A descrição abaixo feito pela professora Conceição Soares Cruz em comentário em nota abaixo e trazido para este espaço para debate, expõe um dilema em uma situação real que vale ser discutida:
"Professor Roberto
Gostaria de utilizar este espaço para colocar a minha angústia diante da falta de conscientização do povo campista quanto aos direitos da criança. Ontem, 19/08/2013, peguei o ônibus do Parque Imperial às 7h30min e como estava cheio fiquei em pé. Em determinado ponto parou para pegar passageiros. De repente, o motorista levanta e diz:
__ Estudantes, por favor, levante de seus lugares e deixa os idosos sentarem! No entanto, a sua voz era de comando, de ordem, no imperativo afirmativo não dando margem para ser ignorada. Percebi que apenas dois estudantes estavam sentados e no mesmo instante se levantaram e estavam constrangidos. Percebendo o constrangimento dos mesmos fiquei sentida, mas nada fiz. Uns três pontos à frente a mesma história aconteceu e aí não consegui me conter e me dirigi ao motorista e lhe disse:
__Moço o senhor sabe que o que esta fazendo é errado, pois a forma, ou seja, o tom utilizado para falar com as crianças é de coação e isso é crime. Ele respondeu que sempre fez isso e que continuaria a fazer. Que eu fosse reclamar na empresa ou na EMUT que não importava se perdesse o emprego por isso, pois estava defendo os idosos. Em momento nenhum eu estava contra os idosos, pelo contrário, os respeito muito. Eu estava em defesa do respeito a pessoa humana do estudante. Senti que se o ‘sujeito não paga passagem’ , entre aspas porque nós sabemos que a empresa recebe concessões para que os estudantes tenham esse direito, ele passa a see um qualquer, um marginalizado que deva ser tratado de forma grosseira, sem respeito. Como pode isso?
Como ficar calada? Eu pego esse ônibus todos os dias e a noite também e nos horários dos estudantes, pois sou professora a 26 anos da rede pública do estado e do município. Eles são barulhentos e muitas vezes brigões sim, na sala de aula a gente enfrenta isso todos os dias e temos que saber lhe dar com isso, mas não nos dá o direito de menosprezá-los. Eu vejo sempre os motoristas fazendo isso com os alunos até o tênis é motivo para fazer a criança descer do veículo. Quando na verdade a gente sabe que pela LDBEN nenhuma criança pode deixar de entrar na escola por falta de uniforme. No Parque Imperial muitas vezes estes alunos são deixados nos pontos, perdendo o seu horário porque o motorista não quer levá-los por ser microônibus.
Mas o que me deixou penalizada foi a questão das pessoas que estavam no ônibus defenderam a atitude do motorista e tentarem me ridicularizar por está falando de leis em defesa da criança. Será que eles gostariam que seus filhos fossem tratados assim? Senti pena porque o individualismo está tão grande que só interessa o nosso próprio bem estar e o outro não existe. Não nos choca as arbitrariedades cometida para com o outro. Quando desci no meu ponto fui vaiada, mas quero dizer apenas uma coisa não me calei diante da injustiça e se tiver novamente dentro do ônibus e isso vier acontecer vou filmar com o celular e tomar algumas medidas.
Obrigada professor pelo espaço concedido.
Conceição de Maria da Silva Soares Cruz."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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11 comentários:
É por isso que os pais devem dar educação aos seus filhos em casa, pois na rua não o educarão com o mesmo carinho.
Só indo morar na Suíça, Islândia, Suécia ou Nova Zelândia para não ter que ver, sentir ou experimentar estes cânceres impregnados na sociedade, nas instituições e autoridades desta terra de vera cruz.
Concordo com o Anônimo de 10:42 AM.
é professora e escreve´´a 26 anos``..
Jamais motorista algum precisou me pedir ou ordenar que desse lugar a idoso, grávida ... aprendi isso em casa.
Não consigo entender onde ela quer chegar. Aliás sei sim, é nas concepções loucas que parecem até mesmo serem manipuladas por alguma coisa que quer destruir a sociedade pois essa "educação" que doutores em educação que nunca deram aula defendem é uma alienação dos jovens. tomar uma bronca não arranca pedaços pelo menos eu e todos da minha geração nunca perdemos nada tomando um aperto quando vacilamos. a sociedade não está evoluind, vemos isso toda hora. já falei demais !
Certíssimo o motoristas, se os jovens não tem desconfiômetro que sejam chamados a atenção. Acho que o constrangimento foi do motorista, que teve que deixar a sua função para fazer valer um direito garantido por lei,e sobretudo respeito aos idosos.
7 comentários , um olha o erro de português, outro acha loucura se indignar e apenas um deu nome mesmo a autora da postagem dando nome e sobrenome. É claro que ao postar alguma coisa principalmente quando nos identificamos corremos o risco dos contraditório,mas quem se indigna com algo que vem se acumulando ao longo dos tempos nos serviços públicos de transporte coletivo em campos tem sempre sido motivo de chacota pelos outros passageiros. Que bom que a professora conseguiu mexer com alguns que mesmo anônimos e contradizendo sua opinião saíram do silencio, que bom saíram do silencio. Na postagem sobre a sondagem do solo da ciclovia nosso grande Arquiteto diz: O que me preocupa é o silencio dos bons. A professora com certeza deveria ficar calada pois é isto que se espera na sociedade campista, calada sempre, reclamar pra que não tem jeito. Como vimos não é a aspereza do tratamento daquele momento com as crianças, mas os erros constantes de motoristas que deixam idosos e estudante sem ônibus pelo bel prazer de agir desta forma, e inclusive em alguns casos eles comentam entre si em forma de galhofa e isto é presenciado por varias pessoas que estão dentro dos ônibus, isto só é evitado quando existe a presença de guardas e fiscais(porta de escolas publicas), mas nos bairros é constante. Como em todas as profissões não da para generalizar, mas que sentimos saudades do tempo dos motoristas educados e solícitos de Campos conhecíamos pelos nomes e havia interação entre empresa passageiros, interação esta solidificada pelos motoristas e cobradores mesmo com ônibus velhos e quebrados. Acredito sim que é possível mudar, mudar nossas atitudes em relação aos problemas e entraves que nos distanciam da vida em comunidade e que o silencio seja apenas nosso momento de reflexão sobre o que realmente queremos para nossa cidade. Francisco
Caro Prof. Roberto
A propósito da irresignação demonstrada pela Profª Conceição de Maria na postagem Professora defende crianças em dilema real em ônibus em Campos, porém sem pretender questionar o mérito de seu protesto, aproveito a menção que ela faz, incidentalmente, a caso semelhante que ocorre nos micro-ônibus, ou van's, para sugerir uma possível atenuante ao tratamento eventualmente grosseiro que os condut ores desses veículos dão ao seu passageiro.
Acho que se deveria considerar a precária condição de trabalho desses profissionais, que, apesar de fundamentais para a viabilização da mobilidade urbana, pertencem a um segmento do transporte de passageiros que é duramente estigmatizado, quando não perseguido, pela autoridade municipal. E não só em nossa cidade. O preconceito com que são tratados ocorre pelo Brasil a fora.
Sua atuação nesse transporte ora é denominada alternativa, ora clandestina.
Entretanto, eles já se fizeram imprescindíveis para a população mal servida e desrespeitada pelas tradicionais empresas concessionárias.Triste do povo se não existissem esses pequenos ônibus, que vêm preenchendo as enormes lacunas deixadas pelos transportadores oficiais. E mesmo sem contar com o benefício dos subsídios da "passagem a um real".
Se fossem igualmente amparados poderiam ser mais bem cobrados.
No mais, os parabéns pela postura cívica da Profª. Conceição.
Sds
Jose Ronaldo Saa.
Postura cívica da professora? Onde?
O que houve não foi "falta de educação dos estudantes?
Não aprendem isso nas escolas?
O que aprendem sobre civilidade, sobre cidadania, provavelmente, entra num ouvido e sai no outro.
Parabéns ao motorista.
Eu concordo parcialmente com o Jaci Borrow, alguns jovens se comportam como animais, só se comportam bem quando estão fingindo que estão dormindo, para não ceder o lugar. Finalmente, ouço falar de um motorista que respeita, e exige, o direito dos idosos. Há idosos que malham, andam de bicicleta, namoram, inclusive parceiros bem mais novos, e depois vão para as filas de prioridade, tudo dentro da lei.
Daqui há pouco, haverá mais idosos que jovens, os nossos idosos não são melhores que nossos jovens, apenas têm mais direitos, experiências, e é óbvio, melhores condições financeiras. Muitos destes jovens têm problemas de saúde, como por exemplo, anemia, dá sono e desânimo, outros têm problemas comportamentais, vão dormir de madrugada. Eu acho que essa professora nunca anda de ônibus, mas ela tem razão, sim, os jovens são, com certeza, quem não tem culpa nessa história. Deveria ter lugar sentado, para todo mundo, mas aí compromete o lucro, que é o mais importante nessa história toda, muito mais aqui, com passagem a um real.
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