A cotação do petróleo Brent caiu abaixo de US$ 60 por barril. É a primeira vez que isto acontece em cinco anos.
O motivo continua a ser o excesso de oferta que a Organização dos Países Exportadores de Petróleo diz que não deverá ser reduzida, enquanto outros produtores continuam a expandir a produção.
De acordo com o Goldman Sachs, as companhias de petróleo americanas são beneficiadas quando os custos caem tão rapidamente quanto os preços.
Sobre o assunto Delfim Neto disse hoje em artigo que:
"Há uma enorme incerteza sobre os preços futuros do petróleo. As explicações vão desde fórmulas conspiratórias que unem o interesse político do Ocidente em “civilizar” a Rússia de Vladimir Putin com o interesse econômico dos países do Golfo de desestimularem a produção de pequenos fornecedores e inibir o desenvolvimento tecnológico de energias alternativas, até explicações “técnicas” que apelam para o aumento da oferta da qual fazem parte a Líbia, o Iraque, o Brasil, o México e, especialmente, os Estados Unidos, cuja produção, recentemente, tem crescido a 15% ao ano. Esse aumento da oferta tem sido acompanhado por uma simultânea queda da demanda da China e a estagnação do continente europeu".
Ainda sobre o assunto Delfim Neto avaliou as consequências disto para o Brasil:
Ainda sobre o assunto Delfim Neto avaliou as consequências disto para o Brasil:
"A redução do preço do petróleo, se durar, deve ser um fator positivo no crescimento do PIB no Brasil e no mundo, mas deve criar problemas para a exploração do pré-sal."
O advogado e especialista em Gestão Pública Marcelo Viana complementou com outros dados. Ao ver sua postagem eu comentei que blogueiros e facebucanos estão cada vez mais fazendo o papel de trazer informações que não nos chegam pelos caminhos da mídia comercial. Assim, permitem e nos oferecem uma possibilidade de análise mais ampla da realidade do cotidiano, diante daqueles que querem nos fazer ter única e exclusivamente a sua compreensão:
"Estive hoje na Transpetro a convite. Conheci o Centro Nacional de Acompanhamento Naval pelo qual a empresa monitora sua frota de 53 navios em tempo real. Tecnologia totalmente brasileira feita em parceria com a USP e com o polo de TI do Nordeste. Fui informado que a Petrobras está batendo seu recorde de produção de 2,3 milhões de barris dias, dos quais 750 mil vêm do pré-sal. A produção no pré-sal vem crescendo a impressionantes 7% ao mês. A tendência é do polo dinâmico da exploração migrar da Bacia de Campos, cujos poços são em regra maduros, para a Bacia de Santos. Graças às encomendas da Transpetro, a indústria naval brasileira já é a quarta em encomendas, a terceira em tamanho se considerarmos a demanda por petroleiros, atrás apenas da China e da Coreia do Sul.
Você sabia?
Em tempo: visitei também o centro de treinamento equipado com simuladores que impressionam
pela sofisticação, todos equipamentos patenteados pela empresa em parceria com a USP e empresas nacionais de TI.
Em tempo 2: lá me disseram que o petróleo do pré-sal é viável até US$ 40 o barril".
Por fim, mas não por último vale ler o texto do Luciano Martins Costa "Os dedos sujos de óleo", publicado originalmente, ontem no portal do Observatório da Imprensa:
por Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa, em 16/12/2014 na edição 829
"Os jornais fazem um retrato tenebroso da situação em que se encontra a Petrobras, um mês depois de revelada a extensão das negociatas que envolveram políticos, dirigentes da estatal e grandes empreiteiras que fazem parte de sua constelação de negócios. Os números são tão grandiosos que o leitor é incapaz de imaginar o volume de dinheiro desviado em negócios superfaturados.
O resultado é que, quanto mais atenção coloca no noticiário, menos capaz fica o cidadão de abranger todo o contexto. Na terça-feira (16/12), porém, surge uma ponta da meada que permite entender a lógica da imprensa: com seu valor reduzido seguidamente por conta do escândalo, sob ameaça de ações judiciais nos Estados Unidos e no Brasil, e ainda sob risco de ver seus principais fornecedores serem condenados e proscritos, analistas começam a afirmar que a estatal estaria impossibilitada de seguir explorando a reserva de pré-sal (ver aqui e aqui).
Como se sabe, os 149 mil km2 da província do pré-sal apresentam uma taxa de produtividade muito acima da média mundial e já são a fonte de quase 30% de todo o óleo extraído pela empresa. Feita a projeção de crescimento dos atuais 550 mil barris por dia em 25 poços produtores, daqui a três anos, com quase 40 poços ativos, o pré-sal deverá suprir 52% da oferta de petróleo no Brasil.
Num cenário em que o preço internacional do óleo cai abruptamente, cresce o valor estratégico da empresa brasileira justamente pelo fato de estar próxima de dar ao Brasil a oitava maior reserva do mundo, com 50 milhões de barris ou mais, qualificando o país como protagonista no setor.
Qual era a vantagem estratégica da Petrobras em relação às demais gigantes do setor? Exatamente o fato de possuir suas principais áreas de exploração em uma região sem conflitos militares, sem instabilidade política e plenamente conformada às normas e regulações internacionais. Até mesmo os riscos ambientais alardeados na década passada, quando foi anunciada a decisão de explorar as reservas de alta profundidade, foram desmentidos com o tempo.
O escândalo envolvendo a empresa a torna vulnerável a ataques de todos os tipos, mas principalmente abre caminho para as forças que têm interesse em alterar o marco regulatório do pré-sal.
Interesses poderosos
Há corrupção nos negócios da Petrobras? Certamente, muito do que tem sido noticiado nos últimos meses acabará sendo comprovado, mas há um aspecto que não vem sendo considerado pela imprensa: a corrupção é parte do processo de gestão do setor petrolífero em todo o mundo e, no caso presente, a estatal brasileira se encontra no papel de vítima. Portanto, há uma distorção no noticiário que esconde muito mais do que o propósito de expor a relação deletéria entre negócios e política.
Embora os contratos de partilha do óleo de grande profundidade sejam geridos pela empresa Pré-Sal Petróleo S.A, criada como subsidiária da Petrobras para executar o novo marco regulatório, a operadora do sistema é a Petrobras. Cabe à estatal criada por Getúlio Vargas o ônus do processo de depuração que está em curso com as investigações que ocupam diariamente as manchetes dos jornais. Embora a maior parte dos danos seja debitada na aliança que governa o país desde 2003, principalmente ao Partido dos Trabalhadores, é o modelo do negócio que corre risco.
É pouco conhecido o fato de que a Petrobras não se tornou uma estatal com o novo marco regulatório: apenas 33% do capital pertencem ao Estado, e 67% estão em mãos privadas. O que mantém o controle da empresa em mãos do Estado é o fato de que este controla metade mais uma do total de ações com direito a voto, o que preserva a Petrobras como sociedade de economia mista.
Não é, então, a condição legal da empresa que pode mover interesses poderosos, mas o sistema de exploração do pré-sal: pelo modelo antigo, de concessão, as companhias concessionárias podiam fraudar facilmente os custos de extração, reduzindo a parcela a ser paga tanto em royalties ao Tesouro quanto em barris de petróleo a serem entregues ao sistema de refino e distribuição. O modelo de partilha, criado pelo novo marco regulatório de 2009, mantém sob controle mais rigoroso o usufruto dessa riqueza natural por parte do Brasil.
O bombardeio constante e diário de notícias sobre a corrupção esconde outros aspectos desse jogo."
Como se vê e se sabe, o assunto é amplo e importante tanto para o quadro nacional quanto da geopolítica global e não é preciso ser especialista para compreender que neste caso eles seguem juntos.
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