Bancos temem contaminação de ativos
O calote da petroleira OGX acendeu o sinal de alerta nos bancos. O principal receio é o de uma contaminação em outras empresas do grupo após a confirmação do não pagamento dos juros de uma emissão de bônus no exterior. As instituições pretendem assegurar que conseguirão acionar as garantias dos empréstimos concedidos antes do iminente pedido de recuperação judicial da OGX.
"O que pode acontecer é se acelerar a percepção de que o grupo não tem salvação", diz o executivo de um banco credor do grupo de Eike Batista. "O colapso da OGX pode levar credores a atacar ativos das demais empresas do grupo."
A movimentação dos bancos para se proteger do chamado "risco X" se intensificou na última semana, quando o Valor antecipou que a OGX não pagaria os juros de uma emissão de debêntures que era atrelada aos bônus no exterior. A inadimplência na obrigação com os investidores deve disparar cláusulas de vencimento antecipado nos financiamento detidos pela companhia, segundo uma fonte.
Em junho, os únicos bancos com exposição direta à OGX eram Itaú BBA, Santander e Morgan Stanley, que em 2012 concederam um financiamento de R$ 600 milhões para a OGX Maranhão. Com blocos de exploração em terra na bacia do Parnaíba, a empresa tem como acionistas a OGX, com uma participação de 66,7%, e a Eneva (ex-MPX), com os demais 33,3%.
Ainda não está claro se o vencimento antecipado das obrigações seria aplicável apenas após o prazo de 30 dias que a OGX tem para acertar o débito com os investidores dos bônus. "Mas ninguém vai esperar esse prazo", diz um banqueiro. O principal receio é que, nesse meio tempo, a empresa entre com pedido de recuperação judicial, o que pode dificultar a execução das garantias.
Com a provável derrocada da OGX, as atenções se voltam para o estaleiro OSX, empresa "irmã" da petroleira e na qual os bancos têm financiamentos e avais. Uma fonte a par do assunto receia que a plataforma da OSX - dada em garantia a detentores de bônus do estaleiro - possa ser integrada aos ativos da OGX em uma recuperação judicial da petroleira. Isso pioraria as condições dos credores da OSX.
Apesar disso, os credores da OSX ainda trabalham com a possibilidade de venda do estaleiro do grupo de Eike Batista. "É uma questão de tempo. Os números mostram que a companhia tem mais ativos do que passivos", diz um banqueiro. "É uma situação diferente da OGX. A OSX empregou os recursos que tomou emprestados em ativos que agora podem ser vendidos." O banco Credit Suisse foi contratado para encontrar um comprador para a companhia.
A questão, porém, é quanto tempo a companhia suporta até ser vendida. Neste mês, vencem dívidas contraídas com Caixa Econômica Federal, BNDES e com um sindicato de bancos. Em meio às tentativas de venda da OSX, os credores têm demonstrado disposição em adiar o vencimento.
O estaleiro tem uma série de dívidas que vencem neste mês, incluindo um financiamento concedido pelo BNDES, cujo saldo em junho era de R$ 548 milhões. A operação conta com garantia prestada pelo Banco Votorantim, ou seja, se a OSX não efetuar o pagamento o BNDES pode acionar a instituição, controlada pela Votorantim Finanças e pelo Banco do Brasil.
O mesmo acontece com um empréstimo de R$ 400 milhões obtido com a Caixa, que conta com garantia do Santander. Outra parcela do empréstimo, de R$ 627 milhões, tem fiança pessoal de Eike.
O risco de contaminação paira ainda sobre a holding EBX, que concedeu aval a algumas das dívidas detidas pelas empresas do grupo e que também havia tomado empréstimos. A exposição dos bancos à holding não é conhecida, mas sabe-se que os bancos aceleraram o processo de substituição das garantias nos contratos de financiamento nos últimos meses.
O objetivo foi trocar o aval, que em muitos casos eram ações de empresas do grupo X, por ativos reais. Com a desvalorização dos papéis na bolsa, alguns contratos previam a chamada de mais garantias. Ou seja, quanto maior a queda do valor de mercado, mais ações ficavam bloqueadas pelos bancos.
Parte das dívidas foi paga justamente para evitar o chamamento de garantias. É o caso da mineradora AUX, que pagou em junho US$ 550 milhões de uma dívida com Bradesco e Itaú garantida por ação de empresas do grupo.
Nas demais empresas do grupo, a possibilidade de perdas em um eventual cenário de recuperação judicial é vista como pequena. Tanto que em companhias como a Eneva e a LLX Logística, cujo controle já foi negociado, as instituições credoras não consideram a exposição em financiamentos como parte do "risco X". Procurados, os bancos informaram que não comentariam o assunto.
Para a agência de risco Fitch, a avaliação de risco dos bancos credores das empresas controladas por Eike Batista não deve ser afetada pelas dificuldades da OGX. "Não esperamos nenhuma ação negativa de rating em razão dessa situação", diz a agência.
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