O porto Sudeste localizado na Baía de Sepetiba, em Itaguaí foi avaliado em R$ 4,5 bilhões. Os compradores são o grupo holandês Trafigura e o fundo árabe de Abi Dhabi Mubadala que alocarão mais US$ 400 milhões e assim ficarão com 65% do empreendimento.
Além dos R$ 4,5 bilhões os novos sócios devem ficar com as dívidas da MMX, no valor de R$ 3,4 bilhões que somados dão aproximadamente R$ 8 bilhões valor equivalente a um terço do total de dívidas do grupo EBX de aproximadamente R$ 25 bilhões. Assim como na negociação da LLX com a EIG, a previsão de conclusão do acordo com a Trafigura e Mubadala é de um mês.
A Trafigura é um grupo internacional (que se intitula Trader) com negócios em petróleo e metais. A corporação trans-nacional está instalada em cinco continentes e mais de cinquenta países. Na América do Sul até agora tinha a base de suas operações na Argentina. Seu negócio e negociar e transportar grandes volumes destes materiais (commodities). No ano passado seu faturamento foi de US$ 120 bilhões.
O grupo Mubadala (palavra árabe que significa troca) que já investiu na holding EBX e tem participação na LLX informa que objetiva trabalhar como "catalisador" para diversificar a economia do país produtor de petróleo na Arábia, Abu Dhabi. O grupo tem investimento no mundo todo de mais de US$ 55 bilhões.
Com mais esta confirmação de negociação de participação das empresas "X", na prática, o empresário Eike se estabelece como um verdadeiro "duto". Por ele está fluindo imensos negócios e interesses na direção do Brasil para um posterior fluxo de materiais e capital.
Até o momento estamos falando de corporações alemã, americana, holandesa e árabe, entre outras possíveis. Poderia se dizer que na prática a holding ou grupo poderia deixar de ser EBX para passar a ser DutoX.
Há uma série de questões a serem observadas sobre o fato. Uma delas que vem logo à mente é que a entrada de grupos estrangeiros nestes negócios acontecem depois do licenciamento e do aporte de recursos do BNDES, o que concede garantias e vantagens enormes e interessantes aos grupos que entram nos negócios.
Outra observação é que assim, os negócios deixam de ser de uma pessoa e passa a grupos de investimentos, sem rosto, sem cara e com muitos e conhecidos interesses. Se com controlador nacional as compensações, mitigações e impactos sobre as comunidades já eram grandes imagina-se agora. Momentos de transição são excelentes para serem perdidas e "esquecidas" as exigências e os compromissos, a não ser que o Estado cumpra sua obrigação de regulação e fiscalização.
É também interessante de outro lado observar, que ao contrário do que alguns falam, o Brasil, enquanto país, chamado de emergente, oferece uma série de possibilidades de ganhos por estas corporações. Estas vêem aqui capturar o excedente de nossa economia e nossas riquezas.
Com a extrema valorização do minério deste a segunda metade da década passada e logo depois com a confirmação de nossas enormes reservas petrolíferas do pré-sal o Brasil se transformou em atração geopolítica, porque além de não estar no conturbado Oriente Médio é um povo alegre e trabalhador.
As grandes corporações começaram vindo para o Brasil quando de sua industrialização e continuou assim até recentemente. Depois, foi passando para o agronegócios, telefonia e energia elétrica. Adiante para a área financeira e de seguros, seguiu para a área de serviços, consultoria, saúde, educação, etc. Agora mais recentemente vemos a entrada das corporações na área de concessões de infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, etc.)
Na verdade, antes de aquisições como estas das empresas X, já vimos diversas corporações trans-nacionais entrando aqui com financiamento do BNDES, como é o caso das concessões e PPPs em que todas foram feitas com garantias de financiamento.
Sofremos riscos de monopólios e carteis como vimos recentemente em São Paulo. Regular estes setores não é algo simples. Há quem enxergue neste desenho a forma de, no curto prazo o país, usando o alto valor atual de nossas commodities, a chance de entrarmos no sistema mundo-global de forma menos subordinada do que fizemos até aqui, tentando reproduzir aqui o modelo do Canadá ou da Austrália.
De outro, há um enorme risco de aprofundarmos nossa dependência, nossa subordinação, não apenas a nações (impérios), mas a corporações que são cada vez mais fortes e controladoras das nações que antes lhes ofereciam o território para suas sedes e hoje, parecem dutos para o capital financeiro e líquido em busca de espaços para instalar o capital fixo.
Para além desta análise mais macro desta realidade cabe, uma análise regional-local sobre o que tudo isto significa, já que temos visto que negociações e contratações locais não acontecem e toda a dinâmica deste processo é decidida e centralizada nas metrópoles, onde a direção do capital é decidida, sem nenhuma intervenção dos poderes políticos ou econômicos regionais.
O que fazer para mudar esta realidade? Como intervir? O que exigir? Não parece simples, mas, ao mesmo tempo, não parece assim, tão complicado se manifestar e se preparar para deixar claro do que não admite que seja feito e o que não se abre mão de que seja garantido e realizado.
A não ser que queira continuar a observar toda esta realidade como um torcedor olha um jogo de tênis, apenas olhando para um lado, ou para o outro, só sendo chamado a atuar para aplaudir.
Para quem vive e pretende intervir nesta realidade seria bom se organizar e entrar em campo, porque, só assim, o jogo pode passar a ser outro.
PS.: Atualizado às 22:52: O novo controlador da MPX, a alemã E.ON. acabou de anunciar que mandou para o espaço ou para o dutoX, o nome antigo da empresa de energia elétrica que agora será a Eneva, sem X, para retirar as digitais. O X que multiplicaria agora foi subtraído. Por enquanto querem se livrar do X, mais adiante veremos. Agora, olhando a logo, parece que tentaram esconder o sol e o X foi só separado. Confiram na imagem da logo ao lado. Oh, marqueteiros!
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
Sendo do setor de energia, o nome "eneva" e sua logomarca remetem a uma empresa de energia limpa ou alternativa, e não das poluentes usinas termelétricas a carvão do referido grupo.
Oh, Marqueteiros mesmo!!!
DutoX = Esgoto X
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