O professor Renato Sobral Barcellos do IFF Quissamã fez um comentário aqui na nota abaixo que o blog fez sobre a crise hídrica na região Sudeste. Pela relevância das questões levantadas entendemos que vale ter maior destaque o seu comentário, por isso trouxemos para esse espaço, aprofundando um pouco mais o tema que está na ordem do dia:
"Prezado Prof. Roberto Moraes,
Sou Prof. de Meio Ambiente do IFF Quissamã e alguns aspectos da escassez da água chamam atenção:
1) Há muito se observa a privatização da água tendo em vista sua elevação para um bem comercial. Neste aspecto diversos municípios já criaram suas concessionárias e observa-se a hegemonia da empresa Águas de... Neste contexto há o sucateamento da Cedae e a campanha de descrédito da imagem empresa por políticos e empresários;
2) Uma vez implantada a concessão, os custos dos serviços saltam: substituição de um hidrômetro que você compra ou tinha, sob alegação de fim do prazo de validade, é acompanhada pela retirada dele e a venda de um novo. No entanto o retirado é levado pela empresa. A válvula para saída do ar tem que ser instalada por técnico da concessionária e a partir da avaliação da necessidade. O custo gira em torno dos R$500,00;
3) Em Niterói, em conversa informal com um odontólogo, os moradores Bairro de Pendotiba já receberam orientação para fechar os poços. Agora são obrigados a utilizar somente água distribuída pela concessionária;
4) Acredito que, como o esgoto é cobrado a partir do consumo de água, ficaremos obrigados também a não consumir água de chuva, pois esta aumenta consideravelmente a produção de esgoto. Tais medidas foram implantadas na Bolívia pela empresa Bechtel e resultou em uma convulsão social que culminou com a saída da empresa do país;
5) Crítica: vive-se esta onda de fiscalização da população, pressão governamental, multas por excesso de consumo. Como argumentar esta orientação mercadológica das concessionárias quanto ao consumo águas de chuva e de poço se, justamente estas águas, por não terem a classificação especial como a água distribuída, seriam as mais indicadas para utilização racional para usos menos nobres, resguardando a água encanada para usos como dessedentação, culinária e outros?
Por fim, no pano de fundo do cenário de escassez (quantidade) e qualidade desdobram-se interesses no aumento da conta de água através da alteração do cálculo do valor logaritmo já existente e das multas por "excesso de consumo" não para coibir mas pela variação do valor de mercado que a água atingiu. Marcado pelo afastamento do Estado na política neoliberal e o desequilíbrio entre a oferta e procura a volatilidade relacionada ao desmatamento e todos os problemas ambientas há muito conhecidos, imputam um ônus aos moradores da cidade paralelamente que o campo consome 70% dos recursos hídricos para irrigação desobrigados dos custos abusivos observados nas cidades.
Abraços."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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