terça-feira, dezembro 31, 2013

Bem-vindo 2014!

É apenas mais mais um dia, mais um mês e um novo ano. 

Porém, a esperança é sempre renovada como a fé no que virá.

Boa festa e feliz 2014!

segunda-feira, dezembro 30, 2013

Mais David Harvey!

Para fechar 2013, mais uma boa entrevista com o geógrafo David Harvey. Esta foi publicada na edição de hoje, no Valor, P.A12.

A boa entrevista nem sempre é pelo entrevistado, mas, muitas vezes também pelo(a) entrevistador(a). Quando se trata de alguém que entende do assunto e tem perspicácia para aprofundar um assunto não previsto inicialmente, torna a entrevista redonda e ao mesmo tempo profunda.

Esta entrevista traz alguns temas já abordados antes, mas, traz novidades bastante interessantes. Uma delas é aparentemente um conceito ainda a ser aprofundado que Harvey chamou de "alienação universal" que podem ajudar a explicar parte dos protestos pelo mundo.

Outro ponto interessante é a forma didática que Harvey usa para mostrar como a crise do sistema capitalista migrou do mundo da produção, para o sistema financeiro e deste para o setor imobiliário. Neste ponto ele diz que Marx já havia analisado as crises de 1847/1848 e 1857, em Londres, quando os problemas foram financeiros e comerciais e não da produção.

Vale conferir toda a entrevista. Os grifos são do blogueiro:


Marx atrai jovens em busca de explicações para 


crises urbanas

Por Vanessa Jurgenfeld | De São Paulo
Luis Ushirobira/Valor / Luis Ushirobira/Valor
David Harvey: auditórios lotados em três capitais brasileiras para falar sobre Karl Marx e a crise do capitalismo
O geógrafo britânico David Harvey lotou auditórios em três diferentes cidades do país - Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro - em novembro, quando veio para falar sobre o capitalismo e promover um de seus livros mais antigos, "Os Limites do Capital", lançado em 1982 nos Estados Unidos, mas somente agora traduzido para o português pela Boitempo. A plateia, formada por pessoas especialmente na faixa dos 20 anos, mostra o interesse cada vez maior pelo autor, sobretudo, entre os leitores mais jovens.
Segundo a editora, 4,2 mil pessoas participaram dos quatro eventos realizados com o autor no país. Aos 78 anos, o próprio Harvey não sabe explicar essa audiência tão grande. Uma possível resposta, diz, é que há um aumento de interesse pelas ideias de Karl Marx (autor de referência para Harvey) após 2007-2008, a maior crise do capitalismo desde 1930. Mas, segundo o geógrafo, isso é só parte da verdade.
Harvey acha que se tornou uma pessoa mais conhecida ao fazer um site na internet há cinco anos e por ter colocado um curso gratuito na rede sobre "O Capital", obra de Marx. Ele conta que já são 2,5 milhões de visitantes no seu site e o curso já está traduzido para 27 idiomas, com a contribuição voluntária de pessoas que criaram legendas para as aulas.
O autor tem um olhar interessante e didático para a obra de Marx, na qual encontrou explicações para os conflitos do espaço urbano, sobretudo porque a mais recente crise relaciona mercado imobiliário e sistema financeiro mundial. Alguns pesquisadores acham que as ideias de Harvey ajudam a explicar os problemas vividos em grandes cidades como São Paulo, e são eles que estariam por trás dos conflitos ocorridos nas manifestações de junho.
A imersão em Marx começou a partir de um estudo nos anos 60, quando Harvey analisava o sistema imobiliário de Baltimore, nos Estados Unidos. Para ele, que atualmente é professor na pós-graduação da City University of New York, a paisagem geográfica é palco de um conflito social onde a luta de classes pode ser vista concretamente.
Acompanhando de longe as manifestações de rua no país e em outras cidades do mundo, o geógrafo diz que essa é uma nova forma de fazer política. Mas, ao mesmo tempo, para ele, é preciso relacionar esse tipo de ativismo político com o que chamou de alienação universal.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Valor: O que torna as ideias de Karl Marx atuais?
David Harvey: Acho que as ideias de Marx sempre foram importantes. A questão é: qual o contexto em que as ideias foram usadas e como foram usadas. Foi mais difícil usar ideias de Marx em relação ao capital diretamente entre os anos 60 e 70. Mas, como consequência do neoliberalismo [corrente de pensamento que se evidenciou no pós-1970], ficou mais direta a conexão entre o que Marx dizia e o que está acontecendo ao nosso redor. A outra coisa é que, quando escrevi o livro, eram recentes as questões sobre o capital financeiro, não havia muitos escritos e questões sobre o papel da especulação, e, em particular, sobre a especulação imobiliária no espaço urbano. Agora, acho que é ainda mais importante esse olhar, porque a última crise, de 2007-2008, não se originou no mundo da produção, mas no da urbanização, particularmente, no sistema de financiamento imobiliário. Se voltarmos ao volume 3 de Marx, ele faz uma análise sobre a crise de 1847-48 e a de 1857. Nos dois casos, são crises financeiras e comerciais e não crises na produção. Então, Marx tinha uma teoria sobre crises financeiras e comerciais que ninguém tinha olhado.
"A coisa marcante é que nenhum dos eventos que estamos vendo foram antecipados"
Valor: O que o sr. poderia citar como um paralelo das crises que Marx estudou com a crise de 2008?
Harvey: Marx faz um considerável exame do que ele chama de papel incorreto do 'Bank Act', de 1844, quando o governo britânico fez uma revisão do papel do banco central. Marx mostra como aquela revisão exacerbou a crise posterior. Tornou-a mais profunda e longa do que seria. Acho que essa é uma boa maneira de se pensar o papel hoje do Banco Central Europeu (BCE). O BCE está tornando a crise mais profunda e estendendo-a na Europa. Acho que Marx é ainda mais interessante agora.
Valor: O sr. afirmou que a forma de trabalho caracterizado pela mão de obra barata em vários países também pode ser entendida usando a teoria de Marx.
Harvey: Marx fala de alienação no processo de produção. Entre os marxistas, há muitas críticas contra o termo alienação, porque ele não seria científico, seria mais emotivo e instável. Acho que isso é um grande erro, porque vimos que muitos protestos que aconteceram, e ainda acontecem, no mundo neste momento se originaram em um tipo de reação emocional. E muitos deles são instáveis. Então, esse é um ótimo momento para voltarmos a levantar questões sobre a alienação e como ela se relaciona com o ativismo político. A alienação produz diferentes tipos de respostas. As pessoas podem falar: 'Não posso fazer nada, não é da minha conta', e ficam sentadas assistindo à TV. Ou as pessoas ficam tomadas pela raiva. Nós temos visto muitos movimentos sociais nos anos recentes que são caracterizados por essa raiva explosiva em uma população, que parecia estar indiferente. Isso é um clássico modo de como a política da alienação ocorre no dia a dia. Acho que estamos lidando com uma coisa que chamaria de alienação universal nesse momento. Alienação sobre o trabalho, alienação sobre a natureza da vida urbana, alienação nos protestos...
Valor: Esse momento político pode mudar algo, sendo um tipo de alienação, ou não pode mudar nada?
Harvey: Essa é a dificuldade da política da alienação. Ela produz essa raiva e a questão é se essa raiva pode mudar, ser organizada e se transformar em um projeto político, nos levando para um mundo diferente. Isso me parece a grande questão no momento. O que existe é que a efervescência segue e vemos emergir novas formas de organização política. Pode ela de alguma forma superar suas diferenças e capturar a raiva existente e torná-la uma força política? Não sei se isso pode de fato acontecer.
Valor: Os protestos são fragmentados em todo o mundo. É necessário tornar esse movimento global para uma mudança significativa?
Harvey: Protestos globais possuem uma dinâmica curiosa. Se você olhar para trás, historicamente, em 1848, havia uma revolução em Paris, Londres, Frankfurt, Milão, mas a revolução acabou tomando todo o continente. Ninguém organizou isso em todos os lugares. Isso apenas aconteceu. Em alguns países recentemente houve esses movimentos de "occupy". Lembro-me melhor do movimento de 15 de fevereiro de 2003, quando havia perigo de guerra no Iraque e todo o mundo - 2 milhões de pessoas em Roma, 2 milhões de pessoas também em Madri, Nova York e Londres - fizeram um protesto simultâneo, sem nenhum plano organizado. A coisa marcante da situação atual é que nenhum desses eventos que estamos vendo foram antecipados.
Valor: Algumas pessoas analisam o protesto no Brasil como de pessoas que buscavam ter direito à cidade, um termo que o sr. usa...
Harvey: Não sei quais os movimentos sociais envolvidos, não estava aqui, então acho difícil fazer um julgamento. Eu ouvi isso de fontes confiáveis. E aceito que esse era um elemento. Mas não posso responder isso.
Valor: O sr. tem dito que há hoje um problema comum em diversas grandes cidades do mundo, relacionado ao aumento do capital especulativo imobiliário...
Harvey: O capitalismo está vivendo um duro momento. Na verdade, nos últimos 20, 30 anos ele está tentando achar formas alternativas e lucrativas para o investimento, porque a clássica forma de investimento está reduzindo seus retornos. Foi assim com o 'boom' dos eletrônicos da década de 90, que se tornou muito especulativo, e também com a bolha da internet que resultou no 'crash' do mercado de ações em 2000. E depois o dinheiro começou a ir para o mercado imobiliário e tivemos um 'crash' entre 2007 e 2008. Os sinais são de que o capitalismo não sabe nesse momento o que fazer com o excedente.
Valor: Como assim?
Harvey: O Federal Reserve (Fed, banco central americano) está colocando mais dinheiro na economia. A maior parte está indo para o mercado de ações e outra parte está ficando dentro do sistema bancário. Quase nada tem sido de fato investido na produção. Esse capital está, portanto, apenas circulando no sistema financeiro e as pessoas estão desesperadas para achar onde colocar o capital. A reurbanização é um dos locais em que o excedente pode ser absorvido com bons rendimentos [para o capital].
Valor: Quais lugares o sr. poderia citar como exemplo de onde isso ocorre atualmente?
Harvey: Na China, uma grande quantidade de dinheiro tem ido para a urbanização. Não me surpreende que existam megaprojetos no urbano. Esse tipo de investimento cria uma estrutura Ponzi [especulativa]. Você põe dinheiro na cidade, a cidade começa a explodir, e todo mundo coloca dinheiro nisso, e os preços das propriedades em todo o lugar sobem expressivamente. Isso está acontecendo em São Paulo, Londres, Xangai, Hong Kong e em Mumbai. Há muitas vezes remoção de população e isso tem trazido algum tipo de resistência. Por isso, não é acidentalmente que os maiores eventos políticos dos últimos tempos sejam sobre as cidades, sobre a vida urbana. Esse é um campo de uma vigorosa contestação política no momento. E continuará a ser até o capital encontrar outra coisa para aplicar seus recursos.
Valor: Estamos vivendo um momento em que há ainda mais aprofundada a divisão entre a cidade do rico e a cidade do pobre dentro de uma mesma cidade?
Harvey: As cidades sempre foram divididas em classes. Sempre foram microestados. Mas provavelmente as desigualdades aumentaram, porque a desigualdade de renda aumentou também. Por exemplo, na cidade de Nova York, em 2012, 1% da população vivia com US$ 3,75 milhões por ano, enquanto 50% da população tentava viver com menos de US$ 30 mil. Nunca vimos níveis de disparidades desse tamanho desde 1920. Nova York se tornou uma cidade incrivelmente rica, a cidade está indo muito bem, mas grande parte das pessoas está ficando muito pobre. Quando isso acontece, você vê mais lutas emergindo, derivadas dessas desigualdades.
"Na verdade, acredito que o custo do trabalho não faz muito diferença para o capital hoje"
Valor: E como mudar isso?
Harvey: Nós temos um prefeito recém-eleito na cidade de Nova York [o democrata Bill de Blasio]. E é possível que ele mude algumas coisas, mas não acredito que ele terá poder suficiente para fazer tudo que é preciso.
Valor: Quais poderes o prefeito tem, uma vez o sr. o entende que há uma dinâmica global do capital que vai além da jurisdição do prefeito?
Harvey: Ele tem alguns poderes de redistribuição. Ele tem falado sobre colocar impostos especiais sobre os muito ricos para que todas as crianças tenham acesso a creches públicas. Isso seria um benefício fantástico, porque não há educação desse tipo gratuita. As pessoas ricas de Manhattan pagam por essa educação. Se ele fizer isso, será algo muito progressivo.
Valor: Na sua opinião, apesar dos movimentos globais, há espaço para políticas públicas locais para o desenvolvimento...
Harvey: Algumas cidades vão melhor do que outras nesse sentido. Isso depende muito do tamanho do poder que um prefeito tem. Em alguns lugares, ele tem mais poder. Nos Estados Unidos, isso é muito significativo. Por exemplo, Baltimore gostaria de ter imigrantes ilegais vindo para a cidade e prometeu que a força policial nunca perguntaria a ninguém sobre seus documentos e não seriam levados para as autoridades de imigração. Baltimore também iniciou o movimento chamado de "living wage" (salário digno), que consistia de a cidade pagar esse salário para todos os funcionários públicos e todos os subcontratados relacionados com os serviços para a cidade. Então, por esses mecanismos, a iniciativa local pode fazer algo, que talvez só fosse feito em nível federal, ou que pode ir até mesmo contra o que seria uma lei federal.
Valor: A mudança depende do poder dos movimentos sociais?
Harvey: Baltimore se tornou uma cidade com 'living wage' por causa dos movimentos sociais fortes. Quando chegou a eleição, os candidatos tiveram que ter uma plataforma onde esses grupos foram ouvidos. Quem se dizia contra, não recebeu os votos desse movimento. Esse tipo de movimento político, por exemplo, ocorre muito nas igrejas e nas escolas. É muito interessante olhar como os republicanos se tornaram tão poderosos. Foi justamente por possuírem posições nos quadros dos conselhos das escolas. E a esquerda está agora vendo como os republicanos fizeram e entendendo que deveria fazer o mesmo.
Valor: O sr. acha que existe um caminho possível de transformação que se dá inevitavelmente por meio de partidos políticos?
Harvey: Tem uma vertente dentro da esquerda americana que acredita que para fazer alguma mudança, precisa mudar isso dentro do Partido Democrata. O partido agora está controlado por pessoas de muita fama, próximas a Wall Street. Há limites sobre o que se pode fazer com essas pessoas, pode-se tentar fazer uma agenda reformista. Mas também se pode fazer reformas revolucionárias.
Valor: O que seriam essas reformas revolucionárias?
Harvey: Quando os trabalhadores se juntam e cortam a jornada de trabalho, muitas vezes fazem um favor para o capital, porque o capitalismo impõe uma superexploração aos trabalhadores até o ponto em que não são eficazes no seu trabalho. Então, quando se corta a jornada, há trabalhadores mais sadios e mais eficazes. As fases iniciais da luta para cortar jornada de 14 horas para 10 horas, portanto, ajudam o capital. Podemos imaginar que se cortarmos de 10 horas para 3 horas, essa mudança não daria vantagem para o capital, mas aos trabalhadores. A luta pela redução da jornada no começo tem características de reformista, e em algum ponto ela se torna revolucionária.
Valor: A redução de jornada é uma conquista que geralmente ocorre com ajuda sindical, mas algumas empresas tentam evitar locais onde há sindicatos fortes para instalação de suas fábricas...
Harvey: Hoje, já não é tão importante fugir de locais em que são fortes os movimentos sindicais, porque em muitas produções a quantidade de mão de obra é muito reduzida. Comparado com o resto, as variações no custo do trabalho já não fazem grande diferença. Na verdade, acredito que o custo do trabalho não faz muito diferença para o capital hoje.
Valor: O que faz diferença?
Harvey: Custo da terra, de matérias-primas, isenções de impostos, eficiência na exportação... Acho que isso hoje é relativamente mais importante. Hoje, a quantidade de homens necessários para construir um carro é muito pequena.
Valor: Há alguns críticos que dizem que todas as ideias usadas pelo sr. estão em Marx, pouca coisa seria novidade...
Harvey: É verdade que estou sempre em constante diálogo com Marx. Mas estar em diálogo com ele não significa que necessariamente eu concordo com tudo que Marx diz. Tem vários aspectos de Marx que não aceito. Eu não gosto da teoria da tendência da taxa de lucro decrescente, não gosto da teoria da renda absoluta. Minha visão sobre Marx é que posso usá-lo toda vez que faz sentido para mim em termos do tipo de trabalho que estou fazendo sobre urbanização ou de desenvolvimento geográfico desigual. Se não faz sentido naquele contexto, tenho que transformar o que Marx está dizendo em outra coisa. Ou tenho que abandoná-lo. Eu faço as duas coisas.

Russos desenvolvem técnica de extração de petróleo a laser

Pesquisadores da Rússia desenvolveram uma técnica para extração de petróleo e gás por meio de raios laser. Segundo os cientistas envolvidos na criação do novo método, será possível extrair praticamente 100% do óleo localizado em estratos, ao contrário dos 30% a 40% retirados de forma convencional.

Depois de ser experimentado em laboratório, o método será testado nas jazidas para avaliar sua viabilidade técnica. O dirigente do departamento de energia do Instituto de Energia e Finanças da Rússia, Alexei Gromov, disse que a nova tecnologia será de extrema importância para contornar os problemas relacionados com o coeficiente de recuperação de petróleo.

“Na Rússia, esse fator [de recuperação de petróleo] não ultrapassa 30-31%, enquanto no mundo atinge os 40%. Nesse contexto, quaisquer inovações tecnológicas que permitam aumentar a produção são muito úteis”, avaliou.
Fonte: PetroNotícias.

Charge do Duke















Do A Charge On Line.

domingo, dezembro 29, 2013

"A economia é a religião do capitalismo"

Eu entendi uma pequena parte da enorme entrevista do Luiz Gonzaga Belluzzo que saiu publicada aqui na edição da Folha de São Paulo deste domingo. Eu aprendi a respeitá-lo porque com ele aprendi alguma (pouca) coisa de macroeconomia e do capitalismo.

Só por isto fui até o final da entrevista. Pelo que ficou dela, eu entendi que o Brasil, como outros estados-nações sofre com a ditadura do sistema financeiro que lhe impõe determinadas decisões.

Há como mudar? Parece que sim. E ninguém pode imaginar que poderia ser antes da eleição. Porém, depois, não há como ficar do jeito que está, ou vai para um lado ou outro.

Vale passar os olhos pela entrevista. Tirei a frase acima dela em que Belluzzo atribuiu a Agamben. Separei outra passagem que já havia lido em outros textos de Belluzzo e serve para evitar que retornemos ao velho debate: "

"O investimento público, na história do Brasil, definiu o horizonte do investimento privado. Basta ver o papel das estatais no período de investimento rápido e o crescimento de todos os países. Vamos deixar de lado a Inglaterra que é um pouco mais complicado. Mas, assim mesmo, não teria capitalismo inglês sem o Estado inglês. O mercantilismo inglês foi o Estado. Nos EUA do final do século 19 ou na Alemanha há um peso devastador do Estado. Na Alemanha é muito mais claro. [Otto Von] Bismarck chamava o cara e dizia: você vai fazer uma estrada de ferro? Então compre o trilho aqui na Alemanha, porque isso é de interesse do povo alemão. Francamente, me recuso a discutir esse negócio de Estado ou não Estado. O Estado faz parte da engrenagem do capitalismo."

Enfim, quer saber mais (ou mais ou menos)? Leia então a entrevista aqui.

sábado, dezembro 28, 2013

A velha mídia comercial

Do GGN:

Como os jornalões conseguiram estragar um Natal surpreendente
sex, 27/12/2013 - 08:55 - Atualizado em 28/12/2013 - 03:44 - Luis Nassif

"Folha e Estadão esmeraram-se em tratar as vendas de Natal como um fracasso"
Manchete da Folha: “Comércio tem o pior resultado no Natal em 11 anos”.
Manchete do Estadão: “Com crédito contido e juros altos, vendas de Natal decepcionam”.

Ambos os jornais trabalham em cima de dados da Serasa Experian e da Alshop (a associação dos lojistas de shoppings).

Vamos a alguns erros de manchetes e de análises.

1. Erro de manchete: Se em 2013 vendeu-se mais do que em 2012, como considerar que foi o pior resultado em 11 anos?

2. A Serasa trabalha especificamente com pedidos de informação para crédito. Houve retração no crédito, mas a maior ferramenta de vendas têm sido o parcelamento (em até dez vezes) em cartões de crédito e de loja. Os jornalões trataram os dados da Serasa como se representassem o universo total de vendas.

3. As vendas em shoppings deixam de lado o comércio para classes C e D - justamente as que mais vêm crescendo. Mesmo assim, os jornalões trataram os dados como se representassem o todo.

4. A Alshop (associação dos lojistas) informou que as vendas cresceram 6% no Natal. O problema maior foi o aumento do número de lojas, que fez com que as lojas mais antigas permanecessem com o mesmo faturamento. Ora, o que expressa o mercado são as vendas totais. A distribuição entre lojas novas e antigas é problema setorial, que nada tem a ver com a conjuntura.

5. Os jornalões deixaram de lado o comércio eletrônico - que tem sido o principal competidor das lojas de shopping. Em 2013 os shoppings centers venderam R$ 138 bilhões, 8% a mais do que em 2012. O comércio eletrônico vendeu R$ 23 bilhões, ou 45% a mais do que em 2012. Somando a venda dos dois segmentos, saltou de R$ 151 bi em 2012 para R$ 161 bi em 2013, aumento de expressivos 12%.

6. Os jornais falam em “decepção”, porque a Alhosp esperava crescimento de 10% nas vendas de Natal e conseguiu-se “apenas" 6%. Esperar 10% de crescimento com uma economia rodando a 2% é erro clamoroso de análise. Mas, para os jornalões, o erro está na realidade, que não acompanhou os sonhos.

Se não houvesse essa politização descabida do noticiário econômico, as análises estariam em outra direção: a razão do consumo ainda não ter se acomodado mesmo com dinheiro mais caro, o crédito mais escasso, com a competição de Miami, com o PIB andando de lado etc. E suas implicações sobre as contas externas brasileiras. Estariam questionando também que raios de política monetária é esta, na qual aumenta-se a Selic para supostamente reduzir a demanda agregada, e ela continua crescendo."

Soffiati cita 5 motivos estruturais para a não construção de um novo porto em Macaé

No dia 20 de dezembro de 2013, o blog publicou aqui a informação sobre a realização da Audiência Pública para a analisar os impactos sobre a implantação de um novo porto em Macaé, o TEPOR.

Hoje, o blog recebeu do professor Aristides Soffiati o documento (também publicado aqui no Pravda da Rússia) elencando cinco "motivos estruturais para a não construção de um novo porto em Macaé" que segue abaixo:

"Motivos estruturais para a não construção de um novo Porto em Macaé"
28.12.2013 - Por Arthur Soffiati - PhD. ecohistoriador e ambientalista

1- O trecho costeiro entre a margem esquerda do Rio Macaé e a margem direita do Rio Itapemirim é geologicamente novo. Podemos identificar nele três formações. A mais antiga é a Formação Barreiras, com idade estimada em 60 milhões anos, ou seja, menos de 10% da zona serra, que domina o noroeste fluminense. A segunda é representada pelas planícies aluviais, com menos de 5 mil anos. A terceira é constituída por três restingas: a de Jurubatiba, a do Paraíba do Sul e a de Marobá. A de Jurubatiba tem cerca de 120 mil anos. Como não existem formações pedregosas nesta costa, qualquer empreendimento da estatura de portos implica em grande destruição do ambiente, de forma a ajustá-lo aos interesses do empreendimento. Como o fundo do mar é raso, torna-se necessária a abertura de longos, largos e profundos canais de acesso, o que significa revolvimento de fundo e disposição de sedimentos também no assoalho marinho. Não havendo formações pedregosas, é preciso construí-las no mar, o que causa pressão sobre pedreiras. A retroárea aumenta mais ainda os impactos ambientais.

2- A circulação de navios vai aumentar as perturbações na zona marinha, já empobrecida pelos cerca de 30 anos de funcionamento das plataformas de exploração de petróleo da Petrobras e de outras empresas. Os impactos sobre a atividade pesqueira aumentarão.

3- O porto projetado encontra-se na zona de amortecimento do Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba e das Unidades de Conservação do Arquipélago de Santana.

4- A cidade de Macaé já se encontra saturada com as atividades da Petrobras e de empresas associadas. A parte urbana consolidada se expande cada vez mais em direção à Região dos Lagos, promovendo a conurbação de Macaé-Rio das Ostras-Barra de São João-Unamar. A saturação de Macaé também está obrigando a cidade a se expandir para o interior, sobre área rural, exigindo o nivelamento do terreno com aterros. Assim, elevações estão sendo desmanteladas para fornecer material de aterro de áreas que funcionam como amortecedores de cheias e como ecossistemas aquáticos ricos em vida.

5- Nesta mesma zona costeira que se estende do Rio Macaé ao Rio Itapemirim, existem quatro complexos portuários em andamento: o de Barra do Furado, o do Açu, o de Canaã e o de Presidente Kennedy. Um terminal a mais só aumentará a sinergia negativa. A sobrecarga para a zona costeira já é grande demais para comportar novo complexo portuário.

sexta-feira, dezembro 27, 2013

Região Metropolitana do Rio ganha mais 2 municípíos: Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu

O Estado do Rio de Janeiro tem uma região metropolitana cada vez maior e mais adensada. Assim, a chamada macrocefalia em relação ao restante do estado se amplia. A decisão foi da Alerj que incluiu na região metropolitana dois municípios que pertenciam à região da Baixada Litorânea (antiga Região dos Lagos).

A decisão foi publicada hoje (27/12) no Diário Oficial do estado. De acordo com a Lei Complementar 158, as duas cidades se juntam aos outros dezenove município s que compõem a Região Metropolitana: Rio de Janeiro, Belford Roxo, Duque de Caxias, Guapimirim, Itaboraí, Japeri, Magé, Maricá, Mesquita, Nilópolis, Niterói, Nova Iguaçu, Paracambi, Queimados, São Gonçalo, São João de Meriti, Seropédica, Tanguá, Itaguaí.

O interesse em participar da região metropolitana é estar mais facilmente ligada à chamada Área de Influência Direta (AID) do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) que está sendo instalado no município de Itaboraí.

O autor do projeto de Lei foi do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), deputado Paulo Melo (PMDB), e dos parlamentares André Corrêa (PSD) e Marcos Abrahão (PT do B) que justificaram a decisão como uma facilitação ao planejamento e a execução de serviços públicos de forma integrada aos demais municípios por conta da atração socioeconômicano entorno do Comperj.

Agora dos 92 municípios fluminenses, 21 estão oficialmente na Região Metropolitana. O fato vem reforçar a hipótese de que a inflexão econômica no estado em direção ao interior, que se identificava a partir da segunda metade da década de 90, com redução proporcional da capital e região metropolitana em relação ao interior, deve estar se invertendo.

A hipótese é de que pode se estar vivendo um novo processo de reconcentração na capital e região metropolitana, considerando não apenas o Comperj, mas, os eventos internacionais na capital (Copa do Mundo e, especialmente, as Olimpíadas, com as centenas de obras e investimentos no setor imobiliário), e, também, à implantação de indústrias CSKA e Terminais Portuários na Baía de Sepetiba, na divisa do Rio com Itaguaí, onde também está sendo instalado o Porto Sudeste e o Porto da Marinha (Prosub - construção dos submarinos nucleares).

Soma-se aos fatos acima, a observação de que os negócios relacionados à cadeia produtiva do petróleo e gás estão cada vez mais concentrados no Rio de Janeiro, tanto pela sua própria natureza, pela localização da sede da Petrobras, e até pela equidistância entre as Bacias de Campos e Espírito Santo com a Bacia de Santos.

O blog voltará a tratar do assunto.

Veja abaixo o mapa dos estado do Rio de Janeiro com identificação das regiões e municípios fluminense, onde se pode ver a área dos municípios de Rio Bonito e Cachoeiras de Macacu, ainda localizados na Região da Baixada Litorânea (antiga Região dos Lagos):


 

Extremos de extensão territorial dos municípios fluminenses

Por conta de minhas pesquisas e estudos, eu voltei vasculhar alguns dados antigos, mas, sempre interessante de serem novamente revisitados em novas análises. Assim, compartilho com os leitores um dados simples, ao mesmo tempo importante para imaginarmos a gestão diferenciada em cada município. Assim, observem as anotações sobre os maiores e menores municípios fluminenses, em termos de superfície ou extensão territorial:

1) A maior extensão como quase todos já sabem é de Campos com 4.051 Km²;
2) Ao contrário do que muita gente imagina, o município com a 2ª maior extensão é Macaé com 1.218 Km²;
3) A terceira maior extensão é da capital Rio de Janeiro com 1.201 Km²;
4) Imagino que seja também surpreendente para muitos que o quarto município com maior superfície seja um que há pouco mais de duas décadas perdeu grande área que na verdade era a sua sede. É o caso de SFI que tem atualmente 1.107 Km², depois que foi separado do município de São João da Barra que tem 454 Km². Assim, antes da emancipação de SFI, SJB possuía a segunda maior superfície do estado com 1.561 Km²;
5) A quinta maior extensão territorial é o município de Itaperuna com 1.103 Km².

Superfícies das regiões fluminenses
Por região, a maior extensão territorial é o Norte Fluminense com 9.749 Km². Isto acontece porque os dois maiores municípios em extensão, Campos e Macaé estão no Norte Fluminense. Em segundo lugar é a Região Serrana com 6.935 Km². Em terceiro o Médio Paraíba com 6.185 Km². Em quarto, o Noroeste com 5.370 Km². Em quinto a Metropolitana com 5.318 Km²; Em sexto, a Baixada Litorânea com 5.063 Km². Em sétimo é o Centro-Sul com 3.028 Km². Em oitavo o Litoral Sul com apenas 2.115 Km².

Os municípios fluminenses com menor área
Eu tenho certeza que você surpreenderá com a dimensão dos menores fluminenses em extensão territorial como eu me surpreendi mesmo trabalhando com dados há anos.
1) O menor município fluminense é Nilópolis com apenas 19,5 Km² (mais ou menos 4 Km x 5 Km²). O perímetro deste município (aproximadamente 18 Km) é inferior à distância de uma meia maratona com 21 Km.
2) O segundo menor é São João do Meriti com 35,1 Km²;
3) O terceiro município menor é Mesquita com 41,6 Km²;
4) Iguaba Grande com 49,5 Km²;
5) Porto Real com 50,8 Km²;
6) Búzios com 70 Km²;
7) Queimados com 76,4 Km²;
8) Belford Roxo com 77,6 Km²;
9) Japeri com 81,6 Km²;
10) Pinheiral com 81,8 Km².

A extensão da área de um município influencia a demanda por ruas, praças, urbanização e/ou área rural com apoio à agricultura. Já o município com mais população tem maiores gastos com educação e saúde dois setores diretamente relacionado à população. Muitos destes municípios são menores do que diversos distritos de Campos. Imagine um município com 20 Km² equivale a uma área de apenas 5 km por 4 Km. Ao mesmo tempo, observem que a área que foi reservada para o empreendimento do Açu com 90 Km² seria maior que qualquer um destes dez municípios fluminense.

Densidade populacional
Na listagem acima há municípios com pequena área, mas, densamente povoadas. Especialmente, as localizadas na Baixada Fluminense: S. J. Meriti com 35,1 Km² que tem uma população de 459 mil habitantes e Belford Roxo com 77,6 Km² e 469 mil habitantes. O município de menor área de extensão Nilópolis, nome dado em homenagem ao ex-presidente da República (campista) Nilo Peçanha, com 19,5 Km² tem uma população de 157 mil moradores, população similar a de Mesquita e Queimados.

Mapa do Estado do Rio de Janeiro com identificação dos 82 municípios fluminenses
Superfície de todo o estado (ERJ)
O estado do Rio de Janeiro com 43, 8 mil km² possui a quarta menor área entre as 27 unidades federativas brasileiras e apenas 0,51% da superfície de todo o país.

OGP deixa de ser controlada por Eike

A exemplo do que já ocorreu com a MPX (atual Eneva controlada pela alemã E.ON.) e a LLX (atual Prumo Logística Global S.A. controlada pelo Fundo americano EIG) a OGP (ex-OGX) está passando seu controle acionário para outras mãos e assim reestruturando a sua dívida com credores estrangeiros.

Nas negociações, como já era esperado Eike aceitou trocar US$ 5,8 bilhões em dívidas por uma participação acionária de até 90% na empresa. Assim, a participação de Eike e dos minoritários serão diluídas para até 10%. É oportuno recordar que a OGX chegou a valer no mercado aproximadamente 3/4 de todas os demais empreendimentos da holding EBX do empresário Eike Batista.

No acordo, estes credores se comprometeram também a investir recursos novos na empresa de exploração de óleo e gás em valores entre US$ 200 milhões e US$ 215 milhões. A Óleo e Gás Participações- OGP -(ex-OGX) informou no pedido de recuperação judicial na 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro, dívidas no valor de R$ 11,2 bilhões.

Na negociação com os credores no valor de US$ 5,8 bilhões foi incluído um pagamento de US$ 1,5 bilhão à empresa OSX. Esta empresa, como já explicamos aqui no blog tem duas pernas: uma é a de fretamento de embarcações e plataformas (alugadas à ex-OGX, atual, OGP) e a outra, o estaleiro no Açu, ou a Unidade de Construção Naval (UCN) que estava sendo implantada quando estourou a crise na OGX espalhando para todas as empresas do grupo EBX.

Ainda pelo acordo, serão pagos ainda US$ 500 milhões aos demais fornecedores da OGX. Os US$ 3,8 bilhões restantes dizem respeito os títulos de dívida nas mãos dos credores.

A expectativa dos credores é com relação à produção que poderá ser obtida pela OGP no campo de Tubarão Martelo, na Bacia de Campos que entrou em operação em novembro. A empresa estima que quando todos os sete poços deste campo estiverem em operação possa estar produzindo até 30 mil barris diários de petróleo.

A OGP não possui nenhuma instalação na região. Sua sede é no Rio de Janeiro e as operações se dava no mar na Bacia de Campos e no Maranhão. A área de exploração no mar do Maranhão foi negociada com a E.ON. atual controladora da antiga MPX (atual Eneva). 

Resta agora saber que destino será dado às instalações incompletas do estaleiro da OSX no Açu. Uma parte da área próxima a da UCN no Açu, na entrada do canal TX-2 está sendo utilizada pelo Consórcio Integra. A área está sendo usada para montagens modulares de plataforma que tem a coordenação a Construtora Mendes Jr. que tem o controle 51% do referido Consórcio.

O mais provável é que o mesmo que foi feito na MPX, LLX e agora a OGX com Eike repassando o controle acionário para interessados em tocar o projeto para diante, desde que assumam as dívidas. Há demanda de construção naval no país diante da produção no pré-sal, mas, não é simples, iniciar uma nova base de produção. Acompanhemos os desdobramentos.

quinta-feira, dezembro 26, 2013

Incêndio na Plataforma P-20 na Bacia de Campos já foi controlado

Com ajuda de embarcações de apoio o incêndio na plataforma P-20 no Campos de Marlim já foi controlado. Não há feridos no incêndio, apenas um petroleiro teria respirado um pouco de fumaça, mas não corre riscos. A Plataforma P-20 esteve com a produção interrompida no primeiro semestre quando sofreu diversos reparos e manutenção.

PS.: Atualizado às 19:58 e 20:12: Do site do Sindipetro-NF:
Incêndio de grandes proporções na plataforma P-20 da Petrobrás26/12 - 19:41
Segundo informações da empresa o incêndio já foi controlado. Um trabalhador inalou fumaça e outro torceu o tornozelo.




Incêndio de grandes proporções na plataforma P-20 da Petrobrás

26/12/2013 - 19:41
O sindicato recebeu a informação de diversas fontes de um incêndio de grandes proporções em P-20, Plataforma da Petrobras no Campo de Marlim. O incêndio ocorreu em uma área do convês principal entre o guindaste e o Turbo Compressor C por volta das 18 horas desta quinta, 26. 

Segundo informações obtidas com a gerência de Saúde e Segurança da UO-BC o incêndio já está controlado e ainda não há informações sobre as causas. Barcos de combate a incêndios (Fire Fighting) foram deslocados e está sendo realizada uma operação de rescaldo para resfriamento do local atingido pelo incêndio. Dois trabalhadores contratados sofreram acidentes sendo um por inalação da fumaça e outro com uma torção no tornozelo e ainda segundo a Petrobras foram medicados e passam bem.

O Sindipetro-NF vai continuar acompanhando o acidente e vai participar da apuração das causas do acidente como está garantido no Acordo Coletivo de Trabalho.

Tragédia nunca é natural e prevenção deve ser sinônimo de planejamento

Em janeiro de 2011, eu escrevi o texto abaixo que gerou boa repercussão. Na ocasião me referia, no calor dos acontecimentos, à tragédia da Região Serrana fluminense.

Quase depois anos depois vivemos no estado do Espírito Santo uma situação similar, felizmente com menos vítimas fatais. Porém, a causa é a mesma fortes chuvas provocando inundações e destruição. Muito dinheiro será necessário para reduzir o sofrimento das pessoas e reconstruir as cidades. Seria interessante para isto que alguns cuidados fossem seguidos.

Enfim, o blog entende que vale relembrar o artigo:

Tragédia nunca é natural e prevenção deve ser sinônimo de planejamento

Particularmente, repudio a expressão "tragédia natural". É indiscutível o fato de que o volume de chuvas, em pouco tempo, concentrada em uma área, que além de tudo é de serra e encostas, transformam o caso da Região Serrana na tragédia, sem precedentes no país, que alguns especialistas já calculam, numa análise estatística, o fenômeno teria recorrência estimada em 350 anos. Ainda assim, não há que se falar em tragédia natural.

Nos estudos de segurança do trabalho, a gente diz que a prevenção é basicamente aplicada na prática, ao planejamento. Pensar, planejar e organizar, estruturalmente, o quê fazer, antes da ocorrência do sinistro, qualquer que seja o seu tipo: um acidente do trabalho, incêndio, enchente, deslizamentos, etc.

De uma forma geral, o ser humano tem dificuldades em enxergar de forma abstrata, o que se passará numa situação futura, projetar os possíveis desdobramentos de uma ocorrência que você não viu e que muitas vezes não tem nenhuma referência. Sendo assim, o momento presente, mesmo que de forma cruel, tem uma importância significativa no aprendizado coletivo do que se deve ou não fazer em ocorrências similares.

Não apenas os profissionais da Defesa Civil devem absorver, analisar e prescrever os procedimentos necessários à prevenção e, especialmente, sistema de alerta para salvar as vidas e depois, complementarmente, resgatar bens e patrimônios.

Bom que os debates e as entrevistas com os especialistas fossem amplificados neste momento, não para abusivamente explorar as tragédias pessoais em troca da "audiência" exploradora das desgraças alheias, mas, para entender a ocorrência e a necessidade de prevenção e planejamento.

É também indiscutível que o uso e a ocupação irregular do solo é o problema recorrente nos municípios brasileiros e a causa básica das graves consequências. Porém, não adianta pensar unicamente em punir os prefeitos por este fato. Qual o município brasileiro que poderia se dizer imune a estes problemas? Além do mais, só no município isto poderia acontecer, porque é nele que as pessoas reais moram.

Os estados e a União são entes abstratos que reúnem o coletivo dos municípios, numa porção maior no estado e noutra maior ainda, na unidade da federação que é a União. Os municípios brasileiros e suas áreas urbanas foram crescendo de forma para lá de acelerada e consequentemente, desordenada nos últimos 50 anos.

A ideia do direito universal à educação, saúde e habitação, data da nova Constituição em 1988. O Estatuto da Cidade, seus conselhos com participação popular, estudos de impactos, etc. são figuras jurídicas recentes. Porém a juventude destes conceitos não deve servir de permissão para que as cidades continuem a crescer do jeito que acontece atualmente. Pelo menos, para isto, a lamentável ocorrência da região Serrana tem que servir. Os puxadinhos de casas, bairros e das cidades têm que ser planejados. Não adianta apenas buscar culpados nos moradores ou nos gestores, ambos têm responsabilidade, mas a solução dos problemas é mais ampla.

O planejamento da cidade deveria ser sempre participativa porque mais do que dividir as decisões, o planejamento conjunto permite o aprendizado informal das técnicas de prevenção, de construção e, ainda, de forma complementar, o controle social dos custos das intervenções públicas.

É tempo de estimular, cobrar que as prefeituras tenham corpo técnico de engenheiros, geólogos, biólogos, sociólogos que ajudem nestes programas de planejamento. Não me refiro à visão de alguns de colocá-los como fiscais e sim, como auxiliares da expansão da cidade, seja nos projetos governamentais, sejam no apoio ao projeto e planejamento dos chamados puxadinhos da habitação dos moradores, no debate sobre a praça que desejam, etc.

Os municípios que pelo porte, não puderem fazer estas contratações, deveriam sem consorciar com seus vizinhos para construir uma câmara técnica com este viés. O desenho, o apoio, inclusive o financeiro, além do técnico para esta finalidade poder sair dos governos estaduais que aí sim, cumpririam a sua atribuição para integrar os municípios com soluções que sejam intermunicipais.

Mesmo com a trágica e lamentável ocorrência da Região Serrana, há muito a ser aprendido para que as nossas cidades sejam melhores e mais agradáveis do que são hoje. O momento é oportuno até pela pujança da economia do país e do crescimento sem igual do nível do emprego nas diferentes regiões do país. Não apenas as cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro terão que ser reconstruídas. A grande maioria das cinco mil cidades brasileiras terá que ser replanejada e não há momento mais oportuno para este recomeço que o atual, que inclusive coincide com o início de uma nova gestão na União e nos estados brasileiros.

Planejamento é a palavra de ordem. Ela, porém, não deve ser entendida de forma tecnocrática e hierárquica, mas, sim participativa e integrada aliada à população. Além de transferir as pessoas e construções das áreas de risco, o trabalho a ser feito é o de se evitar que novas moradias se instalem nestas áreas. Diante do desafio apoiemos a reconstrução da Região Serrana do Rio de Janeiro, mas recomecemos todos, a fazer o que tem que ser feito em cada um dos nossos municípios brasileiros.

terça-feira, dezembro 24, 2013

Bom Natal. Ótimo 2014!

O blog e o blogueiro agradecem todas as manifestações sobre a passagem do Natal e do Ano que se anuncia. Retribuo em dobro aos que se manifestaram, aos amigos e também aos colaboradores e leitores do blog. Assim, ensejo os votos de um Natal em Paz e um ótimo 2014!

Sobre o uso da internet e redes sociais e seus significados e consequências

Os dois bons artigos-análise abaixo estão publicados no site da revista CartaCapital. Os artigos buscam analisar os motivos e as consequências do uso cada vez mais intensivo da internet e das redes sociais e sua repercussão na vida particular e em sociedade.

Os textos trazem opiniões de especialistas e mostram as duas faces da questão apontando oportunidades e riscos deste uso massivo e das maluquices geradas pelo acesso a um instrumento de comunicação com grande repercussão. São novos tempos, pós-modernos, superficiais e confusos, mas, também atraentes para um número cada vez mais expressivo de pessoas. 

Vale conferir o "Diálogo de surdos" de Rodrigo Martins e "Os brucutus da time line" de Eduardo Graça:

Diálogo de surdos
A internet mobiliza a juventude e é capaz de pautar temas ignorados pela mídia tradicional, mas a exagerada polarização ideológica empobrece o debate político
por Rodrigo Martins — publicado 24/12/2013 08:15

Os analistas políticos ainda se debatem para decifrar os enigmas dos protestos de junho. Mas ao menos um consenso parece estabelecido: tamanha mobilização, em uma sociedade historicamente apática, seria impensável sem o respaldo da internet. As redes sociais disseminaram fotos, vídeos e relatos da violenta repressão policial aos manifestantes convocados pelo Movimento Passe Livre e atraíram centenas de milhares para ocupar as ruas das principais capitais.

Não é a primeira vez que as mídias eletrônicas servem como instrumento de mobilização. Em 2011, operários da usina de Jirau, em Rondônia, iniciaram uma das maiores revoltas trabalhistas da história recente do País e destruíram parte do canteiro de obras. O distúrbio começou horas após os trabalhadores compartilharem insatisfações por torpedos de celular. Naquele mesmo ano, bombeiros do Rio de Janeiro promoveram um motim em pleno quartel, e angariaram apoio da população por meio do Facebook e do Twitter. De lá para cá, são incontáveis os atos que ganharam força após uma articulação online.

O cenário permite supor a emergência de uma democracia digital, na qual os cidadãos conectados à internet tornam-se protagonistas do debate político, sem a mediação da mídia tradicional ou a tutela de partidos ou sindicatos. Essa visão idílica, repetida à exaustão pelos entusiastas da rede, tem sido, porém, cada vez mais contestada.

Se é verdade que as redes sociais têm potencial para atrair milhares de cidadãos às ruas, também é verdade que a mobilização na internet nem sempre ganha vida no mundo offline. Após reunir mais de 800 mil adesões para uma greve geral convocada pelo Facebook, o mineiro Felipe Chamone, músico que nunca teve ligação com sindicatos, surpreendeu-se ao notar que o dia 1º de julho, marcado para a paralisação, amanheceu como outro qualquer. Em 7 de setembro, os esvaziados protestos contra a corrupção (do governo petista, registre-se) só não passaram em branco por conta da atuação dos Black Blocs.

Não é apenas a dificuldade de transformar o ativismo virtual em realidade que alimenta as críticas. A mesma plataforma mobilizadora abriga manifestações de ódio contra negros, nordestinos e gays. “Em 2006, havia pouco mais de 20 células neonazistas ativas na internet brasileira. Hoje, são mais de 300”, alerta Thiago Tavares Nunes de Oliveira, presidente da Safernet Brasil, entidade dedicada a monitorar crimes na rede mundial de computadores.

Além da atuação de criminosos, tornou-se corriqueira a ação de provocadores, os chamados trolls, para interditar o debate político com comentários agressivos, repletos de acusações e xingamentos. Os ataques movidos pelo fígado afastam do debate quem busca argumentos racionais. Nos jardins murados do Facebook ou do Twitter, os mais comedidos optam por selecionar criteriosamente sua lista de amigos ou seguidores, uma forma de assegurar um debate mais civilizado.

Mas com quem? “Normalmente, com quem compartilha dos mesmos valores e posições partidárias”, avalia Oliveira. O fenômeno é apontado por diversas pesquisas, como os mapas relacionais elaborados pelo Labic.net da Universidade Federal do Espírito Santo. Temas como a importação de médicos estrangeiros e o voto do ministro Celso de Mello no julgamento do “mensalão” resultam em um Fla-Flu com as torcidas separadas por alambrados virtuais, a reforçar suas próprias convicções e sem qualquer ponto de convergência.

A avaliação não é, porém, consensual entre os especialistas. “Hoje, o jogo é muito mais democrático. Antes da internet, o cidadão era um mero receptor de informação e o oligopólio da mídia sempre foi avesso à diversidade de opinião”, avalia o sociólogo Sérgio Amadeu, professor da Universidade Federal do ABC. O debate tende a ser mais agressivo nas redes sociais, ele reconhece, até pelo fato de os interlocutores estarem distantes ou protegidos por perfis anônimos. Não vê ameaça. “Não devemos debelar o conflito, e sim conviver com a divergência. Há troca de acusações na web, mas espaço para a defesa. Antidemocrática é a censura imposta por certas empresas, que bloqueiam conteúdos a pedido de indivíduos ou empresas mesmo sem ordem judicial.”

Professor de Teoria da Comunicação na Universidade Federal da Bahia, Wilson Gomes admite ser comum a formação de guetos ideológicos, mas ressalta que a exposição inadvertida a pensamentos divergentes é muito mais comum no mundo virtual. “Antes da internet, só havia discussão entre amigos, geralmente da mesma classe social. Nas redes sociais, o sujeito pode até buscar esse isolamento, mas vai acabar se deparando, cedo ou tarde, com a opinião diferente de um parente distante ou seguidor desconhecido.”

Na avaliação de Renato Lessa, cientista político da Universidade Federal Fluminense, uma das maiores virtudes das redes sociais é a capacidade de pautar temas ignorados pela mídia tradicional. Não fossem as denúncias disseminadas pela web, por exemplo, poucos dariam atenção ao desaparecimento de Amarildo de Souza, após ser levado para averiguação policial na Favela da Rocinha, no Rio. O caso ganhou o noticiário após a repercussão nas redes sociais e cinco policiais militares devem ser indiciados pela tortura, morte e ocultação do cadáver do pedreiro, ainda que seu corpo não tenha sido encontrado. A desvantagem, pondera, é a falta de aprofundamento das discussões em um ambiente no qual a instantaneidade da informação impera. “Não há um debate político de fato. O que existe é muita mobilização, mas com uma polarização exagerada”, diz Lessa. “Nos protestos de junho, não havia pauta de reivindicação clara, tampouco emergiram novos atores políticos.”

A tese é rechaçada pelo antropólogo Antonio Risério. “Há muita confusão entre crítica e pessimismo. Aristóteles acusava a escrita de ser responsável pela destruição da memória. Uma grande bobagem, não?”, provoca. “A surdez e a cegueira ideológica existem desde sempre. Sou da geração de 1968, e posso te garantir que os grupos políticos só pregavam para seus convertidos. Hoje há muito mais debate do que naquela época".

Os brucutus da timeline
Democráticas e inclusivas em sua visão idílica, as redes sociais formam um Homo digitalis triste, solitário, invejoso e radicalizado pelos guetos virtuais, alertam pesquisas
por Eduardo Graça — publicado 24/12/2013 07:55

A piada pronta é irresistível. Se aparecesse na timeline do Facebook, seria impossível dar um like para a pesquisa publicada pela Public Library of Science na segunda quinzena de agosto, conduzida pelo Laboratório de Estudos da Emoção e do Autocontrole da Escola de Psicologia da Universidade de Michigan. O estudo, comandado pelo professor do Instituto de Pesquisas Sociais da U-M Ethan Kross, em parceria com Phillipe Verduyn, da Universidade de Leuven, na Bélgica, concluiu que, quanto mais se usa o Facebook, mais infeliz e solitário o sujeito é.

Inovadora por ser a primeira a acompanhar a rotina de dezenas de usuários da rede social por um período determinado, a análise empírica, centrada em jovens com menos de 30 anos, possibilita entender um pouco melhor os contornos do Homo digitalis anunciado na década de 90 pelo americano Nicholas Negroponte, um dos criadores do celebrado Media Lab do Massachusetts Institute of Technology. Outras pesquisas divulgadas neste ano revelam um aparente paradoxo: ao mesmo tempo que redes sociais, notadamente o Facebook e o Twitter, são apresentadas como importantes ferramentas para o ativismo social e político, estudiosos apontam para o incremento da sensação de solidão e um aumento de polarização ideológica, com a tendência de os usuários dialogarem com indivíduos de posição política e comportamental similares às suas, e criticam a ideia de que essas plataformas, por sua natureza, exporiam os usuários a uma quantidade anteriormente inimaginável de pontos de vista.

“A contradição existe, mas não me surpreende. A amizade é algo que vai além da comunicação, é a sensação de comunhão com o outro. Esse sentimento pode dar-se pela troca de ideias, ou mesmo de imagens, como no Instagram. Mas é mais intensamente realizado pela proximidade humana. Frequentemente, os momentos em que nos sentimos mais próximos de outro ser humano são aqueles em que estamos fisicamente juntos, mas não dizemos nada”, filosofa o sociólogo Stephen Duncombe, especialista em novas mídias do Departamento de Mídia, Cultura e Comunicação Social da Universidade de Nova York.

A investigação sobre o perfil do usuário das redes sociais não é uma novidade em si. Artigos que conectam o Facebook ao aumento de ciúme nas relações amorosas, à tensão social em nível individual (bullying, preconceito), à tendência ao isolamento e ao aumento de depressão são recorrentes, com base científica ou mesmo a partir de exemplos cotidianos, como a quantificação da manifestação de ódio por nordestinos após o resultado das eleições presidenciais brasileiras em 2010 ou o infográfico elaborado por um grupo de advogados especializado em divórcios nos EUA para demonstrar como a traição digital pode ser um problema real na hora da separação. A diferença fundamental no estudo da U-M é a de se propor a ir além do mero registro de tendências ou da captura de um momento específico.

A equipe de Kross recrutou 82 jovens para o experimento. Curiosamente, quem topasse responder aos questionários elaborados pelos especialistas concorria à rifa de um tablet, o iPad. As perguntas eram enviadas diariamente cinco vezes, das 10 da manhã à meia-noite, por 14 dias, de forma ininterrupta, via mensagens de texto por celular. Os participantes também receberam uma pequena gratificação, 20 dólares cada. A periodicidade da consulta é um dos fundamentos do estudo. “Com isso fomos capazes de mostrar como o ânimo dos usuários mudava de acordo com o uso que cada um fazia do Facebook”, explica Kross.

Independentemente da quantidade de amigos, indicam os resultados finais, das condições psicológicas destes e da motivação para o uso da rede social, a cada passagem pelo Facebook aumentavam a preocupação e a sensação de isolamento e infelicidade dos jovens. “Em princípio, o Facebook parece oferecer recursos inestimáveis para satisfazer a necessidade humana de conexão social. Em vez de incrementar a sensação de bem-estar, nossa pesquisa sugere, no entanto, que o Facebook diminui a percepção de felicidade do usuário”, escreve o acadêmico na apresentação da pesquisa.

Os 82 jovens de Ann Arbor, no Michigan, centro universitário do Meio--Oeste americano com cerca de 345 mil habitantes, foram instados a dar uma nota para a satisfação obtida consigo mesmo antes do início da pesquisa e no derradeiro dia de estudo. A exposição ao Facebook apareceu diretamente ligada à sensação de infelicidade: quem passava mais tempo no site, mais infeliz havia ficado duas semanas depois da largada da pesquisa. Por outro lado, quanto maior o contato social direto, com amigos de carne e osso, sem mediação digital, maior a sensação de felicidade.

Se comparado ao universo do Facebook – mais de 1 bilhão de indivíduos no planeta possuem uma conta do serviço – o estudo da U-M é estatisticamente limitado. E os pesquisadores não buscaram respostas para os motivos de resultados diferenciados entre a socialização virtual e a presencial. Em entrevista à Fast Company, o cientista levanta a possibilidade de o Facebook ativar um poderoso processo de comparação social. “Os indivíduos tendem a postar informação, fotos e anúncios que fazem com que suas vidas pareçam sensacionais. Exposição frequente a esse tipo de informação pode levar o outro a sentir que sua vida é, em comparação, pior. Essa é uma das possíveis explicações. Mas outro fator pode ser a falta de interação direta com os outros.”

Outra pesquisa apresentada em fevereiro pelos cientistas sociais alemães das universidades de Humboldt e Darmstadt aventurou-se por esse campo ao entrevistar 584 usuários da principal rede social da internet. Foi positiva a resposta à pergunta proposta no título do estudo: “Inveja no Facebook: uma Ameaça Escondida à Felicidade dos Usuários?” A inveja, dizem os alemães, foi a emoção mais comum entre os voluntários (jovens com menos de 30 anos), despertada justamente pela comparação entre as vidas dos usuários e aquelas dos amigos cuja existência idealizada aparentava estar à beira da perfeição.

Os professores Peter Bauxmann e Hanna Krasnova criaram a imagem de uma “espiral da inveja”, especialmente dolorosa para os “usuários passivos”, que postam menos e experimentam a rede como testemunhas das conquistas sociais dos outros, tal qual estes as editam nas redes sociais. “Os usuários percebem o Facebook como um ambiente estressante, o que poderá, no longo prazo, ameaçar a sustentabilidade da plataforma”, anotam os pesquisadores.

O Facebook vai muito bem, obrigado. Na mesma semana em que a pesquisa da U-M recebia os holofotes da mídia, Mark Zuckerberg & cia. anunciavam que pouco mais de 40% dos norte-americanos, ou 128 milhões de indivíduos, se conectavam ao site diariamente. Segundo estimativa do banco Morgan Stanley, o mercado de vídeos de propaganda vai garantir cerca de 1 bilhão de dólares em 2014 e 6,5 bilhões em 2020. Em janeiro, a empresa anunciou ter alcançado a marca de 1,06 bilhão de usuários. O Brasil aparece entre as cinco nações com o maior número de conectados, ao lado de EUA, Índia, Indonésia e México.

A imagem de um brucutu na frente do computador, do Homo digitalis triste, solitário, invejoso e radicalizado pelos guetos virtuais, antítese da ideia de que as redes sociais seriam plataformas intrinsecamente democráticas e inclusivas, é obviamente repudiada pelos criadores do Facebook. Retratado no filme A Rede Social, de David Fincher, vencedor de três prêmios Oscar em 2011, como um autista social, Zuckerberg anunciou, juntamente com os números acima citados, a criação da internet.org, um consórcio do site com o browser Opera, a empresa especializada em tecnologia wireless Mediatek e os fabricantes de smartphones Nokia, Samsung e Ericsson para estimular a conexão digital de indivíduos de baixa renda. O objetivo, dizem os envolvidos, é combater o fosso digital e a desigualdade social. Zuckerberg defende a ideia de que o direito à conexão, para o Homo digitalis, se equipara aos direitos humanos essenciais como a liberdade de expressão e alimentação.

Os muitos artigos sobre a importância das mídias sociais para o apoio social aos movimentos políticos, como a Primavera Árabe e o Ocupem Wall Street, também levaram pesquisadores a investigar recentemente, e de forma mais detalhada, o uso, no longo prazo, dessas plataformas na obtenção de informação e debate de ideias. Dois cientistas especializados em computação social do Instituto de Pesquisa e Informática do Catar, Ingmar Weber e Venkata Garimella, investigaram, com o apoio de um analista do canal de tevê Al-Jazira, o papel das redes sociais no acirramento das posições políticas no Egito. Baseados em uma amostra de 17 milhões de tuítes publicados por 7 mil egípcios de janeiro a junho deste ano, os pesquisadores separaram as mensagens em duas categorias, secularistas e islamitas. E investigaram a evolução das hashstags, o #, um dos principais símbolos do Twitter, usadas na classificação de tópicos: se elas apontariam para uma ênfase na multiplicação de guetos ou, ao contrário, se permitiriam maior troca de ideias, ainda que aparentemente alienígenas para um grupo ou outro.

Na conclusão, os pesquisadores criaram o termo “barômetro da tensão”, em que hashstags como Morsi (em referência ao presidente deposto Mohamed Morsi) ao mesmo tempo incrementavam a polarização na rede e eram coincidentes com um aumento de violência no mundo real. Ainda assim, Weber e Garimella não chegaram a nenhuma conclusão sobre “causa-efeito” e não chegaram à conclusão sobre se as redes sociais transportariam o estresse e a insatisfação pessoal para o universo político.

Doutora pela UFRJ, professora de Comunicação Social da Universidade Federal Fluminense e estudiosa dos dilemas éticos nas novas mídias, Sylvia Moretzsohn considera ser esta uma tarefa dificílima. “É possível que Weber e Garimella estejam no caminho certo, o de se verificarem a repercussão e a realimentação de tuítes na relação mundo virtual/mundo presencial, mas a tendência das redes sociais sempre foi a guetização, oposta à disseminação de ideias conflitantes que permitiriam a ampliação da capacidade de conhecimento e de crítica dos usuários. Veem-se, em geral, a cristalização de opiniões, a rejeição ao contraditório e a reprodução de certos clichês ideológicos que apaziguam a consciência daqueles que têm convicções e não estão abertos ao debate. Mas esse é também o comportamento normal do senso comum, e não é surpresa que ele se reproduza nas mídias sociais.”

Kika Serra, também da UFRJ, é mais otimista. “Entre os extremos de comportamento, entre islamitas e secularistas, entre a tolerância e a intolerância, existe um mar de indivíduos que não têm o hábito de formular opinião sobre nada. Elas buscam nas redes sociais interpretações de mundo. O filtro é mais permeável, justamente por não terem perfil político definido.”

Para Moretzsohn, as pesquisas mais recentes não devem ser analisadas a partir da premissa de que novidades tecnológicas têm a capacidade de transformar profundamente as relações sociais. “É o equívoco de se maximizar a importância da tecnologia em nossas vidas e atribuir a ela as benesses e mazelas do mundo contemporâneo.”

No estudo dos meios de comunicação de massa, diz Ducombe, da NYU, cada nova mídia tende a ser apontada como a origem dos males ou a solução dos problemas intrínsecos de uma sociedade brutalizada. “As sociedades tendem a se apropriar das tecnologias e usá-las de modo utilitário, reflexo de suas próprias necessidades. O livro foi tanto uma resposta quanto um alavancador do nascente individualismo. Os filmes são uma consequência e retrato direto da sociedade de massas. Seria mesmo um acidente o Facebook e afins, com sua ênfase em uma rede de ‘amigos’, termo largamente reduzido ao histórico da carreira profissional e às preferências de consumo, se tornarem a escolha preferencial de comunicação da sociedade neoliberal globalizada? Simples assim: temos o tipo de comunicação que merecemos.”

Prefeitura com sala de vidro, câmeras, microfones e transmissão pela internet para setor de licitações

O caso é no município parananense de Londrina com informação do G1:

Prefeitura monta sala de vidro para 



garantir licitações transparentes


Com a medida, Prefeitura de Londrina acredita que vai reduzir corrupção.
Sala terá ainda câmeras e microfones para transmitir pela internet.

Do G1 PR, com informações da RPC TV Londrina

A Prefeitura de Londrina, no norte do Paraná, montou uma sala envidraçada para abrigar o setor de licitações do município. A ideia, segundo a Secretaria de Gestão, é dar mais transparência aos processos de compra de equipamentos e serviços para a cidade.
O espaço vai funcionar no prédio da própria prefeitura onde, anteriormente, existia uma agência bancária. Também serão instaladas câmeras e microfones, para que todas as negociações sejam transmitidas pela internet e possam ser acompanhadas pela população.

segunda-feira, dezembro 23, 2013

Hermeto Pascoal e Dominguinhos

A sugestão está lá no perfil do FB do professor e amigo Helio Gomes: Hermeto e Dominguinhos tocando "Forró Brasil". A outra debaixo é também do Hermeto, mas, agora com Sivuca tocando Disparada e pout-pouri: Vale conferir. Ao todo são dez minutos em êxtase!



Petroleiro denuncia atitude de técnica de segurança do trabalho

Por email o blog recebeu a denúncia sobre "abuso profissional" num navio que presta serviços na Bacia de Campos. 

Na véspera do Natal, onde, quase naturalmente, o clima já é tenso por conta do distanciamento do convívio da família, em navios e plataformas, o caso é lamentável e merece apuração. O blog abre espaço para que empresa e profissional citados possam se manifestar:

"A técnica de Segurança do Trabalho da empresa Axis, Brith Daugaard Hansen ontem humilhou mais de 300 trabalhadores. Todos foram obrigados a ficar debaixo da chuva por capricho da ...* e eu não fiquei mais de 10 minutos, fui sair e meteu a mão empurrando e mandando voltar para o lugar entre outras graves atitudes, estamos mandando notificação para a Ouvidoria e vamos processar o Navio Flotel UMCA - Navio Dan-Swinft."

* O blog retirou adjetivo de referência à técnica de segurança do trabalho por julgá-lo desnecessário para a compreensão da reclamação/denúncia.

Uruguai sem reeleição

Uma pergunta apenas para reflexão: no Uruguai não há o instituto da reeleição. Até onde este fato pode estar relacionado às corajosas medidas tomadas pelo governo do presidente José Mujica, especialmente, no plano e nas questões sobre valores?

domingo, dezembro 22, 2013

Revista Espaço & Economia lança seu 3º número

Sob a coordenação do professor e pesquisador Floriano José Godinho de Oliveira a revista Espaço & Economia já está lançando seu terceiro número.

Com editorial e nove artigos a revista brasileira de Geografia Econômica (exclusivamente online) oriunda do Núcleo de Pesquisa Espaço e Economia (NuPEE) avança no seu objetivo de fomentar os estudos acerca das relações entre espaço e economia.

Em sua apresentação, o Conselho Editorial da revista Espaço & Economia afirma que "embora a perspectiva inicial seja geográfica, pretende-se abordar o tema à luz da transdisciplinaridade, dialogando com áreas correlatas, como Economia e História. Com uma abordagem plural no que se refere às matrizes teóricas e a multiplicidade de escalas, esta revista ambiciona contribuir para a compreensão dos conteúdos que envolvem a valoração atual da natureza, as relações econômicas de poder e a reestruturação produtiva atual".

Clique aqui e tenha acesso aos três volumes da revista Espaço & Economia. Abaixo o índice deste terceiro volume:
3 | 2013 
Ano II, Número 3
Editorial
Floriano José Godinho de Oliveira e Guilherme Ribeiro
Políticas públicas e territoriais em perspectiva: a política para além da gestão [Texto integral]
  • Artigos

    • Paul Claval
      Marxisme et géographie économique dans l’oeuvre de David Harvey
      Marxism and geography in the works of David Harvey
      Marxismo y geografía económica en la obra de David Harvey
    • Federico Ferretti
      “Ils ont le droit de nous expulser” : La Nouvelle Géographie Universelle d’Élisée Reclus
      “They have the right to throw us out”: Élisée Reclus’ New Universal Geography
      “Ellos tienen derecho de expulsarnos”: La Nueva Geografía Universal de Élisée Reclus
    • Carla Hirt
      Le rôle du BNDES dans les politiques de développement et d’intégration régionale
      The role of the BNDES in the policies of regional development and integration
      El papel del BNDES en las políticas de desarrollo y integración regional
    • Silvana Cristina da Silva
      La reorganisation du circuit spatial de la production de vêtements au Brésil
      The reorganization of the spatial circuit of clothing production in Brazil
      La re-organización del circuito espacial de la producción de vestuario em Brasil
    • Floriano José Godinho de Oliveira
      L’électrification et la formation du patrimoine territorial de la Light à la ville de Rio de Janeiro et dans la moyenne vallée de la Parahybe
      Electrification and formation of Light’s territorial patrimony in the city of Rio de Janeiro and in the Middle Valley of Paraiba
      Electrificación y formación del patrimonio territorial de la empresa Light en la ciudad de Rio de Janeiro y en el Medio Valle del Paraíba
    • Regina Celi Pereira
      État, territoire et restructuration productive dans la métropole fluminense
      State, territory and productive restructuration in the fluminense metropolis
      Estado, territorio y re-estructuración productiva en la metrópoli fluminense
    • Letícia de Carvalho Giannella
      Correspondência entre os grandes ciclos de acumulação capitalista e as morfologias urbanas
      La production historique de l’espace portuaire de la ville de Rio de Janeiro et le projet Porto Maravilha : la correspondance entre les grands cycles d’accumulation capitaliste et les morphologies urbaines
      The historical production of the harbour space of Rio de Janeiro and thePorto Maravilha project: correspondence between great cycles of capitalist accumulation and urban morphologies
      La produccíon histórica del espacio portuario de la ciudad de Rio de Janeiro y el Proyecto Puerto Maravilla: correspondencia entre los grandes ciclos de acumulación capitalista y las morfologías urbanas
    • Carlos Eduardo Valencia Villa
      Aglomerações residenciais de negros livres no Rio de Janeiro (Brasil) e em Richmond (Virgínia, Estados Unidos) em meados do século XIX
      The residential agglomerations of free blacks in Rio de Janeiro (Brazil) and Richmond (Virginia, United States) in mid-nineteenth century
      Agglomérations résidencielles de nègres libres à Rio de Janeiro (Brésil) et à Richmond (Virginie, États-Unis) au milieu du XIXè siècle
    • Rosângela Viana Vieira Neri e Fábio Marvulle Bueno
      Capital fictif et urbanisation ou les différents usages du territoire
      Fictive capital and urbanization, or the different uses of territory
      Capital ficticio y urbanización o los diversos usos del territorio
  • Resenha