Passei quase toda quinta-feira na Universidade de Barcelona. Saí já por volta das 19 horas. Entre estudos, pesquisas na biblioteca e conversas, logo depois do almoco na cantina, eu resolvi espairecer um pouco. Em frente ao prédio da Faculdade de Filosofia, Geografia e História da UB, no histórico bairro do Raval, está o Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona, o majestoso CCCB.
Pela sigla, quase se confunde com o nosso CCBB, Centro Cultural Banco do Brasil, na Candelária, Rio de Janeiro. É também grande e de atividades as mais variadas, entre peças de teatros, exposições, espaços para cursos, filmes, performances, café, etc., embora em arquitetura moderna, ao inverso do nosso CCBB.
De José Luis de Vicente mostra a presença da rede no território, a realidade da infraestrutura e a interdependência das instalações "tangíveis" da internet |
Sem programação entrei e vi a chamada para uma das exposições “Bigbangdata”. Êpa, o título me atraiu. O assunto, depois do caso Eduard Snowden, desperta sempre muita curiosidade, mesmo aos menos afoitos às coisas da internet e dos megabytes.
A exposição se apresenta como um projeto que pretende mostrar como o desenvolvimento do fenômeno da “explosão de dados” à qual estamos imersos pode ser vista de diferentes perspectivas, como das artes, política, pesquisa, inovação e participação.
A exposição é magnífica. Atraente. Provocativa. Revolucionária até pelo que expõe sobre o tema em termos de peso e mudanças em nossas vidas, não necessariamente, e de grandes riscos para a humanidade.
Interessante é que ela expõe e explica a evolução da guarda de informações, desde os primórdios, do ponto de vista técnico e também dos desdobramentos para os negócios, a circulação do capital, a ampliação do poder das corporações e da centralização da política.
Evidentemente que não é a mesma coisa, mas, muito do que lá está, em se tratando do tema, não poderia deixar de ter um espaço virtual. Assim, ela pode ser visitada digitalmente aqui: http://bigbangdata.cccb.org/
Gostei especialmente dos conceitos criados para explicar o tema e todas as suas teias de relações e articulações: “datacentrismo” e “dataficação. Nunca tinha ouvido falar deles, embora, venha de longe acompanhando o assunto.
A exposição diz que a "dataficação" do mundo é uma forma de incrementar o conhecimento e eficiência a níveis inimagináveis antes. Em algum ponto da exposição, não me recordo a fonte, diz-se que em 2007, 96% das informações do mundo já estavam digitalizadas. Acho muito, mas, a dúvida para mim também mostrou como informações e dados não é tudo, sem base para análises.
Não por coincidência, o jornal catalão La Vanguardia na edição de hoje, traz uma matéria do jornalista Alex Barnet sobre o tema dizendo que são os smarphones que alimentam o "Big Data citando o estudo "Big Data em números 2014" realizado pela Online Business Scholl (OBS) que afirma que: "a informação gerada pelo uso do celular é a chave para a massificação dos dados que crescerá 63% em quatro anos".
A reportagem do La Vanguardia diz ainda que "nos últimos dez anos se criou mais dados que em toda a história da humanidade". os investimentos em Big Data deverá alcançar US$ 132 bilhões em 2015, podendo gerar 4,4 milhões de empregos e completa dizendo que graças ao Big Data, o PIB da União Europeia crescerá 1,9% para 2020.
Mas, voltando à exposição do CCCB, outras coisas me chamaram a atenção. Uma delas é quando os seus organizadores compraram a "força da informação" ao petróleo: “um novo petróleo”; “potencialmente uma fonte infinita de riqueza”; “Uma arma para vigilância ou deveria ser, sobretudo uma ferramenta para construir mais transparência e participação democrática?
Ainda apresentando a amostra o convite diz que por ela se “pode navegar através da subjetividade, a exposição apresenta uma ampla variedade artística, materiais e documentações e m laboratório de atividades espaciais.”
A amostra me encantou como vocês podem perceber neste relato já extenso demais para a nota que eu pretendia fazer. Muitas coisas me espantaram além do que já citei. Um mouse diante de uma grande tela permitia ao visitante clicar em um dos milhões de ligações que estavam ocorrendo naquele momento diante do mapa mundo e você ver de quem se trata aquele acesso.
Outra parte entre tantas que me chamou a atenção foi também numa grande tela, a exibição de um clip, em velocidade acelerada, para mostrar em segundos um tempo de um dia (24 horas), apontava sobre o mapa da região metropolitana de Barcelona, o deslocamento espacial naquele dia dos turistas russos. A partir das seis da manhã até outras seis da manhã da onde saem, por onde circulam tudo em pontos vermelhos se movendo sobre o mapa da metrópole.
Diversos globos terrestres mostravam cada um com uma forma de representação espacial, como e onde as grandes corporações (e marcas) mundiais detinham poder e interferiam na vida das pessoas.
Mapa em tempo real do que está acontecendo no entorno da cidade |
Numa parte adiante, numa outra parte fenomenal da exposição se mostrava as diversas articulações e links entre as atividades esportivas no mundo e tudo que ela hoje mexe em termo de negócio (business). Imagino que ficará difícil assistir alguma disputa sem lembrar daquele grande fluxograma de imagens e dados sobre as relações do fenômeno e da informação que chega até você como expectador.
Uma exposição magnífica e que como tal mexe com você que não sai dela da mesma forma que entrou. Já perto da saída, uma grade tela continuava provocando: “O que os dados não contam - A tirania do datacentrismo”. Esta tela é que me sugeriu repartir a exposição com todos vocês. Ela seguia dizendo: “situar a cultura e os dados no centro da tomada de decisões na nossa maneira de interpretar o mundo abre muitas possibilidades, porém também implica numerosos riscos. O principal perigo do datacentrismo é que ele fomente a ideia de que nos dados se encontra a resposta a qualquer problema e que nossa sociedade possa prescindir de mecanismos mais imperfeitos e desordenados baseados na política e na negociação.
Neste ponto, a exposição se conectava novamente com a matéria do La Vanguardia que o Barnet dizia que os dados massivos predizem comportamentos e passaram a ser chamados como combustível digital. Veja que novamente se faz um link da informação do petróleo com o combustível e a energia. E segue formulando também uma crítica que a maneira como os dados é utilizada pode atentar contra os direitos e a privacidade dos usuários.
Nesta linha o jornalista Barnet descreveu que o advogado Eduardo Ustaran em recente congresso "The Big Digital Bang" afirmou que o Big Data representa o progresso e a prosperidade, porém, cada vez se tomam mais decisões sobre nossas vidas sem que nós tenhamos nenhum controle e alerta que em breve aparecerão grupos de objetores da consciência digital formados pelas pessoas contrárias a que se utilizem seus dados.
Voltando a comentar a exposição "BigBangData" registro o destaque que deram à observação abaixo: "Preservar valores como a subjetividade e a ambiguidade é especialmente muito importante num momento em que é fácil pensar que todas as soluções são computáveis e se encontram dentro de um servidor armazenados em um Data Center”. (Data Will Help Us | Jonathan Harris - NY Times - 2013 - Os grifos são deste blogueiro)
A exposição segue no CCCB em Barcelona até o dia 26 de outubro. A partir do dia 25 de fevereiro, até 24 de maio de 2015, ela estará em Madri. Vale conferir à distância e se possível pessoalmente. Eu dei a sorte de chegar a ela, sem sequer ter sido convidado. Antes de sair porém, desliguei meu celular, para pelo menos apagar o rastro do que fiz durante uma pequena parte deste dia.
Uma exposição magnífica e que como tal mexe com você que não sai dela da mesma forma que entrou. Já perto da saída, uma grade tela continuava provocando: “O que os dados não contam - A tirania do datacentrismo”. Esta tela é que me sugeriu repartir a exposição com todos vocês. Ela seguia dizendo: “situar a cultura e os dados no centro da tomada de decisões na nossa maneira de interpretar o mundo abre muitas possibilidades, porém também implica numerosos riscos. O principal perigo do datacentrismo é que ele fomente a ideia de que nos dados se encontra a resposta a qualquer problema e que nossa sociedade possa prescindir de mecanismos mais imperfeitos e desordenados baseados na política e na negociação.
Neste ponto, a exposição se conectava novamente com a matéria do La Vanguardia que o Barnet dizia que os dados massivos predizem comportamentos e passaram a ser chamados como combustível digital. Veja que novamente se faz um link da informação do petróleo com o combustível e a energia. E segue formulando também uma crítica que a maneira como os dados é utilizada pode atentar contra os direitos e a privacidade dos usuários.
Nesta linha o jornalista Barnet descreveu que o advogado Eduardo Ustaran em recente congresso "The Big Digital Bang" afirmou que o Big Data representa o progresso e a prosperidade, porém, cada vez se tomam mais decisões sobre nossas vidas sem que nós tenhamos nenhum controle e alerta que em breve aparecerão grupos de objetores da consciência digital formados pelas pessoas contrárias a que se utilizem seus dados.
Voltando a comentar a exposição "BigBangData" registro o destaque que deram à observação abaixo: "Preservar valores como a subjetividade e a ambiguidade é especialmente muito importante num momento em que é fácil pensar que todas as soluções são computáveis e se encontram dentro de um servidor armazenados em um Data Center”. (Data Will Help Us | Jonathan Harris - NY Times - 2013 - Os grifos são deste blogueiro)
A exposição segue no CCCB em Barcelona até o dia 26 de outubro. A partir do dia 25 de fevereiro, até 24 de maio de 2015, ela estará em Madri. Vale conferir à distância e se possível pessoalmente. Eu dei a sorte de chegar a ela, sem sequer ter sido convidado. Antes de sair porém, desliguei meu celular, para pelo menos apagar o rastro do que fiz durante uma pequena parte deste dia.
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