Vitor Peixoto da UENF, atual coordenador do Curso de Ciências Sociais. Vitor é mestre e doutor em Ciências Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ - 2004 e 2010) tendo se debruçado no estudo do tema sobre o espinhoso e importante tema sobre o "Financiamento de Campanhas". Além disso, Vitor tem experiência na área de Ciência Política, com ênfase em Estudos Eleitorais e Partidos Políticos, atuando principalmente nos seguintes temas: eleições, sistema político, financiamento de campanhas, accountability, representação e estudos legislativos. Em junho do ano passado, no auge das manifestações das ruas no Brasil o blog entrevistou Vitor sobre o assunto. A entrevista pode ser lida aqui.
Vitor Peixoto, mesmo novo já possui na área acadêmica e mesmo fora dela, no debate mais amplo na sociedade, um reconhecimento sobre suas análises políticas e eleitorais a ponto de ter sido chamado para integrar um grupo de colunistas do Valor, ocupando um espaço importante par ao debate de idéias na publicação, que mesmo não tão diversa, do restante da mídia comercial, oferece, uma gama mais ampla de opiniões aos seus leitores ávidos pela junção do tema “economia-política”.
Com esta base é que o blog decidiu explorar um pouco mais o Vitor para aprofundarmos as análises sobre o momento político contemporâneo no Brasil e em nosso estado. Vamos às perguntas:
Blog: Vitor o que esta eleição presidencial se diferenciaria das demais anteriores. Use o marco temporal que julgar conveniente à sua análise.
Vitor Peixoto: Fazem 25 anos essa será nossa sétima eleição presidencial sob instituições plenamente democráticas. Mais importante do que as diferenças para as seis anteriores é as similaridades, qual seja, em todas houve respeito às regras do jogo. Isso não é pouca coisa! Obviamente, há idiossincrasias interessantes também que não podem ser negligenciadas, como por exemplo o fato de termos pela primeira vez na história eleitoral brasileira mais eleitores com diplomas de ensino superior do que eleitores analfabetos. Isso é reflexo das transformações da sociedade brasileira, sobretudo daquelas percebidas nos últimos 10 anos.
Blog: Seria correto afirmar que esta eleição de 2014 estaria tendo um debate ideológico mais acentuado que as anteriores?
Vitor Peixoto: Eu sinceramente não vejo dessa forma. O debate ideológico sempre aconteceu, entretanto, acho que as cores do espectro ideológico estão mais nítidas para os eleitores, mesmo daqueles candidatos que tentam se camuflar no intuito de ludibriar seus posicionamentos claramente.
Blog: A tendência hoje, de que a eleição seja decidida entre duas mulheres Dilma e Marina, deixando o papel de coadjuvante ao candidato do PSDB mudará alguma coisa daqui por diante?
Vitor Peixoto: Essa eleição está tão indefinida quanto a de 1989 quando não sabíamos ao certo se Lula ou Brizola iriam para o segundo turno contra Collor de Melo. Caso o PSDB fique fora do segundo turno, será um abalo importante na sua estrutura partidária. Muito provavelmente o partido terá que se reformular internamente para se reconstruir, pois periga fazer a campanha mais ineficiente de toda sua breve historia. O PSDB é um grande partido e tem importância capital para o sistema politico brasileiro, sua derrocada não interessa a ninguém, nem mesmo ao PT que é seu principal rival.
Blog: As duas mesmo com caminhos diversos (Dilma vindo originalmente da esquerda trabalhista do PDT e Marina do próprio PT) têm a mesma origem, da costela da esquerda e do PT. Isto poderia apontar para possíveis rearrumações partidárias num futuro próximo?
Vitor Peixoto: Não vejo muitas mudanças estruturais no PT, nem ganhando nem perdendo as eleições presidenciais. O partido conhece tanto o lado da oposição quanto do governo. Entretanto, tenho muitas duvidas do que poderá ser Marina no Governo, e ainda mais na oposição.
Blog: Em síntese, como enxerga a hipótese de Marina presidenta, sem bases amplas e sem partido forte? Ou considera este discurso e argumento falsos?
Vitor Peixoto: Ela é uma incógnita para todos, até mesmo para seus próprios correligionários. Não é um movimento organizado com ideias minimamente coesas, é uma pessoa que congrega um sentimento de negação e insatisfação somente, não é pro nada e sim anti tudo. É um movimento demiurgicamente negativo, não há qualquer ideia propositiva. Já presenciamos isso na historia recente, não tivemos bons resultados.
Blog: Em meio a estas questões que rondam mais o campo da esquerda e dos intelectuais, porque os temas normalmente mais candentes nas disputas parecem menores nesta eleição como educação, segurança pública, mobilidade urbana, saúde, etc.?
Vitor Peixoto: Primeiro por que houve inegavelmente muitos avanços que vejo o PT defender muito timidamente, pois parece mais preocupado com os adversários do que com a defesa de seu Governo. Segundo, não é nada confortável para a oposição fazer propostas concretas tem que admitir que existiram esses avanços. O que está dividindo as propostas dos candidatos é, inusitadamente, um tema abstrato e até então desconhecido do grande publico que é a autonomia/independência do Banco Central. Um tema de extrema importância, mas que nenhum analista há alguns meses poderia imaginar que decantaria nos debates eleitorais. Ainda que de extrema importância, inegavelmente um tema exótico pela sua complexidade.
Blog: É impressão ou ainda há muita confusão sobre as responsabilidades dos governos nas três diferentes escalas por parte da população e até por parte da mídia comercial interessada em quase que apenas fazer oposição ao governo federal?
Vitor Peixoto: Não há duvidas que há muitas confusões sobre responsabilidades. O sistema politico brasileiro é bastante complexo e sofisticado, não há nem entre os especialistas em direito constitucional uma completa concordância sobre aspectos do federalismo brasileiro, imagine para os eleitores. Mas isso não é um problema que coloque em xeque a democracia brasileira. As eleições têm também a função de simplificar essas questões para o eleitor criando atalhos informacionais. É dessa forma, por exemplo, que temas como autonomia/independência do Banco Central passam a ser acessíveis ao grande publico. Por isso dizemos que as eleições são pedagógicas e propedêuticas para as seguintes. Democracia não é um modelo estático, pronto e acabado, é um sistema que esta sempre em movimento de auto(re)construção e se aperfeiçoa com o seu exercício. Democracia pode ser pensada como um sistema autopoiético, como diria o pensador Niklas Luhmann.
Blog: Há uma interessante reflexão sobre o que é chamado de “déficit de governo” nas escalas municipal e estadual que dificultam os projetos nacionais ganharem capilaridade e capacidade de realização. O que pensa disto?
Vitor Peixoto: Quiça, este seja um dos temas mais espinhosos da ciência política brasileira. A descentralização instituída pela Constituição de 1988 veio como um elixir contra todo o entulho autoritário do regime anterior. Descentralizar significava automaticamente democratizar. Pois bem, criamos um sistema onde os governos locais tiveram recursos e autonomia relativa para implementar políticas públicas, porém, sem capacidade administrativa. Outro problema grave é que não descentralizamos as instituições de controle dotadas de autonomia necessárias para uma atuação independente. Em resumo, os governos locais não tinham nem mesmo pessoal treinado para executar políticas nem mesmo havia instituições para controlar os desvios. A solução encontrada até o momento esta sendo uma centralização relativa, onde o Governo Federal constrói grandes programas e arregimenta os Estados e Municípios para participar. Essa é a engenharia institucional do Bolsa Família, uma experiência que deu certo. Mas ainda precisamos aperfeiçoar o sistema de controle. O que temos hoje que utiliza auditorias lotéricas não esta satisfatório, definitivamente precisamos de algo mais eficiente.
Blog: Como enxerga o papel da mídia comercial em todo este processo que vivenciamos, de forma mais especial dede o ano passado? Como interpreta a forma como a população percebe este processo?
Vitor Peixoto: São grupos de interesses que atuam com grande desenvoltura, sofisticação e liberdade de ação. Foi extremamente negligenciado pelo Governo, talvez por medo talvez por incapacidade. Na America Latina e na Europa essa relação é muito mais regulamentada. No Brasil o Governo do PT capitulou diante do desafio de criar um sistema que pulverizasse as empresas e combatesse a concentração em poucos grupos. O que falta ao mercado de comunicação no Brasil hoje é mais capitalismo, é mais competição!
Blog: Diz-se com alguma freqüência no debate no campo da esquerda que não há como se materializar as utopias sem negociação e pactos que respeitem o contexto histórico e apontem para mudanças de paradigmas. O que pensa disto?
Vitor Peixoto: Não sei responder isso. É muito complexo... acho melhor deixar para mais tarde quando estivermos bebendo umas cervejas. Rs.
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