O blog entende que é interessante aprofundar os debates e a análise sobre o assunto. Em comentário de uma nota abaixo, o blog relembrou o geógrafo David Harvey em análise-entrevista, de julho do ano passado, quando falou das "As Cidades Rebeldes" e questionou um dos princípios de alguns destes movimentos, como parece ser o caso do MPL (Movimento Passe Livre) pelo horizontalismo, sem lideranças. (Se desejar leia aqui).
Outra análise, atual sobre o tema, foi feita pelo sociólogo espanhol, Manuel Castells, estudioso do tema das redes e que lembra Henri Lefebvre, dizendo que há no bojo destes movimentos, uma luta pelo "Direito à Cidade".
Novamente a questão da horizontalidade volta à tona. Há ainda que se questionar quais seriam os pontos em comum, entre as manifestações citadas mundo afora, com as que surgiram em São Paulo, espalhou pelo Rio e outras capitais.
Se de um lado, as manifestações podem ter se engrossado com a truculenta repressão da polícia paulista, de outro, não há como desconsiderar o efeito de rede com a repercussão mundo afora, mesmo com a mídia corporativa se ajeitando para entender o que lhe convém neste processo, em que também foram questionadas nas ruas.
Abaixo o blog transcreve a análise do Castells:
"O sociólogo espanhol, Manuel Castells esteve no Fronteiras do Pensamento 2013 para a conferência Redes de indignação e esperança, homônima à sua mais recente obra, a ser lançada no Brasil em setembro (editora Zahar). Em São Paulo, no preciso momento de sua fala no Teatro Geo (11/06), a Avenida Paulista era espaço de tensão entre a polícia militar e os manifestantes contra o aumento das passagens de ônibus. Questionado pelo público sobre o que estava acontecendo na cidade, Manuel Castells respondeu:
Todos estes movimentos, como todos os movimentos sociais na história, são principalmente emocionais, não são pontualmente indicativos. Em São Paulo, não é sobre o transporte. Em algum momento, há um fato que traz à tona uma indignação maior. Por isso, meu livro se chama REDES de indignação e de esperança. O fato provoca a indignação e, então, ao sentirem a possibilidade de estarem juntos, ao sentirem que muitos que pensam o mesmo fora do quadro institucional, surge a esperança de fazer algo diferente. O quê? Não se sabe, mas seguramente não é o que está aí. Porque, fundamentalmente, os cidadãos do mundo não se sentem representados pelas instituições democráticas. Não é a velha história da democracia real, não. Eles são contra esta precisa prática democrática em que a classe política se apropria da representação, não presta contas em nenhum momento e justifica qualquer coisa em função dos interesses que servem ao Estado e à classe política, ou seja, os interesses econômicos, tecnológicos e culturais. Eles não respeitam os cidadãos. É esta a manifestação. É isso que os cidadãos sentem e pensam: que eles não são respeitados.
Então, quando há qualquer pretexto que possa unir uma reação coletiva, concentram-se todos os demais. É daí que surge a indicação de todos os motivos - o que cada pessoa sente a respeito da forma com que a sociedade em geral, sobretudo representada pelas instituições políticas, trata os cidadãos. Junto a isso, há algo a mais. Quando falo do espaço público, é o espaço em que se reúne o público, claro. Mas, atualmente, esse espaço é o físico, o urbano, e também o da internet, o ciberespaço. É a conjunção de ambos que cria o espaço autônomo. Porém, o espaço físico é extremamente importante, porque a capacidade do contato pessoal na grande metrópole está sendo negada constantemente. Há uma destituição sistemática do espaço público da cidade, que está sendo convertido em espaço comercial. Shopping centers não são espaços públicos, são espaços privados organizando a interação das pessoas em direção a funções comerciais e de consumo. Os cidadãos resistem a isso.
Veja que interessante é o caso da Praça Taksim e do Parque Gezi, em Istambul. Há meses, eles estão protestando contra a destruição do último parque no centro histórico da cidade, onde seria construído um shopping center, um complexo dedicado aos turistas, que nega aos jovens o espaço que poderiam ter para se relacionar com a natureza, para se reunir, para existir como cidadãos. Portanto, é a negação do direito básico à cidade. O direito, como disse Henri Lefebvre, de se reunir e ocupar um espaço sem ter que pagar, sem ter que consumir ou pedir permissão a autoridades. Por isso, tenta-se ultrapassar a lógica da liberdade na internet à liberdade no espaço urbano.
Eu não posso opinar diretamente sobre os movimentos que estão acontecendo neste momento aqui em São Paulo, mas há algumas características de tentar manifestar que a cidade é dos cidadãos. E este é o elemento fundamental em todas as manifestações que eu observei no mundo.
O que muda atualmente é que os cidadãos têm um instrumento próprio de informação, auto-organização e automobilização que não existia. Antes, se estavam descontentes, a única coisa que podiam fazer era ir diretamente para uma manifestação de massa organizada por partidos e sindicatos, que logo negociavam em nome das pessoas. Mas, agora, a capacidade de auto-organização é espontânea. Isso é novo e isso são as redes sociais. E o virtual sempre acaba no espaço público. Essa é a novidade. Sem depender das organizações, a sociedade tem a capacidade de se organizar, debater e intervir no espaço público."
Um comentário:
Não acredito nessas manifestações, organizadas por comunistas. Não acredito em comunistas. Não acredito no PSTU, PCO, PSOL, UNE, PCdoB, em nenhum deles. Comunistas são lobos em pele de cordeiro.
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