Leia na íntegra a reportagem da jornalista Graziella Valenti:
Com Angra, EBX ganha comando para
negociações
A crise de credibilidade que caiu sobre o empresário Eike Batista, após o desmoronamento do grupo EBX, tornou necessária a escolha de uma liderança para o processo de reestruturação. O desgaste de sua imagem impede que ele próprio conduza esse trabalho. É para essa função que foi chamado Ricardo Knoepfelmacher, sócio fundador da Angra Partners, consultoria especializada em reorganizações de empresas contratada para atuar na holding. Ele veio para coordenar todo o processo. Daqui para frente, nada relevante será feito sem seu conhecimento.
A reestruturação da EBX terá um plano de cem dias que será desenhado pela Angra. Desse período, os envolvidos estão cientes de que os mais críticos serão os 30 primeiros. Entretanto, a peculiaridade do negócio - uma holding com várias empresas pré-operacionais - dificulta a programação de um prazo. Esse intervalo, portanto, é mais uma referência.
Ricardo K é conhecido pela atuação na operadora de telefonia Brasil Telecom (que envolveu a destituição de Daniel Dantas, do Opportunity, da gestão do negócio), na usina Santelisa (hoje dentro da Biosev, da Deyfruss) e grupo Bertin, entre outros.
A Angra, personalizada na figura de Ricardo K, está atuando diretamente somente na EBX - e não nas empresas operacionais - e assumiu esse papel na tarde de quarta-feira passada, conforme pessoas próximas do empresário. Os últimos dias foram de extensas reuniões com as diversas partes afetadas pela derrocada dos negócios. Conforme apurou o Valor, o primeiro passo foi justamente mostrar para todos os envolvidos, em especial os credores, que o processo dentro do grupo EBX agora tem uma liderança e que as soluções estão a caminho. As dívidas totais do grupo alcançam R$ 25 bilhões.
Procurado, Ricardo K não quis conceder entrevista.
É de interesse de todos, em especial dos bancos que emprestaram ao empresário desde sua ascensão, que tudo seja solucionado de forma organizada e que a execução de garantias não seja necessária.
Duas questões colocam os credores ao lado do grupo EBX neste momento. Existem garantias em ações, que perderam valor e, portanto, deixaram de ser interessante e sequer funcionam como lastro. O outro motivo é que as garantias em ativos envolvem bens com enorme dificuldade de venda e 'monetização', ou seja, a transformação em dinheiro.
Entre os credores do empresário estão pilares do sistema financeiro nacional como BNDES, Itaú e Bradesco, entre tantos.
Pessoas que acompanham de perto o desenrolar dos fatos no grupo apontam que o cenário, até então, era de grande confusão e muitos conflitos de interesses.
A crise que atingiu Eike afetou a confiança na sua relação com os próprios administradores das companhias operacionais. Com isso, havia dificuldade de interlocução entre as partes e ausência de liderança. Para completar o quadro delicado, muitos deles estão assustados, preocupados com as consequências pessoais por conta dos deveres fiduciários junto a credores e minoritários. Dessa forma, não havia homogeneidade e nem alinhamento de interesses na condução dos processos.
As empresas operacionais seguem com os respectivos assessores financeiros. Segundo apurou o Valor, o banco BTG Pactual, de André Esteves, também continuará no processo, apenas com papel de assessor nas potenciais transações - e não mais como potencial investidor.
A chegada de Ricardo K foi sentida por todos no Edifício Serrador, no Rio de Janeiro, na sede do grupo EBX. Conforme pessoas próximas, ficou claro para todos que agora quem manda é ele.
Dar coordenação a atuação dos diversos assessores e "uma cara" a esse trabalho seria o principal objetivo de Eike ao buscar a Angra.
Apesar de já terem feito negócio no passado - o braço de energia do Bertin vendeu usinas à MPX durante a gestão de Ricardo K, há mais de três anos - foi o ex-embaixador do Estados Unidos no Brasil Clifford Sobel quem teria feito a ponte entre eles. Sobel é representante de um fundo de investimentos de empresários americanos, chamado Valor Capital Group, que também é sócio da Angra Partners. As conversas começaram há cerca de duas semanas, no Rio de Janeiro.
Pouco antes da chegada de K, quem retornou à sede da EBX para auxiliar Eike a tratar com os administradores e a "miríade de contratos" - alguns até conflitantes entre si - é Flávio Godinho, que durante muitos anos foi seu braço-direito. O executivo voltou a ficar próximo do dia a dia do empresário.
O objetivo neste momento é "estabilizar o paciente". É a isso que se dedicou a coordenação da EBX nesses últimos dias. E também para evitar que o grupo continue com o processo da descontrolada queima de caixa conduzida por Eike. Nas conversas dos últimos dias outra frente atacada foi tentar mostrar que não houve má fé do empresário, para restabelecer diálogos sensatos. Dessa forma, ele pode até mesmo sair como fracassado com a queda do "Império X", mas não como falsário.
De acordo com pessoas próximas ao empresário, Eike estaria agindo com "desapego" em relação às empresas. Seu principal objetivo é solucionar a questão da melhor forma possível. Ele não está preocupado em manter o controle. A perspectiva é que praticamente todos os ativos sejam vendidos e que, em boa parte dos casos, a EBX não seja nem minoritária.
O passo considerado mais importante é a venda da MMX. A operação teria capacidade de acalmar credores e investidores, mostrando que há saída. No passado, comentava-se que a participação de Eike na mineradora - cujo destaque dos ativos não são as minas, mas o Porto do Sudeste, no Estado do Rio, - era avaliada em US$ 1 bilhão. Entretanto, não há como estimar e depende de resoluções como se os 'bonds' emitidos pela empresa, e negociados em bolsa, serão incluídos ou não no negócio. Assim, o valor final pode variar substancialmente. Na bolsa, a empresa é avaliada em R$ 2,1 bilhões.
A velocidade da queda do grupo é sintoma do quão aguda é a crise. O objetivo é manter em andamento todas as transações que já estavam evoluindo antes da chegada de K. Mas é sabido que as situações mais problemáticas estão em OGX e OSX. A situação de caixa das duas empresas é considerada "dramática".
Em maio do ano passado, quando GE e Mubadala fizeram negócio com a EBX, o grupo de Eike foi avaliado em mais de US$ 35 bilhões. Hoje, as companhias abertas na BM&FBovespa, os principais ativos, valem juntas uma fração disso tudo: R$ 7,7 bilhões - com os valores concentrados em MPX (agora E.ON) e MMX, que somam R$ 5,6 bilhões do total."
PS.: Atualizado às 13:28.
PS.: Atualizado às 13:28.
2 comentários:
Eike vive seu inferno astral. É certo que boa parte disso tem um culpado. O próprio senhor X.
Mas fico analisando: o que é melhor?
Um fanfarrão, sonhador, megalomaníaco, apressado, superficial e olho grande empresário BRASILEIRO, ou entregar as nossas reservas do pré-sal ao capital internacional?
Segundo o Paulo Metri no "Brasil de Fato":
"... o Brasil assinou contratos com petroleiras internacionais, que não permitem ao governo determinar para onde o petróleo brasileiro deve ir."
A Associação dos Engenheiros da Petrobrás sustenta que dos 60 bilhões de barris já descobertos pela empresa brasileira, só possuímos parte disso. A ANP já leiloou muitos contratos para as petroleiras estrangeiras.
Com o porto será o mesmo. Os americanos virão.
Às vezes pode ser melhor corrigir os rumos e procurar acertar com "os de casa" do que entregar nossas riquezas para os estrangeiros.
Tenho insistido que este é um bom debate.
São visões distintas.
Investimento em infraestrutura são bancados pelo Estado em qq lugar do mundo.
A inovação das concessões e PPPs surgiram quando se deu o esgotamento, ou grande redução na produção na agricultura e na indústria.
Aí o setor de IE passou a ser pensado para gerar lucros e as concessões e PPPs surgiram na concepção neoliberal.
Na disputa pelos nosso excedentes há uma entrada gigantesca das multinacionais atrás de nosso território e tudo de riqueza que elas puderem oferecer.
É natural que o país pense uma inserção na mundialização da economia de forma não subordinada, tentando usar as commodities como alavanca para isto coo fizeram outros países com a Austrália, Canadá e de certa forma o próprios EUA.
Porém, ao mesmo tempo, o país é cada vez mais atrativo no novo desenho geopolítico mundial. Assim, a captura de suas oportunidades (veja que ontem a Coca-cola comemorou o controle do mercado do RJ e SP com a aquisição de mais uma fabricante nacional) é um processo de fluxos de capitais que está em curso que pode ou não ser controlado.
Quanto mais capital internacional que buscam o monopólio, aceitando oligopólio e praticando carteis aqui entrar, mais difíceis será este controle e maior as chances de sermos engolido num desenvolvimento dependente, limitado, desigual e colonizado.
O jogo está sendo jogado.
O BNDES tão criticado por tentar mexer neste jogo é uma de nossas poucas chances de evitar a submissão.
Portanto, uma boa parte das críticas ao nosso banco de desenvolvimento e na possibilidade de criação de um banco do Brics e do Banco do Sul (Mercosul), melhor, para estes interesses na abertura da nossa economia para aqueles que possuem a visão colonizada consideram que somos atrasados e subdesenvolvidos e por isto, precisamos dos "desenvolvidos" que querem nos engolir.
Este é um bom debate para a partir dele se discutir as estratégias e projetos que estão sendo propostos e/ou executados.
Postar um comentário