Ainda não se sabe se a consequência da morte de duas pessoas decorrentes da intoxicação de cinco moradores da comunidade de Rio Preto no município de Campos, tiveram como causa a contaminação por agrotóxicos, mas, pelos sintomas, segundo as autoridades, esta seria a principal suspeita.
Técnicos do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e do Controle Estadual de Agrotóxicos vistoriaram o local, enquanto a Polícia Civil também investiga o caso e coletas de água dos rios da região estão sendo analisadas. Portanto, há que se aguardar os resultados das análises e investigações.
Independente disto, é oportuno trazer o tema à baila em nossa região. O uso indiscriminado de agrotóxicos no Brasil data do início da década de setenta. Campos e a nossa região tem participação importante neste processo que, infelizmente, é do conhecimento de poucos, inclusive pesquisadores.
Por isto, vale relembrar o caso de graves contaminações por agrotóxicos à base de mercúrio que no final da década de 70, pesquisadores da Fiocruz junto com o Sindicato dos Trabalhadores rurais descobriram em diversos trabalhadores rurais de sua base ligados ao plantio da cana-de-açúcar em nossa região.
Os exames eram feitos no cabelo das pessoas, por onde se consegue identificar a concentração de mercúrio no organismo humano. O caso foi manchetes dos principais jornais e telejornais do país, durante meses, no final da década de 70, início de 80.
Na ocasião o uso de agrotóxicos era completamente desregulamentado com as indústrias químicas faturando horrores com os venenos vendidos sem necessidade de receitas agronômicas e sem nenhum controle sob a indústria ou o comércio desde a capital à regiões produtoras do interior.
É interessante lembrar que a Carteira de Crédito Agrícola do Banco do Brasil exigia que os produtores rurais comprovassem a compra dos mesmos para que novas parcelas de crédito pudessem ser liberadas. Um verdadeiro absurdo.
Mesmo naquela época os agrotóxicos à base de mercúrio já eram proibidos em praticamente todo o mundo, enquanto no Brasil, os governos militares deixavam os mesmos serem amplamente negociados.
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Campos apoiados por técnicos e pesquisadores da Fiocruz e da Coppe/UFRJ fizeram ampla e forte campanha. Amplas mobilizações locais, regionais e nacionais e uma forte participação da Câmara Municipal de Campos, através do seu presidente professor Helio Coelho, contribuiu para que a pressão redundasse na proibição do uso dos agrotóxicos à base de mercúrio em todo o país.
Na época se estimava que os trabalhadores atingidos pudessem ser muito mais do que as duas a três dezenas identificados. O sofrimento pela contaminação (crônica) por mercúrio com manifestação de diversas doenças físicas e mentais, mesmo em pessoas jovens. O sofrimento dos atingidos acabou restrito às famílias de pobres trabalhadores.
A partir daí passou-se a ter um certo controle, mas, os problemas continuam. Só na década de 90, o DDT (à base de cloro, mas também altamente tóxico e danoso à saúde), já com uso suspendo em quase todo o mundo, foi definitivamente proibido no Brasil.
Os agrotóxicos organoclorados e organofosforados, ainda são muito utilizados, causando problemas em trabalhadores, no meio ambiente e na população que consome os alimentos contaminados.
Segundo estudiosos do tema, do agrotóxico pulverizado, só 32% fica retido nas plantas, outros vai pelo ar e atinge o entorno e outros 49% vai para o solo, onde depois parte evapora e vai ajudar a provocar a chuva ácida e a maior parte vai para o lençol freático atingindo os rios e a população que consome esta água.
É exatamente neste ponto que se pode ter uma pista do que pode ter acontecido em Rio Preto, sem que as análises, mesmo sérias podem, não confirmar.
O Brasil desde 2010, o Brasil é o campeão mundial de uso de agrotóxicos, onde seis grandes empresas controlam o mercado: Bayer; Basf; Dow; Du Pont; Syngenta e Monsanto, ligadas a apenas três corporações transnacionais, organizado num cartel, quase monopólio.
O Brasil hoje consome 19% de toda a produção mundial de agrotóxicos, uma média de 5 kg por cada brasileiro. Em 2001, se utilizava 2,7 kg de agrotóxico por hectare, hoje, utiliza-se 5 kg de agrotóxico por hectare (Nodari, 2001 e 2007).
O Ministério da Saúde estima que anualmente mais de 400 mil pessoas sejam contaminadas pro agrotóxico com cerca de 4 mil mortes.
Abaixo um quadro do que os agrotóxicos produzem como efeitos no meio ambiente e no ser humano.
Se você desejar ter mais informações sobre o assunto clique aqui leia e baixe o Dossiê "Um alerta sobre os impactos do agrotóxicos na saúde" da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) apresentado na Cúpula dos Povos na Rio+20 no ano passado.
É oportuno que a questão das mortes e possibilidade de contaminação de moradores da localidade de Rio Preto em campos, seja vista sob uma ótica mais ampla e não desfocada como quase sempre tende a ocorrer na mídia comercial.
Aliás, independente do resultados das análises, seria interessante fazer um levantamento e uma matéria, sobre consumo, o uso de agrotóxicos e suas consequências em nossa região. Observar se há controle para aquisição, uso e descarte dos produtos e também profissionais e pesquisadores da área de saúde e meio ambiente sobre consequências do amplo uso de agrotóxico que todos sabem que há em nossa região. Fica a sugestão do blog.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
Prof. Roberto,
O assunto que venho tratar não possui nenhum paralelo com a questão do uso do agrotóxico na Região, porém, acredito que seja de utilidade pública para todos os internautas em Campos. Acontece que com a chegada da GVT em Campos, aqueles que estavam cansados com os péssimos serviços prestados pela ViaCabo se viram diante da oportunidade de migrar para os planos oferecidos pela GVT, que em alguns casos são bastante apelativos devido à velocidade da internet e a variedade de canais. Porém, alguns assinantes acabaram ficando presos aos contratos realizados pela Viacabo e a sua multa contratual que a empresa insiste em alegar que deve ser paga de forma integral, valor este que supera os R$ 300,00. Contudo, navegando na página da própria ViaCabo, encontrei um link para a Resolução ANATEL nº 614, de 28 de maio de 2013, que em seu Art. 70, parágrafo 2º, trata exatamente sobre este assunto, onde de forma clara e objetiva estabelece que a multa contratual por fidelização é de legal, porém ela deve ser "justa e razoável" e "proporcional ao tempo restante para o término do contrato". Portanto, a informação que a empresa insiste em transmitir para os assinantes que fidelizaram o plano em 12 meses e que por algum motivo querem suspender a assinatura, sobre o pagamento integral da multa é uma inverdade que vai contra esta resolução da ANATEL e ainda se constitui como uma vantagem excessiva na relação de consumo, devendo ser ressarcido em dobro para aqueles que pagaram. Portanto, segue o link para a resolução: http://legislacao.anatel.gov.br/resolucoes/2013/465-resolucao-614
Você, Roberto, com sua juventude, entusiasmo e coragem, também estava nas fileiras dessa luta e de outras tantas que travamos naqueles tempos difíceis da Ditadura Militar/Civil-Empresarial. José Luiz Vianna da Cruz, também. E não podemos nos esquecer do Professor Aristides Arthur Soffiati e a turma do nascente Centro Norte-Fluminenses para a Conservação da Natureza. Como dizia meu pai, A LUTA É O TEMPERO DA VIDA! E disso você entende pois sempre combateu o bom combate. Obrigado pelo resgate histórico. Reafirmando o que dizíamos há 30 anos, A LUTA CONTINUA, A LUTA É CONTÍNUA...
UM ABRAÇO. Hélio Coelho.
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