Abaixo o blog repercute a postagem do professor da Uenf e cientista político, Vitor Peixoto:
"Quem foi às ruas ontem não votou na Dilma, e nunca votará. Não foram eles que a elegeram nem muito menos serão eles que sustentarão o governo (muitos nem mesmo a democracia). Estavam lá com todo direito, manifestando pela insatisfação e ponto. Não adianta acreditar que qualquer ação do Governo poderia arrefecer os ânimos daqueles grupos, com exceção obviamente da renúncia - que alegraria quase todos com exceção dos que querem o militares.
A única opção da Presidente agora é com a agenda que a elegeu, uma agenda redistributiva, de compromisso com as minorias, de intervenção na economia, de ampliação do Estado, enfim, bandeiras tradicionalmente das esquerdas. Eleitores que defendem estas bandeiras são os que podem sustentar o Governo, pois foram eles que a elegeram. Mas esta sustentação somente virá com ações que sejam coerentes com suas demandas, não adianta fazer o "policy switch" sem negociar com quem te sustenta.
Acreditar que eram todos "coxinhas" é um equívoco sim, mas as vagas reivindicações eram típicas das direitas que foram capitaneadas pela oposição. São várias direitas no Brasil: umas são libertárias que defendem os direitos individuais de autoexpressão; outras são da direita liberal contra a intervenção do Estado na economia; outras conservadoras que almejam controlar o útero e a vida afetiva de todos; há ainda a direita extremista (lunáticos mesmo, que fizeram muito barulho ontem). Algumas destas clivagens até se sobrepõem formando subgrupos muito especificos, o que torna as direitas muito heterogêneas. Não sabemos ao certo a distribuição quantitativa delas nem o peso de cada qual no movimento de ontem. O certo é que não apoiariam o Governo Dilma nem que a vaca tossisse, fosse qual fosse a medida tomada. O "panelaço" é a prova desse argumento, pois é combinado para o momento dos pronunciamentos não importando o conteúdo pronunciado, não há avaliações sobre o que for dito, vale o rechaço.
Manifestações de apoio ou de insatisfação fazem parte do jogo democrático. É salutar para o sistema que as questões decantem e se tornem mais claras. Necessariamente, muitas demandas são simplificadas em bandeiras e não contribuem para o aprofundamento do debate, mas isso também faz parte do jogo. As oposições estão fazendo sua parte (com exceção de alguns comportamentos absolutamente execráveis de qualquer ponto de vista normativo minimamente democrático). Cabe ao Governo fazer a sua e reconquistar a base. A questão é como fazer isso com a margem de recursos diante de um cenário econômico extremamente complexo. Retirando direitos trabalhistas que não será. Ou o Governo volta-se para as demandas de quem o elegeu ou perderá o que lhe resta!"
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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