domingo, agosto 10, 2014

Alta da indústria no PIB é de 36% a 40% maior que o anunciado para o acumulado desde 2009

Quem me chamou a atenção e deu destaque ao assunto foi o professor Floriano Godinho da Uerj, um ex-servidor do IBGE. O assunto foi motivo de uma matéria um tanto estranha que saiu publicada no Valor e, não sei se em mais alguma mídia.

O professor Floriano diz: "essa informação sobre o PIB brasileiro, "divulgado sem alarde pelo IBGE" é surpreendente. Também é muito estranho o comportamento do IBGE nesse episódio".

O mais estranho é que em outra matéria o mesmo jornal menciona que a culpa da não divulgação dos dados antes é da própria Dilma, que não investiu em pessoal no IBGE e ainda diz que a presidenta se arrependeria pelos cortes de pessoal no instituto.

Como? O quê?

Eu insisto que o fato é realmente impressionante. As diferenças citadas são bastante grandes. A nova informação sobre os números reais da indústria brasileira muda sobremaneira a interpretação sobre a realidade macroeconômica brasileira, onde o discurso sobre a desindustrialização (reprimarização) ganha força, mesmo que entre as novas fronteiras de expansão da economia brasileira, se tenha forte componente de redistribuição de renda e aumento do consumo de massa.

Não era "crível" que este ampliação do consumo de massa estivesse sendo feito em proporções crescentes com as importações e não com a indústria nacional. Além disso, o número de empregos já indicava o inverso, mesmo que relativamente, por conta da ampliação da automação.

Enfim confiram a matéria publicada no dia 7 de agosto no Valor. É importante entender a origem do problema da tabulação e divulgação dos números do IBGE. Imagine se fosse o contrário? O que estaria alardeando a mídia comercial sobre manipulação de números a favor do governo. 

Sabe-se que o tema é árido de um economês forte, mas não é preciso que compreendamos toda a essência do problema é sim o seu cerne que diz: nos últimos cinco anos a industria brasileira cresceu quase dez vezes mais que o PIB brasileiro e muito acima do que o próprio IBGE divulgava como oficial. Vejam os gráficos e a observação que está colocada ao seu lado: "no setor de transformação pesquisa industrial anula sugere um valor adicionado 90% maior do que o do PIB". Confiram pois:


Pesquisa anual mostra indústria com alta bem 


superior à do PIB

Por Denise Neumann | De São Paulo

Claudio Belli/ValorBráulio Borges, da LCA Consultores: "PIB pode estar subestimado"
Os dados da Pesquisa Industrial Anual (PIA) de 2012, divulgados sem alarde pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 24 de julho, mostram que a trajetória da indústria brasileira desde 2009 pode ter sido mais benigna do que aquela até agora contabilizada pelo Produto Interno Bruto (PIB). Pela pesquisa, o valor da produção industrial do setor de transformação cresceu entre 36% e 40% no acumulado desde 2009, enquanto no PIB o valor do mesmo setor cresceu 4%, ambas comparações em valores nominais, sem descontar a inflação.
Os dados do PIB de 2010, 2011 e 2012 são considerados preliminares pelo IBGE. Os valores e as variações conhecidas, no caso da indústria, foram obtidos principalmente de dados extrapolados a partir da Pesquisa Industrial Mensal-Produção Física (PIM-PF) antiga (a nova pesquisa entrou apenas no PIB de 2013), cuja variável pesquisada é o volume de produção física (quantidade) de uma série de produtos, considerando o critério de valor agregado, onde a produção de um bem "desconta" o que foi produzido na etapa anterior. A partir do dado físico, o instituto atribui um valor a essa produção. O IBGE considera o dado definitivo justamente após incorporar aos dados trimestrais as informações das pesquisas estruturais, entre outras fontes. Como o instituto está reformulando o sistema de contas nacionais, optou por "atrasar" a divulgação dos dados definitivos, agora prevista para o primeiro trimestre de 2015.
O IBGE também faz pesquisas anuais para o setor extrativo, construção, comércio e serviços, mas a diferença mais "gritante" de dados aparece no setor de transformação. E se a comparação for feita com 2008, os números mudam bastante. Na PIA, o crescimento acumulado até 2012 desacelera para 30% (porque na pesquisa o setor encolheu na recessão de 2009), e no PIB, ele sobe para 12% porque foi positivo naquele ano. Como 2009 é considerado definitivo na conta do PIB, a disparidade posterior chama mais atenção.
O PIB olha o critério de valor adicionado, que é obtido pelo valor bruto da produção de um setor menos seu consumo intermediário, como na PIM-PF. A informação principal já é um valor monetário. No caso de uma camisa, por exemplo, o cálculo do valor da confecção precisa descontar o tecido (produzido em outro lugar) e a energia elétrica (gerada em outro setor), entre outros custos. Na PIA existem dois conceitos considerados uma "proxy" do cálculo usado no PIB industrial do setor de transformação. Alguns economistas olham o valor da transformação industrial, que mostra aumento de 40% entre 2010 e 2012. Outros consideram mais correto o valor adicionado, no qual o crescimento foi de 36% - ambos muito acima dos 4% do PIB do mesmo setor em igual período.
A diferença dos dois critérios da PIA é quanto cada um desconta dos "outros custos". O valor da transformação industrial (conhecido como VTI) tira os custos diretamente envolvidos na produção, como insumos, energia e manutenção. O critério por valor adicionado também desconta aluguéis, publicidade, frete, entre outros.
No final de julho, o IBGE liberou os dados das pesquisas anuais da indústria, construção e comércio de 2012. Com base nessas três pesquisas - falta divulgar a de serviços -, a LCA recalculou o PIB dos últimos anos e concluiu que o crescimento desde 2009 (último dado definitivo) pode estar subestimado. A maior diferença aparece em 2012 e no setor de transformação.
O estudo elaborado pela LCA Consultores utilizou o critério de VTI e mostra que, em 2012, de acordo com a Pesquisa Industrial Anual (PIA), o segmento de transformação produziu R$ 900 bilhões, crescimento de 6,8% sobre 2011, em valores correntes. De acordo com o PIB, o valor adicionado do setor foi de R$ 480 bilhões, queda de 6,4% sobre o resultado de 2011. "Desde 2007, se olharmos para o PIB, a indústria andou de lado. Se olharmos para a PIA, ela continuou crescendo", pondera Borges. "Os dados, olhados ao longo do tempo, mostram uma diferença muito grande de tamanho de setor e de dinâmica", diz o economista. Procurado, o IBGE apenas respondeu, por meio da assessoria de imprensa, que as diferenças são "metodológicas". Pelo critério de valor adicionado da PIA, a produção de 2012 somou R$ 611 bilhões e subiu 4,2% sobre 2011.

Borges lembra que a recente alteração na pesquisa mensal da indústria - que mudou para acrescentar produtos e fábricas e reponderar os pesos de cada setor na produção- só foi incorporada ao PIB provisório de 2013. De 2012 para trás, nada foi alterado. Em 2013, a mudança na PIM-PF fez a produção do setor ser revista de alta de 1,2% para 2,3%. O economista-chefe da LCA acredita que a indústria pode estar subestimada no PIB. "Se tomássemos o valor da indústria pela PIA e o resto do PIB ficasse constante, o peso do setor de transformação na economia brasileira seria de 25% e não de 13%, e talvez o país não estivesse discutindo se há ou não desindustrialização", pondera Borges.
"A PIA é o principal instrumento de pesquisa sobre o setor. É nela que os pesquisadores se debruçam quando querem entender a indústria de transformação", observa o economista. Borges considera mais correto usar o dado do valor da transformação industrial para comparar com a evolução da indústria no PIB porque é ele que foi adotado pelo próprio IBGE para definir o peso de cada segmento dentro da pesquisa industrial mensal. "E o IBGE, em diferentes documentos, usa VTI como sinônimo de valor adicionado", argumenta.
Outro economista consultado pelo Valor considera o dado de valor adicionado mais próximo do cálculo adotado pelo IBGE no PIB industrial. Como o PIB é dado pela variação de um ano para o outro - e o crescimento nos dois conceitos da PIA é muito próximo e igualmente distante do PIB -, qualquer um dos dois critérios sustenta a tese de variação subestimada. O peso dentro do PIB, contudo, seria de 16%.
Em nenhum dos outros setores, a diferença entre as pesquisas estruturais e o PIB é tão significativa como na indústria de transformação. Além da diferença ser menor, nos outros três segmentos, o valor adicionado medido pelo PIB é maior do que o revelado pela pesquisa, o que é mais "compreensível", dado que o PIB é mais amplo que as pesquisas setoriais. No setor extrativo, a PIA indica um valor adicionado 40% inferior ao do PIB. Na construção, a diferença é de 25% e no comércio, de 10%, sempre a favor do PIB, segundo o estudo da LCA. A trajetória desses setores, contudo, também mostra, desde 2010, crescimento superior ao registrado pelos dados preliminares do PIB.
O trabalho da LCA Consultores recalculou o PIB incorporando essas pesquisas aos dados conhecidos. Pela série até agora divulgada, o PIB cresceu 35% na soma de 2010, 2011 e 2012, em termos nominais. No PIB recalculado pela LCA, esse crescimento chega a 41,5% no mesmo período - uma diferença de 6% nominais. Embora o PIB de 2009 seja definitivo, a LCA também recalculou aquele dado usando as pesquisas. E no caso de 2009, as pesquisas mostraram que a queda poderia ter sido maior do que o 0,2% apontado pelo PIB.
"Nosso exercício sugere que a revisão do cálculo do PIB e a incorporação de novos dados aos preliminares pode revelar que o PIB brasileiro é maior e cresceu mais do que se imagina nos últimos anos", pondera Borges. O economista-chefe da LCA lembra que quando saírem os dados definitivos eles já virão dentro do novo sistema, o que torna mais difícil o exercício de estimar o novo tamanho do PIB. O estudo da LCA considerou o modelo antigo das contas nacionais porque o "novo" ainda não é conhecido.

Um comentário:

douglas da mata disse...

Roberto, nós sabemos que a estatística é a arte de torturar os números para que confessem uma realidade que seja do interesse determinado...

Sejam nas pesquisas eleitorais, sejam nos dados econométricos, a margem para adoção de filtros e vieses é larga.

Eu venho debatendo isto aqui em casa, com certo sucesso, e chegamos a conclusão de que não é possível ver tanta pujança econômica: empregos, supermercados e shoppings lotados, ruas lotadas de carros, dívidas em queda, pessoas comprando à vista (cada vez mais), salários em alta, e do ponto de vista micro ou macro, as sensações de conforto econômico são várias, que levaríamos horas citando...

E ainda assim, os cretinos da mídia insistem no contrário.

Aí, de quando em vez, passam uma matéria positiva de contrabando em alguma mídia "especializada" (como tenta se fazer passar O Valor).

Como concluímos em nossa última conversa, o jogo vai ser muito mais pesado, porque tem muito mais coisa em jogo que a maioria imagina...