Esse é o principal motivo de optar pela sua publicação. Ele remete a uma questão que vendo de perto, por mais de dois meses seguidos, me pergunto sempre: por que a luta pela inclusão social e por um estado de bem-estar incluindo "toda gente" não tem que continuar a ser perseguida como prioridade.
O caso europeu não deve ser modelo até pela crise atual, mas, serve para clarear caminhos, especialmente, quando se vê a forma como vive a atual crise, de certa forma, caminhando por desfazer uma parte das boas coisas feitas. Por aqui, obras públicas em maior quantidade e a construção civil continua sendo a regra básica para evitar o colapso.
Porém, voltemos ao debate do caso da luta politica brasileira pelo poder. Poder sim. Poder de fazer as coisas. Que coisa? Para quem? Com qual sentido? Que novas (velhas) utopias nos continuarão a servir de sonhos e de alimento para o fazer política cotidianamente.
Antes do texto original, eu transcrevo abaixo um comentário do perfil do Marcelo Vianna sobre o tema que me instigou a refletir sobre a situação da Europa comparativamente com o Brasil e a decidir publicar o texto aqui no blog:
"Correntes da literatura especializada em ciência política avaliam que o PT ao chegar ao governo federal caminhou para uma agenda de "reformismo fraco" que emula o antigo PTB, reivindicando os programas de inclusão e compensação social implementados massivamente como sua marca.
Nesse contexto, o PSDB caminhou na direção oposta, rumo ao velho udenismo, adotando uma agenda elitista, instrumentalmente moralista e algo autoritária, pois rejeita os mecanismos de participação social. Ainda não descambou para um lacerdismo golpista, mas essa movimentação de parte dos eleitores, ainda que muito minoritária, assusta.
Para confirmar isso, observe-se a perplexidade do Gianotti diante das posições excludentes das cabeças pensantes tucanas em reunião no Instituto FHC para pensar programas do PSDB.
O PSDB está virando um partido de liberalismo de casa grande, que emula o mofo do movimento de 32."
Agora o texto Edmilson Lopes Júnior, publicado no Terra Magazine e também no blog "Viomundo":
"O que pretendem fazer com esta gente"
"Na última semana, um encontro promovido pelo Instituto Fernando Henrique reuniu antigos dirigentes da área econômica e intelectuais tucanos para diagnosticar os principais problemas econômicos do país e, se possível, apontar propostas substantivas para uma alternativa ao que vem sendo feito desde que o Lula tomou posse em 2003. O título do evento não poderia ser mais pomposo: “Transição incompleta e dilemas da (macro) economia brasileira”.
Os “pais do Real”, hoje aboletados nas direções de bancos e fundos de gestão, não trouxeram a esperada luz que iluminaria o escuro caminho da oposição. Com a notável exceção de Pérsio Arida, que apontou a necessidade de uma revisão das regras de gestão e de aplicação dos recursos dos fundos dos trabalhadores (FGTS e FAT), os demais pisaram sobre terreno por demais batido. Queriam mais do mesmo: redução dos gastos públicos. Houve até quem propusesse que abandonássemos a perseguição do modelo de estado de bem-estar (welfare state) europeu.
Nós, que jamais tivemos welfare-state de verdade, deveríamos abandonar a ilusão de realizá-lo. Essa proposição, em um encontro de intelectuais de um partido que carrega no nome o peso da definição socialdemocrata, é, por si só, reveladora. Se a democracia social europeia não deve nos orientar como modelo, para qual direção devemos mirar? Para a China, onde o milagre do crescimento econômico se faz à custa de uma força de trabalho submetida a regimes de trabalho semiescravo? Ou, quem sabe, para os EUA, onde, trinta anos de enxugamento dos gastos sociais e de acentuada concentração de rendas não livraram o país de uma crise que ameaça arrastar o resto do mundo?
O melhor relato do encontro tucano foi feito pela jornalista Maria Cristina Fernandes, colunista de política do jornal Valor Econômico. Segundo ela, após Pedro Malan ter afirmado, certamente com a candura e objetividade de sempre, que “os que tinham a Europa como modelo vão precisar rever os seus conceitos”, o filósofo José Arthur Giannotti não conseguiu se conter e, dirigindo-se ao conjunto dos economistas, indagou: “Desde o último artigo que li de Gustavo Franco tive a impressão de que vocês descreem da impossibilidade de se prover o welfare state. Mas o que pretendem fazer com essa gente?”.
Ao que parece, os emplumados economistas preferiram dar de ombros diante da pergunta do filósofo. Giannotti, como bom filósofo, resumiu em sua pergunta o dilema que devora parte do campo político brasileiro. Ora, se a oposição não sabe o que pretende fazer com “essa gente”, por que diabos “essa gente” vai querer algo com essa oposição?
O que resta para essa oposição, já que não dá para nenhum político, em pleno domínio de suas faculdades mentais, sair por aí repicando as receitas de Pedro Malan e Gustavo Franco, é procurar casos de corrupção no Governo para denunciar. O moralismo, ao contrário do que muitos pensam, não é uma opção. É o que resta como discurso para uma oposição que, após oito anos, ainda não descobriu o que “fazer com essa gente”.
Para confirmar isso, observe-se a perplexidade do Gianotti diante das posições excludentes das cabeças pensantes tucanas em reunião no Instituto FHC para pensar programas do PSDB.
O PSDB está virando um partido de liberalismo de casa grande, que emula o mofo do movimento de 32."
Agora o texto Edmilson Lopes Júnior, publicado no Terra Magazine e também no blog "Viomundo":
"O que pretendem fazer com esta gente"
"Na última semana, um encontro promovido pelo Instituto Fernando Henrique reuniu antigos dirigentes da área econômica e intelectuais tucanos para diagnosticar os principais problemas econômicos do país e, se possível, apontar propostas substantivas para uma alternativa ao que vem sendo feito desde que o Lula tomou posse em 2003. O título do evento não poderia ser mais pomposo: “Transição incompleta e dilemas da (macro) economia brasileira”.
Os “pais do Real”, hoje aboletados nas direções de bancos e fundos de gestão, não trouxeram a esperada luz que iluminaria o escuro caminho da oposição. Com a notável exceção de Pérsio Arida, que apontou a necessidade de uma revisão das regras de gestão e de aplicação dos recursos dos fundos dos trabalhadores (FGTS e FAT), os demais pisaram sobre terreno por demais batido. Queriam mais do mesmo: redução dos gastos públicos. Houve até quem propusesse que abandonássemos a perseguição do modelo de estado de bem-estar (welfare state) europeu.
Nós, que jamais tivemos welfare-state de verdade, deveríamos abandonar a ilusão de realizá-lo. Essa proposição, em um encontro de intelectuais de um partido que carrega no nome o peso da definição socialdemocrata, é, por si só, reveladora. Se a democracia social europeia não deve nos orientar como modelo, para qual direção devemos mirar? Para a China, onde o milagre do crescimento econômico se faz à custa de uma força de trabalho submetida a regimes de trabalho semiescravo? Ou, quem sabe, para os EUA, onde, trinta anos de enxugamento dos gastos sociais e de acentuada concentração de rendas não livraram o país de uma crise que ameaça arrastar o resto do mundo?
O melhor relato do encontro tucano foi feito pela jornalista Maria Cristina Fernandes, colunista de política do jornal Valor Econômico. Segundo ela, após Pedro Malan ter afirmado, certamente com a candura e objetividade de sempre, que “os que tinham a Europa como modelo vão precisar rever os seus conceitos”, o filósofo José Arthur Giannotti não conseguiu se conter e, dirigindo-se ao conjunto dos economistas, indagou: “Desde o último artigo que li de Gustavo Franco tive a impressão de que vocês descreem da impossibilidade de se prover o welfare state. Mas o que pretendem fazer com essa gente?”.
Ao que parece, os emplumados economistas preferiram dar de ombros diante da pergunta do filósofo. Giannotti, como bom filósofo, resumiu em sua pergunta o dilema que devora parte do campo político brasileiro. Ora, se a oposição não sabe o que pretende fazer com “essa gente”, por que diabos “essa gente” vai querer algo com essa oposição?
O que resta para essa oposição, já que não dá para nenhum político, em pleno domínio de suas faculdades mentais, sair por aí repicando as receitas de Pedro Malan e Gustavo Franco, é procurar casos de corrupção no Governo para denunciar. O moralismo, ao contrário do que muitos pensam, não é uma opção. É o que resta como discurso para uma oposição que, após oito anos, ainda não descobriu o que “fazer com essa gente”.
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