É importante ouvir a opinião do representantes dos empregados da maior empresa do país. Não foram eles que trouxeram a crise para dentro da empresa e não se sairá dela, sem a participação direta dos trabalhadores petroleiros.
Por Wanderley Preite Sobrinho — publicado 24/02/2015 02:38, última modificação 24/02/2015 10:37
“Funcionários da Petrobras viraram piada e governo não reage”
"A CartaCapital, o presidente da Federação Única dos Petroleiros fala sobre o impacto das investigações da Lava Jato sobre os trabalhadores da estatal e reclama do “silêncio” do governo"
"A CartaCapital, o presidente da Federação Única dos Petroleiros fala sobre o impacto das investigações da Lava Jato sobre os trabalhadores da estatal e reclama do “silêncio” do governo"
Por Wanderley Preite Sobrinho — publicado 24/02/2015 02:38, última modificação 24/02/2015 10:37
"Pelos corredores da Petrobras, perplexidade. Pelas ruas, silêncio. É assim que os funcionários da maior estatal brasileira vêm reagindo à repercussão da Operação Lava Jato, que investiga o desvio de dinheiro público por empresários, políticos e dirigentes da empresa. “Estão envergonhados”, admitiu em entrevista a CartaCapital José Maria Rangel, presidente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), representante de quase 500 mil trabalhadores diretos e indiretos da companhia.
Técnico de manutenção na estatal desde 1985, Rangel conta que, ultimamente, declarar-se funcionário da Petrobras pode terminar em piadas, especialmente porque o governo federal estaria calado diante das investidas da oposição. “Não é que o governo fala pouco, ele não fala.”
Na coordenação da entidade desde agosto do ano passado – cinco meses depois de deflagrada a operação –, Rangel tenta lembrar os trabalhadores do desempenho da estatal nos últimos anos, como sua importante participação no Produto Interno Bruto (PIB). O sindicalista também pede punição aos envolvidos no escândalo e a manutenção dos contratos com as empreiteiras: "O Brasil hoje consegue se movimentar sem elas?"
Leia a entrevista completa:
CartaCapital: Como os funcionários da Petrobras acompanham os escândalos na mídia?
José Maria Rangel: Estão todos perplexos. Muitos ficam envergonhados. Em geral os trabalhadores têm evitado falar sobre o assunto porque o debate ganhou as ruas. Quando você diz que trabalha na Petrobras, vem logo uma piadinha sobre a Lava Jato. O esquema de corrupção do Metrô de São Paulo pode ter desviado até mais dinheiro, mas a população não tem esse apego ao metrô porque a Petrobras é um símbolo nacional, mexe demais com a população.
CC: E como a entidade tenta mudar essa percepção entre os funcionários?
JMR: Estamos indo para a frente das fábricas debater o assunto direto com eles. Também distribuímos boletins só sobre esse assunto e organizamos reuniões. A gente mostra que eles e a Petrobras não podem ser confundidos com essa parcela podre da empresa, que precisa ser julgada e pagar pelos maus feitos. Mas também esclarecemos que essas manobras financeiras têm como pano de fundo o financiamento privado de campanhas políticas, já que esse tipo de corrupção na Petrobras existe desde o governo Fernando Henrique Cardoso, como indicam os testemunhos da Lava Jato. A gente também foca nos resultados da empesa.
CC: Como são esses resultados?
JMR: A Petrobras é a empresa de capital aberto que mais produz petróleo no mundo. Em maio ela vai receber um prêmio [Distinguished Achievement Award] por conta da tecnologia de perfuração no pré-sal. Em oito anos, passamos a extrair 800 mil barris no pré-sal, enquanto as empresas ao redor do mundo levam 15 anos para produzir a mesma quantidade. Até 2000, a participação do setor de petróleo e gás era de 3% no PIB brasileiro; hoje é de 13%.
CC: O senhor acha que o governo fala pouco sobre esses resultados?
JMR: Não é que o governo fala pouco, ele não fala. O governo está quieto. Aprendemos com o Lula que não se combate um momento difícil com corte de investimento, salário, emprego. O governo está permitindo que a Petrobras reduza investimentos. Avaliamos que o governo deveria assumir o papel de acionista majoritário e garantir os investimentos para melhorar os ativos da empresa e o desenvolvimento do País.
CC: E o papel da oposição?
JMR: Para mim, ela quer forçar a Petrobras a rever o sistema de partilha do pré-sal. Hoje, a Petrobras é operadora em todos os campos, o que significa que o governo pode contratar a estatal para explorar cada um deles. O que deseja o empresariado é que a empresa exploradora seja decidida em leilão. Quando isso acontece, a companhia que oferecer a melhor proposta leva o campo sob o risco de achar petróleo ou não. No pré-sal é diferente porque o risco de não encontrar é quase nula. Furou, achou.
CC: Mas a investigação desvalorizou os papéis da estatal na Bolsa...
JMR: O lucro da Petrobras foi de 3 bilhões de reais no terceiro trimestre de 2014. Caiu a margem, mas no mesmo período a estatal norueguesa Statoil ou as russas Rosneft e Gazprom tiveram prejuízo. O lucro em todo o setor vem caindo em razão da queda nos preços internacionais. Como a Petrobras não pratica volatilidade desses preços, essa queda da cotação do petróleo foi até benéfica para o Brasil. A estatal vem comprando os derivados mais barato lá fora e vendendo mais caro aqui. Até o ano passado ela pagava 100 dólares lá e jogava a 70 no mercado. Hoje compra a 58 e joga a 80.
CC: O senhor acha que as empresas que formam o cartel devem se afastar da Petrobras?
JMR: Na lógica que estão colocando, as empresas corromperam e devem ser afastadas, banidas do Cadastro Nacional (empresas aptas a fazer negócios com o poder público). Sob essa lógica, o mesmo deveria acontecer com a Petrobras. O que defendemos é que as pessoas responsáveis sejam punidas. O Brasil não tem como substituir essas empresas por companhias estrangeiras. Isso geraria conhecimento lá fora, remessas de divisas e emprego no exterior.
CC: Como os trabalhadores reagiram à substituição de Graça Foster por Aldemir Bendine na presidência da Petrobras?
JMR: Se o mercado reagiu mal é porque a escolha foi boa para nós. A FUP não pediu a cabeça da diretoria passada, masmudamos de ideia quando ela fez aquela confusão de números na apresentação do balanço do terceiro trimestre de 2014. Talvez pelo cansaço e exposição, mas era o momento de trocar.
CC: Bendine já se reuniu com os trabalhadores?
JMR: Até agora não tivemos nenhuma reunião com o novo presidente. Nós pedimos um encontro, mas não tivemos resposta. Ele assumiu tendo de fechar a contabilidade da empresa e administrar a morte de seis trabalhadores na explosão na plataforma no Espírito Santo [no último dia 11]. Mas nossa primeira impressão é de que ele tem uma visão abrangente e esperamos ser recebidos em breve.
Técnico de manutenção na estatal desde 1985, Rangel conta que, ultimamente, declarar-se funcionário da Petrobras pode terminar em piadas, especialmente porque o governo federal estaria calado diante das investidas da oposição. “Não é que o governo fala pouco, ele não fala.”
Na coordenação da entidade desde agosto do ano passado – cinco meses depois de deflagrada a operação –, Rangel tenta lembrar os trabalhadores do desempenho da estatal nos últimos anos, como sua importante participação no Produto Interno Bruto (PIB). O sindicalista também pede punição aos envolvidos no escândalo e a manutenção dos contratos com as empreiteiras: "O Brasil hoje consegue se movimentar sem elas?"
Leia a entrevista completa:
CartaCapital: Como os funcionários da Petrobras acompanham os escândalos na mídia?
José Maria Rangel: Estão todos perplexos. Muitos ficam envergonhados. Em geral os trabalhadores têm evitado falar sobre o assunto porque o debate ganhou as ruas. Quando você diz que trabalha na Petrobras, vem logo uma piadinha sobre a Lava Jato. O esquema de corrupção do Metrô de São Paulo pode ter desviado até mais dinheiro, mas a população não tem esse apego ao metrô porque a Petrobras é um símbolo nacional, mexe demais com a população.
CC: E como a entidade tenta mudar essa percepção entre os funcionários?
JMR: Estamos indo para a frente das fábricas debater o assunto direto com eles. Também distribuímos boletins só sobre esse assunto e organizamos reuniões. A gente mostra que eles e a Petrobras não podem ser confundidos com essa parcela podre da empresa, que precisa ser julgada e pagar pelos maus feitos. Mas também esclarecemos que essas manobras financeiras têm como pano de fundo o financiamento privado de campanhas políticas, já que esse tipo de corrupção na Petrobras existe desde o governo Fernando Henrique Cardoso, como indicam os testemunhos da Lava Jato. A gente também foca nos resultados da empesa.
CC: Como são esses resultados?
JMR: A Petrobras é a empresa de capital aberto que mais produz petróleo no mundo. Em maio ela vai receber um prêmio [Distinguished Achievement Award] por conta da tecnologia de perfuração no pré-sal. Em oito anos, passamos a extrair 800 mil barris no pré-sal, enquanto as empresas ao redor do mundo levam 15 anos para produzir a mesma quantidade. Até 2000, a participação do setor de petróleo e gás era de 3% no PIB brasileiro; hoje é de 13%.
CC: O senhor acha que o governo fala pouco sobre esses resultados?
JMR: Não é que o governo fala pouco, ele não fala. O governo está quieto. Aprendemos com o Lula que não se combate um momento difícil com corte de investimento, salário, emprego. O governo está permitindo que a Petrobras reduza investimentos. Avaliamos que o governo deveria assumir o papel de acionista majoritário e garantir os investimentos para melhorar os ativos da empresa e o desenvolvimento do País.
CC: E o papel da oposição?
JMR: Para mim, ela quer forçar a Petrobras a rever o sistema de partilha do pré-sal. Hoje, a Petrobras é operadora em todos os campos, o que significa que o governo pode contratar a estatal para explorar cada um deles. O que deseja o empresariado é que a empresa exploradora seja decidida em leilão. Quando isso acontece, a companhia que oferecer a melhor proposta leva o campo sob o risco de achar petróleo ou não. No pré-sal é diferente porque o risco de não encontrar é quase nula. Furou, achou.
CC: Mas a investigação desvalorizou os papéis da estatal na Bolsa...
JMR: O lucro da Petrobras foi de 3 bilhões de reais no terceiro trimestre de 2014. Caiu a margem, mas no mesmo período a estatal norueguesa Statoil ou as russas Rosneft e Gazprom tiveram prejuízo. O lucro em todo o setor vem caindo em razão da queda nos preços internacionais. Como a Petrobras não pratica volatilidade desses preços, essa queda da cotação do petróleo foi até benéfica para o Brasil. A estatal vem comprando os derivados mais barato lá fora e vendendo mais caro aqui. Até o ano passado ela pagava 100 dólares lá e jogava a 70 no mercado. Hoje compra a 58 e joga a 80.
CC: O senhor acha que as empresas que formam o cartel devem se afastar da Petrobras?
JMR: Na lógica que estão colocando, as empresas corromperam e devem ser afastadas, banidas do Cadastro Nacional (empresas aptas a fazer negócios com o poder público). Sob essa lógica, o mesmo deveria acontecer com a Petrobras. O que defendemos é que as pessoas responsáveis sejam punidas. O Brasil não tem como substituir essas empresas por companhias estrangeiras. Isso geraria conhecimento lá fora, remessas de divisas e emprego no exterior.
CC: Como os trabalhadores reagiram à substituição de Graça Foster por Aldemir Bendine na presidência da Petrobras?
JMR: Se o mercado reagiu mal é porque a escolha foi boa para nós. A FUP não pediu a cabeça da diretoria passada, masmudamos de ideia quando ela fez aquela confusão de números na apresentação do balanço do terceiro trimestre de 2014. Talvez pelo cansaço e exposição, mas era o momento de trocar.
CC: Bendine já se reuniu com os trabalhadores?
JMR: Até agora não tivemos nenhuma reunião com o novo presidente. Nós pedimos um encontro, mas não tivemos resposta. Ele assumiu tendo de fechar a contabilidade da empresa e administrar a morte de seis trabalhadores na explosão na plataforma no Espírito Santo [no último dia 11]. Mas nossa primeira impressão é de que ele tem uma visão abrangente e esperamos ser recebidos em breve.
3 comentários:
Boa entrevista, mas...
Segundo o entrevistado:
"Na lógica que estão colocando, as empresas corromperam e devem ser afastadas, banidas do Cadastro Nacional (empresas aptas a fazer negócios com o poder público). Sob essa lógica, o mesmo deveria acontecer com a Petrobras. O que defendemos é que as pessoas responsáveis sejam punidas."
A tese é agradável mas esconde um malabarismo: se a empresa fornecedora de quentinhas da prefeitura de Pindamonhangaba for descoberta servindo 100 e cobrando 1000, seus donos vão ficar com dor de barriga. E a prefeitura, com prejuízos. A administração pode (e deve), após devido processo, suspendê-la por dois anos ou declara-la inidônea. Isto afetará sua capacidade de contratar e ela pode quebrar. Pode. Mas exemplo de seriedade para os demais fornecedores é virtuoso. Ao conhecer o primeiro punido (sabe-se no dia seguinte) todos passam a transacionar com mais respeito e seriedade. Os picaretas se afastam...
Pelo raciocínio do sindicalista, que parece defender a tese da seletividade da Lei, a empresa das quentinhas derrete. Marcelo Odebrecht paga uma multa pessoal (a qual vai recorrer até a morte), vai preso (por 7 dias) e passa a morar em Miami...
Também sou a favor das empresas e de quem produz, embora tem gente que acha que o leite vem da caixinha do supermercado. Mas não dá para endireitar o país flexibilizando Leis, seletivamente. Num país justo, empresa falida, quebra. Empresa desonesta, é punida.
Sou investidor e afirmo: A Petrobras só vale a metade do seu patrimônio! Mesmo que tudo seja vendido, não sobraria muito para pagar as dívidas e seus juros futuros. As ações da empresa hoje é negociada em cima das reservas declaradas e de seu potencial.
O caixa da empresa sempre girou em torno de R$ 50 a R$ 60 bilhões, mas no dia 2/01, a incompetenta liberou R$ 74 bilhões de forma emergencial para as estatais, sendo que R$ 29 bilhões foram direto do Tesouro Nacional para o caixa da empresa, além de configurar crime de responsabilidade, demonstrou o quanto a empresa foi saqueada nos últimos anos, além das notícias de funcionários com parte do décimo terceiro atrasado e atraso ou falta de pagamentos a fornecedores. As empreiteiras é que tiveram bens bloqueados, assim como seus diretores e executivos, a Petrobras não teve nada bloqueado, seu fluxo de caixa provém da extração, refino e distribuição. Estes R$ 29 bi além do aumento dos impostos e do custo do combustível, serve apenas para cobrir o rombo monumental da empresa.
O mercado só enxerga mais falcatruas na nomeação do Bendine (ex-BB) no comando. Primeiro por NADA entender do setor e suas disponibilidades, segundo por ser um "expert" em manobras contábeis e assim talvez tente maquiar os mais de R$ 90 bilhões desfalcados da empresa (isso já reconhecido até o momento, o número real jamais saberemos).
Ou os brasileiros aceitam pagar pra manter uma estrutura ineficiente, deficitária e nenhum pouco rentável para a sociedade, ou o governo irá sangrar mais e mais o Tesouro Nacional para manter a firma aberta, o que resulta em mais e mais impostos. Algo como que ocorreu com a PDVSA que só consegue produzir 30% do que já foi um dia, sempre no limiar de se trabalhar com lucro próximo de zero!
Os interessados em salvar a empresa deveriam chamar gente de mercado de óleo e gás, com reputação reconhecida e menos consulta política.
aí a voz do mercado
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