sábado, março 21, 2015

Pesquisando a região metropolitana do Rio (RMRJ)

Este blogueiro passou essa última sexta-feira fazendo uma pesquisa de campo, prospectando observações e registros, sobre as duas extremidades da região metropolitana do Rio de Janeiro.

As pesquisas são coordenadas pelo geógrafo e professor Floriano Godinho, do PPFH-UERJ. Ontem (sexta-feira, 20/03) nós passamos cerca de doze horas, observando as mudanças nos territórios da região metropolitana, do Estado do Rio de Janeiro.

Começamos em Itaboraí revendo a realidade da instalação do Comperj e seu entorno que vive em meio à crise de redução do ritmo da montagem final da refinaria. Em seguida, percorremos toda a extensão do Arco Metropolitano. Assim, passamos por Magé e Duque de Caxias chegando depois, na outra ponta da regão metropolitana fluminense, ao município de Itaguaí.

Nesse extremo sul da região metropolitana, no outro lado da Baía de Guanabara, já depois do sul da capital, distrito industrial de Santa Cruz, reobservamos o município de Itaguaí (a Baía de Sepetiba) e as mudanças e pressões que sofre pela expansão industrial e pela proximidade com a zona oeste carioca.

Em Itaguaí, além dos terminais portuários existentes, que estão sendo concluídos, observamos de forma geral, o Porto Sudeste que está prestes a iniciar sua operação. Vimos ainda, o terminal do Tesub (programa Prosub: estaleiro e base naval que fabricam submarinos) da Marinha, localizados, ambos, na Ilha da Madeira. (Se desejar veja aqui detalhes da construção do estaleiro e da base naval)

Mapa do Arco Metropolitano
O Arco Metropolitano que interliga os dois extremos da região metropolitana fluminense foi nosso principal foco de observação nessa pesquisa de campo. Trata-se de uma rodovia expressa que liga os dois lados da Baía de Guanabara: Itaboraí a Itaguaí, através da BR-101 Norte até à BR-101 sul e Via Dutra - Rio-São Paulo e cria condições também para a interligação ferroviária.

São inúmeros os registros levantados para análise e debates. Ele se somarão às investigações de dados e indicadores econômicos que vimos reunindo junto às equipes de pesquisadores do NEED/IFF e NuPPE do PPFH-UERJ, sobre o movimento simultâneo e contraditório, entre expansão e reconcentração da metrópole fluminense, que nossos estudos andam apontando.

Algumas dessas observações ao longo do tempo, eu pretendo trazer para esse espaço para ampliar a análise e o debate. Por enquanto, trago, alguns registros de imagens dessas extremidades metropolitanas que dão uma amostra da riqueza de observações sobre o território fluminense.

O primeiro registro mostra uma estrada construída pelo Comperj, exclusivamente para transportar equipamentos vasos e filtros que foram importados e que não teriam como ser transportados entre o Porto do Rio e Itaboraí pela ponte Rio-Niterói. A intenção inicial da Petrobras era de transportar os equipamentos pelos rios e canais, mas, as resistências de pescadores e ambientalistas impediu essa solução.

A estrada foi chamada de Complexo do Salgueiro, por conta do nome do bairro do município de São Gonçalo e está ligando a Praia da Beira, em Itaoca, à BR-493 (Manilha-Magé). É considerada como uma estrada de serviços para cargas especiais e grandes dimensões (UHOS, na sigla em inglês). Sua extensão é de 19 quilômetros e 20 metros de largura. Veja abaixo o mapa com a localização da estrada:

Fonte Rima da estrada


A via passa pela localidade Fazenda dos Mineiros e cortando os bairros Salgueiro, Jardim Catarina e Guaxindiba. Na Baía foi construído um píer de atracamento que tem 100 metros de comprimento e 20 metros de largura e receberão as balsas. (Se desejar leia aqui o Rima da estrada)

Em nossa pesquisa de campo ontem, flagramos o veículo da empresa Transdata/Commeto especializada em transporte de cargas especiais, que sendo usado para levar num prazo de 2 a 4 dias, parte de equipamentos importados da Itália (vasos e filtros) entre a Baía de Guanabara e o Comperj.

É um equipamento hidráulico movimentado por controle remoto (veja na foto abaixo o automóvel da empresa Transdata fazendo o controle na frente do veículo hidráulico com cerca de 18 eixos e quase 150 pneus que tem capacidade para movimentar até 1,2 mil toneladas, segundo seu operador).

As fotos mostram, além do equipamento, o porte da estrada que é margeada por mangues que foram aterrados e cortado por rio que teve assoreamento ampliado.

A população dos bairros do Salgueiro, Jardim Catarina e Guaxindiba são de baixa renda e vivem, em sua maioria, em moradias simples e adaptadas e com limitações de transportes e outros direitos básicos, como é comum nas periferias e áreas de baixa renda de nossas cidades .

No caminho, no Jardim Catarina avistamos um presídio, a Cadeia Pública de São Gonçalo, no local bem próximo, de onde estava o equipamento de transporte de equipamentos para o Comperj.

No início da estrada, ainda bem próximo da BR-101 atrás dos grandes galpões de logística , visto da rodovia federal, foi possível ver a fábrica ainda em funcionamento, do cimento "Portland", onde em 1933 inaugurado por Vargas se deu início a produção do conhecido cimento Mauá.

A terceira foto mostra, uma imagem muito interessante: um morador que adaptou uma carroça, sentado sobre um barril, que poderia também simbolicamente ser atribuído ao barril de petróleo. Como se vê, ele usa a carroça para transporte e não abandona o seu jeito de origem rural, com chapéu e ar solidário, cumprimento as pessoas que cruzam por ele na larga estrada construída pela estatal. Ao fundo da foto se pode ver o presídio instalado na comunidade.



A quarta imagem mostra um detalhe da comunidade do bairro do Salgueiro, em São Gonçalo, que é cortado pela estrada em parte dos seus dezenove quilômetros e que vai até Itaboraí em uma das três entradas de acesso ao Comperj.



Já no outro extremo em Itaguaí, depois do Arco Metropolitano, podemos ver o modal ferroviário da MRS que interliga o quadrilátero ferrífero mineiro ao terminal portuário no litoral fluminense, transportando em idas o minério, levando de volta o carvão importado em idas e vindas de centenas de vagões que avançam para a intermodalidade com a interligação com as rodovias do Arco Metropolitano, a BR-101 e a Via Dutra.



A sexta foto mostra o túnel que faz parte do acesso do estaleiro à base naval da Marinha, por onde os submarinos construídos sairão para o mar. Por baixo desse túnel, há outro, que leva ao terminal Porto Sudeste com suas esteiras para embarque de minério de ferro.






















O terminal de atracação dos navios graneleiros para transporte do minério pelo Porto Sudeste, na Baía de Sepetiba, nos oferece na imagem a seguir publicada que mostra como ficou a praia da Ilha da Madeira.



Na região, os pescadores e moradores tiveram diversas moradias desapropriadas para dar lugar aos diversos empreendimentos, em especial o Porto Sudeste projeto iniciado pelo empresário Eike Batista e hoje controlado pela trader holandesa de commodities Trafigura e pelo fundo de investimentos árabe Mubadala.

A Baía de Sepetiba com mais estes dois portos, hoje, passa a sediar um imenso complexo portuário, tão significativo, quanto o da Baia de Guanabara, em termos número de terminais: terminal contêineres (Tecon), Porto organizado de Itaguaí: Valesul; MBR; CSN e CSA, num total sete terminais. O fato também confere ao estado uma hegemonia nacional em termos de logística portuária que está na base de minhas investigações, assim como de sua relação com o petróleo.

Enfim, as pesquisas de campo com a sua materialidade oferecem uma enorme munição de base empírica que enriquecem a observação das diversas séries de dados e indicadores também levantados.

Nesse sentido eu tenho insistido que tem sido essencial que a coordenação das pesquisas tenha à frente um geógrafo que permite um olhar mais amplo e atento sobre o território, sua ocupação e ainda sobre a relação direta que toda essa questão tem com as relações de poder com consequências sobre o desenvolvimento das regiões e sobre a vida das pessoas.

A materialidade da vida real são indispensáveis e nos servem de base para sustentar a análise sobre a realidade da situação econômica, política e social da região metropolitana fluminense e de sua relação com o restante do estado e de nosso país.

Conhecer o Rio por inteiro como estado é um desafio ainda a ser superado. É um paradoxo que, mesmo que a gestão estadual continue centralizada, sem projetos e ações de integração, pelas vias e razões as mais diversas (que ando tentando aprofundar e conhecer), eu identifico que nunca fomos mais estado que no atual momento. Falta políticas de cooperação supramunicipais e infra-regionais, ainda assim há fluxos (pendulares ou não) que são mensuráveis de pessoas e de materiais.

Enfim há muito que dialogar sobre a economia e a sociedade fluminense. O momento de crise, quase sempre, é também de formulação de projetos e auscultação dos agentes ativos da sociedade.

Essa postagem tem a finalidade, como é comum na atuação de nosso blog, de dividir as observações e o tema dessa pesquisa, e dessa forma, provocarmos os que acompanham e/ou estudam os assuntos envolvidos com essa discussão a comentar e debater as informações levantadas. Aguardamos críticas e sugestões.

PS.: Atualizado às 15:24 de 25/03/2015 com correções e ajustes do texto.

Um comentário:

Anônimo disse...

Impressionante como os projetos são feitos e muitas vezes as comunidades no entorno ficam as margens de tudo com suas mazelas. Não sei a que pé anda, mas li certa vez que a água utilizada pelo COMPERJ seria a água do esgoto da cidade que seria tratada, pelo que vi na foto a via ainda não está pavimentada, o que deve trazer um desconforto a população no entorno.

O empreendimento chega, mas parece que prefeitura, estado e município não sentam para da a devida atenção a ele e ai além de não cobrarem as contrapartidas aos empreendedores, eles também se eximem de suas responsabilidades e as coisas vão se acomodando com o passar do tempo, normalmente aumentando as desigualdades.

Para alguns essas empresas viraram a salvação, para outros uma maldição, mas a importância delas para o país é inegável, o que merecia um cuidado muito maior com todos no entorno, afinal são os mais afetados diretamente (positiva e negativamente).

Para nós que estamos longe, mas passamos por algo parecido, vemos o quanto esse tipo de trabalho desenvolvido pelos Blogs é importante, afinal a grande imprensa normalmente não dá a verdadeira atenção como feito aqui.

Abs e parabéns!

Denis Freitas Toledo