Neste momento em que se discute o interesse dos americanos pelo projeto portuário e a possível ligação disto com a questão do petróleo e do pré-sal em nosso litoral, torna-se, mais que nunca, importante fazer uma breve recapitulação sobre o processo histórico da instalação do Porto do Açu.
Na lógica primeira do empresário Eike Batista, o objetivo foi o de verticalizar seus negócios criando empresas e buscando investidores, sócios e acionistas para quantas empresas fossem necessárias criar visando atender demandas de produtos e serviços das primeiras empresas e assim por diante.
Lançamento Pedra Fundamental Porto do Açu: 27-12-2006 |
A primeira empresa de Eike ao retornar do exterior em 2001 foi a MPX. Através dela construiu a Usina de Termelétrica no Ceará que ficou conhecida como TermoLuma, nome de sua primeira esposa Luma de Oliveira presente à inauguração. Era época do apagão no governo FHC. Gastou US$ 50 milhões para a construção da usina depois vendida à Petrobras por US$ 100 milhões.
Só em 2005, depois de receber gratuitamente do governo do estado, na gestão de Rosinha, o projeto do Porto do Açu, o empresário compra duas fazendas na região, em área já desapropriada por decreto do governador Garotinho em 1999, para instalar um porto para exportação de minério de ferro, através da empresa recém criada, a MMX. A pedra fundamental do empreendimento foi lançada em 27 de dezembro de 2006 e as obras iniciadas em outubro de 2007.
Eike recebe da prefeita Carla Machado a comenda Barão de São João em 25-06-2008 Foto: Divulgação PMSJB |
A parte de minério da MMX passa a receber o nome de Projeto Minas-Rio, enquanto o segundo, o de Porto do Açu, ou como o empresário preferia chamar de "Superporto do Açu", projeto que antes chegou a ser chamado de "Centro de Logísitica Industrial do Norte Fluminense".
Nesta época a commoditie minério de ferro tem uma explosão de preço no mercado internacional. Depois de mais de 20 anos na faixa entre US$ 10 e US$ 20 a tonelada, ela passa para quase US$ 100 (tendo chegado US$ 190 entre os anos de 2010 e 2011.
Gráfico da cotação mundial do Minério de Ferro em 30 Anos (1982-2011). O Aumento exponencial do valor em 5 anos, a partir de 2005 potencializa os negócios da MMX |
O Terminal-1 ainda em obras do Porto do Açu |
Assim, o empresário lança ações da OGX na Ibovespa, capta recursos, aluga sondas para perfuração dos poços, encomenda plataformas e rapidamente, faz a empresa ter valor equivalente a quase 3/4 de todos os seus outros negócios.
Nesta toada, Eike anuncia descobertas de reservas uma atrás da outra e promete que no final de 2012 estaria produzindo 50 mil barris de petróleo e na virada da década já estaria com produção perto de 1 milhão de barris, ficando no Brasil, atrás somente da Petrobras.
Decretos Estaduais garantem áreas para o empreendimento |
Lançou ações da OSX, onde está pendurado estaleiro, ou, a UCN Unidade de Construção Naval (UCN) e começou a construir o estaleiro no Açu, ao mesmo tempo que ampliou a ideia do porto do Açu de um terminal (ponte no mar) para um segundo terminal trazendo mar para o continente, rasgando um imenso canal, onde localizaria o estaleiro com a função de em seu pier tirar as plataformas e navios para serem lançados ao mar. No canal do outro lado do estaleiro projetou áreas com píeres para alugar para empresas de apoio à exploração de petróleo offshore.
Reunião no Palácio Guanabara que decide as desapropriações no Açu para dar espaço para o DISJB |
A forma truculenta, injusta e cruel vem sendo imposta à força nestas desapropriações, de maneira questionável legalmente, já que o estado desapropria, mas, é a LLX que paga pelas áreas, numa prática que está sendo objeto de inúmeros questionamentos do Ministério Público e de diversas ações judiciais, que ainda voltarão à tona e com força, com a transferência do.controle acionário das empresas X para grupos estrangeiros.
Por tudo isto, não é difícil imaginar o imbricado de negócios cruzados entre as empresas "X". Certamente, a maioria dos seus acionistas, mesmo, os de grande porte, não conhecem os detalhes deste processo, em que acabam iludidos pelas informações plantadas que são difíceis de serem auditadas.
Resistência dos produtores rurais à desapropriações O Globo 26-04-2011 |
O terminal-2 do Porto do Açu, o on-shore, para o qual se construiu o canal para acesso ao continente é uma sociedade entre a OSX e a LLX, embora em área da alugada da última.
O fato está exposto de maneira clara no processo de 2012, em que a OSX solicita à ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) solicita autorização para operação de terminal portuário de uso privativo em cais de 2,4 km, que poderia ser expandido para 3,5 km.
Canal do Terminal-2 do Porto do Açu - OSX/LLX |
Na condição de armador, a OSX é sócia com 49% do Consórcio Integra, com a construtora Mendes Jr. que possui 51% das ações e que já está sendo estruturada no Açu, em área lateral a da UCN para montagem de duas plataformas, num contrato com prazo de execução de 60 meses, com previsão de ser inciado antes do final deste ano.
Repercussão na mídia estrangeira do colapso das empresas "X"- Washington Post em 10-08-2013 |
Enfim, os nós empresariais (jurídicos e de engenharia financeira) estão tentando desatar para salvar o dinheiro do empresário e seus acionistas. Para isto grandes grupos estrangeiros (E.ON.; EIG, etc.) e nacionais estão na disputa.
Resta saber quem vai cuidar do território onde as ações compensatórias ambientais e sociais se perdem em meio à mudança dos controle dos acionistas. Em meio a todo este processo, o uso do território passa a ser apenas um detalhe, onde se aporta um grande capital fixo, preocupado unicamente com o seu retorno, pouco se importando com o rastro de problemas que deixa no seu entorno.
Seria correto que toda esta troca de comando e controle de gestão tivesse obrigatoriamente a participação dos agentes públicos e das comunidades envolvidas, se, minimamente estivéssemos falando de uma verdadeira responsabilidade social.
Dívidas das empresas X chegam a US$ 25 bilhões - Infográfico do Valor Online. |
Grupo americano EIG anuncia interesse no Porto do Açu Valor Online 14-08-2013 |
Enfim, quem banca o risco de surfar sobre as ondas, assume também o risco de tomar um "caixote" e ser arrastado até a areia do fundo do mar, que pode não estar mais para peixe e nem o território mais em condição de produzir o alimento que nos sustenta a todos. O país necessita de infraestrutura e logística, mas, não a qualquer preço e condições.
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