A avaliação não é de ninguém de esquerda no Brasil e sim de um estrategista do maior banco europeu. A confirmação da estratégia foi exposta na matéria "Petrobras e pré-sal também estão na estratégia da Opep" veiculada na sexta-feira pelo Valor Online
Para quem ainda não tem a dimensão clara da importância do pré-sal brasileiro para a geopolítica mundial e todos os desdobramentos e pressões resultantes dele, inclusive na política interna seria bom repensar o diagnóstico.
No dia 28 de fevereiro este blog postou aqui a nota "As petroleiras estrangeiras consideram os investimentos no Brasil como estratégicos". Nele registramos que mesmo com os atuais baixos preços, presidentes de três grandes petroleiras rejeitaram a hipótese de reduzir investimentos na exploração de petróleo no Brasil.
Observem que essa mesma interpretação tem o estrategista chefe global do mercado de commodities do banco BNP Caraíbas, Harry Tchilinguirian:
"A maior preocupação da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) que decidiu em novembro deixar o preço do petróleo recua, não é a expansão da exploração de petróleo e gás não convencionais, o "shale oil" e o "shale gas" nos EUA, e sim, as grande petroleiras e seus investimentos m área de custo mais alto de produção, como a Petrobras e o pré-sal brasileiro. A estratégia liderada de fato pelo seu maior produtor, a Arábia Saudita, é fazer com que, devido ao baio preço do petróleo, as grandes companhias desistam de seus investimentos de custo mais alto. Com isso quando houve um escassez de oferta nos próximos anos e o preço de petróleo voltar à trajetória de crescimento consistente, as empresas terão dificuldades em retomar os projetos com rapidez, abrindo espaço para a Arábia Saudita e sua estatal, Saudi Aramco".
Além da dificuldade que os projetos terão para serem retomados, em função da inércia interrompida, Tchilinguirian do banco francês BNP Caraíbas diz: "Os EUA não ão questão para a Opep. Mas se ocê olhar os grandes investimentos, no Brasil, no Canadá, em água profundas no Reino Unido e no Golfo o México, as companhias envolvidas nessa área vão cancelar seus projetos [com a quedas do preço do barril de petróleo] e não serão capazes de retomá-los quando o preço alcançar US$ 100 [o barril], porque estamos falando de um ciclo de cinco anos [para por os projetos em operação novamente]."
Mais claro impossível. Temos insistido nessa tese de que o Brasil é alvo de disputas do qual não se pode fugir. Os embaraços da política interna e os graves casos de corrupção na Petrobras (relativamente comum nos negócios do setor mundo afora) acabam cando como uma luva nessa disputa geopolítica. Não por coincidência, os casos da Rússia e da Venezuela, sem retirar as complicações derivadas de seus dirigentes, se encaixam exatamente na mesma linha.
O Tchilinguirian fecha reforçando que o alvo da política da Opep não é os EUA, porque, além deles terem estrições de exportações (por isso estão aumentando enormemente seus estoques- veja aqui), os projetos de produção de óleo não convencional nos EUA podem ser retomados em curto espaço de tempo [entre 3 e 6 meses] se o preço do petróleo subir.
Por fim, o Banco BNP Caraíbas prevê que o preço saia dos atuais US$ 55 por barril no segundo trimestre, para uma média de US$ 63 a US$ 67 no terceiro e quarto trimestres, respectivamente e para US$ 75 no ao que vem.
Não é simples para nós brasileiros termos a compreensão de nossa dimensão na Economia Global e de tudo que isso possa significar em nosso cotidiano. Porém, gostemos ou não, essa é a nova realidade que a descoberta da enorme reserva do pré-sal nos guiou.
Não há como fugir dessa realidade, imaginando que todos os nossos problemas são internos. Sim, eles são grandes, mas, eles não são mais isentos dessa nova realidade. Para aprofundar o tema e melhor compreendê-lo, talvez, valha relembrar o breve artigo do craque no assunto, professor José Luiz Fiori, lá em maio de 2014: "Para calcular o futuro". (veja aqui)
A meu juízo, em meio à toda essa atual realidade e ao cenário que se apresenta, o país em sua crise política interna se coloca numa encruzilhada: ou avança - em meio aos percalços e equívocos - no "projeto nacional desenvolvimentista" ou cede espaço para a volta ao "modelo da neodependência comercial financeira do mercado". O primeiro apostou no regime de partilha e no Fundo Soberano. O segundo anuncia o escancaramento de nossas riquezas.
A decisão sobre um ou outro rumo não foi decida nas eleições de outubro passado. Ela permanece em debate, com as pressões, acordos e desacordos políticos, ameaças e chantagens que alguns tentam levar para uma decisão longe do povo brasileiro. As razões parecem óbvias. Evidentemente muitos preferem não enxergá-la.
Acompanhemos atentos, não apenas para conferir, mas para defender posições!
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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2 comentários:
Quem não gosta de negócio bom ? Qualquer pessoa gosta. Os empresários também gostam. O PT, adora, tanto é que se apoderou da Petrobras, desde a era Lula,e, no final aconteceu, essa podridão, na Petrobras.
A verdade é a seguinte: Todos querem ganhar, empresários e pessoas físicas, como nós. Logo, quando surgi bons negócios, o homem de visão, de negócio, quer investir, principalmente quando os preços de aquisição, estão atraentes.
E tome a mesma ladainha do deus mercado.
Delfim Neto em artigo recente relembrou Simmel em seu livro "A filosofia da moeda": "o capitalismo precisa de adversários fortes o suficiente para civilizá-lo".
E concluiu o seu texto dizendo: "o papel do jogo entre a urna (cujo funcionamento depende das instituições que regulam o voto, do nível da educação da sociedade e do reconhecimento dos limites físicos) e o mercado (cujo bom funcionamento exige um Estado regulador constitucionalmente limitado). É assim que nos aproximaremos da sociedade civilizada".
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