Os artigos são na prática, uma espécie de resumo expandido de investigações em andamento. Para atender à ideia de ser conhecida de um público mais amplo entre os seus critérios está a limitação do máximo de 5 mil caracteres incluindo título e espaços.
Ainda como regra subliminar são extraídas as referências teóricas utilizadas para a construção do conhecimento exposto na publicação. A ideia é que os mais interessados no assunto, possam buscar cm o autor e outros seus textos acadêmicos às linhas e os marcos utilizados em sua contribuição.
Uma proposta bastante interessante. Penso com as facilidades oferecidas pela internet, ela poderiam, com plataformas similares, serem utilizadas para aproximação da universidade com o grande público também no Brasil.
É oportuno lembrar que o objetivo não deve ser apenas o de mão única, para quem valoriza, exclusivamente, o saber acadêmico, mas, criando formas de trocas com os diversos outros setores da sociedade tanto as comunidades, quanto o setor produtivo e outras instituições.
O artigo abaixo foi apresentado para publicação no início de dezembro passado, ao final da etapa do doutorado sanduíche que teve como base a Universidade de Barcelona e como espaços de investigação os portos de: Roterdã, na Holanda, Antuérpia, na Bélgica, Tânger em Marrocos, além de cinco portos espanhóis.
O texto oferece pistas sobre meus atuais estudos e investigações a respeito do sistema portuário brasileiro, sua relação com os portos de outros continentes e a articulação de tudo isto, com a economia global.
No caso específico de minha investigação atual, eu continuo tentando compreender como esta realidade se vincula ao projeto político econômico nacional e às transformações produzidas por sua influência no território fluminense.
A exposição do mesmo também nesse espaço tem a função de compartilhar (como venho fazendo há anos) com colaboradores e leitores os dados, as minhas análises e interpretações, como forma de democratizar informações e partilhar discussões que de alguma forma possam ser úteis às pessoas e instituições. Assim, eu aguardo as críticas e sugestões.
A exposição do mesmo também nesse espaço tem a função de compartilhar (como venho fazendo há anos) com colaboradores e leitores os dados, as minhas análises e interpretações, como forma de democratizar informações e partilhar discussões que de alguma forma possam ser úteis às pessoas e instituições. Assim, eu aguardo as críticas e sugestões.
Portos demandam regulação
Ogigantismo naval levou ao gigantismo portuário com a massificação do transporte e a ampliação da fluidez das cargas. Assim, se tornaram fenômenos das colossais trocas comerciais e pós-reestruturação produtiva, que transformaram os portos em nós dorsais desta cadeia.
Novas infraestruturas e tecnologias garantem maior fluidez de mercadorias e do capital financeiro. As linhas comerciais mundiais são controladas por grandes operadores (os armadores). As cargas parecem caminhar para uma volatilidade equivalente a dos fluxos de capitais, que só se fixam nos territórios através instalações portuárias, quando atraídos por mais produtividade e lucros.
Os novos super-navios carregam até 19 mil contêineres exigindo terminais mais profundos, só atracando em poucos portos de rotas intercontinentais. Transportes de granéis sólidos (açúcar e soja) já estão sendo experimentados em grandes sacos (tipo “big-bag”), utilizando contêineres, ganhando também, maior fluidez nesse tipo de carga. Dos neo-panamax se caminhou para o chinamax, super-navios que levaram à ampliação do Canal do Panamá e a novos projetos chineses, nas rotas Atlântico-Pacífico: o canal na Nicarágua e uma ferrovia entre portos do Brasil e Peru.
Não é simples compreender que as exportações e o comércio mundial cresçam mais que o PIB das nações. Na economia cada vez mais mundializada, os contêineres e os portos simbolizam a espinha dorsal da globalização.
Paradoxalmente, crescem os volumes e os valores das mercadorias transportadas, ao mesmo tempo em que descem os valores dos fretes e aumenta a concentração dos operadores e das grandes corporações.
Na busca por produtividade, o setor portuário tende à especialização, superando a multifuncionalidade de interesse regional. Há mais demanda de solo portuário disputado na hinterlândia com o capital imobiliário, onde novos projetos de portos caminham para áreas litorâneas desurbanizadas e de menor valor.
A exploração offshore de petróleo se amplia para mais mares do mundo. Além disso, cerca de 2/3 do petróleo produzido e comercializado mundialmente circulam por cerca de 4.000 mil petroleiros. Tudo isso, exige mais portos de apoio, que são também pontos de conflitos e disputa estratégica nesta nova geopolítica mundial.
Portos com mais movimentação de cargas, necessariamente, não indicam ampliação da dinâmica econômica da região ou nação. A maior fluidez de cargas e produtividade nos portos leva desindustrialização a outros lugares, denotando ao inverso, preocupações e não comemorações. O caso europeu parece ser exemplo, não exclusivo. Assim, a produção industrial na China, Coréia e Cingapura cresce, enquanto cai na França, Inglaterra, Itália e Espanha, tendo os portos como instrumentos e símbolo.
Assim, nasceu uma nova geração de portos: o porto-indústria (que se denomina Maritime Industrial Development Areas, ou MIDAs). Parece também estar migrando espacialmente. Os baixos custos de produção e distribuição aumentaram a centralidade da Ásia, onde hoje estão nove dos dez portos com maior movimentação de contêineres do mundo.
O novo gigantismo portuário e sua maior fluidez de cargas, também reduziram o diálogo porto-região levando à interiorização, através da instalação dos portos secos.
Os portos da contemporaneidade, assim como as fábricas, possuem poucas pessoas. A operação portuária de cargas é robotizada e quase desumanizada. Só em terminais de cruzeiros há hoje um fluxo maior de pessoas.
A decisão sobre a localização de empreendimentos opera em novas racionalidades na escolha de espaços. O jogo das corporações não se submete às linhas das fronteiras. Os operadores portuários são globais e se conectam aos mercados internacionais, articulando rotas que ligam produtores a consumidores nos cinco continentes.
Vive-se tempo de aceleração da circulação do capital e de integração funcional dos espaços
Assim, vive-se tempo de aceleração da circulação do capital e de integração funcional dos espaços . O capital opera sobre os espaços em lógicas de menores conflitos, onde há reduzida presença de gente, resistências, questionamentos de impactos e pressões políticas.
Os dinheiros para toda esta operação vêm de fundos sem caras, voláteis e com enorme mobilidade entre portos e cargas. Os fundos se juntaram às grandes e globalizadastraders, forçando redução de tarifas modais, controlando fluxos, preços e lucros.
As traders articulam portos e capital financeiro, e também, controlam o fluxo de mercadorias, produtos (ou commodities) minerais e agrícolas, da produção à logística de distribuição e consumo. Assim, atuam como fazedoras de preço ou “made-price”, oligopolizando alguns comércios e também facilitando a sonegação e a corrupção.
Diante de tudo isto, é ilusão pensar que governos regionais possuem forças para atuar nesta imensa cadeia. Os portos, a circulação e a fluidez das mercadorias, a produção do valor, a inovação e o trabalho humano são partes imbricadas desse complexo sistema-mundo contemporâneo.
Tornou-se imperativa a necessidade de maior participação política e regulação sobre os portos, comércio e capital financeiro.
Não ignoremos o que está em curso ao planejar políticas públicas nas várias escalas. Tornou-se imperativa a necessidade de maior participação política e regulação sobre os portos, comércio e capital financeiro.
Para maiores informações:
PESSANHA, Roberto Moraes e outros: O MIDAs numa conjuntura de crescimento econômico do Brasil e crise econômica mundial: os portos transformados em complexos industriais, em Anais do II Congresso Internacional em Sociais e Humanidades, 2013, Belo Horizonte, Brasil.
PESSANHA, Roberto Moraes e outros: A Gênese do Complexo Logístico Industrial Porto do Açu: oportunidades e desafios para o desenvolvimento da Região Norte Fluminense, em Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, v. 10, p. 153–181, 2014.
Roberto Moraes Pessanha é engenheiro, professor do Instituto Federal Fluminense, doutorandoPPFH-UERJ e bolsista da Capes (PDSE).
Ficha bibliográfica:
PESSANHA, Roberto Moraes. Portos demandam regulação. GeocritiQ. 1 de febrero de 2015, nº 116. [ISSN: 2385–5096]. <http://www.geocritiq.com/2015/02/portos-demandam-regulacao/>
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