"Prezado Roberto Moraes, como dizia um professor na USP: primeiramente parabéns pelos dez anos do seu Blog; segundamente a matéria da Revista Exame é mais sensacionalista do que bem “informativista”. Há mais acertos que erros no resultado da Anglo-American, que por este e outros “erros” vive crise seriíssima, a ponto de procurar sócio ou vender o Projeto Minas-Rio, conforme o mercado sabe. Porém, criticar a obra já feita, ainda que malfeita, é complicado. Você sabe Roberto, pois postou minhas críticas e artigos, quando ninguém falava nada, muito menos as revistas da Abril, que lhe deram capas, quando o empresário Eike Batista era o queridinho do mercado e patrocinador da mídia, inclusive clubes esportivos, despoluição da Lagoa Rodrigo de Freitas, Rock in Rio e outras futilidades, do tipo comprar por um milhão um terno usado pelo presidente Lula na posse. Até o BNDES, com dinheiro do Fundo de Amparo do Trabalhador – FAT, bancou os projetos inconsistentes do nosso “Sadim” (Midas ao contrário, que tudo que botou a mão virou pó). Dito isto, sem precisar pesquisar ou burilar o texto, mando mais este comentário ao seu respeitável BLOG.
O Projeto Minas-Rio que foi desenvolvido, a partir de 2007, pela Anglo-American precisa ser mais bem criticado com isenção da mina, o seu entorno, as cidades afetadas, passando pelo trajeto do mineroduto até o porto. Então, no tocante ao potencial mineral e a qualidade do minério há dúvidas, pelos dados disponíveis quanto à jazida vendida como uma das maiores e últimas mega-reservas de minério de ferro de alto teor e qualidade no centro de Minas Gerais e no mundo. Quando a Anglo comprou do e pagou ao “empresário” Eike Batista por US$ 5,5 bilhões (a Receita Federal autuou a operação paga em paraíso fiscal) os especialistas acharam um absurdo e a crítica piorou quando o projeto Minas-Rio teve o custo inicialmente divulgado de menos de US$ 5 bi para, ao que se sabe, mais de US$ 8,5 bi (tendo sido colocado no balanço da Anglo-American uma perda de US$ 4,0 bi neste complicado projeto). Há reserva não é tão grande ( da ordem de um bilhão de toneladas, com pouco minério rico, parte de friável para sinter e pellet feed). Portanto, é um conjunto de jazidas muito comum no Brasil, cuja vantagem é ir da mina ao porto, uma vez que o minério na média das jazidas é de baixo teor, entre 28 e 40% de ferro, e precisa ser concentrado, para poder chegar ao produto final de material fino com 65% de Fe.
No passado recente minério de ferro tinha teor de 65% e granulometria bitolada; depois se passou a usar o minério fino tipo sinter feed e pellet feed; agora, com gasto de energia e água e a necessidade de acomodar em pilhas de estéril, nos bota-foras, sendo metade da tonelagem extraída ou quase o mesmo volume (devido ao empolamento). Portanto estamos na terceira geração de aproveitamento de ferro, com as jazidas que eram marginais. Ou seja, o volume escavado e as áreas de recuperação ambiental são muito expressivos se a empresa vai produzir 26 milhões de toneladas de “minério” as cavas e bota-foras são problemas ambientais sérios. As minas estão na Serra do Espinhaço, nos contrafortes da Serra do Cipó, um paraíso ecológico, domínio dos campos rupestres, com plantas endêmicas, da família das Bromélias e Vellozias, por exemplo, que não tiveram a classificação taxonômica concluída. São notáveis as sempre-vivas e as canelas de ema, uma delas que acabou de ganhar meu nome: Vellozia everaldoi (por uma singela e significativa homenagem da minha amiga botânica taxonomista professora Nanuza Luíza Menezes: http://dx.doi.org/10.11646/phytotaxa.175.2.3). Os terrenos aonde vão ser feita a extração e bota-fora, uma vez que o solo é distinto do subsolo, se os superficiários foram bem assistidos por especialistas em direito mineral, podem representar um custo adicional em termos de indenização, por uso pela ocupação, lucros cessantes, royalty e compensações ambientais.
A energia, uma vez que a Anglo-American, não possui geração própria (a mineradora Vale S/A é uma geradora de energia), vai pesar muito no custo final. A água para suprir a Usina e o mineroduto, a semelhança de todo o Brasil, a região do manancial da Serra do Espinhaço/MG, está em situação crítica, pois é limitada e proveniente do Rio do Peixe, por isso não pode, no Porto depois de limpa, ser jogada no mar. Além desta água ser insuficiente para adocicar o Oceano Atlântico, deveria ter sido pensado em retornar por uma linha paralela ou pelo menos ser utilizada na região, se é que não está prevista alguma solução semelhante. Numa maqueta dos tempos de Eike Batista havia dois dutos, que tanto poderiam ser um novo duto para duplicar a produção para 50 milhões de toneladas/ano ou retorno da valiosa água doce mineira.
O mineroduto, que devemos reconhecer que venceu todos os problemas e está praticamente concluído, é um fato consumado e agora muito favorável ao Projeto, talvez mereça ao menos mitigar os cortes deixados no caminho. As fotos da reportagem da Revista Exame, desta semana, provocam um impacto que não tinha visto, pois um tubulação de 40 polegadas não poderia, jamais, deixar os cortes expostos com tamanhas valas e inclusive separando a mesma propriedade.
Os trechos a céu aberto precisam ser mais bem adequados e esperamos que os proprietários, os órgãos ambientais, Ministério Público e a própria Anglo-American faça uma correção dos cortes ou mitigação dos danos ambientais, paisagísticos e operacionais. No Porto Açu, que foi muito mal conduzido, é necessário reavaliar o EIA-Rima, para ver as modificações que parece que foram feitas, sem as devidos estudos dos impactos negativos, tais como a mudança do quebra-mar em rocha para misto em rocha e “caixões”; assim como uma revisão das influências das obras superimpostas na orla e no mar adentro; bem como a dragagem dos canais de acesso, a par do assoreamento e erosão, tempo em conta os problemas que já estão ocorrendo de salinização e erosão (Praia do Açu como seu Blog tem mostrado) e o destino da água doce que chega de Minas Gerais ao Porto do Açu. Quem sabe um dia esta água possa valer mais que o minério!
Enfim meu caro Roberto, a Anglo-American errou muito neste Projeto, mas, ainda, em tempo recorde, mesmo com o atraso de três anos e revisão de custos, está finalmente muito próximo de ver seu primeiro embarque, num período de mercado tumultuado. As prefeituras vão saber tirar proveito da atividade econômica e como todas das regiões mineradoras irão usar mal o dinheiro tipo “doença holandesa” ou outros vícios. Este geólogo tem sido crítico, principalmente nos tempos de Eike Batista, não podendo deixar de reconhecer o mérito na velocidade, (inferior ao que muitas vezes levamos para realizar a pesquisa de uma jazida qualquer ou até mesmo para sair um simples Alvará de pesquisa) e recomendar uma séria reavaliação nos pontos críticos e compensações ambientais. Mineração, principalmente deste porte, não é para qualquer empresa e a mais que centenária mineradora, sem dúvida sabe como fazer, com a sociedade e Estado controlando pari passo.
Quanto aos problemas sociais apontados na reportagem e a reclamação do Prefeito, já deveria ter sido previsto e adotadas medidas semelhantes àquelas implantadas em outras cidades com atividade mineral. Um “Plano Diretor” para evitar ou superar os malefícios no curto, médio e longo prazo preparando as cidades para a exaustão das minas. Uma nova “cidade” poderia ter sido prevista ou bairros planejados além da área do centro urbano “histórico”.
Um abraço, parabéns pelo Blog, extensivo a Anglo-American pela sua eficiência na execução deste projeto mineral, na esperança de que minhas críticas surtam efeito, Everaldo Gonçalves (geólogo e jornalista)."
Um comentário:
A MINERAÇÃO E SUAS CONSEQUÊNCIAS
Tolentino e Silva
Nunca me manifestei contra o progresso, mas jamais poderia concordar e aplaudir financiamentos de projetos e de bilionários, como Eike Batista e Anglo Americana, principalmente no tocante à destruição ambiental e ao uso das reservas hídricas para auxiliar o bombeamento de minério para portos.
Há perspectiva de mais quatro minerodutos. Os municípios, mesmo aqueles que estão localizados às margens de rios como Governador Valadares, no Leste de Minas, já fazem campanha de racionamento de água. Por que só as residências são taxadas e penalizadas? Por que aprovam tais empreendimentos nocivos ao meio ambiente e à população que já clama por água? Será que as concessões têm a ver com os patrocínios de campanha?
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