O blog gosta de acompanhar como seus leitore(a)s e colaboradore(a)s sabem, a movimentação de grupos econômicos nacionais ou estrangeiros com repercussão em nosso estado e país. De forma especial tem interesse sobre a área de educação.
Assim, desde que a Universidade Estácio de Sá passou a ser uma empresa controlada por grupo de investidores, com ações na Bolsa de Valores e fazendo aquisições de outras faculdades país afora, o interesse aumentou.
Em março de 2011 publicamos aqui alguns dados dos Resultados de 2010 da Estácio S.A.
Hoje, três anos depois fazemos o mesmo com os dados do resultado da Estácio Participações S.A., publicado na última sexta feira, 21 de março de 2014.
A empresa tem hoje, uma universidade, 4 centros universitários, 35 faculdades e 52 polos de educação a distância, onde estudam 315,7 mil alunos, sendo 255 mil nos cursos presenciais e 60 mil no ensino à distância (EaD). Em 2010, há três anos tinha 210 mil alunos. Ou seja, um aumento de mais de 50% de matrículas.
Em 2013 a Estácio S.A. teve faturamento de R$ 1,731 bilhão, um aumento de 25% em relação a 2012 e cerca de 70% maior que os R$ 1 bilhão de 2010.
O lucro líquido em 2013 ele foi de R$ 244,7 milhões. 123% maior que em 2012 e três vezes maior do que em 2010 quando o lucro líquido foi de R$ 80 milhões. A mensalidade média na Estácio em 2013 foi de R$ 504,00.
A Estácio S.A. tem hoje um total de 12.283 funcionários, sendo 7.719 professores e 4.564 técnicos administrativos. Em 2010 eram 10.769 funcionários, sendo 7.072 professores e 3.697 administrativos.
Comparando os resultados (2013 com 2010) se vê que enquanto o número funcionários cresceu cerca de 10%, as matrículas aumentaram mais de 50%, o faturamento 70% e o lucro líquido 300%. A Estácio S.A. possuía em caixa no dia 31 de dezembro de 2013 a quantia de R$ 739 milhões. A despesa com a folha de pagamento foi de R$ 862 milhões, aproximadamente 50% do faturamento de R$ 1,7 bilhão.
Com estes números a relação professor-aluno foi de 40,8 considerando o total de alunos. Se contabilizados apenas as matrículas dos alunos presencias a relação seria de 33. Em 2010 era de 26. Nas universidades públicas de qualidade esta relação é aproximadamente a metade, estando situada na faixa entre 15 e 20.
As atividades de pesquisa e extensão existem, mas são ínfimas considerado o total de matrículas.
Pela CF o ensino privado é alternativa ao ensino público. O ProUni é um incentivo do governo federal às instituições privadas que atua junto do FIES (Financiamento Estudantil) que não é pequeno. Em 2010, a Estácio S.A. tinha 11 mil alunos com matrícula pelo ProUni e 7 mil com FIES. No balanço de 2013 estes dados não foram identificados.
Deve haver uma preocupação crescente com a qualidade. Atualmente, o MEC controla a qualidade do ensino superior, através da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres). Há ainda um projeto de criação de uma agência de regulação do Ensino Superior desvinculada do Ministério da Educação. A Estácio S.A. diz ter indicadores de melhora de qualidade e avaliação em seus cursos na avaliação do Sinaes e Enade.
A Estácio S.A. diz em seu planejamento para 2014, ter como objetivo captar novas faculdades e adquirir novas autorizações de matrículas. No início deste ano, já teve autorização para receber a grande maioria (cerca de 10 mil alunos) oriundos da Universidade Gama Filho/UniverCidade, recentemente fechada pelo MEC. Além disso, entrou na área de oferta de cursos técnicos e de qualificação com financiamento do MEC, onde obteve autorização para ofertar 24 mil matrículas.
Com estas ampliações, na área de medicina (considerada "a cereja do bolo" matéria do Valor, 26/02/2014, P. B5, "Estácio ganha alunos e investe até R$ 18,5 milhões") a Estácio S.A. abriu mais 170 vagas e passa a ser dona do maior curso de medicina do país.
Atualmente, a Universidade Estácio de Sá tem 240 vagas de medicina, no Rio de Janeiro e outras 60, no estado do Ceará. Desta forma acrescidas às 170 vagas, a oferta passa a ser de 470 vagas no Brasil, o que permite a instituição se aproximar de 3 mil alunos de medicina, nos seis anos de duração do curso. Com este quantitativo de alunos, só a medicina passa a ter um potencial de receita anual de R$ 162 milhões, considerando a mensalidade deste curso, o mais caro da universidade, na faixa dos R$ 4,5 mensais.
O ensino privado é uma realidade e uma alternativa no Brasil há algum tempo, onde faculdades particulares, junto das instituições comunitárias convivem com o ensino público universitário.
O que é novo e se deve ter cuidado e controle é o avanço das grandes universidades particulares, sobre as instituições menores e sobre as comunitárias, ao mesmo tempo, em que se transformam em S.A. (Sociedade Anônima) com participação de fundos de investimentos e ações na bolsa.
A pressão do alunos sobre a qualidade tende a ser menor tendo em vista que o dono tem cara, ao contrário dos fundos de investimentos e acionistas. Neste caso, a relação já complexa e conflituosa entre lucro x investimentos e qualidade tende a se ampliar.
Além da regulação pela secretaria do MEC (Seres) ou por agência reguladora, outros mecanismos deveriam ser criados, como o limite de lucros, a obrigação de percentuais de investimentos e, talvez, o mais importante, seria a exigência de conselho deliberativo de alunos e professores para discutir indicadores de qualidade, balanços e investimentos.
O assunto é complexo, tendo em vista a ampliação enorme da participação do setor privado neste tipo de serviço, mesmo que as universidades e institutos públicos também estejam ampliando seus campi e suas ofertas.
Porém, a realidade criada pelo ProUni e pelo FIES garantindo receitas e matrículas de alunos, faz com que a participação do público na receita privada seja grande o que amplia suas obrigações de controle em nome da sociedade.
Finalizando, porque o texto já está grande demais, é importante falar da presença da Estácio S.A. na região.
Para além da capital, a Universidade Estácio de Sá está presente quatorze municípios: Angra dos Reis; Resende; Nova Iguaçu, Duque de Caxias; Queimados; São João de Meriti; Niterói; São Gonçalo; Teresópolis; Petrópolis (19 cursos); Friburgo (16 cursos); Cabo Frio (14 cursos); Macaé (12 cursos) e Campos (15 cursos). Em Campos, estima-se que a Estácio S.A. tenha hoje cerca de 10 mil alunos.
Como se percebe a atuação no interior fluminense é grande e tende a crescer inclusive avançando sobre outras universidades particulares e instituições públicas, de olho também no financiamento garantido por algumas prefeituras para seus moradores. Esta é uma demanda de setores da sociedade incentivada pela universidade, interessada nos financiadores, o que garante a receita e a redução da evasão por falta de pagamentos.
Outro risco que se tem com esta tendência é a formação do oligopólio (quase um monopólio) com a absorção de concorrentes diretos o que permitiria uma ampliação do seu poder, tanto sobre os custos da mensalidade quanto do relaxamento da qualidade dos cursos.
Enfim, estes dados sintetizados e organizados pelo blog estão aqui expostos ao debate, inclusive para a participação da própria Estácio S.A., dos professores, alunos e técnicos e suas representações de classes, assim como para gestores de outras instituições e pesquisadores sobre temática educacional.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
2 comentários:
Então não é Estácio de Sá. É Estácio de S.A.
O MEC perdeu totalmente o controle sobre mercado.Sua função regulatória se mistura com os interesses governamentais. Ainda que as tecnologias facilitadoras dos ambientes virtuais foram um grande avanço para a sociedade.
O Monopólio reduz a capacidade de escolha criando a qualidade do um Só.Basta verificar os eventos educacionais da Estácio,abarrotam alunos em um mesmo dia em palestra diversas com conteúdo e tempo questionável. Se o Governo liberar recursos para a EAD em 2015 e a SERES virar autarquia será realmente o fim. Já que haverá mais precedentes na desorganizada validação aleatória realizada pelo MEC na abertura e funcionamento destas empresas de pacotes educacionais.
Basta verificar as reclamações uma conta que não fecha no âmbito qualitativo.
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