Eike entrega OGX a credores e dívida de R$ 13,8
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O empresário Eike Batista continua protagonista das maiores operações de mercado. Desta vez, porém, não foi para iniciar um novo capítulo de sua vida empresarial, mas para encerrar. Ontem, foi aprovada em assembleia geral a conversão de nada menos do que R$ 13,8 bilhões de dívidas da OGX em capital. Trata-se de todos os compromissos que a companhia tinha antes do pedido de recuperação judicial, feito há um ano. A maior operação desse tipo já realizada na América Latina.
A partir de agora essa dívida desaparece do balanço dessa nova OGX. Ou melhor, sai do lado do passivo e passa para o ativo, como reserva de capital. Tudo conforme o plano de recuperação judicial.
Foi o peso desses vencimentos que levou todo o grupo EBX ao colapso, depois de anunciado ao mercado que o projeto da OGX não seria nada do imaginado, após a finalização da fase exploratória.
Também a partir de agora, a OGX, ex-estrela do império de Eike Batista, não tem mais um controlador definido. "A base acionária está completamente diluída", explicou Ricardo Knoepfelmacher ao Valor. Ele está à frente da reorganização do grupo EBX desde agosto do ano passado.
Os titulares da dívida convertida ficaram com 71,4% da OGX reestruturada. Entre eles estão os detentores dos bônus internacionais, fornecedores e a OSX, companhia do grupo criado pelo empresário para construir as plataformas e estaleiros que seriam demandados pela companhia-irmã.
Eike Batista e os minoritários da OGPar (antiga OGX) terão 28,6% da nova empresa, agora sem a dívida multibilionária. Esse percentual é dividido quase igualmente entre o empresário e os minoritários de mercado - cada qual com cerca de 14%.
A nova OGX terá aproximadamente US$ 290 milhões em dívida. Desse valor, US$ 215 milhões são referentes ao financiamento feito por parte dos detentores de bônus em debêntures conversíveis. Tal dívida, portanto, também desaparece, num segundo e mais dilutivo aumento de capital. Ao fim de todo o processo, que ainda pode levar alguns meses, os donos da nova OGX serão os bondholders que apostaram na empresa em seu pior momento, e forneceram esse crédito adicional. Eles terão 65% do capital total e votante.
Outros 25% ficarão nas mãos dos credores anteriores à recuperação judicial - ou seja os titulares dos créditos da conversão de ontem. Por fim, 10% serão divididos em fatias iguais entre os minoritários e Eike Batista, em OGpar.
Knoepfelmacher destacou que o fato de Eike ter se mostrado preocupado em resolver a questão "pela porta da frente" e de forma "desapegada" facilitou o acordo com os credores. "Foi uma solução totalmente de mercado. Sem interferência política e sem bancos públicos. Não é o trivial para Brasil."
A OGX ganhou vida nova com a reestruturação. Apenas os campos de Tubarão Martelo são avaliados pela consultoria DeGolyer and MacNaughton em US$ 1,5 bilhão.
Entretanto, para a companhia tirar o maior valor de seus ativos, ou seja, explorar o campo BS-4, ainda são necessários investimentos da ordem de R$ 800 milhões, conforme o Valor apurou. A eliminação da dívida permite que a nova OGX se alavanque em mais R$ 100 milhões, com operações tradicionais. Assim, para conseguir os recursos necessários, se quiser levar o projeto adiante, terá que vender parte de seus ativos.
O time de Knoepfelmacher deve conduzir a nova OGX, pelo menos, até o fim do processo, com a conversão da dívida nova em capital. Essa etapa terá de superar uma batalha jurídica com investidores que querem colocar recursos novos na OGX, dentro do grupo original de bondholders. Trata-se de um grupo liderado pelo fundo Autonomy. A expectativa, de quem acompanha o tema de perto, é que deve se buscar um acordo entre as partes. Não será algo simples.
Neste ano, a OGX deverá ter receita líquida superior a R$ 1 bilhão. A aderência ao plano original entre os credores, selado na véspera do Natal de 2013, por um grupo com mais de cem participantes, está em 99%, segundo Knoepfelmacher.
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