Está passando, a meu juízo, relativamente por baixo, a liderança dada ao Brasil, através do brasileiro Roberto Azevedo, na presidência da Organização Mundial de Comércio (OMC).
O jornal O Globo do último domingo preferiu, por exemplo, dizer na manchete que o Brasil é o 10º mais protecionista do mundo. Só que entre os nove primeiros estão Rússia, Índia e China (os RIC dos Brics) e ainda Reino Unido, Alemanha, EUA, Itália, França e Espanha.
O quadro mostra que as maiores economias de alguma forma, ou muitas protegem o seu mercado. Aliás, ele chegaram onde chegaram por exercerem algum grau de protecionismo que os liberais vociferam contra. O resto que se possa dizer sobre o assunto é bobagem.
Sobre o assunto e ainda sobre as estratégias dos países em desenvolvimento, o coreano Ha-Joo Chang é autor de interessantíssimos livros que tratam do assunto. No primeiro "Chutando a Escada" ele conta como os países ricos enriqueceram e agora "tentam chutar a escada pela qual subiram ao topo para impedir que os países em desenvolvimento adotem as políticas e as instituições que eles usaram". O segundo livro "O Mito do Livre-Comércio e Maus Samaritanos- A História Secreta do Capitalismo" que aprofunda o tema e desmonta a ideia dos mercados abertos.
Na semana passada, o blogueiro ouvindo o professor e economista Theotônio dos Santos, um dos principais formuladores mundiais da Teoria da Dependência, ele afirmou que o feito é realmente muito, muito especial.
O mestre Theotônio que é líder da cátedra sobre Economia Global da Unesco disse em uma de suas aulas, que nas esferas políticas dos organismos internacionais, algumas conquistas têm sido somadas pelos países chamados emergentes, mas, na esfera econômica é um fato que merece mais que registro, atenção, pelo que ela aponta:
“Além de tudo, foi uma vitória que juntou todos os países que antes chamávamos de “não alinhados”, contra os países ricos, aqueles que falam, mas nunca praticaram o tal “livre comércio”. A vitória na OMC juntou Brasil, China, Índia, os Brics, todos os não alinhados (que começaram a lutas na década de 50 para romper com as últimas colonizações) contra EUA, Inglaterra, França, Japão, etc.”
A OMC é o organismo em que os EUA ainda exercia toda a sua força hegemônica no campo econômico com domínio absoluto e inalcançável. Agora terá que negociar mais menos unilateral e mais multilateralmente.
O professor Theotônio dos Santos daria uma excelente entrevista sobre o assunto. Ele possui extensa produção acadêmica com quase uma centenas de livros que é muito mais editada e reconhecida fora do que no Brasil, foi recentemente citado em matéria de quase todo o caderno de literatura Prosa do jornal O Globo (leia aqui) junto com outros brasileiros formuladores da Teoria da Dependência.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
Um comentário:
Esta analogia em relação a escada do coreano Ha-Joo Chang traduz muitíssimo bem os subsídios agrícolas que Europa e Estados Unidos concedem à agricultura, por exemplo, que nada mais é do que protecionismo no sentido amplo da palavra, apesar deles negarem isto até que o embaixador Azevedo, eleito recentemente para a presidência da OMC contra a vontade destes poderosos, ajudou o Brasil a ganhar direito de retaliação no caso do algodão.
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