domingo, novembro 02, 2014

Porto de Roterdã na Holanda

Estou na Europa já há dois meses, como disse em postagem aqui, no dia 3 de setembro, em comunicado aos leitores e colaboradores do blog, a respeito de minhas pesquisas e estudos sobre os sistemas portuários e sua relação com a economia global.

O apoio à minha pesquisa sobre este setor da economia global está se dando aqui na Universidade de Barcelona, mais especificamente, em sua Faculdade de Geografia, e tem como objetivos: a conclusão de tese de doutorado no PPFH-UERJ e o aprofundamento das investigações sobre projetos portuários na região sudeste, e em especial no Estado do Rio de Janeiro.

Aqui na Europa, além de contato com a bibliografia e professores com experiência e desenvolvimento de pesquisas sobre sistemas portuários e sua relação com a economia e as regiões, eu estou indo ver de perto a realidade das cidades-regiões portuárias, observando as mudanças e suas realidades na economia contemporânea. Assim, estivem em cinco portos espanhóis (Barcelona, Tarragona, Valência, Málaga e Algeciras).

Do sul da Espanha também estive no Marrocos e de forma especial, visitei a cidade de Tanger com seu grande porto Tanger-Mediterrâneo que busca espaço nos fluxos globais de cargas na entrada deste oceano e também na integração intermodal de cargas para outros países africanos.

Mais adiante, se houver interesse deverei comentar aqui de forma resumida sobre a realidade destes portos e suas cidades. Porém, estando aqui em Roterdã, na Holanda, desde quinta-feira, eu não poderia deixar de fazer um breve registro sobre este que é mais que um porto. Na verdade, trata-se do principal complexo marítimo do mundo ocidental.

Até o meio da década passada era o porto com maior movimentação do mundo. Depois disso com a ampliação da reestruturação produtiva em direção à Ásia, não apenas com Japão, mas também através da Coreia, Singapura, e especialmente, a China estes portos ultrapassaram Roterdã em movimentação de cargas. Porém, é possível que eles não tenham maior porte e estrutura de sua zona industrial integrada ao sistema portuário, que no caso de Roterdã está também integrado às cidades que margeiam o Rio Mass.

Uma característica interessante é que o Estado está presente em tudo do Porto de Roterdã, embora as indústrias ao redor sejam do setor privado. O governo central holandês tem 30% da autoridade portuária, enquanto, os outros 70% são de propriedade das cidades onde o porto está instalado. A gestão é dirigida por três diretores que respondem a um conselho de administração, indicado pelos gestores públicos. A receita anual do Porto de Roterdã é de cerca de 600 milhões de euros.

Entre as diversas indústrias, além da naval e siderúrgica e outras do setor metal mecânica, há ainda a forte presença do setor químico e petroquímico com a presença de cinco refinarias que recebem petróleo dos petroleiros e de uma imensa rede de dutos (pipelines) que se liga a diversos países europeus.

O porto de Roterdã é antigo tem cerca de 600 anos, mas, foi depois da Segunda Guerra Mundial quando a cidade foi violentamente atingida pelos bombardeios que a ampliação do porto para sua característica de hub-port (porto de distribuição) e MIDAs (Maritime Industrial Development Areas – Área de Desenvolvimento Industrial Marítimo ou ZIP – Zona Industrial Portuária) se deu. De forma mais significativa o marco desta ampliação é considerado o ano de 1958.

O Porto de Roterdã tem outra característica muito interessante ele é marítimo e também fluvial. Ele sai no mar, mas, toda esta área portuária com píeres e terminais que somam mais de 150 km e uma área que abrangeria mais de 100 Km² fica ao longo dos rios Mass (principalmente) e Reno.

O canal de acesso fluvial tem 55 quilômetros e nele é feito dragagem 24 horas por dia, todos os dias do ano, para garantir um calado entre 20 e 24 metros para permitir o acesso de grandes navios conteineiros, graneleiros e petroleiros possam se movimentar.

É conhecida mundialmente a habilidade holandesa para construção de canais e portos, usando dragagens, assim como para a construção naval e movimentação de embarcações, sem falar no traquejo com o comércio e controle financeiro e bancário.

Assim, mais que movimentar cargas e ser um ponto de distribuição entre a Europa e outros continentes, ou mesmo entre os países europeus, o Porto de Roterdã sustenta, mesmo na crise, uma boa fatia da economia capitalista desde o pós-guerra.
Roterdã se tornou uma cidade interessante. É considerada ícone em arte, arquitetura e inovação e faz uma boa mistura entre a tradição holandesa e o pós-moderno. Evidentemente que todos conhecem o alto padrão de vida do norte da Europa (que leva a um bom debate), porém, vale o registro a forma como este gigantismo em termos de indústria e logística convive razoavelmente bem com a cidade e seu povo.

Roterdã tem aspecto de metrópole, mas tem apenas pouco mais que 600 mil habitantes. O fato de ser uma autoridade portuária pública e da regulação ser bem azeitada nas três esferas de governo devem ajudar a explicar o cuidado e as medidas de mitigação dos impactos e de efetiva “sustentabilidade” dos projetos que se vê aqui implantado.

É evidente que uma visita de quatro dias não dá para ver tudo e nem se saber dos vários problemas que deve existir. Porém, é perceptível identificar diferenças, mesmo no sistema capitalista. Além de ver o território em parte do entrono do porto, eu tive oportunidade de circular por embarcações por mais de 30 quilômetros pelo canal de acesso, terminais e píeres entre as indústrias, empresas de logística, administração e controle portuário e zonas de moradia. 

É interessante perceber esta convivência e vizinhança entre prédios industriais, terminais portuários, praças, prédios de moradia e comércio, tendo ainda entre eles diversos canais que são navegáveis e pelos quais circulam water-táxi e water-bus com linhas regulares e de curtas e médias distâncias.

Enfim, há mais a falar e comentar sobre o assunto, em especial, a minha observação mais detalhada para a relação porto-petróleo, mas, vou deixar para outra postagem. Também vale lembrar que o Porto de Roterdã tem no Brasil, um projeto consorciado com empresas brasileiras, que está em fase de licenciamento, para instalação do Porto Central, no município de Presidente kennedy, ES. Além disso, para articular movimentação de cargas entre os continentes, o porto de Roterdã também desenvolve outro projeto, soba a forma de joint-venture em Dubai.

Amanhã, ainda observarei um pouco mais de Roterdã e em seguida de trem ou ônibus seguirei para outra importante cidade portuária européia: Antuérpia na Bélgica. Junto com o porto alemão de Hamburgo, a Antuérpia é também concorrente direto do Porto de Roterdã em movimentação de cargas.

Abaixo alguns breves registros fotográficos do trabalho de campo feito aqui em Roterdã. Até aqui já rendeu um acervo de mais de quase mil fotografias e pequenos vídeos. Evidentemente, a escolha de algumas seria um trabalho demorado, assim escolhi meio aleatoriamente algumas delas. É provável que mais adiante exponha aqui álbuns com uma seleção delas. Sigamos em frente!









2 comentários:

Anônimo disse...

O referido Porto Central, em Presidente Kennedy será voltado para a indústria do petróleo offshore? Os abrigará outros tipos de atividade?
Acho que este blog já citou esse projeto em outros posts. Teria como indicar os respectivos links?

Anônimo disse...

Boa noite tudo bem? Meu nome é Larissa, estudo Comércio Exterior e quero fazer um estudo de caso sobre o Porto de Roterdã, gostei muito do seu post, sabe me indicar algum livro que contenha mais informações?
Att,
Larissa Bispo