimento da produção e que tanta transparência está provocando a diminuição da produtividade.
O mais interessante é que Bernstein estudou "in loco" fábricas do segundo maior fabricante de celulares da China. Mais, para não mascarar o ambiente da pesquisa, só aparecia no chão de fábrica, acompanhado de visitantes. Além disso, três de seus assistentes trabalharam na linha de montagem como operários.
O pesquisador observou que os operários escondem quando observados suas técnicas de produção para não arrumar encrencas, suponho, porque elas não são tarefas ou processos prescritos. O esforço para esconder suas práticas tomam tempo que era da produção.
Bernstein diz que o chão de fábrica é um ambiente rico, no qual os funcionários desenvolvem técnicas, códigos e linguagem própria e que zonas de privacidade podem aumentar o desempenho das equipes.
Bernstein chamou o fato de transparência ilusória.
Interessante que os tempos passam e a maioria dos gestores não compreendem, ou não aceitam, vencido o tempo das senzalas, que o olhar e o controle total, junto do chicote e do açoite, não produzem sobre o ser humano o que anseiam. Até Havard sabe e confirma o fato.
Nesta linha, até em termos de exploração da mão de obra, para ampliação dos lucros, mesmo com todo o desenvolvimento tecnológico, que levam a alguns sonhar com a prescindibilidade do ser humano, o estímulo à autonomia e à criatividade humana é melhor opção para aumento da produção.
O problema é que muitos preferem perder produtividade, para não correr os riscos que a autonomia e a organização dos trabalhadores podem acabar gerando.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
E o pior é que estamos concorrendo com esse pessoal.
Como vamos sobreviver competindo com estas empresas que exploraram os chineses a menos de 10 dólares por dia?
Se os amarelos se organizarem e passarem a ter a autonomia que o professor fala, existem 500 mil indianos de prontidão para aceitar o mesmo trabalho por 5 dólares/dia. Com câmera e tudo.
Até lá, a maior parte da indústria ocidental já terá sucumbido.
É possível ser menos pessimista.
Os trabalhadores da FoxConn que produz Iphone, Ipad e outros produtos da Apple, começaram aceitando qualquer salário e péssimas condições de trabalho, mas, muito disto já se modificou por pressão e rejeição dos trabalhadores.
O próprios EUA já fala em remanufaturar sua economia, este foi um dos tópicos do discurso de Obama ontem no Congresso dos EUA.
Há saídas até quando se imagina que haja saídas, mas elas apontam para um direção diversa do que alguns imaginam.
Os casos estudados pelo professor de Havard valem para as empresas instaladas tanto na China quanto na Índia.
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