quarta-feira, novembro 27, 2013

Obras causam problemas na cidade mineira de onde sai o mineroduto para chegar ao Açu

O blog recebeu da Patricia Generoso a matéria publicada no jornal mineiro "Hoje em Dia" com informações sobre os problemas gerados no município de Conceição de Mato Dentro, MG, a partir da construção da infraestrutura da mina e no início do mineroduto no Quadrilátero Ferrífero:

Obras de mineroduto devastam Conceição do Mato Dentro
Samuel Costa/Hoje em Dia

Mineroduto Minas-Rio e mão de obra atraída para trabalhar na obra transformaram a cidade


CONCEIÇÃO DO MATO DENTRO  – Conceição do Mato Dentro, a 167 quilômetros de Belo Horizonte, não é mais a mesma desde o início da implantação do mineroduto que, de 2008 para cá, levou 8 mil funcionários para a região. A instalação do empreendimento aumentou a oferta de emprego para moradores, mas outros benefícios para a população não aconteceram.

Agora, a um mês do começo da retirada dos trabalhadores da cidade, processo que deve durar até setembro de 2014, os 18 mil moradores enumeram os problemas que terão que enfrentar por causa da presença das empreiteiras.

A lista é extensa: ruas esburacadas e sem pavimentação, violência, áreas invadidas, trânsito sem sinalização e aterro controlado transformado em lixão a céu aberto.

Expulsos de casa

A consequência mais visível – e sem previsão de solução – foi a invasão de terrenos públicos por moradores que não conseguiram mais pagar aluguel. Uma locação por R$ 300 mensais subiu para até R$ 3 mil.

O Ministério Público Estadual (MPE) estima que 200 casas e pequenos prédios na área urbana viraram repúblicas para trabalhadores diretos e indiretos da Anglo American, responsável pelo mineroduto.

“A implantação de alojamentos para peões na cidade não estava no licenciamento. Sem essa previsão, não houve medida mitigadora dos impactos”, diz o secretário municipal de Planejamento e Desenvolvimento Econômico, Ricardo Guerra.

Só agora, quase seis anos após o início da instalação do empreendimento, a prefeitura corre atrás do prejuízo. “Pedimos o número exato de funcionários e moradias usadas. Vamos cobrar a fatura”, afirma o secretário municipal de Meio Ambiente, Sandro Lage.

A Anglo admite que mantém trabalhadores em repúblicas, mas não reconhece os locais como alojamentos. Há 15 dias, porém, uma equipe do Ministério Público do Trabalho flagrou 172 operários abrigados em “condições análogas ao trabalho escravo” em um imóvel na área urbana.

Improviso

Os moradores que ocuparam áreas invadidas vivem em situação precária, sem água, luz e coleta de esgoto. É o caso do vigia José Antônio de Souza, de 24 anos, há três no loteamento irregular Vila São Francisco. “Não consegui pagar R$ 500 em um barracão de dois cômodos”.

Ponto turístico da cidade, o Parque Salão de Pedras teve 600 ocupações irregulares em três meses. “Em 20 anos, foram no máximo cem”, diz Sandro. A demarcação de 80% dos “lotes” já foi removida, mas o MPE cobra da prefeitura a preservação do espaço.

Quem ainda vive de aluguel luta para bancar a despesa. Há quatro anos, a garçonete Marinete Oliveira, de 27, pagava R$ 80 por uma casa na Vila Caetano. Hoje desembolsa R$ 200, mas o dono do imóvel quer R$ 600. “Se aumentar, terei que voltar para a roça”.

O problema está longe de ser resolvido. A prefeitura pretende construir um loteamento para essas famílias, mas precisa de R$ 22 milhões.

“É uma cidade de ‘papel’. Para tudo há diagnóstico e projeto, mas nada sai do papel. Se saiu, o resultado ainda é muito incipiente”, diz o promotor Marcelo Mata Machado.

Superpopulação faz pilha de lixo crescer e ‘condena’ aterro

Os moradores de Conceição do Mato Dentro terão que conviver por pelo menos mais um ano com um problema que, pela legislação federal, deveria ser extinto em agosto de 2014: o lixão.

Desde a chegada dos trabalhadores na região, aumentou muito o volume de resíduos produzidos e levados para o aterro controlado, às margens da MG-010. Há indícios de contaminação do lençol freático.

O lixão fica em um terreno com uma guarita sem vigia ou controle de entrada e saída de veículos.

“Em 2011, notificamos os responsáveis pelo projeto (do mineroduto) Minas-Rio, pedindo que cessassem o despejo de resíduos. Para o tamanho da nossa população, deveríamos aterrar o lixo duas vezes por semana, o que não fazemos mais”, admite o secretário de Meio Ambiente da cidade, Sandro Lage.

Ele não dá esperanças de que a questão será solucionada por agora. Órgãos fiscalizadores aplicaram pelo menos três multas, de R$ 50 mil cada uma, à administração municipal.

“A previsão para 2015 é a de criação de um aterro sanitário, mas ate lá o plano é fazer com que o lixão volte a ser um aterro controlado”, diz.

Na última quinta-feira, o Hoje em Dia flagrou o depósito irregular de materiais hospitalares na área, sem aterramento.

Questionada, a prefeitura disse que dentro de um mês uma empresa dará início à coleta de dejetos domiciliares e especiais.

Sustento

Enquanto isso não acontece, o risco continua para quem tira do lixão recursos para a sobrevivência. O catador Agnaldo Alves da Cruz, de 40 anos, e a mulher buscam diariamente no entulho material para vender. Os dois torcem para que o lixão continue aberto. “Se acabar, só Deus para nos ajudar”, diz Cruz.

Diante da indefinição quanto ao lixão, Conceição do Mato Dentro se prepara para implantar o aterro sanitário por meio de um consórcio com as cidades de Alvorada de Minas e Dom Joaquim. Na última segunda-feira, representantes dos municípios elegeram a mesa gestora do grupo.

Falta de vagas em creche afasta mulheres do mercado de trabalho

Se por um lado os homens conseguiram emprego nas obras do mineroduto, mulheres que precisam trabalhar não têm com quem deixar os filhos. As duas creches públicas de Conceição do Mato Dentro têm capacidade para 90 crianças. O Conselho Tutelar afirma que o déficit chega a 200 vagas.

Uma escola infantil está sendo construída no bairro Barro Vermelho desde 2011. A previsão era a de que a obra terminasse em julho deste ano, mas a edificação ainda está sendo erguida.

O prefeito Reinaldo César de Lima Guimarães diz que o atraso na construção é um “problema que advém da administração passada”.

O gestor afirma que o imóvel será concluído no próximo mês. Em nota, garantiu que mais duas creches serão abertas em 2014.

O Conselho Tutelar busca uma solução mais rápida. Por isso, enviou formulários aos pais de crianças matriculadas em creches.

Cobertor curto

“Se houver alguma mãe que não trabalha, vamos pedir a retirada do filho para ceder lugar para quem realmente precisa”, alerta a presidente da entidade, Jamile Daniel.

A lavradora Gracielma de Fátima Silva, de 31 anos, está na torcida. Mãe de nove filhos com idades entre 11 meses e 17 anos, ela tentou matricular as duas crianças mais novas, sem sucesso.

Sem ter com quem deixar os pequenos, a família se sustenta com R$ 700 por mês.

“Se eu pudesse trabalhar, a renda iria dobrar. Antes do mineroduto, comprava pão a R$ 0,25. Agora, é R$ 0,50. Não tenho água tratada, e a mineral é muito cara: até R$ 2,50 a garrafa. Se eu estiver empregada, a vida ficará menos difícil para nós’”, diz, esperançosa.

8 comentários:

Ivando Viana disse...

Conheço Conceição do Mato Dentro e posso essegurar que fica numa região com ecossistema tão belo quanto frágil, o Espinhaço. É considerada a "cidade das águas" em MG, pela abundãncia de cachoeiras, entre as quais, a fantástica cachoeira do Tabuleiro, a maior queda d'água de MG, com 273 metros.(Ivando Viana - Geógrafo)

Ivando Viana disse...

Conheço Conceição do Mato Dentro e posso essegurar que fica numa região com ecossistema tão belo quanto frágil, o Espinhaço. É considerada a "cidade das águas" em MG, pela abundãncia de cachoeiras, entre as quais, a fantástica cachoeira do Tabuleiro, a maior queda d'água de MG, com 273 metros.(Ivando Viana - Geógrafo)

Anônimo disse...

Boa noite professor!
Estou trabalhando neste empreendimento e estou numa cidade bem ao lado de Conceição do Mato Dentro, sempre vejo este blog dentre outros e até o momento não consegui entender o porque das postagens que o senhor faz sendo sempre elas negativas a este empreendimento.
É fato que terá impactos, porém eles são e serão compensados
Nesta foto que o senhor mostra ela é uma estrada de terra chamada MG-010 ao qual ela vem da Capital BH. Um pouco antes do trevo entre Dom Joaquim e Conceição do Mato Dentro a MG 010 já é de terra e até a cidade chamada de Serro (cidade que fica antes da famosa Diamantina), a mina fica basicamente nesta extensão. A passos lentos o governo de Minas Gerais vem asfaltando esta MG da cidade do Serro até próximo a este trevo.
A Anglo tem contrato com uma empresa para fazer manutenção dessa estrada todos os dias 24 horas por dia independente do contrato e empresa que está asfaltando.
Esta região não existe uma outra atividade ao meu ver a não ser gado, leite, queijo e pouco turismo.
Este empreendimento está mudando a vida de muitos moradores da cidade.É lógico que existirá fatos isolados.
Tem cidade que está "infestada" de "piões", porém fazendo a economia girar.
A anglo fez a Unimed, está fazendo condomínios, está fazendo faculdade. Exitem linhas de transmissão de energia elétrica sendo feitas especificamente para a Mina (veja quantos empregos), existe adutora especificamente para a Mina.
No total são 85 empresas prestadoras de serviços, quer que tenha impacto em uma pequena cidade ou não? este lado não está sendo observado pelo senhor
O senhor fala sempre de problemas desse empreendimento, de fazendas que estão impedidas de passar por a tubulação que vai para o porto do Açu, afinal o senhor é a favor ou contra?
Por que o senhor não utiliza este espaço com sua vasta experiência para debater sobre quais as profissões que mais precisarão
tanto para a Mina em Conceição do Mato Dentro quanto para o porto do Açu?
Fazer com que o IFF-Campos, SENAI, FAETEC, façam e/ou promovam cursos voltados para essas áreas para dar um direcionamento a pessoas que ainda não estão inclusas no mercado de trabalho tão pouco qual profissão seguir.

Roberto Moraes disse...

Ao "anônimo" das 9:32 PM,

Ao contrário do que você diz a matéria replicada pelo blog é do mineiro "Hoje em Dia".

Está claro isto na postagem.

O blog tem tentado informar às comunidades sobre o que vem ocorrendo com a implantação de todo o projeto, tanto no território fluminense quanto mineiro.

É lamentável a forma como se vem tratando a comunidade, o meio ambiente e mesmo os pequenos comerciantes e prestadores de serviço local.

Há quem defenda o direito de se fazer tudo de qualquer jeito em nome do que chamam "progresso".

O blog não tem neutralidade com relação a isto. Assim, vem arguindo todos os erros que vem sendo cometidos, embora abra espaço para alguns que defendam que a economia "gire com as cidades estadas de pioes" e julgam que basta a questão econômica.

Empresa fazer Unimed? Ora, a Unimed é um plano de saúde particular e que cobra pelos seus serviços. Então se a corporação investiu nela é porque pretende também ganhar dinheiro e auferir renda também na prestação de saúde e educação.

O espaço já tratou da imensidão de empregos prometidos (50 mil) para os quais forma formados diversos cidadãos tanto no IFF, Senai e Faetec baseado nas promessas de empregos que não aconteceram.

Diversos debates sobre profissões que pudessem ser necessárias ao empreendimento já forma feitos. As instituições se organizaram e, pensando na comunidade, mesmo desconfiadas ofertaram cursos. Porém, pouquíssimos foram contratados como todos na região sabem disto.

http://www.robertomoraes.com.br/2013/04/e-os-empregos-previstos-para-o-complexo.html

Podemos ter um debate qualificado sobre o tema, mas, para isto devemos, primeiro estabelecer as responsabilidades do poder público (Estado e/ou governos) e os entes privados.

Acompanhe as postagens listada na seção "As últimas do Complexo do Açu" no lado direito do blog e assim veja e leia o que anda ocorrendo.

As corporações vem divulgando suas versões sobre os fatos e o que seriam suas realizações. As comunidades e instituições de pesquisas fazem críticas e questionamentos.

Teríamos melhores resultados se houvesse espaço para que os conflitos sócio-ambientais e de ocupação do solo na região pudesse ser discutido, ao invés de se ficar gastando dinheiro com propagandas nas mídias comerciais.

Sds.

Anônimo disse...

Acabei de ler em um jornal da cidade.
Veja o que a prefeita quer depois de toda a extensão do duto estar pronta no município de Campos.
Representantes da Anglo em Campos
Publicado em 28/11/2013
Divulgação
Clique na foto para ampliá-la
anglo Representantes da multinacional em Campos
Uma comitiva de oito representantes da multinacional Anglo American, empresa proprietária do mineroduto Minas Rio e sócia de 49% do Porto do Açu, esteve nesta quinta-feira com a Prefeita Rosinha Garotinho, para apresentar detalhes do mineroduto em sua extensão de 525 km, dois quais 67 estão em Campos. A Prefeita Rosinha ficou interessada no Programa de Responsabilidade Social da empresa e apresentou propostas para implementação de programas em diversas áreas para contemplar a população rural, com foco na qualificação profissional, geração de renda, inclusive, na área ambiental.

Os técnicos e executivos da Anglo American mostraram com imagens para a prefeita e secretários de áreas afins, que todo percurso do mineroduto já está com cerca de 80% do empreendimento pronto (136 mil toneladas de tubos de aço de 24 e 26 polegadas soldados), sob a terra, sob serras e rios (são 1600m sob o Rio Paraíba do Sul em Campos), entre as minas de ferro de Conceição de Mato Dentro (MG) até o Porto do Açu, em São João da Barra.

De acordo com o Gerente de Relacionamento com Comunidades, Carlos Heinish, em Campos o projeto do mineroduto já está na fase de recomposição da área com faixa de dutos, procedimentos de aterramento, construção de leiras sobre o traçado, escarificação para plantio de vegetação para evitar assoreamento e visitas aos proprietários das áreas cortadas pelos tubos em linha contínua, por onde passará o minério em alta pressão e velocidade de 6 km por hora até o Terminal de Minério no Complexo do Porto do Açu, onde a polpa é processada para separação do minério da água que vem no duto.

Durante a fase de montagem que se iniciou em 2010 não houve nenhum incentivo do poder público.

Amigos meus qualificados não participaram do projeto e tive que ver pessoas de outros estados com as mesmas qualificações ficarem desempregada.

Anônimo disse...

Posso lhe afirmar que não existe que neste trecho:

"A Prefeita Rosinha ficou interessada no Programa de Responsabilidade Social da empresa e apresentou propostas para implementação de programas em diversas áreas para contemplar a população rural, com foco na qualificação profissional, geração de renda, inclusive, na área ambiental".

Qualificar qual mão de obra se não existe nada a mais para se fazer no traçado já pronto?

É a prefeita enchendo a famosa linguiça... criando expectativa tardia.

Anônimo disse...

professor
algumas notícias saíram esta semana informando que o canal do quitinguta ou rio das dragas ou ainda rio doce, nomes dados ao mesmo rio, que este estaria com o nível de oxigênio zerado causado por matéria em decomposição além de esgoto lançado.
Todos da região sabem que não existe esgoto neste rio então o que aconteceu? uma pessoa me disse que um amigo estava no rio e viu quando um caminhão de esgotamento sanitário (ele não soube informar a empresa) de são joão da barra lançou todo seu conteúdo no canal e isso deve estar acontecendo direto.tendo em vista o alcance do seu blog poderia se alertar as pessoas do 5 distrito para se alguém perceber algo estranho pegar os dados dos veículos para passar para quem de direito Inea PM etc.

Roberto Moraes disse...

Sobre esgotos no Quintigute,

Sim, há informações e postaremos adiante sobre o assunto.

Obrigado pela informação. Se puder me passe email que está na capa do blog logo abaixo de minha foto, no lado direito.

Sds.