Diz Adair Turner, membro do Comitê de Política Financeira e da Câmara de Lordes e colunista do Project Sindicates onde se encontra o artigo "The high-Tech, High-Touch Economy":
"Embora vivamos no universo high-tech da internet, o valor do que há de mais físico - a terra - não para de crescer". E prossegue: "Mas não há contradição nisso: o preço da terra aumenta devido mesmo à rapidez do avanço tecnológico. Numa era da tecnologia da informação e da comunicação (TIC), é inevitável que valorizemos o que uma economia intensiva em uso de TIC é incapaz de criar".
Uma afirmação simples que tem sua lógica, um tanto estrutural, mas, não menos interessante de servir para reflexão. Turner avança: "o fato da tecnologia ser tão poderosa eleva o valor do terreno físico e significa também que o crescimento futuro do nível de emprego se concentrará nas funções que não podem ser automatizadas, especialmente no setor de serviços, que têm que ser prestados fisicamente".
Assim, Turner cita estatísticas dos EUA e estima que nos próximos dez anos "profissões de suporte à assistência médica" (auxiliares de enfermagem, serventes e atendentes hospitalares) e "trabalhadores em serviços e preparo de alimentos" - na maioria esmagadora, empregos de baixos salários - são as que aumentarão.
Turner arrisca outra questão: "a TIC cria uma economia ao mesmo tempo "high-tech" (alta tecnologia) e "high-touch" (alto contato ou alta vinculação) - um mundo de robôs e aplicativos, mas também de moda, design, terrenos e serviços diretos e pessoais. Assim tende a afastar o trabalho contínuo da produção".
"Mas trata-se de uma economia tendente a sofrer dois efetivos colaterais e opostos (adversos, contrários). Em primeiro lugar, ela pode ser inerentemente instável, porque quanto mais riqueza residir em bens imóveis, mais o sistema financeiro fornecerá alavancagem para sustentar a especulação imobiliária, fenômeno que esteve no cerne de todas as piores crise financeiras mundiais. Em segundo lugar, se não for criadas politicas que estimulem e sustentem o crescimento inclusivo, é inevitável termos uma sociedade altamente desigual, em que a alta da dos valores dos terrenos significará mais disparidade na distribuição de renda."
O texto propicia reflexões interessantes. A segunda parte sobre a necessidade de políticas de inclusão social para tentar reduzir a desigualdade já vem sendo discutida há tempo. Porém, a relação entre high-tech e aumento do valor da terra e da especulação imobiliária, a mim pareceu nova e interessante de ser aprofundada, até porque a hipótese formulada entre a polarização entre o que é digital (virtual para alguns) e o que é físico, merece maiores e boas discussões.
O texto original está em inglês, mas, hoje os recursos da tradução automática de muitos navegadores permitem traduções bastante razoáveis e compreensíveis, para quem tem dificuldades com a língua inglesa, como este blogueiro. Se desejar clique aqui e acesse o artigo na íntegra.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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