quarta-feira, abril 09, 2014

Experiência pós-capitalista no Equador

A revista Fórum traz uma matéria bastante interessante sobre inciativas do governo do Equador. Experiência que estão chamando de pós-capitalista. Acho que experiências utópicas são necessárias no tempo e no espaço que vivemos. Elas podem trazer luz a novos paradigmas civilizatórios, em meio às conturbadas movimentações do mundo contemporâneo, mesmo sabendo que as pressões são enormes e vinda de várias direções:

"O projeto FLOK Society (Free Libre and Open Knowledge) do governo de Rafael Correa pretende mudar a matriz produtiva do país e transformar o Equador no paraíso do conhecimento livre. Vinculado ao Plano Nacional do Buen Vivir, FLOK - El Buen Conocer é a peça chave para construir uma economia social do conhecimento baseada nos paradigmas peer-to-peer, os bens comuns e a colaboração dos cidadãos."

“A lei de patentes será revogada. Os neoliberais incentivam os paraísos fiscais. Nós, os socialistas do século XXI, vamos impulsar os paraísos do conhecimento, do conhecimento como um bem público e de livre acesso.” A frase do Rafael Correa, presidente do Equador, pronunciada ao vivo, é mais do que um slogan redondo. Resume perfeitamente a mudança de direção econômica, política e social que o Equador está desejando. Desde 2008, o conceito do “buen vivir” ( do quechua “sumak kawsay”), que anseia um outro equilíbrio com a natureza, está incorporado na Constituição do Equador. O Plano Nacional do Buen Vivir, transversal em todas as leis do país, é o novo sistema nervoso nacional. E o projeto FLOK Society (Free Libre Open Knowledge) – El Buen Conocer é a peça que faltava para linkar a cosmovisão quechua com as tecnologias livres e a ética hacker.

A partir do ano 2008, o governo do Equador começou a defender o software livre e as licenças abertas. No entanto, o namoro real do conhecimento ancestral e software e a cultura livre está ocorrendo nos últimos meses. O projeto FLOK Society – El Buen Conocer é o carro-chefe dessa mudança de pele. E seu lema fala por si mesmo: “Projetando uma mudança da matriz produtiva para a sociedade do conhecimento livre, aberta e comum”.

Essência de El Buen Conocer
O que significa ” conhecimento livre, comum e aberto”? É possível deixar para trás o capitalismo competitivo e criar uma economia da colaboração orientada ao bem comum ? Como exatamente vai mudar El Buen Conocer a matriz produtiva de um país que ainda depende da extração de petróleo? Algumas citações da Carta Aberta aos Trabalhadores do Bem Comum, lançada recentemente pela equipe de pesquisa do El Buen Conocer, pode oferecer algumas respostas : “Imagine uma sociedade ligada aos bens comuns e ao conhecimento aberto, com base no código e desenho livre que possa ser usado por todos os cidadãos ( … ) Imaginem uma economia ética e sustentável, baseada na criação de comunidades cooperativas, baseada na reciprocidade, mutualidade e a produção peer-to-peer”.

De fato, o “buen vivir”, que poderia ser traduzido ao português como “bem viver”, questiona frontalmente os indicadores e valores do capitalismo. Os bens relacionais – um conceito da Martha Niussbaum – são um conceito vital na nova trilha equatoriana. Quem comparte um bem será mais rico que quem acumula bens. René Ramírez, secretária nacional de Innovación, Ciencia y Tecnología (SENECYT), tem desenvolvido no seu livro La vida (buena) como riqueza de los pueblos equações matemáticas e um novo marco teórico para os bens relacionais e a economia social do conhecimento. Equador não só está prototipando o novo mundo, se não que está criando argumentos sólidos na disputa narrativa planetária contra o neoliberalismo.

A verdade é que, enquanto Julian Assange, fundador do Wikileaks, mora na Embaixada do Equador em Londres , o governo de Correa está movendo fichas. Por um lado, como aponta um artigo recente, o Equador tem como objetivo tornar-se o paraíso das liberdades globais da Internet . Além disso, como declarou René Ramírez em uma entrevista, Equador procura “democratizar o acesso ao conhecimento”. Para fazer isso, o Equador quer revogar a lei atual de direitos autorais. Em clara oposição à lógica de patentes privadas , o país vai apostar na “economia social do conhecimento”, baseada na colaboração, o compartilhado e as licenças livres. Para fazer isso, tem sido lançado o novo Código Orgânico da Economia Social do Conhecimento (Wikicoesc) com ajuda de especialistas de todo o mundo e da sociedade civil, no que já é uma das wikilegislações mais avançadas do planeta.

Da pesquisa às políticas públicas
Para que o paradigma do “bem viver” seja uma realidade, El Buen Conocer dispõe de uma equipe internacional de pesquisadores do mais alto nível . Michel Bauwens, diretor da Fundação P2P , está coordenando a equipe de pesquisa que tem as linhas de Matriz produtiva (George Dafermos, Grécia), Marcos Legais e Inovações institucionais (John Restakis, Canadá), InfraEstrutura Técnica Aberta (Jenny Torres, Equador), Bens Comuns Físicos (Janice Figueiredo, Brasil ) e Melhoria de Recursos Humanos (compartilhado por todos os pesquisadores).

A investigação é uma pesquisa aberta que usa ferramentas e plataformas colaborativas (Wiki, pads, listas de mail), um software livre que aceita comentários de usuários dos papers (co-ment) e usa as redes sociais para receber inputs da cidadania. Aliás, representantes dos povos indígenas e afrodescendentes do Equador colaboram para compartilhar conhecimentos ancestrais. E centenas de pessoas do país todo têm participado e aportando ideias nas oficinas da Economia Social do Conhecimento que aconteceram no país todo."

Se desejar ler o texto íntegra clique aqui no site da revista Fórum.


6 comentários:

Anônimo disse...

E se determinado cidadão inventar algo? Desenvolver algum medicamento?

Será obrigado a compartilhar sua ideia, sua invenção? E se ele não quiser compartilhar? Vai para o paredão? Será torturado?

Esqueceram de combinar com os russos?

Ora, no mundo tudo é escasso. Por isso tudo tem seu preço, inclusive o conhecimento.

Não entendem nada de economia e ficam inventando coisas mirabolantes. Mas sabem qual é a verdadeira razão para isso? Poder, assumir o Poder e nele permanecer com contos do vigários e outras ilusões.

Por que não funcionará? É a economia, Eremildo...

Roberto Moraes disse...

O Eremildo do comentário não consegue pensar um segundo que for, com o neurônio que lhe resta, fora do quadrado do sistema que imagina o ideal para todas as civilizações.

É melhor ficar lendo a oia, grobo e cias ltdas. Veja que sua concepção é sempre individualista, proteger quem inventou algo e não sobre que validade isto tem para a humanidade, que só vale para consumir as mercadorias que imagina ser a razão de viver desta civilização.

O pós-capitalismo é um processo natural, porém, não sem dor destes que pretendem ver parte da sociedade sempre alijada. Para isto reivindicam a força e segurança do estado proteger quem acumulou contra a maioria.

Como será, quando e de que forma funcionará eu não sei dizer, mas, é certo que este sistema atual está se esgotando eremildos. Melhor voltar para a simplificação do plim-plim.

Anônimo disse...

É melhor ler grobo, oia e outras mais do ficar se iludindo com Viomundo, Isto É e outros chapas-brancas mais.

O capitalismo nunca vai acabar. Se acabar, acaba a humanidade, morrem todos de fome e de doenças. Ninguém trabalha de graça. É da natureza humana. E sempre haverá pessoas ruins que tentam se prevalecer sobre os outros. Experimente ficar sem polícia na rua. Haverá o caos, causados pelos maus.
Fora do capitalismo, é tudo utopia. E as pessoas realmente inteligentes sabem disso.

"Os marxistas inteligentes são patifes. Os marxistas honestos são burros. E os inteligentes honestos nunca são marxistas" J.O.Meira Penna.

Na frase acima, pode-se substituir a palavra marxista por socialista e petista que ela permanece como uma grande verdade

Roberto Moraes disse...

Eremildo W.F. não é só defensor do capitalismo, mas, namora com o fascismo vendo problema nos outros e virtude e inteligência em si mesmo e na sua raça. Em relação ao coletivo é preconceituoso, quer o estado lhe defendendo e a seu patrimônio. Quanto aos demais, isto não é problema seu e nem dos seus capitalistas.

Nossa diferença não é só de opinião, aliás, se fosse neste campo, dava para debater, mas, é melhor deixá-lo na grobo e óia torcendo não pelo Brasil, mas como se vê pelos do andar de cima.

Não perca seu tempo com o blog que tem mais com o que se preocupar e atuar.

Roberto Moraes disse...

Para o Eremildo aí de cima espumar mais um pouco pelo canto da boca a matéria do Portal Terra:

"Brasil é citado como exemplo contra desigualdades em fórum"

rêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz e o diretor-executivo do Programa da ONU para Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), Joan Clos, citaram nesta terça-feira o Brasil de Lula como um exemplo de luta contra as desigualdades sociais, no segundo dia do 7º Fórum Mundial de Cidades.

O economista americano, que na noite da terça-feira fez a palestra magistral do evento, citou Colômbia e Bolívia como exemplos de luta contra a desigualdade, mas enfatizou o caso do Brasil, o de maior destaque dos modelos latino-americanos.

"No Brasil o governo focou na educação, na alimentação, na pobreza e é muito surpreendente como essas políticas provaram ser adequadas", disse Stiglitz."

"O Fórum, realizado em Medellín (Colômbia) e organizado pela ONU-Habitat, está destinado a encontrar soluções para reduzir as crescentes desigualdades sociais e que ajudem a reverter essa tendência.

Segundo o Prêmio Nobel de Economia de 2001, o bem-sucedido caso brasileiro é ainda mais paradoxal quando "a maioria dos países estão aumentando a desigualdade".

Clos, por sua vez, que foi prefeito de Barcelona entre 1997 e 2006, também elogiou em entrevista para a Agência Efe o Brasil como modelo de geração de políticas que levem a uma diminuição do abismo entre ricos e pobres..."

Mais sobre a matéria clique aqui:

http://noticias.terra.com.br/brasil/brasil-e-citado-como-exemplo-contra-desigualdades-em-forum,09c8c66f55445410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html

Luiz Felipe Muniz disse...

Ainda que a torpeza letal nos convide ao combate, não só no campo das ideias, parece urgente um chamado aos brios aparentemente adormecidos de nossa gente pensante!

Bela defesa Roberto!

Esta turma está brotando como erva daninha em solo úmido banhado pelo sol permanente no equador...enquanto muitos se calam e se acovardam!

É verdade que o capitalismo desenvolveu vários mecanismos de perpetuação e não tem qq pudor em soerguer novas guerras sangrentas para manter tudo como sempre!

Parabéns ao Equador pela coragem e sabedoria em propor o novo num momento tão caótico no contexto mundial!

Parabéns ainda ao povo brasileiro que tem demonstrado enorme capacidade de evolução em meio ao trato com esta gente pouco pensante e afinada com o que tem de mais repugnante na história da humanidade.

Sigamos em frente, meu amigo Roberto, com coragem e determinação.

Afinal, continuaremos no limiar de muitas, muitas mudanças e mutações imprevisíveis...tomara sobrevivam mais de nós do que destas ínguas ambulantes!

Luiz Felipe Muniz de Souza