Uma matéria publicada na terça feira, 3 de setembro de 2013, pelo jornal Valor, sobre o problema de recursos hídricos em Minas Gerais e Espirito Santo, relacionada à Bacia do Rio Doce tem repercussões em nossa região.
Seu título "Falta de água ameaça a bacia do rio Doce". Logo no primeiro parágrafo o presidente da Ibio, que é apresentada como uma "Agência que reúne os 10 comitês a da Bacia do Rio Doce", Eduardo Figueiredo, diz:
"A Anglo American pode rever seu projeto de escoamento de minério de ferro por não haver água suficiente para o mineroduto de 525 quilômetros, que transportaria o insumo para o Porto do Açu no Rio de Janeiro. A outra alternativa é o modal ferroviário, cujo custo é mais alto. Procurada, a Anglo American não se manifestou sobre o tema".
Alguns pontos merecem maior análise. A Ibio não é uma agência dos comitês de Bacia do Rio Doce. A Ibio é uma ONG, pode ser que com atribuições executivas definidas pelos comitês da Bacia do Rio Doce.
A Ibio ficou conhecida em nossa região, quando aqui chegou junto dos empreendimentos do grupo EBX. Foi a Ibio que trouxe a discussão sobre a GIT (Gestão Integrada do Território) num comentado convênio com o instituto português IPT.
Que o blog saiba, os programas ligados à chamada gestão integrada do território ruiu antes mesmo dos problemas financeiros que as empresas do grupo passou a viver desde o início do primeiro semestre deste ano.
Já na época a proposta de GIT mais parecia uma forma de abrandar os conflitos da implantação dos empreendimentos e reduzir as pressões sociais por mais compensações. Ou, ainda, um esforço para reduzir as resistências às desapropriações. Além disso a intenção soava prepotente e mesmo inconstitucional que empreendedores quisessem gerir o território, função que cabe ao Estado e suas escalas de poder, mesmo que com apoio da sociedade e mesmo de empresas.
Voltando à questão da matéria sobre os problemas dos usos das águas no Rio Doce e no Sistema Minas-Rio, o blog lembra que recentemente comentou aqui o assunto. Isto aconteceu logo após o encontro que reuniu (em agosto no Açu, depois de encontro semelhante, em maio, no município de Conceição do Mato Dentro, MG) lideranças das comunidades e pesquisadores que estudam e debatem, de forma conjunta, os problemas e as soluções para a realidade vivida pelos atingidos por empreendimentos, sob uma diferente ótica.
Fato é que com a venda do Sistema Minas-Rio pela MMX para a Anglo American, a discussão sobre a questão do uso da água também se dividiu entre a região mineira e o Açu, nas pontas do sistema.
Interessante observar que antes se dizia nos estudos e relatórios de impacto ambiental (EIA/Rima) que os problemas ambientais seriam equacionados. Agora organizações ambientalistas, mesmo as ligadas ao empreendimento afirmam o contrário. A própria Federação da Indústria de Minas Gerais (FIEMG) se manifesta contrária e preocupada com o uso predatório destes recursos hídricos pelas mineradoras.
Na mesma matéria do Valor, mais abaixo o presidente da Ibio diz ainda que "são necessários R$ 19 bilhões - valor equivalente ao custo de construção do Comperj nos próximos 15 anos para recolocar a região em patamares sustentáveis. Não é uma questão ambiental. É uma questão econômica. Em 2030, se nada for feito, o comprometimento hídrico será bem maior que o diagnosticado hoje".
Veja que as declarações apontam para graves problemas e citam necessidades de mais ações compensatórias e questiona a própria solução do mineroduto que a Anglo diz que informa ter mais de 50% construído dos mais de 500 quilômetros. É ainda perceptível que há claros interesses no controle dos recursos que estão sendo e ainda serão gerados de outorga pelo uso das águas.
Por tudo que está exposto acima, há, mais que nunca que se observar as questões do Sistema Minas-Rio de forma integrada e em conjunto com os empreendimentos do Porto do Açu, local projetado para exportação do minério de ferro, extraído em Minas Gerais e que deu início ao projeto do terminal portuário, embora ele tenha sido projetado, no final de 1999/2000, para apoio às atividades offshore. O blog voltará a tratar deste assunto mais adiante.
PS.: Atualizado às 01:00: A matéria na íntegra do Valor pode ser lida aqui no site do Instituto Humanitas da Unisinos, já que no site do jornal a mesma só está facultada a assinantes.
PS.: Atualizado às 01:00: A matéria na íntegra do Valor pode ser lida aqui no site do Instituto Humanitas da Unisinos, já que no site do jornal a mesma só está facultada a assinantes.
Um comentário:
Finlandesa Wartsila anuncia início de obras no Porto do Açu
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DENISE LUNA
DO RIO
Em meio a uma série de más notícias para o grupo EBX, a finlandesa Wartsila anunciou nesta quarta-feira (4) que iniciou as obras para a construção da sua primeira unidade no Brasil no Porto do Açu, de Eike Batista, dando apoio ao projeto da LLX, empresa de logística do empresário.
Os inúmeros problemas enfrentados pelo grupo, que passa por uma forte reestruturação, inclusive com a venda de parte da LLX para a americana EIG, trouxe dúvida ao mercado sobre a continuidade dos projetos no entorno do porto, que teve sua entrada em operação confirmada para este ano.
Editoria de Arte/Folhapress
Veja localização do porto do Açu
"Porto do Açu vai acontecer no seu tempo", diz secretário de portos
Segundo a Wartsila, o investimento previsto é de R$ 50 milhões e deverá gerar entre 200 e 300 empregos diretos. A previsão é de conclusão da fábrica em um ano.
A Wartsila é líder global no fornecimento de motores e prestação de serviços para navios e usina termelétricas. A empresa escolheu o TX2 (Terminal 2 do porto) para instalar uma planta de montagem e produção de grupos geradores e motores de navio. Esta é a primeira unidade industrial brasileira da companhia, após décadas de atuação no Brasil.
A unidade no Porto do Açu ocupará uma área de 29.300 metros quadrados no canal do TX2 e também irá oferecer soluções e serviços nas áreas de energia e propulsão marítima. O contrato terá a duração de 30 anos, renováveis por mais 30 anos.
A empresa tem 600 funcionários no Brasil e já projetou e construiu 25 usinas térmicas no país, ultrapassando a marca de 2,4 gigawatts de potência instalada. Na área naval, a companhia tem no Brasil base instalada com capacidade superior a 800 megawatts, em mais de 200 navios e embarcações.
Além da Wratsila, estão confirmadas no porto a norueguesa NOV, terceira maior fabricante de tubos flexíveis do mundo, e a francesa Technip, líder mundial em gerenciamento de projetos, engenharia e construção para a indústria de óleo e gás. Ambas irão produzir tubos flexíveis para apoio a indústria offshore e a previsão é que comecem a operar ainda neste ano.
A americana InterMoor, líder global no fornecimento de serviços de ancoragem, fundações e serviços subaquáticos, também já começou a construção da sua unidade, que fica pronta este ano, segundo a LLX. Outras prestadoras de serviço como a Vallourec, Asco e a BP Marine (joint venture da BP com a EBX), também vão atuar no porto, que terá como cliente a Anglo American, que pretende movimentar 26,5 milhões de toneladas de minério de ferro por ano a partir do segundo semestre de 2014. O minério será transportado, da mina em Minas Gerais até o Superporto, por um mineroduto com 525 quilômetros de extensão, já em construção pela Anglo.
Desde o início do desenvolvimento do Porto do Açu, em 2007, até o segundo trimestre de 2013, a LLX já investiu R$ 2,8 bilhões, sendo R$ 2,313 bilhões na LLX Açu. A previsão é que, ainda neste segundo semestre de 2013 sejam investidos mais R$ 600 milhões pela LLX no porto.
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