"Em 1612, os franceses tentaram fundar uma colônia no atual Maranhão. Vieram povoadores e padres, entre eles, o capuchinho Claude D´Abbeville, que escreveu "História da Missão dos Padres Capuchinos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas". O religioso católico transcreve o depoimento de um velho índio (dar-lhe 180 anos 180 anos de vida deve ser um equívoco do padre) - Momboé-Uaçu - que já havia experimentado o peso da colonização portuguesa. Neste depoimento, Momboré-Uaçu desconstrói o discurso e as práticas da colonização, mostrando que portugueses e franceses eram iguais. Eram cristãos e procediam da mesma maneira com os nativos. Des Vaux, líder dos franceses, retrucou o velho índio num discurso que parece dos nossos governantes. Leiam Momboré-Uaçu, o nosso touro sentado.
Depois de erguida a cruz, houve reunião na Casa Grande, onde o dito velho, de mais de 180 anos e que tinha por nome Momboré-uaçu, usando da palavra em presença de todos os principais da aldeia, disse o que segue ao Sr. des Vaux:
“Vi a chegada dos peró (PORTUGUESES) em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que os nossos companheiros de Pernambuco reputavam grandemente honroso.
Mais tarde, disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e edificar cidades para morarem conosco. E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar raparigas sem mais aquela, que Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários paí (PADRES). Mandaram vir os paí; e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. E, assim, se viram constrangidos os nossos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação: e com tal tirania e crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram, como nós, forçados a deixar a região.
Assim aconteceu com os franceses. Da primeira vez que viestes aqui, vós o fizestes somente para traficar. Como os peró, não recusáveis tomar nossas filhas e nós nos julgávamos felizes quando elas tinham filhos. Nessa época, não faláveis em aqui vos fixar; apenas vos contentáveis com visitar-nos uma vez por ano, permanecendo entre nós somente durante quatro ou cinco luas. Regressáveis então a vosso país, levando nossos gêneros para troçá-los com aquilo de que carecíamos.
Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para defender-nos contra vossos inimigos. Para isso, trouxestes um Morubixaba (CHEFE) e vários Paí. Em verdade, estamos satisfeitos, mas os peró fizeram o mesmo.
Depois da chegada dos Paí, plantastes cruzes como os peró. Começais agora a instruir e batizar tal qual eles fizeram; dizeis que não podeis tomar nossas filhas senão por esposas e após terem sido batizadas. O mesmo diziam os peró. Como estes, vós não quereis escravos, a princípio; agora os pedis e os quereis como eles no fim. Não creio, entretanto, que tenhais o mesmo fito que os peró; aliás, isso não me atemoriza, pois velho como estou nada mais temo. Digo apenas o que vi com meus olhos.”
“Vi a chegada dos peró (PORTUGUESES) em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses, fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem fixar residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que os nossos companheiros de Pernambuco reputavam grandemente honroso.
Mais tarde, disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir fortalezas, para se defenderem, e edificar cidades para morarem conosco. E assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só nação. Depois, começaram a dizer que não podiam tomar raparigas sem mais aquela, que Deus somente lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar sem que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários paí (PADRES). Mandaram vir os paí; e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os nossos e a batizá-los. Mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. E, assim, se viram constrangidos os nossos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos com os escravos capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram escravizando toda a nação: e com tal tirania e crueldade a trataram, que os que ficaram livres foram, como nós, forçados a deixar a região.
Assim aconteceu com os franceses. Da primeira vez que viestes aqui, vós o fizestes somente para traficar. Como os peró, não recusáveis tomar nossas filhas e nós nos julgávamos felizes quando elas tinham filhos. Nessa época, não faláveis em aqui vos fixar; apenas vos contentáveis com visitar-nos uma vez por ano, permanecendo entre nós somente durante quatro ou cinco luas. Regressáveis então a vosso país, levando nossos gêneros para troçá-los com aquilo de que carecíamos.
Agora já nos falais de vos estabelecerdes aqui, de construirdes fortalezas para defender-nos contra vossos inimigos. Para isso, trouxestes um Morubixaba (CHEFE) e vários Paí. Em verdade, estamos satisfeitos, mas os peró fizeram o mesmo.
Depois da chegada dos Paí, plantastes cruzes como os peró. Começais agora a instruir e batizar tal qual eles fizeram; dizeis que não podeis tomar nossas filhas senão por esposas e após terem sido batizadas. O mesmo diziam os peró. Como estes, vós não quereis escravos, a princípio; agora os pedis e os quereis como eles no fim. Não creio, entretanto, que tenhais o mesmo fito que os peró; aliás, isso não me atemoriza, pois velho como estou nada mais temo. Digo apenas o que vi com meus olhos.”
3 comentários:
CARO ROBERTO, NA VERDADE, MOMBORÉ UAÇU FEZ O INTROITO A UM PUXÃO DE ORELHA QUE DEI NA POPULAÇÃO MACAÉ, SOBRE A ATITUDE DELA FRENTE AO MAIOR CONDOMÍNIO DO ESTADO QUE SE PRETENDE INSTALAR NESSA CIDADE. EI-LO:
PRIMEIRO, A LAGOA DE IMBOACICA REINAVA SOBERANA, COM SUA ORLA COBERTA DE VEGETAÇÃO NATIVA. TALVEZ FOSSE O RIO IMBOACICA BARRADO PELO MAR, MANTENDO COM ESTE, TODAVIA, LIGAÇÃO PERIÓDICA. POR ISSO, OS RELATOS DO SÉCULO XIX DIZEM QUE A LAGOA TINHA ÁGUA SALGADA, NÃO DOCE COMO HOJE.
DEPOIS, VEIO UMA RODOVIA DE TERRA QUE ACOMPANHAVA O LITORAL. NÃO SATISFEITOS COM ELA, POPULAÇÃO E GOVERNO A ASFALTARAM. QUANDO A PETROBRAS ANUNCIOU SEU INTERESSE EM SE INSTALAR EM MACAÉ, GOVERNO E POPULAÇÃO SÓ VIRAM AS VANTAGENS E O "PROGRESSO". HOJE, CONHECEM DE PERTO A EXCLUSÃO, A MENDICÂNCIA, A PROSTITUIÇÃO, O TRÁFICO DE DROGAS E DE ARMAS E A VIOLÊNCIA. HOJE, CONHECEM A DESTRUIÇÃO DOS ECOSSISTEMAS TERRESTRES, AQUÁTICOS E MARINHOS. HOJE, VIVEM NUMA CIDADE SATURADA E FEIA.
MAS HOUVE QUEM QUISESSE NEGOCIAR E MORAR EM LUGARES CHARMOSOS, AFASTADOS DO CENTRO. ASSIM, CONSTRUÍRAM HOTEIS E CONDOMÍNIOS NO ENTORNO DA LAGOA DE IMBOACICA. A PRÓPRIA PETROBRAS E EMPRESAS SATÉLITES DELA SE ACOMODARAM ÀS MARGENS DA LAGOA. O RIO IMBOACICA FOI TRANSFORMADO NUMA VALA DE ESGOTO. A LAGOA HOJE ESTÁ NITIDAMENTE EUTROFIZADA E DEGRADADA.
JÁ QUE O AMBIENTE ESTÁ TÃO TRANSFORMADO PARA PIOR, APARECE UMA EMPRESA QUERENDO INSTALAR O MAIOR CONDOMÍNIO INDUSTRIAL DO ESTADO EM SUA BACIA. "SE ELES PODEM, POR QUE NÃO PODEMOS? AFINAL, A LAGOA JÁ ESTÁ DETONADA". ESTE É O DISCURSO PENSADO E DITO ENTRE QUATRO PAREDES MAS NÃO PRONUNCIADO PUBLICAMENTE.
AQUELES QUE QUISERAM TIRAR PROVEITO DA LAGOA SEMPRE DISSERAM QUE UM PEDACINHO DELA APENAS NÃO ACARRETA DANO. E VIRÁ A DUPLICAÇÃO DA AMARAL PEIXOTO. E VIRÁ O FIM DA LAGOA.
NO SÉCULO XVII, O ÍNDIO MOMBORÉ-UAÇU FEZ DISCURSO PARECIDO AOS FRNACESES NO MARANHÃO. O TEMPO SE INCUMBIU DE MOSTRAR QUE ELE ESTAVA CERTO.
SOFFIATI, O MOMBORÉ-UAÇU DO NORTE-NOROESTE FLUMINENSE
No entanto, os peles vermelhas continuam a oferecer, com alegria desmesurada, suas pocanhontas aos caras-pálidas.
Mas não vejo culpa nos exploradores, afinal os espelhos e apitos sempre foram objetos de desejo dos povos da floresta.
HAU!
Roberto, aquele que assina como o pesquisador-griffe de um certo tipo de porcalismo local não podem ser a mesma pessoa.
Que o pesquisador de coleira seja chegado a alguns autoritarismos eu já sabia, mas gritar em CAIXA ALTA?
Acho que este texto foi produzido por um fake, mas pensando bem, o pesquisador verdadeiro também não é?
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