O anúncio da instalação de um hotel na área da Prumo, controladora do Porto do Açu, confirma como funciona na prática, a instalação de um enclave sobre um território.
Aos controladores do porto interessa o faturamento com o aluguel de áreas para a sua rentabilidade. Pouco importa que empresas locais, pequenos empresários atuem no segmento de hospedagem em São João da Barra e/ou Campos, e possam perder com essa decisão.
A decisão que comentamos em nota aqui ontem, sobre a ocupação de uma área de mais de 10 mil m² e contaria para hospedagem com 200 quartos, divididos em 10 andares, entre os Terminais 1 e 2 do Porto do Açu, mostra que o empreendimento tem apenas compromisso consigo próprio, pouco se importando com a economia e os negócios locais.
Esta é uma característica dos negócios do tipo de "enclave" sobre um território. Ele não conversa com os negócios locais. "Só ciscam para dentro" do próprio negócio.
Esta decisão, além de definitivamente alijar os negócios de ocupação e uso de alojamento para ocupação de hospedagem de maior valor aquisitivo, para gerentes ligados às atividades do complexo portuário-industrial, que poderiam usar bases já existentes na sede em SJB e Campos, tenderão a criar ao entorno do Açu, um processo de ocupação de expansão urbana, ainda não existente no Açu.
Isto explica o grande interesse dos setores imobiliários com o "novo Plano Diretor de SJB".
Interessante ainda observar que a expansão de hospedagem hoteleira em Campos, com diversos projetos já executados e em execução (apart-hotel e residencie), nada representam para atendimento da demanda que poderia estar relacionada ao Porto do Açu.
Como o blog sempre falou, eles tratam na verdade de uma forma de captação dos excedentes econômicos relacionados à renda da Economia dos Royalties que circula na região.
Na realidade esta petrorrenda se transformou em interesse dos setores imobiliário e hoteleiro, que podem ter assim seus ganhos reduzidos ou adiados, nesta disputa inter-capitalista.
Enquanto isso, a região continua a imaginar e sonhar que pode auferir outras rendas penduradas na dinâmica econômica ligada a esta cadeia produtiva do petróleo e do sistema portuário que ora se instala no Açu.
Esse debate é longo e complexo, mas nada tem a ver com o lucro desenhado pela economia global relacionada ao circuito espacial do porto-petróleo, agora expandido de Macaé para o Açu.
Continuaremos acompanhando este processo.
O blog solicita a interpretação daqueles que acompanham por aqui o debate desta questão. Não identificar esta realidade não significa dizer que ela não exista de fato.
65 anos, professor titular "sênior" do IFF (ex-CEFET-Campos, RJ) e engenheiro. Pesquisador atuante nos temas: Capitalismo de Plataformas; Espaço-Economia e Financeirização no Capitalismo Contemporâneo; Circuito Econômico Petróleo-Porto; Geopolítica da Energia. Membro da Rede Latinoamericana de Investigadores em Espaço-Economia: Geografia Econômica e Economia Política (ReLAEE). Espaço para apresentar e debater questões e opiniões sobre política e economia. Blog criado em 10 agosto de 2004.
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5 comentários:
Caro professor, em 2007 a então LLX vendia sonhos, mas não apenas o dela para que se comprassem ações, vendeu sonhos que todos iam lucrar com a sua chegada, algumas coisas melhoraram sim, mas outras tantas vão de mal a pior. Diziam que iam dar preferência a mão de obra local, o que é mentira, hoje eles não gostam de empregar nem quem mora ao lado do empreendimento. Falavam que Dona Maria que tinha uma pensão ia abrir um lindo restaurante e que Seu João que tinha sua plantação abria um hortifruti, mas o tempo passou o Seu João foi desapropriado e Dona Maria que abriu um restaurante melhor vive na esperança de dias melhores, isso é um retrato do que vem ocorrendo hoje na região. Campos, muito mais que SJB vem lucrado com tudo isso, afinal é mais "preparada" e forneça serviços que em SJB não tem e pelo que vejo não terá tão cedo.
Infelizmente a realidade no entorno do empreendimento é apenas de especulação imobiliária, uma bolha onde duas coisas acontecem:
1 - por conta dos altos preços dos terrenos e falta de fiscalização da prefeitura muitos lugares viram pequenas favelas, onde um cidadão compra um terreno e divide em 2, 3;
2 - Pouca coisa é alugada/vendida, os altos preços fazem com que o mercado fique congelado.
Capital financeiro voraz, como o Sr. sempre fala, ganham os que sempre ganharam, perde os que sempre perderam!
Agora acredito sim que o porto mereça uma regulação, eles estão com dinheiro, ai fazem o que bem entendem sem pensar duas vezes em todo o seu redor? Poderiam ter feito uma ilha em ao mar e criado um novo município/estado, tem que ser ter uma preocupação social e cultural.
O Licenciamento do Distrito Industrial de São João da Barra, que tramitou nas secretarias de Planejamento , obras e meio ambiente do Município, culminando com sua aprovação em 2010,
Registra conforme plantas anexadas ao processo aprovado, que os Lotes A7,A10,A17 teriam denominação de “área de serviços”, ocupando uma área total de 1.604.881,00 m² que corresponde a 2,28% do total do aludido DISJB, entretanto, sem detalhes sobre as devidas construções que alí seriam efetivadas.
O Blogueiro informa que o referido hotel será construído entre o T1 e T2, local diferente da Planta aprovado no loteamento do DISJB. De propriedade da CODIN, Tramitado na prefeitura local.
Porém como em SJB tudo pode acontecer....
É verdade nobre blogueiro. Prumo só se importa consigo mesmo né... não gera empregos, não paga impostos, não traz desenvolvimento... Qual seu problema com o Porto? vc foi desapropiado? Comprou ações na época do Eike? Aff...
Não há juízos fáceis que sirvam para entender a China.
Um país que já foi violado por ingleses, e outros povos ocidentais, também pelos vizinhos japoneses, mas que manteve suas dimensões continentais.
Uma enorme parte dos humanos deste planeta vive lá, e nunca foi fácil alimentar toda essa gente.
Mantém-se sob regime centralizadíssimo, ainda que conviva com milhares de dialetos e povos dentro de seu território.
Luta contra os problemas decorrentes de qualquer soluço demográfico, e por isso não entendemos a ingerência estatal no ato simples (e banal) para nós de ter filhos (se bem que a maioria das famílias brasileiras ainda está distante desta escolha, mas por outro motivos).
Quando matam seus bebês ou proíbem casais de ter mais de um filho, os chineses acabam por nos fazer um favor (enorme).
Imagine se cada casal de lá, em idade fértil, decidir ter filhos na mesma década?
Por isso é bom olhar com mais atenção os sinais dos chineses.
Governantes chineses chegaram esta semana passada por aqui, e logo depois, a Petrobras capta 3 bi de dólares junto a banco estatal de lá. Há outras captações na pauta. Já houve outras.
Ao mesmo tempo, anúncio de uma ferrovia Atlântico (Açu) X Pacífico (Peru).
Outros anúncios já vieram antes, e foram embora como fumaça de fogos de artifício chineses.
Mas uma verdade é irreversível:
Os jogadores internacionais se preparam para um novo ciclo de expansão do capital.
Há poucas fronteiras "virgens" (baixo custo) e pouca regulação (casa da mãe joana) como as nossas.
Há um imenso potencial energético do Pré-Sal.
Há um aporte e suporte tecnológico que podem ser comparados aos países centrais.
Nós somos a bola da vez (e isso não quer dizer que seja bom, ao contrário).
O caso Eike foi só uma pequena "distração", ou como gostam os militares, ação diversionista.
Claro que não houve conspiração, nem grandes estratagemas:
Só um predador (Eike) que se imaginou no topo da cadeia alimentar e foi devorado.
No fundo, no fundo, ninguém saiu perdendo:
01- As terras mudaram de mãos em mãos a preços módicos;
02- Eike levou sua parte, ainda que pequena;
03- O caso do juiz-maluco o favoreceu (se é que não estava tudo combinado antes), e seu processo vai para vala;
04- Os governantes e representantes ganharam um adensamento populacional, e fonte de conflitos que sempre possibilitam mediações eleitorais onde antes só havia meia dúzia de sitiantes esquecidos: Mais gente, mais violência, mais obras (mais comissões), mais compras governamentais, etc.
That's business...
Engraçado esses investidores ou defensores ferrenhos do empreendimento, não conseguem enxergar os problemas, apenas as coisas boas. Isso não é um conto de fadas, é a ralidade! Será que não separam isso?!
Acredito que tenham que ver se esse tipo de prédio é liberado na cidade, o presidente da câmara está questionando isso, e não porque é compra, mas sim pq vai contra as diretrizes do plano diretor dentro outras coisas.
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