O geólogo e jornalista mineiro Everaldo Gonçalves encaminhou ao blog seus comentários sobre a nota postada abaixo pelo blog "Anglo e Eike: água, licenciamento e outras questões". O blog reproduz na íntegra o seu texto que contém fortes críticas e denúncias sobre problemas financeiros e técnicos nos empreendimentos do grupo EBX:
"Prezado Roberto Moraes,
Volto ao seu blog para contribuir com suas boas e isentas análises sobre os projetos mirabolantes de Eike Batista e sua ex-EBX.
Certamente eu fui o principal ou o único técnico geólogo que há mais de dois anos tenho mostrado a inconsistência dos projetos de Eike Batista. Fiz cinco artigos publicados no Portal Brasil 247 e denunciei ao BNDES e à presidente Dilma Rousseff, mas o mercado fechou os olhos, como se encantado pelo canto da sereia do dinheiro fácil que o falso Midas oferecia. Basta procurar no Google Everaldo Gonçalves e Eike Batista e é possível encontrar meus artigos que não eram premonitórios mas críticos.
Sua crítica de hoje Anglo e Eike e a transcrição da coluna do Ancelmo Goes são pertinentes sobre o uso das águas do Rio do Peixe, que não dispõe de vazão suficiente para o projeto de fazer a polpa para trazer 26 milhões de toneladas/ ano de minério de ferro ao Porto Açu, se ambos saírem da prancheta. O mineroduto de 525 km. está, talvez, com 70% executado, mas há restrições ambientais e do Ministério Público, na outorga da água, aprovação da licença ambiental partilhada na mina, no mineroduto e no porto.
Então, muita água vai rolar nesse rolo antes de passar pelo mineroduto.
São tantas contradições, falhas e erros de projetos, mentiras, conivência, apadrinhamento que não é possível separar o joio do trigo, o diamante do cascalho. Mas, ainda que os projetos fossem sólidos, uma a um se desmancha no ar! Quem é o culpado? O próprio Eike Batista, um aventureiro numa atividade – mineração que em si já é de elevado risco – e todas as autoridades do Ministério Público, agentes financeiros oficiais e a BOVESPA, auditores e o governo que fez do falso Midas, seu modelo de capitalismo e fracassou.
De fato o valor de compra das “minas” divulgado como de 5,5 bilhões de dólares, mais os investimentos para desenvolver a “mina” de baixo teor de ferro, ao redor de 28%, que precisa gastar energia comprada para elevar o teor para 65% a 68%, implantar o mineroduto de 525 km, e fazer a planta de separação e aglomeração do minério e o porto que não tendo calado (praia do açu = praia grande, não porto grande ou pior super porto grande) que exigiu uma ponte de 3 km, para calado de 18 m. e dragagem de um canal de mais de 20 km para receber navios de 26 m. de calado ou Chinamax. Ocorre que as correntes trazem os sedimentos jogados no mar pelo Rio Paraíba do Sul e o canal logo fica assoreado, num trabalho de Sisifo. Isto no denominado TS1. Não satisfeito com o TS1 que é da Anglo American e da LLX, esta empresa X se meteu a fazer um porto onshore (em terra que elimina a vantagem propalada do offshore) e precisa dragar o canal para dentro do continente. O quebra-mar previsto para o TS1 foi previsto e iniciado com blocos de rocha fixados por core-logs. Quando começou o TS 2 os espanhóis da Acciona entraram na construção com a inovadora técnica em nosso meio de usar os caixões de concreto cheios de areia para o quebra-mar. A mesma técnica passou para o TS 1 que parece que está ficando com um quebra-mar ou quebra-LLX misto. A Anglo não sabe mais o que fazer para sair desta enrascada que já causou inúmeros adiamentos na conclusão do Projeto Minas-Rio, e o preço está absurdamente elevado para empresas tradicionais de mineração. Pior é que o valor inicial da compra das concessões de ferro de baixo teor, cujas reservas são muito inferiores daquela divulgada de bilhões de toneladas, não chegam a casa do bilhão. Portanto o valor divulgado da venda de U$ 5,5 bilhões não pode ser real. Tanto que Eike com 480 milhões de reais comprou as minas marginais da Serra do Itaiaiaçu - Serra Azul – MG, e em Dom Joaquim, próximo das áreas da Anglo, jazidas de mesma grandeza foram vendidas, mas recentemente por 400 milhões de reais.
Então o valor das áreas de ferro, que Eike recebeu de graça da União e vendeu para a Anglo, não pode ter sido de U$ 5,5 bilhões, mas tudo indica, inclusive o imposto de renda, que na verdade Eike recebeu apenas, o que já foi muito, 500 milhões de dólares e os cinco bilhões, foi mandado da África do Sul, para o paraíso fiscal do estado de Delaware, nos Estados Unidos, como dinheiro repatriado, com medo de expropriação das minas. Tanto isso é verdade que a Receita Federal aplicou multa de R$ 3,3 bilhões por sonegação dessa operação de venda, com lucro que deveria ter sido declarado e pago da venda das concessões por R$ 11 bilhões.
Os problemas no Açu vão das desapropriações mal pagas; a contaminação dos aquíferos pela dragagem salgada nos aterros; as constantes mudanças nos projetos integrados de siderurgia, fábrica de cimento com a escória, fábrica de tubos e de carros com o aço; e usinas termelétricas a carvão da Colômbia e gás da OBX, cujo gás já acabou. A zona costeira desde Atafona e a praia do Açu, conforme seu blog tem mostrado e eu ajudei na explicação, sofre sério problema de erosão, que pode colocar em risco, junto com as dunas movediças, sérios problemas aos projetos da LLX.
O caso do empresário Eike Batista é seríssimo, pois é o modelo do novo capitalismo sem capital, que tem sido colocado em prática nestes anos de governo do PT (os outros governos, também, não foram diferentes, cada um teve seus parceiros), com dirigentes sindicais que dominam o dinheiro dos fundos de pensão e dos Bancos Oficiais, FAT, FGTS e outros. É um crime de lesa-pátria!
Um dia esperamos, nós brasileiros, que tudo seja apurado.
O BNDES emprestou para as empresas de Eike Batista, cerca de R$ 10,4 bilhões, dos quais R$ 6,6 já foram liberados e pelo menos 500 milhões de reais não possuem garantia real. Denunciei à ouvidoria e à presidência da República. E, apenas do banco recebi resposta que os empréstimos foram bem analisados por rede de 35 técnicos e estão ok; da Presidente Dilma Rousseff não tive resposta e fiz por carta aberta e mensagem pessoal. Os bancos que deram as garantia não sabem o que fazer.
O capitalismo é isso cria e destrói seus mitos.
Qual será o próximo? Tem boi na linha, quando a propaganda da carne, que é fraca, é muita o santo desconfia.
Caro Roberto Moraes, é com estas palavras de minha experiência profissional e de visa, que posso contribuir com a crítica no seu Blog.
Um abraço,
Everaldo Gonçalves
Geólogo e jornalista."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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4 comentários:
Texto EXCELÊNTE do Everaldo Gonçalves. COBERTO DE RAZÃO EM TUDO.
Texto EXELENTE do Everaldo Gonçalves. COBERTO DE RAZÃO.
muita gente reclama das mineradoras, pois poluem tudo, destroem vegetação nativa, rios, sítios arqueológicos, comunidade quilombolas, etc, etc, etc... mas na hora de andar de carro, avião, trem, navio, usar fogão, moradia, geladeira e outros recursos modernos muito úteis à sociedade, os ecochatos não aparecem para reclamar... hora, até parece que eles conseguiriam abrir mão de todo este conforto para voltarem nus à floresta e fazerem da caça o seu sustento... de onde é que eles acham que vem o aço utilizado todos os dias em nossas vidas?... haja paciência para tanta hipocrisia...
Leonardo: É assim mesmo. Sem hipocrisia, a humanidade não é possível.
Não queremos hidreelétricas mas não dispensamos o ar condicionado. As mineradoras são insensíveis, exploradoras e inescrupulosas mas utilizamos computadores, carros e TUDO o mais que não vem de outro lugar senão da mineração. Abominamos a derrubada de árvores mas vivemos em casas e apartamentos. Detratamos a famigerada indústria do petróleo mas continuamos a escovar os dentes. Risadas?
Conforto: ninguém quer usar com moderação.
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