Logo após, a abertura da Audiência Pública feita pelo prefeito Neco, da leitura/aprovação do regimento interno da audiência, o secretário de Planejamento, Luciano Aguiar coordenou os trabalhos, passando para que os técnicos da equipe do escritório do arquiteto e ex-governador Jaime Lerner fizessem uma exposição num tempo de pouco mais de uma hora.
Na apresentação em power-point, os técnicos, apresentaram as razões e objetivos da Plano Diretor (PD), a legislação que a rege a questão, desde o Estatuto da Cidade, às legislações estaduais e municipais e avançou na exposição da concepção e principais propostas de mudanças do plano do município de São João da Barra com a introdução dos conceitos de macrozoneamento, tentando dar ao município uma organização do seu crescimento por eixos, zonas e setores.
Na avaliação deste blogueiro, exposta publicamente na oportunidade, ficaram evidentes os interesses, contemplados no Plano Diretor, do grupo EBX na nova proposta do PD. Isto pode ser verificado, não apenas, na garantia das áreas de interesse industrial e do Distrito Industrial de SJB (Zona de Desenvolvimento Econômico), mas, também, na demarcação, da área destinada, ao empreendimento imobiliário (bairro planejado, que antes chegou a ser denominado de Cidade X), localizado na Fazendo Pontinhas, e indicado no PD, como Zona de Mista (de ocupação).
Porém, não se pode dizer, por outro lado, que não há interesses da população de SJB contemplados na proposta de revisão do PD, embora, estes precisem ser discutidos e priorizados sob a forma de projetos e dotação orçamentária, para execução com financiamento público municipal, estadual e/ou como compensação e mitigação, por parte do setor produtivo que lucrará no município.
Eixos Estruturantes de crescimento de SJB: Urbano, Serviços, Orla e Rural |
Foi perceptível a ainda, a clara intenção de dar centralidade à sede do município, através dos eixos de desenvolvimento ligando as diversas localidades do município da sede ao Açu, de Sabonete a Barcelos, sempre em linhas paralelas ao mar como se pode ver na imagem ao lado.
De outro lado, pode ser percebida, a ausência de uma proposta que considere a integração do município, via o empreendimento do Complexo do Açu, ou, preferencialmente de forma mais ampla, com o vizinho município de Campos.
Quer se queira, ou não, já acontece, e tende a se ampliar, o fluxo de pessoas, materiais e serviços na direção: Campos-Complexo do Açu-SJB-Campos-SJB, etc. Mais do que integração viária, me reporto a políticas públicas complementares regionalmente. O estado tem sido completamente omisso nesta tarefa, que por ser regional, intermunicipal, caberia sua intervenção.
Mesmo, na questão da ocupação do território, o quadro atual demanda um Plano de Ordenamento Territorial. Além do município de Campos, necessitar urgentemente revisar o seu PD considerando as mudanças pelas quais passa a cidade com os grandes projetos de empreendimento (Barra do Açu e Barra do Furado), e agora, também com a problemática redução dos royalties. Neste sentido, caberia, a elaboração de um Plano Diretor Regional e Integrado, já que as divergências eleitorais tem que se encerrar na eleição e, é preciso governar para todos e no interesse do povo.
Os círculos em vermelho mostram entrocamentos e acesso da hidrovia |
A localidade do Açu precisa ser olhada, não pode ser quintal. A localidade fica de certa forma ilhada entre o mar, o complexo logístico-industrial, a Lagoa do Açu, onde está sendo instalada, a unidade de Conservação Ambiental, Parque Lagoa do Açu e, aos fundos o Distrito Industrial de SJB. Não apenas com projetos pontuais, do tipo chamado de acupuntura urbana, mas, nas questões centrais e urgentes, como transporte coletivo, em maior quantidade, qualidade e com ligação com a sede, rodoviária, áreas de lazer, uma sub-prefeitura e estrategicamente, uma integração com a Baixada Campista. Só assim, Barra do Furado, pode se transformar num núcleo de apoio de comércio e serviços para o empreendimento logístico-industrial. É em Barra do Açu, junto com o outro lado da Lagoa de Grussaí, que se localizam os maiores riscos de ocupações desordenadas. Só a presença forte do poder público com Políticas Públicas, já previstas no Plano Diretor para evitar este processo. Aliás, as diversas manifestações de moradores e lideranças comunitárias sobre as demandas daquela comunidade ficaram evidentes nas falas e manifestações por escrito e oral de seus moradores. Entre estes, a preocupação com os problemas das ocupações nas margens das lagoas, (também se manifestou sobre o assunto as moradores de Grussaí), do Veiga (dentro da localidade de Barra do Açu), e da própria Lagoa do Açu, é um ponto problemático e nevrálgico que envolve o governo estadual através do Inea.
Os técnicos e os gestores afirmaram que o Plano Diretor não entra na questão da possível rodovia litorânea ligando o Açu, Grussaí e Atafona, por se tratar, se for o caso, de um projeto que envolve o governo estadual, mas, ela está lá desenhada. O mesmo vale para a chamada Via Parque, que apesar de um ter indagado de público, sobre o que se tratava, não fui respondido, mas desconfio que seja, uma estrada ligando a Unidade de Conservação (RPPN) de Caruara com o empreendimento imobiliário (Bairro X), através da empresa Rex, do grupo EBX. Ou seja, seria algo que dependeria do governo estadual, mas, está no mapa, logo, se aprovado junto da revisão, vira autorização.
É este o mesmo quadro do Corredor Logístico. Seu projeto seria uma PPP do governo estadual com o grupo EBX. Um decreto do governo estadual previu desapropriações para este fim. O assunto passou, batido, mas, o desenho do Corredor Logístico, está no Mapa da Ocupação do Solo do PD, logo se aprovado a revisão, por parte do município, também estaria aprovado, e portanto, com risco de retomar a discussão das desapropriações, apesar das garantias feitas de público pelo prefeito Neco.
Proposta de mapa para nova Lei de Uso e Ocupação do Solo em SJB |
Questionamento e Proposta da Asprim – Denúncia do MST
Merece ainda registro a manifestação de produtores e das lideranças da Associação dos Produtores Rurais, de Imóveis e Moradores do Açu (Asprim), preocupados com a extensão dos problemas da detectada salinização do solo e das águas do Canal Quintiguta (e confirmada na Audiência Pública pelo secretário de agricultura de SJB, Pedro Nilson), sobre os impactos e redução da área rural no novo macrozoneamento do município. O presidente da Asprim Rodrigo dos Santos Silva, fez até uma proposta concreta de que, tendo em vista, a suspensão da vinda de alguns empreendimentos, de que pelo menos, 10% da área do DISJB desapropriados de produtores da localidade de Água Preta e Mato Escuro, seja devolvido, para sua antiga funcionalidade, à de produção agrícola/rural.
Além da proposta, o presidente da Asprim, também questionou a inexistência no PD de um Plano de Contingenciamento de Desastres, tendo em vista, o crescimentos dos riscos com a implantação do empreendimento logístico e industrial.
O representante do MST denunciou o uso destas terras num processo de concentração fundiária que foi possibilitada pela intervenção do governo estadual favorecendo unicamente ao grupo empresarial EBX.
Outros pontos merecem ainda observação e comentários. O blog deve fazê-lo adiante, mas, desde já estimula o debate e a participação na outra audiência de hoje, na sede do município, mas, também, na que a Câmara Municipal ficou de realizar quando o projeto for formalmente entregue ao legislativo.
Mesmo com as preocupações e sugestões levantadas na audiência e nesta postagem deve se registrar a disposição das partes em abrir um diálogo e construir alguns acordos para o bem do município e da região. Neste sentido, foi mais que produtiva a ampla participação na audiência, não apenas de autoridades, mas de lideranças e pessoas da comunidade, para além daquelas comissionadas pelo poder público.
PS.: O blog sugere que os interessados leiam as observações levantadas por este blog, quando da apresentação da proposta de revisão do Plano Diretor de SJB (PDSJB), feita pelo próprio Jaime Lerner, em fevereiro de 2012 no link abaixo:
http://www.robertomoraes.com.br/2012/02/o-ponto-x-da-proposta-de-lerner-e-da.html
PS.: Atualizado às 13:00 horas para pequenos ajustes.
4 comentários:
Professor vale observar que foi falado nesta audiência que não haverá desapropriaçoes nesse momento,mas se observar bem nos mapas há uma grande área disponibilizada para uso ambiental.É muito dificil não pensar em desapropriaçõs quando se tem um emprendimento como esse aqui do Açu.Seria mais correto dizer que haverá sim desapropriação,mas que estas não serão nas proporçoes das que foram para ser criado o distrito industrial;O plano não conseguiu me convencer que veio para organizar o territorio em beneficio da população,mas que veio apenas para garantir certos interesses do grupo Ebx, como por exemplo valorizar ainda mais as áreas adquiridas pelo grupo no entorno do empreendimento.
Sua observação é pertinente e sua preocupação justa.
Do jeito que está hoje o grupo já foi muito beneficiado e os problemas tão grandes (ou maiores) que as oportunidades.
Será preciso trabalhar e atuar de uma forma organizada e diferente do que foi feito até então.
Daqui para frente a história não está dada, ela será construída.
Prezados,
Duas observações:
1 - Sobre as desapropriações, penso de modo diverso, acho que muito mais cruel e preocupante do que uma desapropriação com o justo pagamento, seria efetivar o Parque Estadual de Lagoas, inviabilizar o aproveitamento econômico das propriedades e não indenizar nada.
Aliás, como já ocorreu em diversas oportunidades, dentro e fora dos limites do Rio de Janeiro. Um bom exemplo é a Zona de Conservação da Vida Silvestre em Búzios e Cabo Frio, que restringiu o direito de propriedade (percentuais de ocupação e gabarito, por exemplo) e nisso ficou.
Os particulares tiveram que suportar o ônus de não poder parcelar seus imóveis e não tiveram direito a indenização alguma. Parece que no Parque da Serra dos Órgãos também ocorreu algo similar. Alguns poucos proprietários recorreram a via judicial, mas a viabilidade de uma indenização em tais casos é extremamente controversa.
2 - Embora tenha achado o PD proposto um grande avanço, salvo melhor juízo, o momento para discutir o PD também me parece inoportuno. Me perdoem a comparação, mas parece um jovem querendo parcelar um imóvel em 30 anos, sob risco de ser demitido em 60 dias e não suportar o pagamento contratado.
Do modo como está proposto, e em um cenário com menor liquidez econômica, acho o PD congela diversos investimentos imobiliários. Tenho inclusive dúvidas se a municipalidade efetivamente tem capacidade para cumprir um plano como este. Lembrando que os administradores incorreriam em ilícito administrativo ao aprovar qualquer projeto em descompasso com o PD e com a Lei de Ocupação e Uso do Solo. E só para constar... só me lembro de um único loteamento em toda cidade, que poderia ser aprovado diante do Novo PD e da vindoura Lei de Uso e Ocupaçao do Solo, o Belo Retiro e só ele.
Por outro lado, reconheço que este avanço, mais cedo ou tarde, é razoável e necessário. Ao menos, trata-se de um projeto muito bem nascido, com algum pedigree para alavancar o desenvolvimento.
Tácio, o Açu como exemplo já possui hoje sua primeira favela, lotes foram divididos até em 5 microterrenos e sabe qual foi a atitude do poder público municipal?? Pode até não acreditar,mas de forma contraditoria ao que rege esse e o antigo PD foi lá e fez extenção de águá e já até liberou recurso para calçar a única rua nesse loteamento totalmente errado.Se existindo PD que é bem mais simples o poder público não vem seguindo imagima se seguirão o novo.
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