Nesta linha vale ler o artigo do Eduardo Chamusca na Rede Petro Notícias:
"Sale gas e suas perspectivas no Brasil e no mundo"
Por Eduardo Chamusca
"Existem três tipos de gás não convencional no mundo – Tight Gas, Shale Gas e Coal Bed Methane (CBM) –, mas apenas um deles acabou dominando as atenções: o Shale, que foi tropicalizado em terras tupiniquins como “Gás de Xisto”. Diferentemente do petróleo convencional, explorado em rochas porosas, o Shale fica escondido dentro de pequenas bolhas em rochas sólidas, porém fortemente laminadas, que somente podem ser extraídas através do fraturamento hidráulico dessas rochas, feito por meio de pressão hidrostática.
Os grandes depósitos de gás de xisto são conhecidos há muito tempo, porém sua extração nunca havia se mostrado economicamente viável. Com o desenvolvimento da tecnologia de fraturamento hidráulico (fracking) e o aperfeiçoamento na perfuração de poços horizontais, essa fonte riquíssima de energia pôde finalmente ser explorada.
Muito tem se falado sobre o Shale Gas e suas implicações na matriz energética do país mais poderoso do mundo. Uma suposta revolução que estaria no horizonte vem sendo alardeada, e a geopolítica global seria afetada drasticamente como consequência. Discordo frontalmente dessa avaliação. Não por negar fato tão evidente, mas por acreditar que parte significativa do mercado não percebeu que essa revolução não é algo futuro. Ela já ocorreu.
Os EUA produziam irrisórios dois bilhões de pés cúbicos de gás natural oriundos do Shale há cinco anos atrás, enquanto fecharam o ano de 2012 produzindo nada menos que 25 bilhões de pés cúbicos. Há uma década, o xisto respondia por apenas 1% da produção de gás natural no país. Hoje, está perto de 29%. Fica evidente que isso não é uma revolução em curso, é uma revolução ocorrida.
Conforme projeções, é esperado que 40% de toda a produção doméstica de gás natural nos EUA seja oriunda do Shale em 2025. Soma-se a isso o fato de que os Estados Unidos têm 14 trilhões de metros cúbicos em reservas de Shale Gas, o que pode durar 100 anos, segundo indicam alguns cálculos. Ou seja, estão criadas as bases para um caminho sem volta.
Os EUA têm historicamente mantido “parcerias” globais das mais diversas, de forma a suprir a grande “sede” energética pelo ouro negro. E, na medida em que alternativas domésticas se tornam viáveis, há um forte empurrão na direção de mudanças irreversíveis.
Porém, no curto prazo, ainda mais relevante do que as implicações geopolíticas de um possível deslocamento do eixo no fornecimento dessa matéria-prima para os EUA, o boom de crescimento “imprevisto” também foi muito bem-vindo na combalida economia de diversos estados sem histórico de produção de óleo e gás, frente às fragilidades da economia mundial pós-2008.
Estados sem tradição na produção, como Dakota do Norte, viram seus mercados de trabalho sofrerem um crescimento estonteante por conta do desenvolvimento de seus campos, enquanto que produtores mais tradicionais como o Texas puderam repor a produção que sofria descenso há décadas, retornando a níveis pré anos 90.
Grandes reservas de Shale já foram encontradas em outros países ao redor do mundo, como Polônia, Argentina, China, Reino Unido, Austrália e Brasil; e já existem movimentos na direção de investimentos maciços e alterações dos marcos regulatórios.
No Brasil, temos a primeira rodada licitatória para gás não convencional prevista para dezembro, e a expectativa é de que o interesse exploratório cresça na medida em que as reservas sejam verificadas e constatadas como economicamente viáveis.
Do ponto de vista político e econômico, a exploração do potencial em terras brasileiras seria muito bem-vinda. Com a competição pelos royalties do petróleo pelos estados não produtores, o Shale pode dar uma guinada na produção de estados menos tradicionais, permitindo um apaziguamento da animosidade e uma divisão mais racional dos dividendos.
O Shale tem suas resistências e incertezas, desde os riscos ambientais já conhecidos (poluição de lençóis freáticos, uso intensivo de água no processo de fratura, liberação de metano na atmosfera), passando pelas incertezas técnicas como o atípico decréscimo de produção de cada poço (que pode chegar a 40% ao ano), até a grande complexidade do processo de fracking, tecnologia essa com histórico de aplicação em larga escala apenas por empresas americanas. No entanto, na medida em que a tecnologia é amadurecida – e os marcos regulatórios são adaptados –, fica evidente que essa alternativa energética veio para ficar, tanto no Brasil, quanto no resto do mundo.
Será que estamos na iminência da criação da Xistobrás?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário