quinta-feira, junho 20, 2013

"Politizar para além dos partidos é preciso..."

Junto com o terceiro texto com o título acima, do professor Hélio Gomes Filho, o blog reproduz os dois anteriores, publicados ao longo do dia, que lidos juntos, mostram o encadeamento das ideias, que refletem uma posição sobre o momento político em que vivemos. Confira:

"O que as ruas falam e todo democrata deveria ouvir..."

“... E, no entanto, é preciso cantar
Mais que nunca é preciso cantar
É preciso cantar e alegrar a cidade...”
(Vinícius de Moraes e Carlos Lyra)

"A nossa frágil democracia (representativa) não está muito habituada ao diálogo. O sistema político que experimentamos, desde a revolução francesa, avançou pouco ou, melhor dizendo, quase nada. Apesar de passados mais de dois séculos.

Criamos um sistema de representação tripartite onde os poderes: executivo, legislativo e judiciário monologam para dentro e ignoram que “todo poder emana do povo”.

As elites, sobretudo a classe dirigente, pensam saber o que fazer e negociam as soluções pros problemas que afligem a população sem escutar precisamente suas reais e inquietações.

Há muito que se ouve falar em democracia direta e participativa, solenemente ignorada pelos gabinetes dos palácios, pelos plenários legislativos e pelas cabeças de magistrados.

Como diria o geógrafo Milton Santos, porém: “...quem está à frente é o povo...”

Cansados de serem ignorados e de dialogar com governantes “surdos”, pelo menos para suas reivindicações, uma parte expressiva da população do país, sobretudo os jovens, estão nas ruas dizendo que pensam e o que querem de sua nação.

Cabe aos políticos sérios e preocupados com os rumos do país, e não com os seus mandatos, criarem mecanismos de negociação efetivos com essas pessoas.

Não dá mais para postergar. Os verdadeiros estadistas precisam conversar com as massas de uma maneira direta e honesta."

As demandas são legítimas e desejam oferecer mais a quem tem menos
"A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir...”
(Vinícius de Moraes e Carlos Lyra)

Não é só por 20 centavos!

É muito mais que isso se contabilizarmos os aumentos acumulados.

É a saúde que ainda está doente.

É a educação pública que se tornou universal, mas com problemas na qualidade.

É a cidade que expulsa seus pobres pra periferia em nome da especulação imobiliária, sob o beneplácito do prefeito, dos vereadores, dos magistrados e promotores.

Longe do hospital, da escola e da diversão e com um transporte, desconfortável, lento, incerto e caro.

É preciso que os governantes lancem mão dos instrumentos legais de regulação do direito à cidade.

Quando foi que o prefeito do seu município utilizou o Plano Diretor Participativo (garantido pelo Estatuto da Cidade – Lei 10.257 de 10 de julho de 2001) pra fazer justiça fundiária urbana?

Por que a localização das habitações populares é sempre nos limites rurais da cidade, apesar dos muitos vazios urbanos existentes?

O fim da política econômica recessiva do Brasil no século 21 incluiu legiões de pessoas, é verdade. O incentivo ao mercado interno e os programas de garantia de renda mínima fizeram a economia crescer e distribuir renda.

A cidade, porém continua injusta e essa é a bola de vez.

Está na hora de começar a pedir sacrifício de quem tem mais pra dar!


Politizar para além dos partidos é preciso...

“Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas de luz...”
(Vinícius de Moraes e Carlos Lyra)

Há uma série de coisas que precisamos estar atentos nesse bem-vindo movimento que tomou as ruas do país. É compreensível que ele seja apartidário ou mesmo suprapartidário.

Porém, os movimentos são basicamente políticos, uma vez que querem discutir as relações de poder na sociedade, ampliar a participação popular, na solução dos problemas, na fiscalização e também balizando os atos dos políticos, avançando para além da democracia representativa.

O movimento não deve negar a política, mas fortalece-la, pois só a política pode mediar as relações entre as pessoas. O fim da política de negociação é um passo pra ditadura. E quem viveu a ditadura sabe o quanto custa.

Custa a liberdade! Liberdade é como luz e como água, só valorizamos quando falta. Acredito que não estamos à busca de um deserto na escuridão.

Preocupa-me ainda, a supervalorização de temas no campo da justiça, como a PEC 37, por exemplo. Não resolveremos o problema da política transferindo as decisões do executivo e do legislativo para o judiciário.

Se os políticos não são dignos de confiança, o que me garante que magistrados, promotores e procuradores sejam.

O pior é que se o político se mostra indigno, por probidade e/ou competência, ele pode ser trocado no fim do mandato.

Quem escolhe os políticos somos nós. Quem é que escolhe juízes e promotores, cabe a quem tira-los quando considerados indignos?

Precisamos também avançar na nossa democracia. Estamos nas ruas, os políticos estão dando sinais de que estão sensibilizados pra força que demonstramos, a hora é essa. Para além das urnas, precisamos construir mecanismos de participação do povo nos diversos governos.

Os governos podem promover o diálogo com cada um de nós por meio das novas tecnologias. Até mesmo os não organizados têm acesso a elas.

Queremos ser ouvidos para além das urnas e os governantes honestos sabem que isso é possível.

4 comentários:

Anônimo disse...

Não entendo!? Quem que colocou esse governo no poder?! O governo deu algum golpe de estado? Ou foi eleito? De quem é a culpa de termos esse governo? E também quem está bancando o trio elétrico? São os estudantes ou algum grupo que quer assumir o poder e não foi eleito? Será que esse grupo se caso estivesse no poder mudaria alguma coisa ou seria mais um grupo que como no "fora Collor" quando assumiu o poder manteve a mesma coisa, que levou a essa manifestação que vemos hoje em todo país! Vale lembrar que o grupo que estar no poder hoje, o grupo que governa o país é o mesmo que incentivou e gritou junto com os "caras Pintadas" -FORA COLLOR!a VERDADEIRA MANIFESTAÇÃO DE INSATISFAÇÃO DEVE OCORRER NAS URNAS!ESSA PODE MUDAR ALGUMA COISA!

douglas da mata disse...

Mais fetiche:

Sobre comunicação instantânea governo e administrados, desprezando que os meios não diluem os interesses que movem as comunicações, e que estão estruturados nas esferas de poder!

Não se comunica sem um fim político determinado, e este fim está adstrito a uma ideologia ou interesse. Qualquer que seja a forma ou a instância...santo deus.

A não ser que o ilustre professor Helinho deseje o cyber-anarquismo, pois bastará um servidor super-hiper-mega potente, conexões cerebrais tipo Nicollelis e pronto: as decisões dos controladores dos orçamentos serão movidas por nossa ondas cerebrais que emitirão comandos telemáticos...que tal?

Aí alguém altera a programação da Matrix, e a gente se fode todo!

rsrs....

Quem se comunica "direto" é o fascismo e outras formas de totalitarismo. Estes entes carismáticos não precisam de mediação!

Confuso, oscilante: ora valoriza a política, ora quer a política exercida além dos partidos, mas como os manifestantes, não diz como!

Estranho a gente se referir a um troço como "movimento"...

É igual a um filme que eu vi, muito tempo atrás, A Onda, sobre experiências de um professor em sala de aula, ensinando na prática como milhões de alemães se renderam (com gosto) ao carisma do Füeher.

O movimento, a onda...

A frase do governante honesto que fala além dos partidos e dos governos poderia sair da boca da Ana Maria Braga.

Anônimo disse...

Sinceramente, em quais partes do que foi escrito há oscilação ou confusão do autor?

douglas da mata disse...

Leia de novo, os três textos, que afinal, foram expostos para serem sistematizados, quem sabe você entenda?

A confusão reside na lenga-lenga de imaginar que movimentos sem direção política alguma poderão expandir os limites democráticos e sensibilizar as formas de governo e representatividade.

Ora bolas, governos não são destinados a esta tarefa, mas sim a equilibrar demandas e pressões da base social heterogênea.

Quem organiza e expande democracia é partido, sindicato, associações, etc.

A única coisa que brota de multidões sem direção é o fascio!

Como governantes poderão negociar com algo que nem se identifica, e muito menos define o que tem que ser negociado.

O que o Helinho parece estar fazendo é o que eu estou lendo por aí, onde no início havia um encantamento desproporcional, que agora virou preocupação e já se avizinha do pânico.

Acho que alguém deve dizer (a presidenta): "tá bom, acabou a brincadeira!"

Hellinho exorta ao sentimento de repulsa a ditadura, mas parece ter se esquecido como elas são gestadas.

Em 73, no Chile, o governo Allende teve o voto, e ficou encurralado por aqueles (MIR) que achavam que o governo era leniente e negociava demais com as elites, enquanto abandonava o povo. De outro lado, a direita espumando e sabotando. No meio, os inocentes (in)úteis (como estes de agora, que apoiam esta merda toda).

O resultado? Bom Hellinho pode responder melhor que eu, ele é um pouco mais velho!

Com Jango foi quase a mesma coisa...