Pode-se discordar, concordar, no todo, ou em parte, mas, não se deve deixar de ler a breve, mas consistente, análise do quadro político, em Campos dos Goytacazes, feita pelo blogueiro Douglas da Mata.
Mais do que apresentar o link vou tomar a liberdade de postá-lo abaixo. Sugiro ainda a leitura de outras postagens que o blogueiro fez sobre o tema: aqui, aqui, aqui e aqui.
O debate deve ser amplo e plural, mas ele já foi aberto. Participemos pois:
"Royalties, garotismo, Muda Campos, e fracasso: eleitor não é vítima, eleitor é cúmplice!"
"A disputa política produz os mais variados discursos adaptados as mais variadas demandas.
Com o ocaso do movimento político chamado Muda Campos, e do ciclo do ouro negro, tenho observado um tom direcionado de determinados setores.
Claro, para aproveitar o momento desfavorável vale à pena imputar ao grupo da lapa a maior parte da responsabilidade sobre o caos que se aproxima, afinal, foram eles os maiores privilegiados e beneficários do poder durante estes 24 anos.
Este exagero conceitual no campo político-partidário é normal, e até inevitável.
O problema é ler e ouvir alguns setores que até bem pouco tempo regozijavam-se do mesmo modelo, "cuspindo no prato que comeram", ou "jogando pedra na cruz".
Estes setores, como os chamados partidos de oposição, alguns cretinos da mídia, e outros integrantes expulsos do ninho garotista, não apresentaram, ao longo destes 24 anos, nada mais que cópias dementes do modelo que já existia.
Neste sentido, a população prefere um modelo original ruim a uma cópia pior!
Como também não é correto colocar como causa exclusiva da perenidade deste modelo por 24 anos como sintoma de um assistencialismo, ou como querem alguns, fisiologismo.
Esta é sempre uma perigosa e elitista maneira de enxergar o problema de representatividade, dos modelos democráticos e enfim, do valor e conteúdo das escolhas da população mais pobres.
Já dissemos isto aqui outras vezes: Não há muita diferença entre uma casa popular, um benefício de renda mínima, e um subsídio fiscal para um empresário, um empréstimo com juros amigos, enfim, as chamadas políticas de fomento.
Não do ponto de vista conceitual da "troca" de apoio por satisfação de alguma demanda, natureza primeira da ação política em busca de alguma noção de bem comum, ainda que sempre filtrada pelo viés de classe ou de grupo.
Faz diferença em relação à justiça social, onde retirar pessoas da indigência e das condições degradantes é muito mais relevante do que entubar e concentrar dinheiro nas mãos de quem já tem muito, apenas sob o precário argumento da geração de alguns empregos.
Pelo menos, faz diferença sob o ponto de vista deste blogueiro.
Sendo assim, o "fisiologismo" que sustentou o garotismo não é uma exclusividade dos pobres, mas como diz o amigo e cientista social Roberto Torres, um fenômeno transclassista, que contaminou toda a vida sócio-política-econômica da cidade, aniquilando ou desequilibrando a relação das forças em disputa.
É o "fisiologismo" dos jornais e TVs, cevados pela propaganda oficial e outros esquemas, como o direcionamento da propaganda dos empreiteiros e empresários beneficiados nas licitações, como forma de retornar o dinheiro como subsídios de campanhas eleitorais, ora como caixa dois de "anúncios" superfaturados, mas fora do alcance da fiscalização, por se tratar de negócio privado, ou como recompensa indireta do governo pelo apoio da mídia com a imposição de que estes entes privados "anunciem" em determinados veículos "amigos", usando a verba que "sobrou" do superfaturamento das licitações.
É o "fisiologismo" de igrejas, Ongs, e outros entes do terceiro setor, que não hesitam em se curvar ao império do orçamento público, abrindo mão de princípios e outras censuras ao trato escuso, apenas por imaginarem que estão a praticar pequenos males para consagrar um bem maior!
É o "fisiologismo" das empresas e empresários, pendurados em incentivos, renúncias fiscais, etc, e toda sorte de favorecimento às suas atividades econômicas, que vão desde o oferecimento das facilidades urbanas, até o acesso "heterodoxo" aos trâmites da burocracia.
Enfim, o fracasso do modelo que se esvai hoje, é o NOSSO fracasso, inclusive das forças políticas e acadêmicas que enxergaram desde sempre tais distorções e foram incapazes de se mobilizar para proporem uma alternativa que superasse o mero moralismo denuncista, sempre um cacoete de hipocrisia política.
E não tenham esperanças de que o fim do dinheiro, per si, trará um "novo tempo", se mantivermos os mesmos hábitos políticos, porque o fisiologismo que sugou e se esbaldou nas rendas do petróleo não deixará de existir, e ao contrário, tende a ficar mais voraz e tornar a situação mais grave com menos dinheiro disponível."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Todos sabem que quase todas as obras são superfaturadas e que isso é cultural do Brasil.."tirar vantagem", porque existem brechas. Sempre vamos contar com migalhas e obras superficiais de baixa qualidade e funcionalidade, para se lucrar mais. Os "grandes" são os verdadeiros beneficiados, acumulando grandes somas de dinheiro e patrimônios pessoais. Sim, a cidade virou um canteiro de obras, mas é o suficiente?, têm qualidade e planejamento?...a pobreza em Campos me lembra o nordeste!
Considero Campos um péssimo exemplo de qualidade de vida, tem dinheiro, mas mal investido, sem um planejamento urbano decente, sem a interferência de verdadeiros especialistas em urbanismo.
Sou totalmente a favor dos royalties, mas que exista alguma fiscalização eficiente.
Muita boa a análise do Douglas.
Para mim a Justiça é a grande vilã.
Nada se julga e quando o fazem,cabem recursos,recursos,recursos recursos.............
Aí eles dizem nós não fazemos as leis,mas eu digo que as aplicam de forma tendenciosa,demorada(artigo cesto)a ponto da prescrição chegar em pacotinhos verdes.
Se existe uma manifestação dos cidadãos deste país seria em frente aos Foruns,gritando.Julguem,Julguem
Como havia comentado lá no blog do Douglas, no post anterior sobre o mesmo assunto, também acho que a era do Muda Campos está em seu ocaso.
Deixei lá uma questão: o que virá depois, se quase todo quadro político da cidade tem ou teve relação direta com este grupo?
No comentário me referi ao fracasso. Ao nosso fracasso. NÓS somos os responsáveis por ele em toda medida. Como já observou o Roberto Torres a aceitação do modelo garotista transpassou todas as classes. Pela barriga.
Nós perdemos uma grande chance e vamos nos lembrar dela para sempre. Ficará na memória o tempo em que tínhamos dinheiro para tudo e escolhemos fazer um Cepop por exemplo.
É como se um gênio da lâmpada nos concedesse três desejos e tudo que pudemos pedir foram bugingangas com a volatilidade de um show.
Deu no que queríamos (ou permitimos) que desse.
Abraços
Grato pela repercussão.
Vitaminou os acessos do nosso quitinete de opinião!
Não consigo ver isso como um problema estritamente Regional, o Garotismo é só mais uma forma do incombatível (já tivemos 2 reformas administrativas no BR (Burocratica com o Vargas e Gerencialista com Bresser/FHC) e não conseguimos matar esse mal no Brasil) modelo Paternalista de administração... Isso só vai mudar no BRASIL com um esforço maior pra formar técnicos na área de Administração Pública e com uma ação BEM MAIS INCISIVA dos órgãos de controle SOBRETUDO da sociedade, pois enquanto aceitarmos q existam "amigos" do rei sendo privilegiados em detrimento ao concurso público por ex, isso vai continuar.
Meu inside sobre o modelo Patrimonialista não foi publicado.
George, nosso modelo patrimonialista não é de administração (strictu sensu) mas de Estado.
O garotismo tem relevância aqui porque é o fenômeno que nos atinge.
Não se iluda com a "tecnicalidade administrativa", muito menos com modelos de controle.
Todas são instâncias sujeitas a demandas e injunções políticas.
Quem controla o controlador?
O problema destas crenças, e destes slogans(eficiência administrativa, controle, tecnicismos, etc) é mascarar tais injunções, e afastar o verdadeiro controle, que é político, SEMPRE.
O Estado só existe como consenso político, como ente de disputa por hegemonia, e não como um amontoado de órgãos e servidores que trabalham "automaticamente pelo bem comum".
Mas as suas preocupações são pertinentes.
Postar um comentário