Há duas semanas ao participar da mesa-redonda sobre a Queda dos royalties na Ucam-Campos, ao buscar levantar os pontos principais sobre a geopolítica da energia e suas influências no Brasil, em nosso estado, eu expus a tese de que que o setor de petróleo, historicamente, seja em petrolíferas estatais ou privadas estão vinculadas a "grandes esquemas" de desvios de recursos, espionagens e sabotagens, etc.
Na ocasião também afirmei que a questão não estava a questão de valores ou de moral, e sim às características ligadas às fortes vinculações ao poder econômico político e até militar.
Pois bem, uma matéria do jornalista Assis Moreira (de Genebra na Suíça) na edição de ontem no Valor (P.A13) expõe essa realidade com dados e depoimentos a partir de um relatório com recomendações feitas pela conhecida e importante Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O título da matéria é "OCDE pede ação anticorrupção no setor petróleo" que republicamos abaixo com grifos nossos.
Vale conferir essa realidade para melhor interpretar o cerco em que nosso Brasil terá que lidar com as imensas e já reconhecidas importantes, reservas do pré-sal e das imensas demandas que a nação tem pela construção de infraestruturas, depois de quase três décadas de paralisia.
Interessante ainda perceber que o problema é mundial, incluindo as nações chamadas de desenvolvidas e não apenas dos governos, embora estes tenham a obrigação da regulação e fiscalização, sem deixar de considerar que cada vez vivemos mais em regimes "plutocratas" e menos democratas com o poder político sendo escolhido e bancado pelo poder econômico. Confiram e comentem:
"OCDE pede ação anticorrupção no setor petróleo"
"OCDE pede ação anticorrupção no setor
de petróleo
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
passa a recomendar que governos criem lei antissuborno específica e rigorosa
para empresas de petróleo, gás e mineração, que considera particularmente
expostas à corrupção política.
A entidade divulga hoje relatório, obtido pelo Valor, no qual tenta esboçar
um novo paradigma na luta contra a corrupção, associando reforço do
imperativo moral e jurídico com a necessidade econômica e política. O
documento estará no centro de fórum que reúne governos, empresários e
sociedade civil, hoje e amanhã em Paris, para examinar dimensão e impacto
da corrupção nos investimentos públicos e privados, e novas maneiras de
combater esse problema.
Em estudo recente para o G20, a OCDE estimou que o custo da propina
média representa 10% do valor do contrato, que é superfaturado para os
governos nesse percentual. Já a empresa prestadora do serviço perde 35% do
lucro com pagamento do suborno.
O valor total de propinas pagas em países ricos e em desenvolvimento
alcançaria US$ 1 trilhão, ou 3% do PIB mundial em 2001/02, sem levar em
conta várias formas de roubo de fundos públicos, estimou em 2013 o Banco
Mundial.
O novo relatório avalia o impacto das propinas em quatro setores-chave da
economia: industria extrativa (petróleo, gás e mineração), infraestrutura,
saúde e educação, todos de especial interesse por seu papel no crescimento
econômico.
O estudo aponta as empresas de petróleo, gás e mineração, que faturaram
US$ 3,5 trilhões em 2011 (5% do PIB mundial), como as mais propensas à
corrupção. Isso devido a fatores como maior controle político, frequente
confusão entre interesses público, pessoal e do acionista, concorrência
limitada e estruturas financeiras complexas.
O estudo diz que todas as áreas de envolvimento governamental definição
da política, licenças, regulação, participação comercial, taxação, gastos e
gestão do faturamento apresentam grandes riscos de corrupção no setor.
"As indústrias de petróleo, gás e mineração sempre têm contratos de valor
extremamente importante, e o apetite [por propina] de funcionários também
é grande", diz Nicola Bonucci, chefe da divisão jurídica da OCDE e um dos
autores do estudo. "A relação de força é muito favorável ao funcionário ou
político que pede a propina, pois a empresa não tem escolha, trata-se de
investimentos internos, difíceis de deslocar. Se a empresa tem um campo de
petróleo naquele local, não pode investir em outro."
A área de infraestrutura é também considerada propensa à corrupção pela
frequente situação de monopólio. A OCDE aponta constante intervenção de
governos no setor, o que amplia as ocasiões para demanda por propinas. E
insiste que lutar contra a corrupção no setor inclui transparência real não
apenas nas licitações, mas em todo fase de projeto e nas aquisições.
Diferentes estudos citados concluem que países com alto nível de corrupção
tendem a investir menos em educação e saúde. Na saúde, destaca-se
corrupção nas compras de remédios e equipamentos, relações impróprias de
marketing e fraudes. Na educação, a prática distorce investimento de capital,
alocação do orçamento, construção de escolas e gestão de RH.
Distorções causadas por decisões políticas, tomadas por causa de corrupção,
são consideradas as de maior estrago econômico, especialmente na indústria
extrativa.
A OCDE sugere aos governos várias ações antipropinas concretas. Para
Bonucci, a primeira é admitir que o custo da corrupção é bem maior que
gastos inflados e sangria de cofres públicos, pois afeta duramente a confiança
nas instituições. Segundo, para combater a corrupção de modo eficaz, é
preciso compreender seus mecanismos, que diferem conforme o setor.
"É preciso ter estratégias completas, mas também focadas em qual tipo de
corrupção se quer visar", diz ele. "Corrupção nas aduanas é importante, mas
subalterna comparada a propinas nas indústrias de petróleo e gás."
Por isso, a OCDE sugere estratégias especificas por setor. Diz que a
responsabilidade dos governos inclui rigorosa aplicação de leis antipropinas
contra empresas no setor extrativo, também para combater a corrupção
política, que traz "as mais severas consequências".
O fórum em Paris ocorre enquanto se aprofunda a investigação na Petrobras,
"caso importante que estamos seguindo na OCDE, mas há outros
[escândalos] em outros países", diz Nicola."
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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