O depoimento de Azenha reforçando o que já falou em outros momentos, sobre o que presenciou na TV Globo merece ser mais amplamente conhecido.
Por isto, este blog publica na íntegra, o texto postado na noite desta sexta. Ainda sobre o mesmo assunto vale ler aqui a denúncia de outro jornalista Rodrigo Vianna sobre a perseguição à blogosfera de esquerda:
"Globo consegue o que a ditadura não conseguiu: calar imprensa alternativa"
publicado em 29 de março de 2013 às 20:32
por Luiz Carlos Azenha
"Meu advogado, Cesar Kloury, me proíbe de discutir especificidades sobre a sentença da Justiça carioca que me condenou a pagar 30 mil reais ao diretor de Central Globo de Jornalismo, Ali Kamel, supostamente por mover contra ele uma “campanha difamatória” em 28 posts do Viomundo, todos ligados a críticas políticas que fiz a Kamel em circunstâncias diretamente relacionadas à campanha presidencial de 2006, quando eu era repórter da Globo.
Lembro: eu não era um qualquer, na Globo, então. Era recém-chegado de ser correspondente da emissora em Nova York. Fui o repórter destacado para cobrir o candidato tucano Geraldo Alckmin durante a campanha de 2006. Ouvi, na redação de São Paulo, diretamente do então editor de economia do Jornal Nacional, Marco Aurélio Mello, que tinha sido determinado desde o Rio que as reportagens de economia deveriam ser “esquecidas”– tirar o pé, foi a frase — porque supostamente poderiam beneficiar a reeleição de Lula.
Vi colegas, como Mariana Kotscho e Cecília Negrão, reclamando que a cobertura da emissora nas eleições presidenciais não era imparcial.
Um importante repórter da emissora ligava para o então ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, dizendo que a Globo pretendia entregar a eleição para o tucano Geraldo Alckmin. Ouvi o telefonema. Mais tarde, instado pelo próprio ministro, confirmei o que era também minha impressão.
Pessoalmente, tive uma reportagem potencialmente danosa para o então candidato a governador de São Paulo, José Serra, censurada. A reportagem dava conta de que Serra, enquanto ministro, tinha autorizado a maior parte das doações irregulares de ambulâncias a prefeituras.
Quando uma produtora localizou no interior de Minas Gerais o ex-assessor do ministro da Saúde Serra, Platão Fischer-Puller, que poderia esclarecer aspectos obscuros sobre a gestão do ministro no governo FHC, ela foi desencorajada a perseguí-lo, enquanto todos os recursos da emissora foram destinados a denunciar o contador do PT Delúbio Soares e o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, este posteriormente absolvido de todas as acusações.
Tive reportagem sobre Carlinhos Cachoeira — muito mais tarde revelado como fonte da revista Veja para escândalos do governo Lula — ‘deslocada’ de telejornal mais nobre da emissora para o Bom Dia Brasil, como pode atestar o então editor Marco Aurélio Mello.
Num episódio específico, fui perseguido na redação por um feitor munido de um rádio de comunicação com o qual falava diretamente com o Rio de Janeiro: tratava-se de obter minha assinatura para um abaixo-assinado em apoio a Ali Kamel sobre a cobertura das eleições de 2006.
Considero que isso caracteriza assédio moral, já que o beneficiado pelo abaixo-assinado era chefe e poderia promover ou prejudicar subordinados de acordo com a adesão.
Argumentei, então, que o comentarista de política da Globo, Arnaldo Jabor, havia dito em plena campanha eleitoral que Lula era comparável ao ditador da Coréia do Norte, Kim Il-Sung, e que não acreditava ser essa postura compatível com a suposta imparcialidade da emissora. Resposta do editor, que hoje ocupa importante cargo na hierarquia da Globo: Jabor era o “palhaço” da casa, não deveria ser levado a sério.
No dia do primeiro turno das eleições, alertado por colega, ouvi uma gravação entre o delegado da Polícia Federal Edmilson Bruno e um grupo de jornalistas, na qual eles combinavam como deveria ser feito o vazamento das fotos do dinheiro que teria sido usado pelo PT para comprar um dossiê contra o candidato Serra.
Achei o assunto relevante e reproduzi uma transcrição — confesso, defeituosa pela pressa – no Viomundo.
Fui advertido por telefone pelo atual chefão da Globo, Carlos Henrique Schroeder, de que não deveria ter revelado em meu blog pessoal, hospedado na Globo.com, informações levantadas durante meu trabalho como repórter da emissora.
Contestei: a gravação, em minha opinião, era jornalisticamente relevante para o entendimento de todo o contexto do vazamento, que se deu exatamente na véspera do primeiro turno.
Enojado com o que havia testemunhado ao longo de 2006, inclusive com a represália exercida contra colegas — dentre os quais Rodrigo Vianna, Marco Aurélio Mello e Carlos Dornelles — e interessado especialmente em conhecer o mundo da blogosfera — pedi antecipadamente a rescisão de meu contrato com a emissora, na qual ganhava salário de alto executivo, com mais de um ano de antecedência, assumindo o compromisso de não trabalhar para outra emissora antes do vencimento do contrato pelo qual já não recebia salário.
Ou seja, fiz isso apesar dos grandes danos para minha carreira profissional e meu sustento pessoal.
Apesar das mentiras, ilações e tentativas de assassinato de caráter, perpretradas pelo jornal O Globo* e colunistas associados de Veja, friso: sempre vivi de meu salário. Este site sempre foi mantido graças a meu próprio salário de jornalista-trabalhador.
O objetivo do Viomundo sempre foi o de defender o interesse público e os movimentos sociais, sub-representados na mídia corporativa. Declaramos oficialmente: não recebemos patrocínio de governos ou empresas públicas ou estatais, ao contrário da Folha, de O Globo ou do Estadão. Nem do governo federal, nem de governos estaduais ou municipais.
Porém, para tudo existe um limite. A ação que me foi movida pela TV Globo (nominalmente por Ali Kamel) me custou R$ 30 mil reais em honorários advocatícios.
Fora o que eventualmente terei de gastar para derrotá-la. Agora, pensem comigo: qual é o limite das Organizações Globo para gastar com advogados?
O objetivo da emissora, ainda que por vias tortas, é claro: intimidar e calar aqueles que são capazes de desvendar o que se passa nos bastidores dela, justamente por terem fontes e conhecimento das engrenagens globais.
Sou arrimo de família: sustento mãe, irmão, ajudo irmã, filhas e mantenho este site graças a dinheiro de meu próprio bolso e da valiosa colaboração gratuita de milhares de leitores.
Cheguei ao extremo de meu limite financeiro, o que obviamente não é o caso das Organizações Globo, que concentram pelo menos 50% de todas as verbas publicitárias do Brasil, com o equivalente poder político, midiático e lobístico.
Durante a ditadura militar, implantada com o apoio das Organizações Globo, da Folha e do Estadão — entre outros que teriam se beneficiado do regime de força — houve uma forte tentativa de sufocar os meios alternativos de informação, dentre os quais destaco os jornais Movimento e Pasquim.
Hoje, através da judicialização de debate político, de um confronto que leva para a Justiça uma disputa entre desiguais, estamos fadados ao sufoco lento e gradual.
E, por mais que isso me doa profundamente no coração e na alma, devo admitir que perdemos. Não no campo político, mas no financeiro. Perdi. Ali Kamel e a Globo venceram. Calaram, pelo bolso, o Viomundo.
Estou certo de que meus queridíssimos leitores e apoiadores encontrarão alternativas à altura. O certo é que asOrganizações Globo, uma das maiores empresas de jornalismo do mundo, nominalmente representadas aqui por Ali Kamel, mais uma vez impuseram seu monopólio informativo ao Brasil.
Eu os vejo por aí.
PS do Viomundo: Vem aí um livro escrito por mim com Rodrigo Vianna, Marco Aurelio Mello e outras testemunhas — identificadas ou não — narrando os bastidores da cobertura da eleição presidencial de 2006 na Globo, além de retratar tudo o que vocês testemunharam pessoalmente em 2010 e 2012.
PS do Viomundo 2: *Descreverei detalhadamente, em breve, como O Globo e associados tentaram praticar comigo o tradicional assassinato de caráter da mídia corporativa brasileira."
16 comentários:
A historia relata que todos os ditadores e imperios que exitiram, um dia cairam!Eu espero que não seja diferente com essa praga do nosso BRASIL:globo.
Na eleição de 2010 as organizações foram punidas pelo próprio veneno, o evento bolinha de papel do então canditado Serra veiculado no JN, foi desmascarado pela internet... O monopolio um dia acabara...O povo brasileiro reconhece o homen e o Presidente que foi LULA pra esse Brasil...
Alexandre Ribeiro.
Tadinho da esquerda brasileira, sempre sem dinheiro, pobre e fraca.
Vide a campanha petista em Campos.
Com o dinheiro que ela tinha, até eu tinha mais voto do que Mackoul...
Falam da Globo, mas assistem Record; falam da Veja, mas comprar a Carta Capital.
Não entendo.
Otávio parece o chapeuzinho "azul" (pode ser um tucaninho) tem pena dos poderosos, defende a Globo e tem medo do lobo mau.
A fala do Azenha é clara, com fatos e dados.
Ainda assim, tem que ser assim mesmo, chegando a defender o asfixiamento de quem pensa diferente.
Daí para Hitler é só um pulo.
O fato é que ele perdeu na Justiça! Se perdeu, é porque errou, falou inverdades, sem provas!
Conta a história toda, tudo o que consta no processo que o condenou a pagar os 30.000! Assim todos poderão fazer seus juízos de valores.
Agora, dizer que sustentava o blog com salário?
Vai contar outra, mané!"
Só o fato de o cara ser queridinho do PT mostra que ele não é confiável. O PT não é confiável.
É (enrustido) ou será um blog chapa-branca.
confiáveis são os demo-tucanos.
NA ÉPOCA DO IMPEACHMENT DE COLLOR O LULA E O MERCADANTE FORAM A TV GLOBO E TIVERAM UMA REUNIÃO COM ROBERTO MARINHO. EM 2001, NO PERIODO ELEITORAL, A TV GLOBO LANÇOU A NOVELA "PORTO DOS MILAGRES" QUE CONTA A HISTÓRIA DE UM PESCADOR, LIDER POPULAR QUE VIROU PREFEITO. LULA FOI UMAS DAS AUTORIDADES RECEBIDAS NA CAPELA PARTICULAR DA FAMÍLIA MARINHO NO VELÓRIO DO DONO DA TV GLOBO.ACHO MUITO ESTRANHO QUE AO LIDERAR A GREVE DE METALÚRGICOS EM PLENA DITADURA MILITAR NADA TER ACONTECIDO COM O LULA. POR MUITO MENOS MUITOS DESAPARECERAM.
É OBVIO QUE A DIREITA SEMPRE TEM UMA CARTA NA MANGA PARA NÃO PERDER O PODER.QUANDO A COISA FICA INSUSTENTÁVEL LOGO APARECE UM "SALVADOR DA PÁTRIA" PARA ACALMAR O POPULACHO.FOI ASSIM COM GETÚLIO E DEPOIS COM O LULA.
Roberto, já lhe disse: não jogue pérolas aos porcos, caro amigo.
Acho que o pessoal aqui não entendeu bem, aliás, o raciocínio(lento) deles é sempre seletivo.
Ninguém abomina ter dinheiro.
Ao contrário, eu trabalho por uma sociedade onde cada vez mais gente tenha dinheiro e as condições que ele traz, e o fosso entre quem tem mais e menos seja cada vez menor.
O problema é que estes cretinos querem e defendem um mundo de exclusão, um mundo onde a opinião não se forme, ao contrário, se deforme.
Onde canais de TV elejam presidentes.
Onde editoriais digam quem é o novo ministro, etc.
Ninguém, imagina que Carta Capital ou a Record sejam maravilhas, aliás, nenhum setor envolvido com comunicação escapará dos cortes ideológicos e rejeições políticas.
Aliás, a Carta, por exemplo, nunca escondeu suas preferências políticas de sua linha editorial.
Só os midiotas que leem estas bostas são capazes de imaginar um veículo alheio ao processo político.
Agora nivelar o tipo de jornalismo que se faz na Carta com o não-jornalismo da óia nem merece debate.
Perceba, Roberto, que Azenha não é um blogueiro intruso como nós, é um medalhão do jornalismo, que conhece as entranhas do monstro, e talvez por isto, esteja a receber "tratamento exemplar".
Mas eu repito, caro amigo, este pessoal não merece réplica, só merece escárnio.
Têm um nível intelectual ruim, argumentos chulos, propósitos nefastos.
Não alimente os trolls!
?:!!! O assunto "Anos de chumbo" sempre tem que voltar nas pautas para que nossos jovens e adolecentes tomem conhecimento de uma realidade inemaginável por eles, e assim não cairmos em desgraça novamente.
É isso aí grande Marcos.
Não apenas os jovens, os maduros como nós, também necessitam voltar a refletir sobre estes duro período.
Abs.
Fala Douglas,
Neste tabuleiro joga-se com diferentes estratégias, sem que uma prescinda de outra e vamos em frente enquanto tivermos disposição e bom humor.
A bronca dos petistas é que a "Oia" desmancha com os cambalachos deles.
Ainda bem que existe a VEJA para desmascarar as maracutaias dos petistas!!
Por que então tanto medo dos blogueiros-jornalistas que conhecem os bastidores da fabricação de notícias?
Imprescindível que eles existam.
Sobre a Oia. Tire a propaganda oficial dela e veja o que sobra, para além do chororô de perseguição.
Mais da metade da tiragem dela é distribuição gratuita para superfaturar valores dos "anúncios" cobrados.
Distribuição gratuita NADA. Custa um dinheirão aos cofres públicos, seja nas "assinaturas", como o escândalo do governo de SP, seja na tabela "cheia" dos anúncios oficiais.
Está aí, novo desafio: nos últimos três anos, gostaria que algum leitor do esgoto da óia mostrasse, de cabo a rabo, alguma "denúncia" que se transformou em sentença transitada em julgado!
Uma apenas! E não precisa ser apenas do PT, pode ser de outros partidos também, embora seja muito difícil encontrar algo ali que não seja ataques sem fundamento ao PT.
Vamos lá, mãos à obra: um caso apenas!
Lembrem-se, como sentença transitada em julgado.
Não é possível que daquele esgoto todo, não tenha saído uma notícia verdadeira...
esperemos...sentados...
Se as denúncias da VEJA não possuem fundamento, por que os petistas não a processam?
Muito pelo contrário, a casa cai, e cai muito. Erenice, Rosemary, o mensalão. Ora, qualquer um, quando não tem culpa de alguma acusação processa o acusado. Process e ganha indenização.
Mas não, os petistas calam-se, porque sabem que são verdades.
O little idiot Eremildo, antes do julgamento do mensalão se referia a falta de provas. Agora, quando o acórdão ainda não foi publicado, fala em sentença transitada em julgadado. ora, isso é apenas uma questão de tempo. Aliás,só está demorando a sair porque os ministros que o PT nomeou para o STF de forma inconstitucional (sim, o Toffoli não tem reputação ilibada e muito menos notório saber jurídico - não preenche os requisitos exigidos na Constituição e mesmo assim foi nomeado - coisa de cumpanheirada mesmo!;e o LewandoDonaMariza - sim está lá, só porque foi vizinho dela no ABC) estão atrasando a liberação de seus votos.
Vejo na VEJA é muito anúncio de empresas privadas: Itau, Bradesco, Hyundai, volks, panasonic e muitas outras mais, e toda semana.
Ora, por que então o Governo Federal não acaba com os anúncios na ÓIA?
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