O gráfico abaixo mostra os resultados do 1º quadrimestre de 2014 das maiores empresas nacionais em volumes exportados. Uma estimativa anual, a grosso modo, pode ser feita multiplicando-se por três os números do quadro abaixo.
Observem na relação das empresas a preponderância das chamadas commodities. No caso da Vale, minério de ferro, da Petrobras, evidentemente, petróleo. A Cargil, Bunge, ADM e Dreyfuss empresas do setor de agronegócios.
A JBS e BRF do setor de alimentação. Apenas, a Embraer, com fabricação de aviões e a Braskem na produção de petroquímicos comercializam produtos industrializados. A JBS e BRF tem no seu leque de produtos, alguns com um grau de beneficiamento, que pode ser considerado como semi-industrializado.
Há expectativas que o país possa aproveitar este ciclo da grande valorização das commodities no mercado internacional, para fazer um movimento semelhante, ao que fez e ainda faz o Canadá e a Austrália avançando sua economia para produtos de maior valor agregado.
No caso do minério de ferro, o fato é reforçado pela redução do seu preço no mercado internacional, por conta do aumento mundial da exploração e consequente exportação.
O uso do minério aqui para a produção de aço não é hoje uma questão simples. Porque a industrialização do minério significaria avançar na siderurgia que hoje já tem uma capacidade instalada superior a 40% à demanda de aço no mundo. Estando nove das dez maiores siderúrgicas do mundo instaladas na Ásia. Além disso, trata-se de uma atividade altamente poluente.
No caso do agronegócios o problema maior é o controle no plano local das maiores traders do mundo. Por aqui, eles possuem desde fazendas, fábricas de insumos, grandes armazéns e agora investem pesadamente em logística, incluindo terminais portuários, fechando a cadeia e o controle sobre suas comercializações.
As traders acabam pensando globalmente e mexendo e alterando preços conforme seus interesses, sem levar em conta os interesses do país. O avanço que este setor tem no país é considerável e faz com que ano após ano, a produção de grãos seja puxada pela soja e bata seguidos recordes.
A grande área de extensão territorial e o clima permitem este avanço. Além disso, preocupa, o que já postamos aqui chamando de água virtual. (veja aqui) Trata-se da exportação indireta de água necessária para produção do alimento que se dá aqui e sai enviada para o exterior junto do produto.
O caso das empresas de alimento a BRF é consequência da fusão da Sadia com a Perdigão e vai na linha da Ambev, onde a fusão de empresas nacionais buscaram um mercado maior no exterior onde montaram bases. A JBS reúne diversas empresas como a Friboi de comércio de carnes.
A BRF e JBS em função de problemas com condições de trabalho de seus funcionários, identificadas pelo Ministério Público do Trabalho em seus frigoríficos, estão assinando Termo de Ajustamento de Conduta com obrigações para correção das irregularidades.
A presença da Petrobras com exportação de US$ 3,5 bilhões, só no primeiro quadrimestre de 2014, quando se tem hoje, uma produção nacional, quase igual ao consumo, se dá por conta da exploração do petróleo pesado, ou parafinado. Como não temos refinaria para dar conta deste processamento, a Petrobras exporta para Passadena e outras refinarias que processam o petróleo pesado, ao mesmo tempo que importa petróleo leve, para ser processado aqui no país.
Quando as refinarias do Comperj e a Abreu Lima em Pernambuco estiverem concluídas, este processo tenderá a se reduzir, embora, em 2020, se projete uma produção de 4,2 milhões de barris, praticamente o dobro da produção atual. A Agência Internacional de Energia disse em relatórios divulgado esta semana que esta previsão não terá como ser cumprida devendo chegar a apenas 3 milhões, em 2019.
O aumento destas exportações (e também importações), mais a ampliação das demandas de bases de apoio offshore (esta na região Sudeste) para produção de petróleo no litoral, explica a "explosão" de projetos de sistemas portuários, especialmente no estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo.
PS.: Atualizado às 18:04: Para correções e breves ajustes do texto.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
É muito difícil seguirmos o exemplo do Canadá e Austrália e agregar valor aos produtos saindo das commodities.
A desendustrialização do país caminha a passos largos e nenhuma atitude política sinaliza que o país valorizará o pouco conhecimento que detém e vem perdendo ano a ano com o definhamento da pequena e média industria. Muitos setores estão definhando e não é só pela concorrência externa, mas pela mentalidade externa.
O país é a favor do emprego, mas é contra a empresa. Se é contra a empresa, especialmente a indústria nacional, esta conta não vai fechar.
A complexidade para o cumprimento das obrigações, aliadas a uma rigidez antiquada das relações de trabalho com uma legislação complexa que sob o pretexto de proteger o trabalhador, faz o inverso, e nos coloca em posição de muita desvantagem em relação aos citados países.
Medidas como a anunciada hoje pela presidente e chamado de pacote de bondades, é um escárnio com o empresário.
No máximo ganharemos da Austrália no futebol. E pelo que ela jogou contra a Holanda, não sei não...
Vamos lá. Vê-se que aqui também Freud explica, o sentido é o mesmo do comentário sobre o goleiro mexicano. Não foi preciso nem Freud.
O chororô é o mesmo que vejo nas manchetes da mídia comercial. Querem menos impostos e ao meso tempo, um país de primeiro mundo. Reclamam das obrigações sociais e desejam um estado mínimo, pensando ilusoriamente que o discurso neoliberal tinha alguma relação com a prática de menor relação ou dependência do Estado. O que fizeram foi arroxar o trabalho.
Vamos apenas aos fatos.
A valorização das commodities que exportamos, por uma série de razões que não cabe aqui e agora comentar, nos traz excedentes que podem trazer diversas possibilidades, desde a industrialização (mesmo que em parte, porque aí temos uma realidade bem distinta do feito pelo Canadá e Austrália) aos avanços em nas infraestruturas sociais, de forma a reduzirmos as diferenças e caminhar um pouco que seja na direção do welfare state.
Quem é contra empresas se elas hoje são em maior quantidade, produzem bem mais, empregam bem mais, além de exportar muito mais?
Se quiser podemos mostrar apenas alguns dados que não saem na mídia comercial.
Sua torcida contra a seleção que nada tem a ver com a política é um direito seu e mostra a necessidade de Freud que receitará como alternativa mais política, mais mediação.
O quadro não é simples e ninguém disse que seria, a não ser aqueles que possuem a receita pronta arroxar os de baixo e facilitar e liberar tudo para os de cima, com menos impostos e depois falar que a culpa do que está errado é do governo.
A complexidade da industrialização no mundo contemporâneo com a modernização dos setores de transporte é muito mais complicado do que na época em que o Canadá e a Austrália fizeram.
Vivemos hoje o que alguns teóricos chama de guerra dos lugares.
Ao contrário do que os defensores apenas da racionalidade do discurso econômico moderno pensam, muitas vezes (em sua maioria) a redução contínua dos custos de logística facilita a decisão por localização de investimentos (lugares escolhidos) porque com a integração espacial (mais em tempo do que em espaço) a produção cada vez mais automatizada importa pouco com a localização.
O quadro é complexo sim. Reduzi-lo aos reclamos baseados em falsos dados e informações que levam à receita antiga de redução de tributos e regulação e abandono da busca de um pouco que seja do estado de bem estar social é que é inaceitável.
Esta conta sim é que não fecha. A não ser como fazem pedem ao Estado mais polícia para reprimir a violência.
Há vida fora do receituário neoliberal extremado e não se trata de socialismo.
WF é hora de rodar o disco em outra direção.
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