A forma de convivência nas cidades está mudando e muitas são as alterações. Uma delas mais comum nas grandes e médias cidades brasileiras é a presença dos shoppings como espaço não apenas de compra.
Já postei aqui pelo menos duas notas tratando do tema. Uma delas no auge do agora esquecido "rolezinho" que também falava do livro da Valquíria Padilha "Shopping center - a catedral das mercadorias".
Já na outra nota, o enfoque era para a realidade de Campos, onde a inexistência de um, ou dois parque municipais e outros equipamentos públicos (bibliotecas, cinemas e centros de esporte e cultura - algumas vilas esportivas até estão saindo, mas insuficientes) favorecia a shoppinização da vida da juventude. (Se desejar veja as notas: aqui e aqui)
Pois bem, eu volto ao tema agora para relembrar os temas acima, mas, para trazer um indicador divulgado pela Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce) que informa que em média, os brasileiros passam 76 minutos num shopping a cada visita e que "só 60% deles não vão fazer compras".
O indicador traz como quase tudo na vida, uma boa e uma má notícia que podem ser escolhidas como na conhecida brincadeira para se contar histórias.
Ficando apenas com a boa, a gente pode concluir como o poeta que a gente não quer só comida e compras. Ou seja, as pessoas, querem outras coisas, inclusive a convivência, além de lazer, arte, etc.
É evidente que os empresários já sacaram isso faz tempo. Começaram com as áreas de alimentação, descobriram que as lojas devem ter âncoras e serem diversificadas para atender todas (ou quase) necessidades do, neste caso, cliente.
Porém, o que quero chamar a atenção é que o indicador trazido pelos comerciantes de shoppings reforça a interpretação de que cada vez menos, as cidades oferecem estes espaços públicos às nossas populações que acabam capturadas pelo sentido da compra e do consumo como eixo nuclear de suas vidas.
Interessante ainda observar outro dado que também que alegra os comerciantes, que assim tentam quase mostrar a "imprescindibilidade" deste tipo de instalação (shoppings centers). Segundo eles, agora, como uma, agora, com uma característica mais humana e de preocupação com as pessoas.
Um outro dado diz que o número de pessoas que ia sozinha ao shopping caiu de 44%, em 2012, para 40%, em 2014. Interpretam com isso que o programa nos shoppings passaram a ser com a família e os amigos.
Não há com negar que essa é uma leitura que certamente redundará em novas estratégias de captura do cliente para as compras. Porém, o dado por outro lado, reforça a hipótese de que as famílias e não apenas os jovens, estão cada vez mais quase que restringindo as suas vidas ao trabalho (ou estudo) e shoppings centers. Há aí uma clara disputa entre a cidade e os shoppings pelo controle e pela socialização das pessoas.
Evidente que ao apresentar a hipótese e tentar torná-la mais compreensível este blogueiro exagera em sua argumentação. Porém, ao assim agir, o que tento provocar é um pouco o sentido de algumas coisas em nossas vidas, assim na linha de questionar o tipo de civilização que estamos optando por construir ou destruir.
Para encerrar quero lembrar que quando falo de civilização, eu não quero remeter às ações e o debate para o plano macro da geopolítica, da macroeconomia e dos sistemas políticos. Verdade que eles têm uma influência enorme em nossas escolhas e opções e na forma de ver a vida e ter nossos desejos.
Porém, a vida na comunidade, nos "nossos lugares" pode ser diferente e muito mais aprazível e agradável com a convivência entre pessoas diversas e em lugares públicos e seguros. E no caso, até podem conviver com este tipo de comércio.
O que não é aceitável é que eles venham se transformando quase que na única razão de viver, de crescer, estudar, arrumar emprego, ter renda, acumular para comprar e gastar até envelhecer, que é quando se diz que o shopping é boa alternativa para o idoso por ser mais seguro. É como diz Janot no artigo que cito aqui na primeira nota sobre o assunto: "não pode ser normal viver enfurnado em shoppings".
Assim, a luta a ser empreendida deriva da indagação: como devemos arrumar os lugares na cidade onde vivemos? Para responder a esta singela questão que remete ao presente, há que se pensar em civilização que está muito para além dos mandatos.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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4 comentários:
Acho que esta notícia merece um post. Nem só "desgraça ambiental" vive a Anglo:
"Ação conjunta entre Prefeitura, MP e Anglo American pode salvar hospital
25/02/2015 15h32
Fonte:
http://www.defatoonline.com.br/noticias/ultimas/25-02-2015/acao-conjunta-entre-prefeitura-mp-e-anglo-american-pode-salvar-hospital
Amigo,
Sobre esse assunto, e, como sei que gosta de ler, vale a pena visitar um livro da autora Beatriz Sarlo, intitulado "Cenas da vida pós-moderna", da editora UFRJ. Tem uma parte analisando de forma muito interessante os templos de consumo.
Abração.
Marcos Esquef
Valeu Esquef. Abração!
Valeu Esquef. Abração!
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