O artigo é mais didático e claro do que costuma ser as falar do Unger. Além disso, ele sai da trivialidade de alguns falsos embates e demarca melhor as diferenças que se tem em termos de opção eleitoral neste segundo turno. Os grifos são do blog. Seja para ajudar na identificação dos blocos por áreas comparadas, seja, ao final para realçar a síntese principal diferença entre as opções. O texto reforça de maneira concisa o que o blog vem defendendo ao longo de sua década de existência. Confiram:
"Por que votar em Dilma?"
"O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos.
As duas candidaturas compartilham três compromissos fundamentais, além do compromisso maior com a democracia: estabilidade macroeconômica, inclusão social e combate à corrupção. Diferem na maneira de entender os fins e os meios. Diz-se que a candidatura Aécio privilegia estabilidade macroeconômica sobre inclusão social e que a candidatura Dilma faz o inverso. Esta leitura trivializa a diferença.
Duas circunstâncias definem o quadro em que se dá o embate. A primeira circunstância é o esgotamento do modelo de crescimento econômico no país. Este modelo está baseado em dois pilares: a ampliação de acesso aos bens de consumo em massa e a produção e exportação de bens agropecuários e minerais, pouco transformados. Os dois pilares estão ligados: a popularização do consumo foi facilitada pela apreciação cambial, por sua vez possibilitada pela alta no preço daqueles bens. Tomo por dado que o Brasil não pode mais avançar deste jeito.
A segunda circunstância é a exigência, por milhões que alcançaram padrões mais altos de consumo, de serviços públicos necessários a uma vida decente e fecunda. Quantidade não basta; exige-se qualidade.
As duas circunstâncias estão ligadas reciprocamente. Sem crescimento econômico, fica difícil prover serviços públicos de qualidade. Sem capacitar as pessoas, por meio do acesso a bens públicos, fica difícil organizar novo padrão de crescimento.
O país tem de escolher entre duas maneiras de reagir. Descrevo-as sumariamente interpretando as mensagens abafadas pelos ruídos da campanha. Ficará claro onde está o interesse das maiorias. O contraste que traço é complicado demais para servir de arma eleitoral. Não importa: a democracia ensina o cidadão a perceber quem está do lado de quem.
1. Crescimento econômico. Realismo fiscal e manutenção do sacrifício consequente são pontos compartilhados pelas duas propostas. Aécio: Ganhar a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros. Restringir subsídios. Encolher o Estado. Só trará o crescimento de volta quando houver nova onda de dinheiro fácil no mundo. Dilma: Induzir queda dos juros e do câmbio, contra os interesses dos financistas e rentistas, sem, contudo, render-se ao populismo cambial. Usar o investimento público para abrir caminho ao investimento privado em época de desconfiança e endividamento. Apostar mais no efeito do investimento sobre a demanda do que no efeito da demanda sobre o investimento. Construir canais para canalizar a poupança de longo prazo ao investimento de longo prazo. Fortalecer o poder estratégico do Estado para ampliar o acesso das pequenas e médias empresas às práticas, às tecnologias e aos conhecimentos avançados. Dar primazia aos interesses da produção e do trabalho. Se há parte do Brasil onde este compromisso deve calar fundo, é São Paulo.
2. Capital e trabalho. Aécio: Flexibilizar as relações de trabalho para tornar mais fácil demitir e contratar. Dilma: Criar regime jurídico para proteger a maioria precarizada, cada vez mais em situações de trabalho temporário ou terceirizado. Imprensado entre economias de trabalho barato e economias de produtividade alta, o Brasil precisa sair por escalada de produtividade. Não prosperará como uma China com menos gente.
3. Serviços públicos. Aécio: Focar o investimento em serviços públicos nos mais pobres e obrigar a classe média, em nome da justiça e da eficiência, a arcar com parte do que ela custa ao Estado. Dilma: Insistir na universalidade dos serviços, sobretudo de educação e saúde, e fazer com que os trabalhadores e a classe média se juntem na defesa deles. Na saúde, fazer do SUS uma rede de especialistas e de especialidades, não apenas de serviço básico. E impedir que a minoria que está nos planos seja subsidiada pela maioria que está no SUS. Na segurança, unir as polícias entre si e com as comunidades. Crime desaba com presença policial e organização comunitária. A partir daí, encontrar maneiras para engajar a população, junto do Estado, na qualificação dos serviços de saúde, educação e segurança.
4. Educação. Aécio: Adotar práticas empresariais para melhorar, pouco a pouco, o desempenho das escolas, medido pelas provas internacionais, com o objetivo de formar força de trabalho mais capaz.
Dilma: A onda da universalização do ensino terá de ser seguida pela onda da qualificação. Acesso e qualidade só valem juntos. Prática empresarial, porém, tem horizonte curto e não resolve. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia indicam o caminho: substituir decoreba por ensino analítico. E juntar o ensino geral ao ensino profissionalizante em vez de separá-los. Construir, do fundamental ao superior, escolas de referência. A partir delas, trabalhar com Estados e municípios para mudar a maneira de aprender e ensinar.
5. Política regional. Aécio: Política para região atrasada é resquício do nacional-desenvolvimentismo. Tudo o que se pode fazer é conceder incentivos às regiões atrasadas. Dilma: Política regional é onde a nova estratégia nacional de desenvolvimento toca o chão. Não é para compensar o atraso; é para construir vanguardas. Projeto de empreendedorismo emergente para o Nordeste e de desenvolvimento sustentável para a Amazônia representam experimentos com o futuro nacional.
6. Política exterior. Aécio: Conduzir política exterior de resultados, quer dizer, de vantagem comerciais. E evitar brigar com quem manda. Dilma: Unir a América do Sul. Lutar para tornar a ordem mundial de segurança e de comércio mais hospitaleira às alternativas de desenvolvimento nacional. E, num movimento em sentido contrário, entender-nos com os EUA, inclusive porque temos interesse comum em nos resguardar contra o poderio crescente da China. Política exterior é ramo da política, não do comércio. Poder conta mais do que dinheiro.
7. Forças Armadas. Aécio: O Brasil não precisa armar-se porque não tem inimigos. Só precisa deixar os militares contentes e calmos. Dilma: O Brasil tem de armar-se para abrir seu caminho e poder dizer não. Não queremos viver em mundo onde os beligerantes estão armados e os meigos indefesos.
8. O público e o privado. Aécio: Independência do Banco Central e das agências reguladoras assegura previsibilidade aos investidores e despolitiza a política econômica. Dilma: A maneira de desprivatizar o Estado não é colocar o poder em mãos de tecnocratas que frequentam os grandes negócios. É construir carreiras de Estado para substituir a maior parte dos cargos de indicação política. E recusar-se a alienar aos comissários do capital o poder democrático para decidir.
Aécio propõe seguir o figurino que os países ricos do Atlântico Norte nos recomendam, porém nunca seguiram. Nenhum grande país se construiu seguindo cartilha semelhante. Certamente não os EUA, o país com que mais nos parecemos. Ainda bem que o candidato tem estilo conciliador para abrandar a aspereza da operação.
Dilma terá, para honrar sua mensagem e cumprir sua tarefa, de renovar sua equipe e sua prática, rompendo a camisa de força do presidencialismo de coalizão. E o Brasil terá de aprender a reorganizar instituições em vez de apenas redirecionar dinheiro. Ainda bem que a candidata tem espírito de luta, para poder aceitar pouco e enfrentar muito.
Estão em jogo nossa magia, nosso sonho e nossa tragédia. Nossa magia é a vitalidade assombrosa e anárquica do país. Nosso sonho é ver a vitalidade casada com a doçura. Nossa tragédia é a negação de instrumentos e oportunidades a milhões de compatriotas, condenados a viver vidas pequenas e humilhantes. Que em 26 de outubro o povo brasileiro, inconformado com nossa tragédia e fiel a nosso sonho, escolha o rumo audacioso da rebeldia nacional e afirme a grandeza do Brasil."
Roberto Mangabeira Unger, 67, professor na Universidade Harvard (EUA), é autor do manifesto de fundação do PMDB e ativista em Rondônia. Foi ministro de Assuntos Estratégicos (governo Lula)
"Por que votar em Dilma?"
"O povo brasileiro escolherá em 26 de outubro entre dois caminhos.
As duas candidaturas compartilham três compromissos fundamentais, além do compromisso maior com a democracia: estabilidade macroeconômica, inclusão social e combate à corrupção. Diferem na maneira de entender os fins e os meios. Diz-se que a candidatura Aécio privilegia estabilidade macroeconômica sobre inclusão social e que a candidatura Dilma faz o inverso. Esta leitura trivializa a diferença.
Duas circunstâncias definem o quadro em que se dá o embate. A primeira circunstância é o esgotamento do modelo de crescimento econômico no país. Este modelo está baseado em dois pilares: a ampliação de acesso aos bens de consumo em massa e a produção e exportação de bens agropecuários e minerais, pouco transformados. Os dois pilares estão ligados: a popularização do consumo foi facilitada pela apreciação cambial, por sua vez possibilitada pela alta no preço daqueles bens. Tomo por dado que o Brasil não pode mais avançar deste jeito.
A segunda circunstância é a exigência, por milhões que alcançaram padrões mais altos de consumo, de serviços públicos necessários a uma vida decente e fecunda. Quantidade não basta; exige-se qualidade.
As duas circunstâncias estão ligadas reciprocamente. Sem crescimento econômico, fica difícil prover serviços públicos de qualidade. Sem capacitar as pessoas, por meio do acesso a bens públicos, fica difícil organizar novo padrão de crescimento.
O país tem de escolher entre duas maneiras de reagir. Descrevo-as sumariamente interpretando as mensagens abafadas pelos ruídos da campanha. Ficará claro onde está o interesse das maiorias. O contraste que traço é complicado demais para servir de arma eleitoral. Não importa: a democracia ensina o cidadão a perceber quem está do lado de quem.
1. Crescimento econômico. Realismo fiscal e manutenção do sacrifício consequente são pontos compartilhados pelas duas propostas. Aécio: Ganhar a confiança dos investidores nacionais e estrangeiros. Restringir subsídios. Encolher o Estado. Só trará o crescimento de volta quando houver nova onda de dinheiro fácil no mundo. Dilma: Induzir queda dos juros e do câmbio, contra os interesses dos financistas e rentistas, sem, contudo, render-se ao populismo cambial. Usar o investimento público para abrir caminho ao investimento privado em época de desconfiança e endividamento. Apostar mais no efeito do investimento sobre a demanda do que no efeito da demanda sobre o investimento. Construir canais para canalizar a poupança de longo prazo ao investimento de longo prazo. Fortalecer o poder estratégico do Estado para ampliar o acesso das pequenas e médias empresas às práticas, às tecnologias e aos conhecimentos avançados. Dar primazia aos interesses da produção e do trabalho. Se há parte do Brasil onde este compromisso deve calar fundo, é São Paulo.
2. Capital e trabalho. Aécio: Flexibilizar as relações de trabalho para tornar mais fácil demitir e contratar. Dilma: Criar regime jurídico para proteger a maioria precarizada, cada vez mais em situações de trabalho temporário ou terceirizado. Imprensado entre economias de trabalho barato e economias de produtividade alta, o Brasil precisa sair por escalada de produtividade. Não prosperará como uma China com menos gente.
3. Serviços públicos. Aécio: Focar o investimento em serviços públicos nos mais pobres e obrigar a classe média, em nome da justiça e da eficiência, a arcar com parte do que ela custa ao Estado. Dilma: Insistir na universalidade dos serviços, sobretudo de educação e saúde, e fazer com que os trabalhadores e a classe média se juntem na defesa deles. Na saúde, fazer do SUS uma rede de especialistas e de especialidades, não apenas de serviço básico. E impedir que a minoria que está nos planos seja subsidiada pela maioria que está no SUS. Na segurança, unir as polícias entre si e com as comunidades. Crime desaba com presença policial e organização comunitária. A partir daí, encontrar maneiras para engajar a população, junto do Estado, na qualificação dos serviços de saúde, educação e segurança.
4. Educação. Aécio: Adotar práticas empresariais para melhorar, pouco a pouco, o desempenho das escolas, medido pelas provas internacionais, com o objetivo de formar força de trabalho mais capaz.
Dilma: A onda da universalização do ensino terá de ser seguida pela onda da qualificação. Acesso e qualidade só valem juntos. Prática empresarial, porém, tem horizonte curto e não resolve. Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia indicam o caminho: substituir decoreba por ensino analítico. E juntar o ensino geral ao ensino profissionalizante em vez de separá-los. Construir, do fundamental ao superior, escolas de referência. A partir delas, trabalhar com Estados e municípios para mudar a maneira de aprender e ensinar.
5. Política regional. Aécio: Política para região atrasada é resquício do nacional-desenvolvimentismo. Tudo o que se pode fazer é conceder incentivos às regiões atrasadas. Dilma: Política regional é onde a nova estratégia nacional de desenvolvimento toca o chão. Não é para compensar o atraso; é para construir vanguardas. Projeto de empreendedorismo emergente para o Nordeste e de desenvolvimento sustentável para a Amazônia representam experimentos com o futuro nacional.
6. Política exterior. Aécio: Conduzir política exterior de resultados, quer dizer, de vantagem comerciais. E evitar brigar com quem manda. Dilma: Unir a América do Sul. Lutar para tornar a ordem mundial de segurança e de comércio mais hospitaleira às alternativas de desenvolvimento nacional. E, num movimento em sentido contrário, entender-nos com os EUA, inclusive porque temos interesse comum em nos resguardar contra o poderio crescente da China. Política exterior é ramo da política, não do comércio. Poder conta mais do que dinheiro.
7. Forças Armadas. Aécio: O Brasil não precisa armar-se porque não tem inimigos. Só precisa deixar os militares contentes e calmos. Dilma: O Brasil tem de armar-se para abrir seu caminho e poder dizer não. Não queremos viver em mundo onde os beligerantes estão armados e os meigos indefesos.
8. O público e o privado. Aécio: Independência do Banco Central e das agências reguladoras assegura previsibilidade aos investidores e despolitiza a política econômica. Dilma: A maneira de desprivatizar o Estado não é colocar o poder em mãos de tecnocratas que frequentam os grandes negócios. É construir carreiras de Estado para substituir a maior parte dos cargos de indicação política. E recusar-se a alienar aos comissários do capital o poder democrático para decidir.
Aécio propõe seguir o figurino que os países ricos do Atlântico Norte nos recomendam, porém nunca seguiram. Nenhum grande país se construiu seguindo cartilha semelhante. Certamente não os EUA, o país com que mais nos parecemos. Ainda bem que o candidato tem estilo conciliador para abrandar a aspereza da operação.
Dilma terá, para honrar sua mensagem e cumprir sua tarefa, de renovar sua equipe e sua prática, rompendo a camisa de força do presidencialismo de coalizão. E o Brasil terá de aprender a reorganizar instituições em vez de apenas redirecionar dinheiro. Ainda bem que a candidata tem espírito de luta, para poder aceitar pouco e enfrentar muito.
Estão em jogo nossa magia, nosso sonho e nossa tragédia. Nossa magia é a vitalidade assombrosa e anárquica do país. Nosso sonho é ver a vitalidade casada com a doçura. Nossa tragédia é a negação de instrumentos e oportunidades a milhões de compatriotas, condenados a viver vidas pequenas e humilhantes. Que em 26 de outubro o povo brasileiro, inconformado com nossa tragédia e fiel a nosso sonho, escolha o rumo audacioso da rebeldia nacional e afirme a grandeza do Brasil."
Roberto Mangabeira Unger, 67, professor na Universidade Harvard (EUA), é autor do manifesto de fundação do PMDB e ativista em Rondônia. Foi ministro de Assuntos Estratégicos (governo Lula)
7 comentários:
A proposta da Dilma é melhor, ainda mais dita assim pelo Mangabeira Unger. Mas nem ela nem Lula fizeram a maior parte dela e temo que nos próximos quatro anos, se vencerem, também não o farão. Há quesitos que sequer sinalizam o compromisso, como o tocante a ampliação do "acesso das pequenas e médias empresas às práticas, às tecnologias e aos conhecimentos avançados". O governo atual quer crescimento mas não gosta da empresa. Não acredito que fará o que preconiza o professor de Harvard e findo os quatro anos, repetirá o discurso dizendo ser Lula o preposto. Balela.
A proposta do Aécio é precária e claramente inferior. Loteará o país com o que há de pior no empresariado brasileiro. O candidato mineiro é ainda mais favorável aos rentistas e com eles governará.
Não sei em quem votar.
Santa asneira, Batman.
Putz...Se foi neste governo que o empresariado médio, pequeno e grande tiveram o maior impulso e expansão...
Agora, se "gostar" significa "abrir" as "pernas fiscais" e desregulamentar direitos não dá...
Engraçado é este pessoal do empresariado: quer liberdade total ao mercado, desde que tutelado(bancado) pelo dind-din dos impostos...contra os quais adoram reclamar...
A maior questão não é a Dilma, e sim o PT e a corrupção que está na cúpula. Votar no PT é dar OK para a roubalheira continuar!!! E isso é insustentável. Quem está derrubando a Dilma não é o Aecio, e sim o PT e ela mesma, passiva diante do PT
Assim como Mangabeira Unger, perguntou, "porquê votar em Dilma ?
O anônimo tem o direito de fazer uma pergunta ao contrário:
Porquê não votar em Dilma ? Existem n motivos para não votar em Dilma.
Caro Robin:
Gostar não significa abrir pernas. Sabemos que pode-se abrir pernas mesmo sem gostar.
Quanto aos impostos e menos estado sou contra a cantilena empresarial segundo a qual os impostos são altos e devemos ter estado mínimo. O imposto não é alto. É desigual. Uns pagam e outros não, e só cretinos podem achar que a sociedade se faz sem impostos. Devemos rever a burocracia e o excesso de procedimentos e obrigações acessórias. E, claro, cobrar a contrapartida do estado numa correta aplicação dos recursos. O mais é chororô.
Quanto ao estado mínimo ele simplesmente não existe. É conversa fiada de quem quer viver sem regulamentação e isto está na cartilha dos bancos e rentistas cujo capital flutua para onde tiver menos regras, na tentativa de perpetuar sua acumulação infinita na farra dos derivativos.
O debate é longo mas é preciso fazer ver ao Robin de lupa que nem todos são iguais. Há quem goste de trabalhar.
Ele erra quanto às pequenas empresas em sua maioria. É evidente que algumas empresas prosperaram. Mormente as grandes. Olhe em volta e esqueça um pouco os sites oficiais até porque já erraram feio. Você sabe que devemos ter cautela com as estatísticas.
Prefira o mundo real e me diga onde você está vendo pequenas industrias com acesso a tecnologia de ponta, boa rentabilidade, mão-de-obra qualificada disponível e cumprindo eticamente as obrigações fiscais e demais direitos?
Basta ver como a industria da nossa região sucumbiu ou se sustenta a duras penas.
Se o nobre debatedor souber a resposta da primeira pergunta, caberia uma pequena outra sobre o porque não abriu uma empresa, mas esta eu já ssaberia a resposta: sou concursado, bla, bla bla...
Quem esta prosperando, menino prodígio, não é o setor produtivo. São os rentistas. E estes, não vi governo algum enfrentar.
Um abraço.
Caro coringa, (ou será charada)?
Os dados disponíveis sobre as pequenas, micro e empresas individuais não são de sites oficiais (do governo), mas sim do SEBRAE, entidade do próprio setor:
- A longevidade das empresas aumentou, o que significa que houve expansão da atividade econômica.
- O nível de emprego está em números bem altos, o que significa que as pequenas (que historicamente são as maiores geradoras) estão em plena capacidade.
- O aumento da receita dos impostos significa que há aumento da rentabilidade das empresas, pois não houve aumento das alíquotas, embora eu possa aceitar que possa ter havido uma maior cobrança.
Mas se houve este aperto na cobrança e mesmo assim as empresas permanecem funcionando, tudo leva a crer que a atividade econômica é virtuosa.
Mas vamos ao debate proposto:
Primeiro erro grave:
Pequena e média empresa geralmente estão ligadas ao setor de serviços e não a transformação (secundária), logo, reclamar de tecnologias e mão-de-obra qualificada é infrutífero, porque este setor tem baixa demanda por tecnologia e absorve a parte menos educada da mão-de-obra de reserva(por isto qualquer idiota pode abrir uma pequena empresa, o que não quer dizer que os pequenos empresários sejam todos idiotas...só alguns).
O problema da concentração de riqueza e de recursos (tecnológicos) nas empresas grandes não é culpa do governo, mas está na essência do capitalismo, ou seja, de cada 1000 pequenas empresas, duas ou três avançarão a um estágio mais alto.
Para implantar um ambiente diferente (com recursos e tecnologia bancados pelo governo) para os pequenos temos que avançar na desconstrução do capitalismo, é esta sua proposta?
O primeiro governo que enfrentou os rentistas foi justamente os do PT, pois é bom lembrar que a taxa de juros já chegou a 45% anuais no período "paradisíaco" de fhc e seus privatistas.
Sabemos o que aconteceu quando Dilma colocou os juros em 2% ao ano (descontada a inflação) ou 7.5% ao ano...foi um deus nos acuda, terrorismo inflacionário, ana maria braga de colar de tomates, etc, etc.
E ninguém é bobo: entre a "estabilidade política", que é refém da "mídia" e dos boçais da "opinião pública", e a "coragem", o governante (por mais corajoso que seja) opta pela estabilidade e pela mudança "parcelada" e negociada...O nome disto é Democracia.
Na China não tem esta conversa...Mas a Chine é a China e eu estou satisfeito em morar aqui...
Sou capaz de apostar que boa parte do empresariado pequeno e médio estava engrossando a "opinião pública" de que estávamos a beira do caos...como faz até hoje...
O nobre charada deveria estudar História: Nossa região nunca teve tradição de força na pequena e média indústria (e nem grande), salvo a ligada ao setor canavieiro, que sabemos todos, faliu não por falta de intervenção estatal ou de demanda, mas sim pelo apetite predador e parasitário das elites locais...
Agora este debate parece meio fora de foco...afinal, não é o mercado que deveria regular quem ganha e quem perde?
Sabe porque eu não abri uma empresa? Não me acho competente para tanto...
O problema é quem abre, se acha competente e depois fica chorando ajuda dos cofres públicos...
A minha proposta é justamente a desconstrução do capitalismo.
Att
Charada.
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