Helio Crespo que "toca" a uma propriedade familiar, na localidade de Pitangueira, informa ainda que para a elaboração desse relato ele percorreu alguns pontos da região, acompanhado do seu irmão o técnico em agropecuária Jorge Crespo e também por um "grande conhecedor da Baixada", o Sr. Maurício da Silva Gonçalves / proprietário de Laticínio em Campo Limpo.
Ele faz questão de dizer que o texto e as fotos que deram corpo a esse breve relatório são frutos de "um dia de visita aos diferentes pontos do Canal de Coqueiros e outros corpos d'água, além das comunidades de seu entorno.
Crespo considera que "a situação é dramática para as comunidades que vivem no interior da Baixada Campista" e salienta e propõe a necessidade de divulgação e estudos complementares pelos órgãos de controle, assim como a interferência das autoridades competentes no sentido de intervir imediatamente no processo de salinização em curso".
Para ilustrar ainda mais o seu relato ele encaminhou também o resultado de análise de água coletada que está exposto ao final do texto e antes das fotos. Pode-se ver entre os resultados sobre cloreto, turbidez, etc. que os valores encontrados estão entre 4 e 10 vezes os valores de referência estipulados pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Confiram:
Processo de salinização da Baixada Campista
O objetivo principal deste relatório é sensibilizar as autoridades competentes das diferentes esferas do poder público para o agravamento do processo de salinização de corpos d'água doce e solo da Baixada Campista, situada no Norte Fluminense, no interior do estado do Rio de Janeiro.
A identificação do problema teve como base o canal de coqueiros, afluente importante do rio Paraíba do Sul que corta toda a Baixada Campista e outros corpos d'água da região, entre os quais, o canal Quitinguta e canal da onça, estes afluentes da lagoa feia. Para tanto, foram realizadas coleta de dados laboratoriais analíticos e visitas as diferentes comunidades da Baixada Campista para o levantamento de informações sobre o processo de salinização que avança de forma sem precedentes na região.
A economia regional tem por base a agricultura, pecuária e a pesca. As culturas agrícolas que mais se destacam são cana de açúcar, o abacaxi e a mandioca. A primeira em ampla decadência, por se tratar de um segmento ligado ao setor industrial de produção de açúcar e álcool que sofre efeitos do mercado internacional e de uma política interna que não valoriza o biocombustível nacional. As demais em expansão, mas com dificuldades de investimentos para implementação de técnicas mais modernas entre as quais a disponibilidade de água para irrigação.
A pecuária de corte e de leite vem se mantendo com dificuldades tendo em vista a complexidade das atividades, principalmente o segmento do leite e seus derivados, alimento fundamental para o desenvolvimento infantil e que compõem a merenda local dos estudantes da rede municipal.
A pesca artesanal na região tem se mostrado uma alternativa destacada para a manutenção das famílias com destaque para àquelas nas proximidades das comportas do sistema de controle das águas da Baixada Campista. Devemos fazer aqui uma menção a necessidade de manutenção periódica destas comportas, pois, foi identificado vazamentos de água do sistema mar para o continente em diferentes pontos da barragem, o que tem se tornado um fator de agravamento do processo de salinização da Baixada e morte de peixes de água doce que se submetem a essa variação de ambiente aquático.
Sabemos que nossa região possui uma extensa malha de canais, criada pelo extinto DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento) que poderiam fornecer a região oportunidades das mais diversas aos setores agropecuário e da pesca se estivessem com sua manutenção, isto é, limpeza e sistemas de comunicação adequadamente tratados.
Diante do exposto, solicitamos em caráter emergencial providências no sentido de promover adequada limpeza e manutenção na malha de canais e comportas da Baixada Campista, o que certamente trará significativo alento as famílias envolvidas nas diferentes atividades econômicas da região.
Resultados de análise de água - Local: Pitangueiras 10 Km da foz.
STD = 4340 mg/L (ref. CONAMA 357 = 500mg/L)
Cloretos = 1574 mg/L ( ref. CONAMA 357 = 250mg/L)
Turbidez = 0,97 UTN (ref. ref. CONAMA 357 = 40 UNT)
pH=6,2 Cor = 43,5 uH
Condutividade = 5,38mS/cm (5380 uS/cm)
Sódio = 840 mg/L ( para água potável o máximo é 200mg/L) Potássio = 41 mg/L.
Álbum de fotos da realidade descrita acima:
Figura 3 Canal Caxexa - Obstruído |
Figura 4 Canal Caxexa - Obstruído |
Figura 5 Foz do Quitinguta no Coqueiros/São Bento -
Obstruído
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Figura 6 Canal da Onça - limpeza parcial de trecho -
PMCG
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Figura 7 - Sistema
de Comportas - Vazamento de águas - mar
/ continente
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Figura 9 - Sistema de fechamento de comportas com defeito
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Figura 10
- Comprometimento do ecossistema água doce - morte de peixe
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Um comentário:
Prezado Roberto Moraes, realmente a situação é gravíssima. Além das localidades citadas acima, muitas outras como, Água Preta, Mato Escuro Angolá, Campo de Areia, Córrego Fundo, Bajuru, Marrecas, Quixaba, Azeitona entre outras, qualquer buraco ou poço ou tanque que se escava só se encontra água salgada.
Na localidade de Marrecas, os criadores estão transportando água por vários quilômetros em galões para dar de beber aos animais há vários meses.
A situação é dramática.
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