terça-feira, março 17, 2015

Eike ficou com apenas 6,7% do Porto do Açu

O jornal Valor trouxe na edição de hoje, três páginas sobre Eike Batista, além de uma chamada de capa que traz o título: "Isolado, Eike admite erros, mas aposta no retorno". Nas três páginas do caderno "Empresas" além de uma análise sobre os negócios e das dificuldades do empresário há uma grande entrevista feita em um longo temo de seis horas, cujo título dado foi sobre uma da falas do Eike: "Um enorme erro foi não vender parte da OGX por U$ 7 bi".

Para fechar a matéria há levantamentos e um infográfico, publicado abaixo, que traz uma espécie de balanço do que o Valor chamou de "O pós-império X". Não há quase nada na extensa reportagem, que já não se saiba, especialmente para quem acompanha e para quem leu os dois livros editados recentemente sobre o apogeu e a queda do Eike Batista em seus negócios.

Destaco a informação sobre a Prumo (ex-LLX) onde se diz que a ela tem dívida de curto prazo de R$ 2,3 bilhões e que a participação de Eike no empreendimento do Porto do Açu está restrita a 6,7% das ações.(Veja destaques em vermelho no infográfico abaixo)

Sobre outra empresa com negócios na região está a OSX, na qual Eike ainda possui participação de 66%, que tem hoje uma dívida de US$ 2,7 bilhões e que se encontra em recuperação judicial.


































Abaixo a entrevista do empresário Eike Batista ao Valor na íntegra:
"Um enorme erro foi não vender parte da OGX por US$ 7 bi"
Por Graziella Valenti, Francisco Góes e Cristiano Romero | Do Rio

Valor: Nos anos 80 e 90, o senhor investiu em ouro. O que o fez se desfazer de tudo na virada do século e ir atrás de petróleo?
Eike: Meu pai sempre me falou para ter um pé fora do Brasil. Perguntei a meus filhos se eles queriam morar fora. Os dois, cariocas, disseram que queriam ficar. Pensei: 'O Brasil é rico para caramba'. Vou ficar aqui e fazer os negócios que eu sei fazer na área de mineração. A MPX começou a nascer em 2002 junto com o meu projeto da TermoCeará. Assinei contrato de 20 anos com a Petrobras, que alguns meses depois foi questionado. Valia bilhões porque ela me vendeu 20 anos de gás a US$ 3. Na mesma época, comecei a olhar para mineração de ferro.

Valor: Por quê?
Eike: Meio burro, fiquei 20 anos só olhando ouro que nem uma mula. Podia olhar qualquer mineral a partir do momento que estivesse entre os 20% de custo mais baixo do mundo. Fui escanear o Brasil e pensei: 'Vem cá, a Vale não pode ser a única empresa que tem ativos de minério de ferro no país'.

Valor: Não foi o seu pai que lhe deu o mapa da mina?
Eike: Não, o meu pai nunca seguia essas reservas. No caso da reserva que vendi à Anglo American, ele perguntou: 'De onde é que apareceu isso?'. Eu disse: 'É, o Brasil é grande mesmo. Tem coisas que as pessoas não sabem que tem'. Essa jazida, chamada Minas-­Rio, virou um megaprojeto. A Anglo me pagou, na primeira fase, US$ 1,5 bilhão por 49% das ações, e depois US$ 5,5 bilhões na segunda fase. Eu sempre operei com o meu modelo 360 graus.

Valor: Como assim?
Eike: Cuidando de tudo para viabilizar o investimento. Na mina de La Coipa, no deserto do Atacama, no Chile, tive que buscar energia a 200 km e água no subsolo, a quatro mil metros. Lá, funcionou muito bem.

Valor: Nos seus negócios com ouro, o sr. tinha, no máximo, 30% do negócio. No petróleo, ficou com mais de 60%. Por quê?
Eike: Porque eu tinha capital.

Valor: Não deveria ter diluído o risco?
Eike: Sim, sem dúvida nenhuma. Ninguém no mundo tem mais de 60% de uma empresa de petróleo. Só que tem o seguinte: em toda a minha história, quando mexi com minas de ouro, os negócios duraram mais do que o imaginado inicialmente. La Coipa era para durar 15 anos, mas rodou 25. Paracatu [mina em MG] era para rodar 15, começou em 1987 e está rodando até hoje. Do jeito que fiz, pude escolher os investidores, foi uma maneira de ter sócios. Um erro estratégico enorme foi o de eventualmente não vender pedaços dos meus blocos na pesquisa do risco, que é o que todo mundo faz.

Valor: Por quê?
Eike: Teve uma empresa, cujo nome não vou revelar, que ofereceu US$ 7 bilhões para ficar com 30% das nossas áreas de Campos. Só que o meu pessoal falou assim: 'Vale três vezes mais'. Se seu pessoal fala isso, você não vende. Fui com muita sede ao pote.

Valor: Mas o que, afinal, fez o senhor investir em petróleo?
Eike: Num país que tem essas riquezas e a Petrobras era um monopólio, pensei: 'Todo lugar que tem monopólio, quando o setor privado entra, a gente acaba fazendo melhor'. Porque, se você fizer uma avaliação dos US$ 10 bilhões que a gente gastou na OGX, verá que fizemos mais de 110 furos. A Magda [Chambriard, diretora-­geral da ANP] ficou feliz da vida porque ajudei a mapear a geologia do Brasil. Hoje, eles dizem: 'Essas áreas não são ricas o suficiente'.

Valor: O senhor disse recentemente que se arrependeu.
Eike: É, me arrependi. Dentro de uma empresa de petróleo, há o lado muito eufórico do geólogo e tem o corpo de engenharia de reservatório. Você tem que, realmente, ouvir o cara da engenharia de reservatório, que é mega-conservador. Se você pegar a história da Petrobras, há campos que eram para produzir por dez anos e estão hoje produzindo há mais de 20. O cara da engenharia de reservatório 'parafusa' tudo para trás. E o geólogo tem o lado da tendência do rico. Infelizmente, na minha história com ouro e ferro, eu sempre mexia e era maior [a jazida]. Psicologicamente, foi assim: 'Será que eu não vou achar algo grande?' Fiz isso alimentado por otimismo do meu pessoal, o que não é errado. As pessoas têm que ser otimistas, senão, não fazem nada.

Valor: O que deu errado na estratégia com petróleo?
Eike: Deram­-me a oportunidade de mexer no petróleo, peguei a área mais prolífica do Brasil, na Bacia de Campos (RJ). Tiraram-­me do pré-­sal, mas também consegui botar a mão numa área bacana e onde eu sabia que tem 'baleias brancas'. Falei: 'Uma eu vou pescar'. O setor tem alto risco porque realmente você entra num campo, 'engenheira' ele todo, na hora que vai para o mundo real produzir, 'uff'... É exatamente o que aconteceu comigo: as rochas não se comportaram, elas se fecharam. É quase como um bicho vivo.

Valor: Alguém errou ou faz parte do risco do negócio?
Eike: Faz parte. A Shell, menos de um ano atrás, fez um 'write­off' [baixa contábil] de US$ 20 bilhões dos campos de 'shale gas' (gás de xisto) nos EUA. Você tem que ter 'big pockets' [muito dinheiro] para aguentar um tranco desses.

Valor: A Petrobras acerta muito.
Eike: A taxa de acerto deles é superior a 50%. Aumentou muito desde o início dos anos 2000, o que também foi um indício para mim. Meu campo de petróleo é na bacia de Campos. Por que a minha taxa de acerto não seria como a da Petrobras?

Valor: Uma explicação para a derrocada do grupo X é que o senhor teria alavancado todos os negócios a partir do petróleo.
Eike: Cada negócio era estanque. Isso não existiu. O Mubadala [o fundo soberano de Abu Dhabi], que entrou como sócio lá em cima, ficou dez meses dentro do meu escritório. Gastaram US$ 20 milhões auditando tudo. Aí, estou sentado lá, bobão, com todas as minhas empresas de capital aberto. A gente fazia o conceito, buscava os ativos e o capital. E, aí, eles [os sócios] diziam: 'Toquem'. Comecei cinco empresas. Se me perguntarem hoje se foi muito, é verdade: eu não tinha tempo para atender todas as cinco e, por isso, tinha muita confiança em todo mundo que botei lá. Trouxe os melhores especialistas da Petrobras. Na OGX, quando a gente anunciou que realmente os campos não iam render o esperado, criou-­se aquele vácuo de credibilidade. Isso extrapolou para todas as companhias. Virou uma corrida bancária.

Valor: O fato de as empresas serem de capital aberto facilitou essa corrida?
Eike: No futuro, vou pegar dinheiro de fundos de 'private equity' [participações acionárias]. São investidores de longo prazo.

Valor: O senhor se arrepende de ter ido ao mercado de capitais?
Eike: Não. Era o 'timing'. O Brasil estava apaixonado pelo Brasil.

Valor: O que o senhor sentiu quando a rocha "decidiu" não lhe entregar o petróleo esperado?
Eike: Alguns engenheiros falam que você pode injetar químicos, craquear e fraturar a rocha. Mostram todas as tecnologias que existem para tirar o bicho de lá. Aí, a porosidade não era como se imaginava. De repente, a rocha chupa mais água, toda a hidrodinâmica, a oleodinâmica, muda. O espetacular do pré-­sal é que o poço de Libra tem 500 metros de camada de óleo! É um piscinão: é só enfiar o canudo lá.

Valor: Seria possível promover baixa de ativos na OGX e manter os outros negócios?
Eike: Se tivesse enxergado que não ia dar certo, a gente poderia ter feito uma 'erre­jota' [recuperação judicial] lá atrás. Em janeiro de 2013, havia R$ 5 bilhões em caixa. Imagina uma 'erre­jota' com R$ 5 bilhões em caixa! Os credores é que estariam na sua mão!

Valor: Por que não fez isso?
Eike: Porque a recomendação era 'não, vamos continuar'. A Petronas, fazendo auditoria também, ia comprar 40% do meu campo de Tubarão Martelo! E aí?

Valor: Mesmo sendo naquela época um dos dez homens mais ricos do mundo, o senhor não era pequeno demais para concorrer com as gigantes de petróleo?
Eike: Perfeito. O que me traiu foi o sucesso na mineração de ouro e de ferro.

Valor: As pessoas se afastaram?
Eike: Totalmente. Muitos dos sócios que tive entraram quando a ação valia R$ 4 e venderam a R$ 20. Isso ninguém fala.

Valor: É dito que, quando começou a derrocada, o senhor se isolou?
Eike: Na verdade, não me isolei. Procurei, a conselho do meu pessoal, o BTG. Mas não deu muito certo. Estava sufocado. Houve uma debandada de executivos. Corrida a banco você não controla.

Valor: O senhor tem mágoas?
Eike: Não. No fundo, o responsável sou eu. A culpa é minha se chamei o cara errado. Foi um erro financiar tudo via mercado de capitais.

Valor: Dentro da OGX, até setembro de 2012, havia alguma voz dissonante do otimismo?
Eike: Tinha. O pessoal da engenharia de poço dizia: 'Olha, a gente acha que isso não é assim, é menor'. Tanto que a gente deixou que eles assumissem o comando. Entrou a turma do [Luiz Eduardo] Carneiro [que assumiu a OGX em abril de 2012]. É preciso lembrar que eu fui o único empresário do país a colocar aval pessoal em pedidos de empréstimo ao BNDES.

Valor: Quanto do seu patrimônio pessoal entrou como garantia?
Eike: Tudo! Todos os projetos tinham a minha garantia. Tanto que minha negociação com o Mubadala e todos os bancos foi bem ­sucedida. Já ouviu algum deles reclamar das renegociações? Minhas participações atuais são garantias para os bancos e os credores. Eventualmente, tenho uma chance de ver meus ativos aumentarem de valor. Posso pagar a dívida e ficar com um pedaço no futuro.

Valor: O senhor ficou conhecido como empresário da era do PT, alguém que teve a ajuda do governo.
Eike: Isso é absurdo! Todos os meus sócios eram privados, com fundo soberano, grandes empresas e investidores. No BNDES, tomei financiamento com aval do meu patrimônio. Se eu tivesse decidido, lá em junho de 2013, no dia do início da derrocada, que ia brigar, não pagar o Mubadala, criaria um colapso no sistema financeiro. Seria um desastre! Não sou assim, nunca fui assim. 'I'll be back!'

Valor: Quem é o Eike hoje?
Eike: É alguém que tem uma participação minoritária nesses projetos que continuam em pé. Provavelmente, hoje estou, em termos líquidos, com patrimônio negativo de US$ 1 bilhão. Mas existe a chance de eu recuperar valor porque esses projetos vão crescer de valor. Teoricamente, estou no zero.

Valor: O que o senhor ainda tem fora dessas participações?
Eike: Fiquei com alguns ativos. Tenho também uma remuneração de mais ou menos US$ 5 milhões por ano que o Mubadala paga hoje e, se Deus quiser, em breve será outro [valor].

Valor: O senhor tem crédito?
Eike: Nos bancos, não. Por essa razão, a minha conversa futura será toda com 'private equity', gente que sabe que este Batista criou mais de dez empreendimentos de bilhão de dólar. 'Esse cara sabe fazer tudo de novo'.

Valor: Como o senhor se sente tendo saído da lista dos 10 maiores bilionários do mundo para, agora, estar sem crédito e recebendo US$ 5 milhões por ano?
Eike: Não tem problema nenhum. Poxa, eu vivia no garimpo. Dá para ser modesto? Eu sou um bicho diferente. Eu monto essas coisas. As pessoas não sabem fazer isso que a gente faz. Há a lenda de que eu sempre tive um monte de braço direito. São sempre eles que fazem as coisas. Há uns 70 caras aí que saíram [do grupo] com algo entre US$ 50 milhões e US$ 200 milhões. Espero que eles tenham uma boa vida.

Valor: O que o senhor tem em mente quando afirma 'I'll be back'?
Eike: 'A lot' [muito]. Isso aqui [mostra uma embalagem em filme de medicamento]. É para malária.

Valor: É um repelente?
Eike: Não, um remédio sublingual. É um 'delivery system' [sistema de entrega]. É uma empresa coreana que fabrica isso e eles estão mais ou menos três anos à frente da concorrência. Você gasta a metade do princípio ativo para produzir o mesmo efeito, porque entra diretamente na corrente sanguínea. É uma mistura de nanotecnologia com laser. Você bota embaixo da língua e em 20 segundos vem o efeito.

Valor: O senhor é sócio deles?
Eike: Sim, temos uma parceria para as Américas e a África.

Valor: No auge do grupo X, o senhor comprou restaurante chinês, o Hotel Glória, fez o projeto da marina da Glória no Rio. Por que entrou em negócios que nada tinham a ver com sua atividade tradicional?
Eike: É simples. Foi uma mistura da cultura de devolver e fazer coisas para o Rio, como um restaurante bacana. É aquele negócio: vocês são paulistas. Poxa, tudo lá é melhor! Não é? O Glória ia virar um shopping. Comprei para voltar a ser o que era. Além disso, doei R$ 100 milhões para UPPs. Entregávamos o prédio pronto.

Valor: O senhor era muito amigo do governador Sérgio Cabral?
Eike: As pessoas cometem o seguinte erro: 'O Eike só investe naquilo que vai beneficiá-­lo'. Eu nunca fiz obra para o governo! Nunca recebi dinheiro.

Valor: Mas, na campanha do Rio para ser a sede da Olimpíada, o senhor emprestou jatinho ao Cabral.
Eike: Ele me pediu. Burrice minha, né? Devia ter dito não. Na primeira vez não deu para dizer não. Depois da grande c., eu defendi: 'Não dá, desculpa, isso aqui só dá c.'. Desculpa a palavra.

Valor: Por causa da repercussão negativa?
Eike: É lógico. Para quê? Valor: Tinha quantos jatos? Eike: Três. Hoje, nenhum.

Valor: Só viaja de avião de carreira?
Eike: Os dois. Às vezes, alugo.

Valor: Qual foi o seu envolvimento na campanha olímpica do Rio?
Eike: O meu dinheiro financiou a empresa inglesa que fez Londres ganhar a Olimpíada. A ideia era contratá-­la para fazer a do Rio. O dinheiro do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) estava carimbado. Não dá para pagar um negócio de US$ 20 milhões. Então, eles primeiro me pediram US$ 10 milhões. Lembro­me da reunião: estavam o [Carlos Arthur] Nuzman, o [Eduardo] Paes e o [Sérgio] Cabral. Aí, eu disse: 'Olha, prontamente, se tiver a chance de ganhar, né?' O dinheiro não dava, então, depois foram mais US$ 12 milhões. Graças a Deus o Rio ganhou.

Valor: Até os anos 90, sr. era um empresário discreto. Na nova fase, tornou­se extremamente exposto. Eike: Em 2002, pensei: 'Caramba, nós fazemos essas coisas, somos grandes. Qual o problema de eu mostrar que criei riqueza, projetos, que eu ando num carro bacana? Queria mudar um pouco essa cultura no Brasil... [E mostra no celular, orgulhoso, mensagem enviada por um amigo. "Amigo, estou com problema. Meus quatro filhos querem te conhecer. Não sabia que era o ídolo dos quatro", dizia mensagem.]

Valor: Essa exposição não o preocupava?
Eike: Claro. Porque na fase anterior eu mexia com ouro e tinha todos esses medos normais, de sequestro e tal. Mas, agora, quis mostrar ao brasileiro, ao jovem: 'Seja empreendedor, pense grande'. Qual é o empresário que faz isso no Brasil? Todo mundo esconde o que tem. Criei as companhias, coloquei os projetos dentro, mega-capitalizados.

Valor: Na vida nova, a exposição pessoal diminuirá?
Eike: Sim, no sentido de que só vou aparecer quando tiver os projetos prontos.

Valor: Por que o sr. continua a usar na lapela o "bottom" da EBX?
Eike: 'I will be back.'

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