Muito se fala do peso dela sobre a nossa economia mesmo nos tempos atuais, em que a economia nacional cresceu em termos regionais e se tornou mais complexa em termos de escala e de sofisticação de produção e consumo.
Fala-se muito que nossos carros são os mais caros do mundo. O que é uma verdade, mesmo que relativa, porque estamos entre os países que têm carros mais caros, mas, não o mais caro. Uma inverdade, para não dizer que é uma mentira deslavada, é dizer que isto se deve exclusivamente à carga tributária, ou, aos impostos.
Os impostos têm um peso nisto, mas, não superior à de muitos outros países, onde os carros são mais baratos que o comercializados aqui. Alguns estudos foram feitos recentemente mostraram que a margem de lucro das montadoras aqui no Brasil é a maior do mundo.
Com a comemorada ascensão social no Brasil na última década, o mercado cresceu e para cá vieram diversas outras montadoras. Com isto havia a expectativa (inclusive do governo) que com o aumento da concorrência os preços médios cairiam. Pois bem, isto ainda não aconteceu. Temos fábrica coreanas, carros chineses, franceses, etc., mas os preços médios só fazem subir.
O discurso da velha mídia comercial que possuem nas montadoras e nos bancos financiadores da compra de carros, os seus maiores anunciantes, é que o problema é da carga de impostos e do que eles chamam ideologicamente de "custo brasil".
A cada soluço da economia em que há redução da compra de carros novos, as montadoras, agora com maior poder de pressão, porque estão instaladas, não mais e apenas, na grande São Paulo, gritam, ameaçam demitir, pressionam, prefeitos, deputados, governadores, etc. Tudo com repercussão paga da mídia comercial. Querem, como sempre a redução de impostos, mas não aceitam mexer nas suas margens de lucros.
Qualquer medida que o governo sugere de negociação entre redução de impostos relacionados à margem de lucros, é vista e divulgada como uma "grave intromissão" do governo no mercado.
Os fatos que levam a esta interpretação se sucedem no país na última década. Vivemos no momento, uma nova situação deste mesmo contexto com um script exatamente igual. Não é preciso ser especialista para entender este processo.
É evidente que é mais simples, repetir a ladainha veiculada pelos comentaristas econômicos que voltam a falar nos impostos.
Há até candidatos a presidente que prometem reduzir impostos, ao mesmo tempo que mentirosamente garantem que vão investir no social, mesmo que tenham menos recursos. Aí entra o discurso da produtividade que todos sabem a quem interessa e a quem visa enganar.
A breve reflexão acima é fruto da leitura de duas matéria do Valor Online que expõe a atual situação das montadora no Brasil de forma clara e que permite compreender o que se falou acima. Vou expor trechos das duas, porque elas não estão acessíveis para não assinantes:
"Venda cai, mas preço do carro sobe"
"As vendas estão em queda, mas em média o brasileiro está pagando R$ 2,7 mil a mais na compra do carro novo neste ano. Estudo da consultoria Oikonomia mostra que o valor pago por automóvel licenciado no primeiro semestre chegou a R$ 47,8 mil, quase 6% acima dos R$ 45,1 mil de um ano atrás, o que tem ajudado as montadoras a minimizar os efeitos da forte retração da demanda. Em volume, as vendas recuam mais de 7%, mas a queda no faturamento das montadoras mais populares é estimada em 3%."
"Brasileiro paga R$ 3 mil a mais por automóvel novo"
"Enquanto, em volume, as vendas recuam mais de 7%, a queda no faturamento das marcas mais populares do país, estimada em 3%, não chega à metade disso em 2014 (veja gráfico). O maior descompasso ocorre na Ford, onde a receita, de R$ 7 bilhões em seis meses, sobe 5,4%, na contramão do recuo de 7,5% das vendas.
O aumento do tíquete médio - o preço pago por cada veículo - já havia compensado a acomodação do consumo em 2013, quando o faturamento das montadoras, ainda nas contas da Oikonomia, teve alta de R$ 3,3 bilhões, para R$ 161,3 bilhões, apesar da queda de 1,6% dos emplacamentos.
...
Por dados como esses, as empresas vêm sendo questionadas por que os preços dos automóveis brasileiros, tidos como os mais caros do mundo, não caem mais para atrair o consumidor de volta às lojas - ainda que muitas concessionárias estejam concedendo descontos de até 10% para fechar vendas. A resposta mais frequente é que, com o acirramento da concorrência, a indústria está trabalhando com margens de rentabilidade cada vez mais apertadas, sem repassar toda a escalada nos custos de produção. Dessa forma, dizem os fabricantes, o avanço nos preços dos automóveis tem sido bem abaixo da inflação.
Quase sempre que o tema volta à tona em entrevistas coletivas à imprensa, dirigentes da Anfavea, a entidade das montadoras instaladas no país, apresentam um gráfico já conhecido como "boca de jacaré", no qual a curva dos preços dos veículos, inclinada para baixo, se distancia da trajetória ascendente da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Para Raphael Galante, consultor da Oikonomia, os números sugerem que, por mais que o mercado esteja em baixa, as montadoras estão resistentes em sacrificar ainda mais suas margens. "Algumas marcas subiram preços para recompor margens."
"Descompasso é maior na Ford, onde faturamento sobe 5,4%, apesar de queda de 7,5% nas vendas".
Portanto, não é difícil saber o que se passa no setor. O debate é puramente de Economia Política. Interesses econômicos pressionam o Estado, e os governos, de diferentes formas, para ver seus interesses atendidos. O discurso do livre mercado, da concorrência livre como se vê é balela, não guardando nenhuma relação com a verdade dos fatos.
A regulação por parte do governo não é simples, porque é sempre repudiada pela empresa com forte apoio da mídia (e bem pago) com acusações contra o governo e que envolve ainda, gestores e sindicalistas locais.
Eles acabam sendo "chamados à luta" para a defesa dos empregos locais e regionais que, novamente, repercute, em outras ações políticas de deputados e governadores para que os governos façam o que interessa às montadoras.
Um jogo difícil de ser arbitrado. Por isto, a solução é sempre, no final, a redução dos impostos. Tem sido assim, desde sempre.
Porém, para concluir eu trago à tona uma outra matéria no mesmo Valor Online, em outra seção que diz:
"IPI reduzido, impacto idem"
"Estudo de dois economistas da Universidade Federal do Paraná (UFPR) mostra que a redução do IPI para os automóveis teve impacto positivo, mas muito pequenos sobre o IPI (0,02% ao ano) e o emprego (0,04% ao ano) entre 2010 e 2013."
"Estudo mostra baixo efeito do desconto no IPI de veículos sobre PIB e emprego"
"Os economistas também concluíram que um outro problema da medida foi se mostrar uma política tributária regressiva. Isso significa que a desoneração, implantada a partir de 2009 como medida anticíclica diante da crise de 2008, não beneficiou as pessoas mais vulneráveis, e sim atuou principalmente em favor das classes de renda mais altas.
De acordo com os pesquisadores, se houvesse a mesma desoneração dos automóveis para vários setores industriais, os ganhos econômicos para o país seriam similares (alta de 0,02% no PIB e de 0,04% no emprego). Porém, em relação aos efeitos distributivos, a política seria mais benéfica, porque o efeito distributivo tributário seria progressivo, beneficiando, portanto, especialmente as pessoas mais vulneráveis, com até um salário mínimo de renda.
Gabriel de Barros pesquisador do Ibre-FGV concorda com os poucos efeitos sobre PIB e emprego da desoneração do IPI para automóveis e também critica as prorrogações, dado o limite que esse tipo de medida já atingiu. "Ninguém vai comprar carro novo todo ano. Não adianta reduzir IPI sistematicamente para estimular o consumo", disse, citando o comprometimento da renda de muitos consumidores que anteciparam compras usando financiamento para aproveitar o benefício da medida na ocasião de sua implantação..."
É claro que a discussão é mais ampla. Mesmo que como visto no estudo, os impactos sejam pequenos, tanto sobre a receita de IPI, quanto na repercussão geral sobre o emprego. Na verdade, o que mantém a decisão de sempre é a força da pressão política sustentada no mobilização de autoridades locais com apoio da mídia. Repito e insisto para mostrar o seu papel a favor de determinados interesses que não o do povo em geral, assim, defendem a redução de impostos, como se não houvesse consequência sobre isto.
"Os economistas também concluíram que um outro problema da medida foi se mostrar uma política tributária regressiva. Isso significa que a desoneração, implantada a partir de 2009 como medida anticíclica diante da crise de 2008, não beneficiou as pessoas mais vulneráveis, e sim atuou principalmente em favor das classes de renda mais altas.
De acordo com os pesquisadores, se houvesse a mesma desoneração dos automóveis para vários setores industriais, os ganhos econômicos para o país seriam similares (alta de 0,02% no PIB e de 0,04% no emprego). Porém, em relação aos efeitos distributivos, a política seria mais benéfica, porque o efeito distributivo tributário seria progressivo, beneficiando, portanto, especialmente as pessoas mais vulneráveis, com até um salário mínimo de renda.
Gabriel de Barros pesquisador do Ibre-FGV concorda com os poucos efeitos sobre PIB e emprego da desoneração do IPI para automóveis e também critica as prorrogações, dado o limite que esse tipo de medida já atingiu. "Ninguém vai comprar carro novo todo ano. Não adianta reduzir IPI sistematicamente para estimular o consumo", disse, citando o comprometimento da renda de muitos consumidores que anteciparam compras usando financiamento para aproveitar o benefício da medida na ocasião de sua implantação..."
É claro que a discussão é mais ampla. Mesmo que como visto no estudo, os impactos sejam pequenos, tanto sobre a receita de IPI, quanto na repercussão geral sobre o emprego. Na verdade, o que mantém a decisão de sempre é a força da pressão política sustentada no mobilização de autoridades locais com apoio da mídia. Repito e insisto para mostrar o seu papel a favor de determinados interesses que não o do povo em geral, assim, defendem a redução de impostos, como se não houvesse consequência sobre isto.
Assim, seriam de outra órbita, como se não tivessem nenhuma relação, os problemas de mobilidade urbana, de saúde e educação é mais fácil culpar os governos e pronto. Arriscar enfrentar esta lógica, no atual momento significaria dar força ao discurso da redução da industrialização brasileira e da reprimarização da economia.
Quem ganha e quem perde com tudo isto? Que interesses estão em jogo? O que é possível modificar? É bom lembrar que a aquisição de veículos no ritmo que temos, também está relacionado à manutenção de precários sistemas públicos de transportes coletivos. Assim, não é difícil identificar que os interesses na verdade, acabam sendo não apenas opostos, mas, efetivamente contrários.
É interessante que todos nós tenhamos mais noção desta realidade, ao invés de ficar como papagaios reproduzindo as manchetes globais que falam sempre a mesma coisa, para que as pessoas apostem em suas lógicas e interesses, até com certo orgulho (de ouvintes e telespectadores da Globo News) de estarem trazendo à tona novidades e descobertas, servindo apenas de "buchas de canhão" para interesses que não são os seus, desprovidos de conhecimento, um pouco para além da superficialidade.
2 comentários:
Se as margens de lucros das montadoras brasileiras, são acima do aceitável, um governo deveria estimular a concorrência, facilitando, diminuindo impostos para importação de veículos fabricados no exterior, desde que tais o preço final seja menor que os praticados no Brasil.
O governo tem essa ferramenta nas mãos e somente ele, pode usá-lo, em favor do seu povo.
Sobre o post acima, não é tão simples assim. Quem produz no Brasil, produz também em outros países. São multinacionais. Reduzir o imposto de importação pode ter como único efeito o fechamento das fábricas brasileiras. Desemprego.
É um setor regulado e incentivado no mundo inteiro. O Brasil deu um passo importante com o Inovar-Auto, mas está caindo novamente na armadilha de negociar pequenas desonerações o tempo todo sem uma contrapartida da indústria.
Temos que olhar o longo prazo. O que se quer do setor? Aonde queremos chegar?
Postar um comentário