segunda-feira, junho 16, 2014

Hospitais públicos, privados e outras considerações sobre a área

Tenho ouvido seguidamente de alguns médicos, alguns amigos, outros apenas conhecidos, relatos sobre a conjuntura brasileira, que se não beira o ódio, está muito próximo disto.

Penso que o círculo restrito em que muitos labutam, árdua e diariamente, em meio a sofrimentos de toda a espécie, e a ânsia em resolver os problemas das pessoas, que sabemos são muitos e de variadas origens e responsabilidades, podem contribuir para este quadro.

Falo pela  média das opiniões que tenho ouvido, deixando de lado destemperos menos justificáveis.

É fato que a categoria (quase unanimemente) tomou como um desafio e quase que como um ataque "mortal" à classe médica, o programa Mais Médicos do governo federal, a origem da grande maioria dos reclamações que ouço, mesmo que se tente negá-las, algumas vezes.

A mim, os desabafos soam como respostas. De uma hora para outro, os problemas locais das secretarias, das prefeituras, dos governos estaduais, dos planos de saúde privados, se transformaram num problema do governo federal.

Tenho ouvido também relatos de vários pacientes (desculpe, não vejam como provocação, mas, eu prefiro este termo ao de cliente, que soa, apenas como uma relação de consumo) de estarem diariamente submetidos à mesma espécie de reclamos, tanto no setores públicos, quanto nos particulares (de novo, vou preferir o termo ao privado).

Como democrata e blogueiro avalio que este debate, mesmo que difícil é bom para a sociedade. Não vou aqui entrar novamente na discussão sobre o programa Mais Médicos.

Entre outras coisas, porque, além de tudo que já se falou, em diversas direções sobre o mesmo, eu já ouvi e li que todos os candidatos a presidente da República pretendem manter, ampliar e ajustar o programa.

Nenhum deles disse que vai suspendê-lo. Evidentemente, que isto não esgota o assunto, mas, pode remeter, a outras e mais produtivas análises, que também precisam considerar a opinião da população e pacientes.

Pensar o futuro da Nação apenas pelo programa e pela "cutucada" que o mesmo dá a toda a área de saúde, também me parece um equívoco.

Posso compreender a chateação, mas, nunca iria colocá-la, por exemplo, no mesmo patamar da provocação recebida pelos aposentados quando um presidente chamou à todos, em categoria como "vagabundos".

O programa se esforça no sentido (mesmo que discutível) de atacar um dos problemas (a falta de médicos) reclamada pela população. O outro, apenas agride àqueles que se dedicaram a trabalhar para si, para sua família e para o país.

As reclamações são bem-vindas. O ressentimento não. Até porque a melhor resposta é o avanço na qualidade de prestação de um serviço essencial e que tem responsabilidades tão compartilhadas como sabemos.

Enfim, esta é apenas uma conversa, por esta via indireta do blog, com àqueles a quem este texto mais se dirige e por quem nutro respeito, não apenas profissional, mas, sobretudo pela participação em lutas históricas de nosso povo, incluindo a conquista do SUS.

Evidentemente, num tema tão controverso e polêmico, eu sei que o debate é longo. Porém, ele só será frutífero se a raiva e o ódio não pautarem o debate, num setor que envolve, as pessoas, nós e a nossa saúde.

Na verdade, eu só resolvi trazer à tona este assunto, por conta de um dado que acabei de ler no Valor Online,  mais especificamente, em seu suplemento sobre hospitais. Apesar, de conviver com o tema há bastante tempo, por conta de muitas conversas com pessoas próximas e, em especial, com minha filha Nina, acadêmica de medicina e que presencia diariamente, em sala de aula e nos hospitais, parte do que aqui brevemente relato.

O suplemento a que me referi traz logo na capa, um dado interessante e atualizado (maio de 2014) sobre a rede de atendimento médico (hospitais, postos de saúde e clínicas) instaladas no país, cujas fontes são a OMS (Organização Mundial de Saúde), IBGE e o CNES (Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde) da conhecida e elogiada base de dados identificada como Datasus.

Abaixo eu reproduzo o infográfico do Valor Online. Certamente, estes principais dados são do conhecimento daqueles que estudam e conhecem o assunto.

O país tem uma rede com cerca de 270 mil pontos de atendimento, sendo 28% (75 mil públicos) e 72% privados (194 mil). Dos públicos 95% são municipais, 4,4% estaduais e menos de 1% federal. Este dado me parece relevante na discussão sobre gestão e qualidade de atendimento.

Porém, o que mais me chamou a atenção é na tabela que mostra o total de leitos disponíveis nas especialidades básicas cobertas ou não pelo SUS. Os números, aos olhos deste leigo, pareceram bem significativos, embora se saiba que a discussão sobre qualidade de atendimento seja uma outra coisa.

Sobre os investimentos em saúde, o infográfico mostra que em números relativos e comparativos ao PIB, em 2014 ele está em 8,5%, quando em 2002 era de 8,1%. Em números absolutos, trazendo os dados do orçamento federal e da STN (Secretaria do Tesouro Nacional), ele foi de R$ 49 bilhões, em 2002, e é de R$ 98 bilhões, em 2014.

Enfim, dados e debates que interessam não apenas aos profissionais da área, mas a todos nós que desejamos saúde. Confiram abaixo o infográfico. Para ver a imagem em tamanho maior clique sobre ela:



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