quinta-feira, outubro 17, 2013

Demanda por embarcações e portos para atender exploração de petróleo

A matéria abaixo do Valor Online reproduz um pouco do que este blog vem comentando aqui sobre a enorme demanda por estaleiros (indústria naval) e por terminais portuários para dar conta do que está desenhado para as atividades do setor. Pode haver um exagero, mas, boa parte disto tende a ser real. Isto acaba viabilizando até projetos problemáticos e caros.

Os problemas e impactos em nosso litoral serão gigantescos. Além disso, não se pode esquecer a eterna ameaça da petro-dependência e o risco da "maldição mineral" onde a economia do petróleo aniquila outras atividades econômicas, porque eleva preços de tudo, imóveis e serviços especialmente. Já vivemos isto no estado do Rio de Janeiro, da capital para o lado norte. isto tende a aumentar. Falo mais da dependência do petróleo no estado do Rio de Janeiro do que em todo o país.

Enfim, confiram a matéria e continuemos o debate. Este assunto toma boa parte das minhas reflexões e estudos atualmente:

Libra exigirá mais investimentos em barcos e portos
Por Francisco Góes e Marta Nogueira | Do Rio

A infraestrutura portuária disponível no país não será suficiente para atender aos fornecedores das petroleiras com o crescimento da produção no pré-sal. Só o campo de Libra, o primeiro ir a leilão, segunda-feira, pelo regime de partilha da produção, deverá requerer entre 12 e 15 plataformas de produção. Cada plataforma é servida por cerca de quatro barcos de apoio marítimo, que transportam insumos e mantimentos.
Libra, portanto, deverá demandar, no mínimo, mais 48 embarcações, que vão se juntar à frota de apoio marítimo hoje em operação no Brasil, formada por 453 barcos. O mercado estima, com base em números da Petrobras, que até o fim da década essa frota possa situar-se em cerca de 750 embarcações, um crescimento de 65%.
Mais barcos exigem mais portos. Há um número considerável de projetos para construir terminais portuários privativos especializados em serviços para a indústria de petróleo e gás. Esses projetos se estendem de Vitória, no Espírito Santo, até Angra dos Reis, no sul fluminense, e incluem empresas como Bram Offshore, LLX, BR Offshore, DTA e Technip. Os projetos estão focados em atender ao pré-sal.
"Hoje, já há falta de portos [para o apoio marítimo]. A maior demanda por navios offshore vai exigir mais terminais portuários, uma coisa puxa a outra", disse Cezar Baião, presidente da Wilson Sons. A empresa tem projeto para terminal no Rio, no qual prevê investir R$ 100 milhões para expandir berço de atracação de navios de apoio marítimo. Esse terminal pertencia à Briclog, empresa que foi comprada pela Brasco, subsidiária da Wilson, Sons. A BR Offshore também prevê investir R$ 202 milhões no Terminal de Serviços Logísticos, em Barra do Furado (RJ).
Outros executivos da indústria concordam que a capacidade portuária atual não será suficiente para atender ao crescimento do pré-sal, incluindo Libra. Marcus Berto, presidente da LLX Logística, disse que o porto do Açu, controlado pela empresa, está preparado para operar como base de apoio marítimo. "Podemos ajudar a desengargalar outros portos", disse Berto. A LLX, antes controlada por Eike Batista, passou às mãos do grupo americano EIG.
Em nota, a Petrobras afirmou que a ampliação e modernização da infraestrutura portuária no Brasil é de "extrema importância" para o desenvolvimento de toda a cadeia logística de apoio ao óleo e gás. A estatal concorda que é preciso que surjam novos terminais portuários, feitos com recursos de empresas privadas, para ampliar a capacidade das bases de apoio offshore no país.
A Petrobras afirmou ainda que, por meio do Programa de Otimização de Infraestrutura Logística (Infralog), tem buscado criar condições para que empresas privadas ofereçam serviços de bases de apoio portuário.
A francesa Technip planeja ampliar o cais de acostagem e a retroárea do porto de Angra dos Reis, embora o pedido de expansão ainda não tenha chegado na Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ). Em Maricá, na região metropolitana do Rio, está em desenvolvimento o projeto Terminais de Ponta Negra (TPN), da DTA. O empreendimento inclui estrutura para movimentar óleo cru produzido nas bacias de Campos e de Santos e também um terminal especializado em apoio marítimo.
O porto público do Rio também tem planos de arrendar áreas para apoio marítimo. Hoje, a Petrobras, que será operadora única de Libra, concentra parte da sua operação de apoio marítimo em Macaé (RJ). A Petrobras também utiliza o porto do Rio como base de apoio para as operações offshore. Está nos planos da CDRJ arrendar área para o apoio marítimo no porto do Rio com 1,4 mil metros de cais. "Nossa decisão [de fazer o arrendamento] foi em função do pré-sal", disse Jorge Luiz Mello, presidente da CDRJ.
Hoje, há 453 embarcações de apoio marítimo em operação no Brasil, sendo 216 brasileiras e 237 estrangeiras. Celso Costa, presidente da Siem Consub, acredita que grande parte dos barcos a serem contratados pela Petrobras no futuro pode vir do exterior.
Costa afirmou que hoje, ainda como resultado da crise econômica na Europa, o Mar do Norte enfrenta redução de atividade e, portanto, a Petrobras consegue taxas de afretamento (aluguel) de barcos de apoio mais atrativas no exterior. Ele disse que em recente licitação a Petrobras homologou a contratação de apenas três barcos de apoio marítimo que serão construídos no Brasil e alugados à estatal em contratos de longo prazo, quando a expectativa do mercado era de uma contratação maior.
Segundo a Petrobras, as propostas apresentadas, na quinta rodada de licitações, se encontram em análise. A Petrobras afirmou que o plano de contratação de embarcações de apoio para construção no Brasil continua em andamento. Até a terceira rodada de licitações, foram contratadas 146 embarcações. Há ainda 56 barcos em processo de contratação na quarta rodada e mais 23 por contratar na quinta e sexta rodadas. Na sétima rodada, está prevista a contratação de 67 embarcações.
A estatal disse que o plano prevê, em média, uma rodada por ano, o que tem sido cumprido. "Para este ano, além da quinta rodada já realizada, vamos efetuar a sexta rodada. A Petrobras tem contratado sempre que a proposta do licitante atende à especificação técnica, o prazo de mobilização e apresenta preço competitivo."
Segundo a Petrobras, o número de embarcações a serem contratadas para construção no país se refere apenas às demandas de longo prazo onde há tempo para construção - dois a quatro anos. Existe outra demanda que, em princípio, atende às necessidades imediatas. "Essa, também por força da legislação vigente, é prioritariamente contratada no mercado brasileiro, mas na ausência de ofertas de embarcações de bandeira brasileira, são contratadas embarcações estrangeiras já existentes.
Ronaldo Lima, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Apoio Marítimo (Abeam), disse que é importante que se aproveite a oportunidade para contratar a construção no Brasil do maior número possível de barcos."

PS.: Atualizado às 18:04: Para ver mais detalhes sobre o assunto veja postagem do blog aqui em 14 de agosto de 2013. Abaixo algumas imagens recentes do arquivo do blog sobre a saturação e movimentação dos terminais portuários e indústrias naval para atendimento de demandas do setor offshore de petróleo, conforme a matéria acima:

Estaleiro de Niterói montando módulos de plataforma















Estaleiro de Niterói construindo embarcações de apoio offshore


Embarcações de apoio, especialmente rebocadores aguardando espaço no porto do Rio para embarque/desembarque de cargas para sonda e plataformas que atuam na Bacia de Santos e na extremidade sul da Bacia de Campos
Rebocador descarregando e carregando equipamentos e materiais para uso em plataforma em porto de Niterói
Retroárea do Porto do Rio onde se armazena cargas usadas em exploração de petróleo offshore

5 comentários:

Anônimo disse...

Um dúvida que tenho, digamos que esse modelo de partilha é melhor do que os anteriores, isso evidentemente parece que sim. Essas empresas chinesas, indianas e afins vão tirar esse petróleo e mandar para os países de origem, a Petrobras continuará comprando gasolina, novamente vamos vender matéria prima bruta e comprar ela de volta industrializada pagando 5 x mais. Como vai ficar a balança comercial também, com remessas gigantescas de lucro para o exterior?
Outra coisa, por quanto tempo os EUA vão guardar suas reservas internas? Porque não fazemos o mesmo? Estratégias diferentes? Alguém saberia responder.

Roberto Moraes disse...

Boas e interessantes questões.

Vou dar alguns palpites sobre elas.

Se o acordo com as chinesas for na linha do financiamento basicamente, como se estão falando, com a Petrobras executando boa parte do trabalho de exploração e produção, com o conteúdo nacional já teríamos enorme retorno.

Com os 30% da Petrobras e com $ para as 4 refinarias que estão sendo construídas (Comperj, PE, CE e MA, as duas últimas ainda nem inciadas) pode-se resolver o atendimento da demanda interna por gasolina, diesel, etc.

Não sei se os americanos com sua dívida interna e externa aumentando do jeito que está continuará importando óleo ao invés de explorar. Já está jogando pesado com o shale-gas, ou gás de xisto, onde se começa a conhecer que além da devastação ambiental, tem enormes dificuldades de sustentar a produção, o que seria contrário ao que se propalou no primeiro momento de que o shale gas iria levar à reindustrialziação americana.

A questão da energia é crucial para a nação e para sua participação no jogo mundial e na geopolítica.

Os americanos não entraram no pré-sal porque não têm dinheiro para isto.

Ficaram com o porto e assim faturar algum com a exploração que sabem que virá, mesmo sem eles.

Prossigamos a conversa.

Roberto Moraes disse...

Para ajudar ou complicar a discussão vale conferir o que diz a análise abaixo:

http://tijolaco.com.br/index.php/libra-os-numeros-que-mostram-o-equivoco-de-cancelar/?fb_action_ids=574778329237358&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582

Roberto Moraes disse...

Vale também conferir:

www.ihu.unisinos.br/noticias/524759-parceria-com-chineses-e-jogo-de-xadrez-diz-pesquisador

Anônimo disse...

Esse é um tema bem complexo, acho que o governo teria que ter "conversado" mais com a sociedade, pois a impressão que fica é que sairemos perdendo, mas olhando outros pontos, isso seria mentira, mas quem fala a verdade?

Enfim, vale a reflexão, a imprensa nesse caso poderia ter trazido uma discussão maior, mas ao contrário só confundem.

Espero que de fato as melhores decisões sejam tomadas, para o bem do país e para os brasileiros!

BOm ter trazido esses temas.