"Os Estados Unidos jogam a sorte em sua próxima etapa na caminhada para o domínio global da Terra - de onde, em sua fantasia, partirão para o espaço, a fronteira final - em três acordos:
1º O Tratado Transpacífico, TPP (com o Japão, Austrália e outros parceiros, bloqueando a China);
2º O Tratado Transatlântico, (com a Europa, sitiando a Rússia); e
3º O Tratado sobre Serviços,TiSA, (englobando todos e mais alguns - com destaque para Israel), impondo integração total em comércio e finanças.
Sobre o TiSA, o Wikileaks furtou o liberou uma série de documentos. Se o projeto americano der certo, e para que dê certo, é preciso liquidar o BRICS, o inimigo da vez, considerado empecilho ao domínio total do planeta".
Pois bem, depois de ler esta hipótese eu me deparo hoje com o interessante artigo "Armamentização" das finanças traz riscos" do Humberto Saccomandi, editor de Internacional do Valor de onde extraímos o texto abaixo.
O artigo aponta com clareza como um e outro assunto estão interligados. Como os EUA joga toda a sua pressão contra seus adversários e pela manutenção do controle das estruturas financeiras e do sistema de pagamento baseado no dólar e controlado pelo Ocidente.
A China com apoio direito da Rússia e indireto do Brics já estrutura m sistema financeiros de pagamentos alternativo que não seria mais controlado pelo Ocidente. Até que os Brics se acertem, a China já estrutura um sistema próprio, o "China International Payment Sistema (Cips).
Como se pode deduzir tanto da hipótese sintética do professor Lage quanto do artigo informativo do Saccomandi há razões e pressões de sobra sobre o Brasil. Assim, a viagem da presidente Dilma aos EUA este mês deverá ser tensa e pesada.
Depois das ofertas de parceria que a China fez no fina do mês passado e diante do que ainda continua sendo desenhado, os EUA devera fazer propostas grandes, mas o objetivo deverá ser o fim do Banco dos Brics. Confira abaixo o artigo e tire suas conclusões:
"Armamentização" das finanças traz
riscos"
"Uma das principais características da política externa do governo de Barack
Obama vem sendo o uso sem precedentes do sistema financeiro
internacional, controlado pelo Ocidente, como ferramenta de pressão. Países
e entidades, como o WikiLeaks e possivelmente a Fifa, foram alvos. Essa
estratégia pode ser coroada neste mês, com um acordo nuclear com o Irã. Mas, como reação, a China está desenvolvendo o seu sistema financeiro
paralelo, para contrabalançar esse enorme poderio americano.
Neste mês vence o prazo para um acordo final entre o Irã e o grupo de países
(chamado de P5+1) que negocia restrições severas e controle externo do
programa nuclear iraniano, para evitar que Teerã produza armas atômicas.
Se houver acordo, será uma vitória para a estratégia de Obama de asfixiar o
país economicamente.
O Irã é alvo de uma série de sanções ocidentais desde a Revolução de 1979.
Os EUA, por exemplo, não compram petróleo do país. A partir de 2006, com
a denúncia do programa nuclear iraniano, as sanções foram sendo
ampliadas. Mas os controles por muito tempo foram precários, e o impacto
era limitado.
Isso mudou com a posse de Obama, em
2009. As maiores multas contra bancos
por violarem sanções internacionais
foram todas aplicadas desde então. O
valor das multas foi disparando, de um
teto de pouco mais US$ 600 milhões em 2009, para US$ 1,3 bilhão em 2012
(HSBC), culminando na multa recorde de US$ 8,9 bilhões ao banco francês
BNP Paribas, em 2014, por transações com Sudão, Irã e Cuba, todos sob
sanções.
A multa, à época, foi vista como um alerta aos demais bancos e gerou tensão
entre Washington e Paris, que a considerou desproporcional. Outros bancos
europeus estão sob investigação e negociam multas com o Departamento de
Justiça dos EUA.
Finalmente, em março de 2012, sob pressão dos EUA, 20 entidades
financeiras do Irã foram suspensas da Swift, uma medida inédita. A Swift
(Sociedade de Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais) é
responsável pela comunicação segura entre os bancos, o que permite que
transações financeiras sejam realizadas. Baseada na Bélgica, a organização
reúne instituições financeiras de mais de 200 países. Ser cortado da Swift
significa, na prática, ser cortado do sistema financeiro global.
O resultado foi imediato. A economia iraniana teve contração de 6,6%
naquele ano. Continuou em contração em 2013, cresceu pouco em 2014 e
crescerá menos ainda neste ano (veja gráfico). A crise resultante contribuiu
para a eleição do presidente moderado Hassan Rohani, em 2013, e deixou o
regime iraniano sob forte pressão para chegar a um acordo sobre seu
programa nuclear.
No ano passado, com a conflito entre Ucrânia e Rússia, os EUA e a Europa
voltaram a usar o seu peso no sistema financeiro internacional, desta vez
como forma de pressionar Moscou. Uma série de indivíduos e instituições
russas foi posta sob sanções. O resultado foi possivelmente além do esperado,
pois mesmo setores e empresas russos que não estavam sob sançõesacabaram sendo afetados, já que parceiros ocidentais se retraíram. Ficou
mais difícil e mais caro, por exemplo, obter garantias e seguros bancários
para transações comerciais.
Já abalada pela forte redução dos preços do petróleo, a economia russa
entrou em queda livre. O rublo despencou, a inflação subiu e as contas
públicas pioraram. Esse pânico inicial passou, mas o país deve fechar este
ano em recessão
Em janeiro, quando se discutia a possibilidade de a Rússia ser excluída do
Swift, autoridades russas reagiram agressivamente, com discurso belicoso. O
premiê russo, Dmitri Medvedev, chegou a ameaçar uma reação "sem limites".
Desde as sanções contra a Rússia, Moscou anunciou uma série de iniciativas
para tentar criar estruturas financeiras,
como sistemas de pagamento,
independentes do Ocidente. Mas é mais
provável que isso seja feito pela China,
uma economia muito maior que a russa e
que tem a ambição de se tornar uma
potência financeira global.
Mas essa estratégia de "armamentização" (neologismo a partir do inglês
"weaponization") do sistema financeiro internacional, isto é, de torná-lo um
arma em disputas geopolíticas, embute riscos.
Numa conferência sobre riscos financeiros, em abril, Chris Perry, almirante
aposentado da Marinha britânica, citou a ameaça de países abandonarem "o
sistema internacional baseado no dólar". "A grande ameaça é que Rússia,
China e países alinhados a eles (...) busquem criar um sistema financeiro e de
pagamentos alternativo, que seria totalmente opaco para o resto do mundo",
afirmou.
A China deve lançar ainda neste ano o seu próprio sistema de pagamentos, o
China International Payment System (Cips). Segundo a agência de notícias
Reuters, esse sistema utilizará o mesmo formato de outros sistemas
internacionais. Mas não ficará sob controle do Ocidente, o que deixaria o país
e seus parceiros menos expostos.
Pequim tem razão de desconfiar. Edward Snowden revelou, por exemplo, que
a NSA (Agência Nacional de Segurança americana) monitorava regularmente
as comunicações do Swift, violando de fato o sigilo de transações financeiras
globais. É provável que a espionagem eletrônica seja uma parte importante
desse controle sobre o sistema financeiro global.
Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia Group, colocou a
"armamentização" das finanças a serviço da política externa e de segurança
como um dos maiores riscos globais deste ano. Segundo ele, isso pode azedar
as relações dos EUA com os aliados europeus (como no caso do BNP
Paribas), levar países da Ásia a diversificar do dólar e criar suas próprias
instituições financeiras, e expor empresas americanas a retaliação.
Humberto Saccomandi é editor de Internacional. Email: humberto.saccomandi@valor.com.br."
Nenhum comentário:
Postar um comentário